domingo, 11 de abril de 2010

A COLHEITA


Aprendi desde a tenra idade, que há tempo para plantar e tempo para colher. Já naquela época, descobri que as fases da lua e as estações do ano exercem uma influência sobre a natureza e, em especial, nas plantações. Juntem-se a essa ciência caipira, a qualidade da terra a e forma de plantio. Qualquer descuido, o prejuízo é certo.

O tempo do plantio é árduo e exige persistência. A qualidade da muda, a formação das leras, o adubo, os insumos, os fungicidas e os pesticidas, a capinação, são detalhes que enriquecem a lida diária de que espera uma boa colheita. De sol a sol, o agricultor tece de esperança o futuro daquilo que sonha realizar.

As secas e as geadas, rondam a plantação e atormentam o sono de quem vive uma quimera. Nada escapa aos olhos de quem zela e ama o labor. Não esmorece diante das dificuldades e das intempéries do dia-a-dia. O tempo de plantio é rude e não perdoa os que esmorecem ao longo do caminho. Se acreditar no sonho, fará uma boa colheita.

Já o tempo da colheita, é prazeiroso e nos enchem de alegria. Quem lutou, embriaga-se com o fruto de tanta luta. O lucro é representado pelo volume da produção e pelos dividendos bancários. O parto da terra, traz abundância aos que nela buscam alento. Todos se regozijam do que se aflora dela. Não há como não cantar e não dançar a melodia da fartura.

O que difere esse tempo do outro, é a certeza de que valeu a pena acreditar. As dúvidas e as angústias, ficaram para trás. O cansaço e o desespero, não passam de um quadro pendurado na parede. Tudo é sonho, tudo é poesia. A tristeza ficou da porta para fora. O mundo gira em torno da alegria e da realização plena de quem lutou e venceu. De quem não fraquejou no meio do caminho.

Mas é preciso lembrar, que se não colher a tempo o fruto produzido, corre-se o risco de perdê-lo. A natureza encarrega-se de apodrecê-lo. Os pássaros famintos e os insetos, vem devorá-los sem piedade. Quando é chegada a hora, desprende-se do galho e a terra beijá-lhe a face. Após secar, a semente faz gerar uma nova planta. Esse é o ciclo natural da vida. Não há tempo de espera, porque ele urge e ruge.

O amor, sentimento mais nobre do ser humano, também tem o seu ciclo. Nele, há tempo para plantar e para colher. De nada adianta uma luta insana para germiná-lo e desenvolvê-lo se, quando da colheita, não o apanharmos no tempo certo. Não há que temer os conceitos e preconceitos da vida; assim como no fruto, não há que temer o apodrecimento ou os pássaros famintos.

Uma vez passado o tempo da colheita, não há que se reclamar do prejuízo causado ao coração e a alma. É certo que o relógio da vida não volta no tempo. Por isso, temos que ser zelosos na vigília, para não ficarmos debruçados na inércia de nossas ações e nem escondidos atrás de justificativas não convincentes. Depois de perdida a oportunidade, não podemos culpar a pessoa amada, pela nossa infelicidade ou pelas nossas frustrações.

Não devemos em hipótese alguma, adiarmos o instante do prazer pelo qual tanto sonhamos. Uma vez ao alcance de nossas mãos, não devemos deixar escapar por entre os dedos. Devemos aprender com a natureza: “Há tempo para plantar e há tempo para colher”.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O FLUMINENSE JOGARA COM O LINENSE?


Mário Prata

Estou escrevendo esta crônica na segunda-feira de manhã, depois de passar a tarde de ontem acompanhando a última rodada do Brasileirão, na casa de Mateus Shirts (eliminado corintiano), num show de imagens da Rede Bandeirantes.

Há menos de 24, portanto. Mas já passei a noite e parte da manhã tentando imaginar como é que vão fazer para o Fluminense não disputar a segunda divisão. Claro, óbvio ululante, que o time não vai cair. Duvi-de-o-dó.

Assim que terminou a rodada, liguei para o Chico Buarque, um dos tricolores mais fanáticos que conheço. Ele não estava em casa. Marieta Severo (e um pouco severa) não queria acreditar nas minhas palavras: “Mas e o Criciúma, não caiu?”. Não, foi o Fluminense. “Meu Deus!!!”

O que eu queria era brincar com o Chico. Afinal estava começando a existir a possibilidade do time dele enfrentar o meu glorioso Elefante da Noroeste, o meu Linense. Aliás, Chico nunca escondeu a sua condição de torcedor do Linense, nas segundas divisões. Por ser poeta, talvez por uma questão de rima. Mas talvez não seja esta a solução.

Disse lá em cima o “óbvio ululante”, frase cunhada pelo fluminense Nelson Rodrigues que, se vivo estivesse, morreria num boteco da Lapa.

Mas voltemos aos cartolas (Cartola era Fluminense?) do Rio de Janeiro e do futebol das Laranjeiras. Devem estar todos agora reunidos bolando uma solução bem carioca para o caso.

Talvez até mesmo sugerir ao ministro Pelé que o Chico faça uma nova letra e música para o Hino Nacional em troca da permanência da equipe entre os grandes.

Ou mesmo o Ricardo Teixeira pode pedir ao sogro que baixe uma portaria lá na Suiça proibindo, neste ano, o descenço em todo o planeta.

Já ouvi falar que o Chedid (qualquer um deles) quer comprar o Fluminense. Ele entende de segunda divisão: Novorizontino, Ponte Preta e Bragantino.

Pode-se pensar, também, na hipótese de aumentar o número de times na primeira divisão como já fizeram nos anos 70. Noventa e quatro times. O Flu estreava contra o Arapiraca. No lugar do Fla-Flu, um Ara-Flu pra ninguém botar defeito.

Outra idéia boa, meio baiana: provar, no velho e bom Tapetão, por a mais b, que o Fluminense que foi rebaixado era o Fluminense de Feira de Santana. O do Rio, nem no Brasil estava durante o campeonato.

E que tal se os cartolas sugerissem que este ano caia metade dos times? O Campeonato Carioca passaria a ser chamado de Segunda Divisão. E ainda contaria com jogos contra o Santos, por exemplo, que sempre se deu muito bem no Maracanã.

Antes de terminar, queria declarar que sempre fui Fluminense no Rio de Janeiro. Desde criancinha. Talvez por aquela mesma rima que já citei. Mas naquele tempo era de Castilho, Píndaro e Pinheiro. Tinha um ponta magrinho e ligeiro chamado Telê. Teve Didi, teve Gerson, teve Doval.

Fique triste não, Chico. Disfarce a dor e faça um sambinha para os nossos Nenses. Rima é o que não vai faltar. E, no dia que os nossos times jogarem, lá no Gigante de Madeira, em Lins, vamos torcer juntos. Para os dois.

Um dia, voltaremos. Se é que hoje, quarta-feira, o Fluminense já não tenha dado um jeito na sua vida.

Do livro “ 100 Crônicas” - Paginas 221/222 – Editora “O Estado de São Paulo”