sexta-feira, 3 de abril de 2020

DEDIM DI PROSA


Adão de Souza Ribeiro


O caipira lá no meu sertão
Come de tudo o que é bão.
Ascende o cigarro de palha,
Ri de tudo e coisa que valha.


Senta num toco de paineira,
Bem lá na beira do caminho
Proseia inté com passarinho
E bebe e fuma a tarde inteira.


Se um vizinho dele aproxima
Conta estória, fala da sua sina,
De caboclo duro e aperreado,
A cuidar da lavora e do gado.


E bebe e fuma e ri e lamenta.
Sonha ele, chegar aos oitenta.
Com coragem, força e saúde.
Mergulhar feliz, lá no açude.


Lembra-se dos bailes no paiol,
A natureza vestida de arrebol.
E a comida no fogão a lenha.
A vida bela, solta, sem senha.


A roupa surrada, suja de terra,
Mostra bravura, luta de guerra.
Feliz pela mulher pelos filhos
Fartura colhida no pé de milho.


Ali na beira da velha estrada,
Chora triste a seca e a geada,
Matou a esperança, plantação.
Não raiz do amor no coração.


Um cavalo arreado e no trote
Ajudava ele a compor o mote,
De estória saudosa e sem fim,
Que hoje vive dentro de mim.


E seu vizinho botava assunto,
Nas estórias, que lá no fundo,
Não passavam de velha lenda,
O caipira plantou na fazenda.


Se eu me debruço na memória
A resgatar linda e velha estória
É que a poeira do tempo passou
Mas não o caipira do meu avô!.


Peruíbe SP, 03 de abril de 2020.

5 comentários:

Ana Ribeiro disse...

Emocionante, resgatou muita "coisa" da infância, lugares, pessoas que ficaram apenas na lembrança.

Unknown disse...

Lindo

Unknown disse...

Parabéns...lindo poema...

Unknown disse...

Parabéns...lindo poema...

Unknown disse...

Vida no campo, simplicidade de um matuto, excelente texto, obra prima...