sábado, 25 de novembro de 2023

RENATA

 

Adão de Souza Ribeiro

Menina de beleza estonteante

Diz que ela é uma linda gata.

No Lucy não muito distante,

Encontrei uma deusa Renata.

 

Sua simpatia enfeita o lugar

Traz alento e tanta proteção

Como ondas calmas do mar

A tocar a praia com coração.

 

Ela sabe conduzir a terapia,

Com amor e tal delicadeza.

Paciente percebe dia a dia,

Que é tão linda a natureza.

 

O jeito meigo e feminino,

Cativa os que dela procura

E faz da profissão um hino

A quem busca a santa cura.

Peruíbe SP, 25 de novembro de 2023.

 

domingo, 19 de novembro de 2023

SONETO AO LUCY

 

Adão de Souza Ribeiro

Lugar santo e belo,

Repleto de ternura.

Acolhe com esmero

Quem busca a cura.

 

Tu ofereces o colo,

Tu acalentas a dor.

O brilho dos olhos,

Ilumina aonde for.

 

Bendito és o afeto,

Que dás ao paciente

Não há tal remédio.

 

Com o efeito certo,

Vai direto a mente

E afugenta o tédio!

 

Peruíbe SP, 19 de novembro de 2023.

 

 

sábado, 18 de novembro de 2023

TEJE PRESO... TEJE SOLTO!

 

Adão de Souza Ribeiro

                        A criança vê o mundo de um jeito e de um ângulo diferente. É com esse olhar encantador, que a vida se torna mais suportável e amena. Todos nós, cristãos ou ateus, quando lembramos do passado, vamos diretos na lente da infância. Eu pelo menos sou assim e, por isso, sou muito grato a essa fase da vida.

                        Cada imagem ou cada cena da infância, deixam marcas indeléveis para o resto da vida. Quando divagamos em lembranças pretéritas da fase pueril, exclamamos: “Nossa que tempo bom, que não volta mais!”. As histórias contadas pelos avôs, as brincadeiras gostosas e intermináveis, as aulas no grupo escolar, as traquinagens inconsequentes, tudo tinham sabor de inocência. Quem aproveitou bem, sabe disso.

                        O campo de futebol, o matadouro, a lagoa do Hermininho, a estrada de terra do Bairro Bondade, a mata da “Granja Helvetia’, a enorme Caixa D`Água, a criação do bicho de seda, o córrego “Arrothéia”, a escola agrícola e por aí se vai. Tudo está gravado na memória.

                        Hão coisas na vida, que a mente do infante não consegue compreender. A minha cidade natal, que carinhosamente chamo de Terrinha, é pequena e aconchegante. O seu povo era trabalhador e honesto, onde todos se conheciam e até se davam em casamento.

                        Não havia violência, apenas brigas ente cachaceiros, depois de goles da marvada pinga, que se resumiam em xingamentos e empurrões, separados pela turma do “deixa disso”. Até hoje não entendo o porquê haver ali uma Delegacia de Polícia, a qual ficava ao lado do campo de futebol.

                        Um próprio público pequeno, composto da sala do Delegado e do Escrivão, uma cela e uma sala reservada para Ciretran e emissão de cédula de identidade. O delegado ali comparecia só para assinar documentos ou em caso de emergência, pois respondia por outra cidade, onde morava.

                        A porta da cela estava sempre escancarada, esperando um conterrâneo mais alterado, o que não ocorria. Por um tempo, esteve ocupada por várias condenadas femininas, vindas de outra cidade, enquanto a cadeia de lá era reformada.

                        Um vigário vigarista, oportunista de carteirinha, andou rondando por ali. Não para salvar as pobres mulheres do pecado, mas, sim, para separar a ovelhinha mais linda do rebanho para ele. Ela não iria cuidar da sacristia, mas da Casa Paroquial, onde ele morava.

                        Na cadeia havia um único preso, ao que parece, condenado por homicídio. Como era da Terrinha e sabiam não ser violento, pois matara em legítima defesa de terceiro, ficava solto, isto é, não trancafiado atrás das grades.

                        Quem passava por ali, podia vê-lo cuidando da limpeza ou executando reparos no prédio. Muitas vezes o vi, fazendo compras no comércio. Ele era, por excelência, muito educado, respeitador e prestativo. O preso era alto, de compleição física forte e um grosso vozeirão. Todos o respeitava e temia, embora não representava perigo.

                        Pelo fato dele gozar de toda aquela regalia, é que eu não o considerava preso e dizia que a cela estava sempre vazia. Quando algum conterrâneo era colocado ali, até passar a carraspana da bebedeira, era ele quem abria e fechava a sela. Até porque ele dormia na sala de emissão de cédula de identidade.

                        O preso cumpria com rigor, as restrições impostas pela lei, ou seja, não frequentava bares, prostíbulos, festas e nem igreja. Engraçado que o vigário vigarista não ia visitá-lo corriqueiramente e nem rezava pela alma daquele pecador.

                        São por essas razões que eu considerava a cadeia, uma peça de museu, pois, todas as vezes que passava defronte, eu a via fechada. Eu sei que dirão, que ela é um mal necessário e que, por isso, tem que existir.

                        Eu deixei a Terrinha em plena adolescência e, por isso, não sei o fim daquele hóspede, ou melhor, preso da cadeia. Creio que, em razão dos anos decorridos, ele já esteja morto. Que bom seria, se todas as cadeias permanecessem escancaradas, sem ter quem as ocupassem.

                        A pena fria da lei diria: “Teje preso!” e a sociedade ordeira e honesta, reconhecedora da não periculosidade de seu cidadão, respondesse: “Teje solto!”.

 

Peruíbe SP, 18 de novembro de 2023.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

REVISITANDO O FUTURO

 

Theo do Valle

 

Hoje, feriado, calor de 100 graus Fahrenheit, cá estou revisitando as projeções daquele futuro fértil, daquele jovem bonito, de madeixas longas e voz de tenor.

O rapaz tímido, lá dos confins do interior Paulista, virou farmacêutico industrial e, inusitamente (talvez !?) se transformou em professor universitário por exatos 38 anos.

Sua timidez para os palcos dos shows foi lapidada nos tablados das salas de aulas e nos quadros negros, verdes e brancos que a vida foi lhe presenteando.

Sim... um presente. Ou melhor, vários presentes, várias memórias indeléveis que guardo na cachola.

Da indústria, recebi o maior presente: esposa e, consequentemente, a prole ...

Razões eternas e imutáveis para este novo futuro que projeto para as próximas décadas.

Quiçá venham netos e que haja tempo para vê-los crescer e sonhar.

Nesta viagem, confesso que não tinha imaginado rugas...

Imaginei os cabelos brancos e calvície avantajada, mas rugas não.

Pra ser sincero, gosto delas quando as vejo no espelho ou nos "closes" de muitos clicks.

Neste revisitar de meu futuro, continuo sendo vaidoso e ousado.

Não sonho conquistar o mundo com minha voz, nem ganhar prêmio Nobel, com minha ciência, muito menos ser artilheiro da copa, com minhas habilidades futebolísticas.

Agora desejo rugas... muito mais delas. E assim, me "eternizar, por décadas, em algum álbum familiar.

Quem sabe, eu ganhe espaço em algum HD externo ou chip de celular , em alguma gaveta de recordações .

Sonho maior, para este novo futuro, seria ganhar um quadro na parede (como o quadro de meus bisavós) ou mesmo na estante da sala... porém um retrato colorido... com sorriso largo e olhar orgulhoso, cercado de "gentes" que amo.

Assim, realizado pelas novas conquistas, estaria apto para galgar a liberdade de um novo corpo astral, em nova dimensão.

Uma versão melhorada para um próximo EU.

Aqui me despeço, velho futuro.

Pronto para um novo porvir.

Mandarei notícias das próximas décadas, em breve.

Fui...

Ass. Théo do Valle (José Claret)

Nov 2023

 

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

O CRISTAL

 

Adão de Souza Ribeiro

Não brinca comigo,

Sou feito de cristal.

Pois até o vendaval

Leva o meu sorriso.

 

Comigo seja hábil,

Trata-me com jeito.

Dá-me o teu beijo,

Eu sou muito frágil.

 

Com muito carinho.

Toca-me minha face

Gosta e não disfarce

E não deixa sozinho.

 

E se eu me quebrar,

O pedaço não refaz.

E nada me satisfaz,

Será noite sem luar.                                                    

 

Se sou tão delicado,

Perdoa eu ser assim.

Sou puro querubim

O peito dilacerado!!

 

Peruíbe SP, 15 de novembro de 2023.

 

terça-feira, 14 de novembro de 2023

RODA DE VIOLA

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Todo domingo, dia mais preguiçoso da semana, os homens se reuniam no “Bar do Menino”, esquina da Rua Duque de Caxias com a Rua Ruy Barbosa. Ali tomavam cachaça e proseavam. Eles riam, sem compromisso com o tempo e, enquanto isso, lá no labor da casa, dona patroa dava milho para a criação no terreiro e preparava um suculento almoço.

                        Alheias a tudo aquilo, a molecada corria, para lá e para cá, sem camisa e descalça pelas ruas, numa brincadeira infantil e sem maldade. Na gaiola, o canarinho prisioneiro cantava tanto, até cair do poleiro. Na lagoa, os peixes dançavam a coreografia da liberdade, esquivando-se dos anzóis do pescador Hermenegildo.

                        Mas no “Bar do Menino”, o papo era regado com muita moda de viola. Germano, na sanfona; Dizão, na viola; Dodói, no violão; Facão, no violino; Lair, na gaiata e Felinto, no pandeiro. Já no vocal, os cantadores, dentre eles, o Jorgão (Arrothéia), fossem em dupla ou não, se alternavam.

                        Q grupo executava todo ritmo sertanejo, ou seja, canção rancheira, catira, polca, guarânia, arrasta pé, sapateado e valsa. A beleza na letra da moda sertaneja, estava no fato de retratar a natureza, a dureza do sertanejo, a destreza do peão, a vida pacata do sertão, os amores platônicos, as tragédias campesinas, os heróis caipiras, as lições de vida do caboclo e a candura simples da caipirinha da roça.

                        Os cantadores da Terrinha, tiravam do fundo do baú, as modas cantadas por Tonico & Tinoco; Liu & Léu; Zilo & Zalo; Cacique & Pagé; Pedro Bento & Zé da Estrada; Tião Carreiro & Pardinho; Pena Branca & Xavantino; Belmonte & Amarai; Cascatinha & Inhana; Milionário & José Rico; Mato Grosso & Mathias; Zé Fortuna & Pitangueira; Zé do Rancho & Mariazinha; João Mineiro & Marciano; Duduca & Dalvan; Alvarenga & Ranchinho; Tibagi & Miltinho; Peão Carreiro & Zé Paulo; Chico Rey & Paraná; Lourenço & Lourival; Trio Parada Dura ... só para recordar, pois a lista é longa.

                        Dói no coração, só de lembrar que a mídia manipuladora e castradora, criou um tal de “Sertanejo Universitário”, enfeitado de instrumentos musicais modernos, para disfarçar a péssima voz,  onde a molecada ainda usando fralda, só cantam música com temas eróticos ou com duplo sentido. As letras são verdadeiros lixos e os ritmos são para atrair a massa. A letra e o som, ferem meus ouvidos.

                        Essa mídia selvagem valoriza em demasia, os enlatados estrangeiros, em especial, a música americana. Também, os ritmos nascidos nos guetos, na terra do Tio Sam. A maior rede de televisão aberta brasileira, que é o quintal da casa deles, massifica nosso povo, fazendo acreditar que aquilo é o melhor.

                        Mas deixa eu voltar à minha Terrinha. Nos outros bares, tinham prosa e cachaça; mas ali, no aconchegante “Bar do Menino”, além de haver tudo aquilo, era regado com muita nostalgia. A cantoria transcorria o dia inteiro e seguia noite adentro. Eu, ainda criança, embriagava-me com o som, a letra e o talento do grupo. O pessoal, tinha uma infinidade de fãs.

                        Hoje, ao lembrar das tardes domingueiras e musicais da minha cidade natal, onde tudo reportava a vida pacata, as lágrimas de saudade brotam, como que querendo ressuscitar o que não volta mais. Eu sofro em demasia, por ser eterno saudosista. Mas, ao mesmo tempo, não me recrimino por ter este comportamento. Ao prosear com os conterrâneos pré-históricos, eles compartilham da minha tristeza, em ver a música sertaneja raiz em decadência.

                        Veja o progresso aonde foi. Antes o boi puxava o carro. Hoje o carro puxa o boi.”, da música O progresso brasileiro, de Pedro Bento & Zé da Estrada.  

                        Creio que o êxodo rural tem sua parcela de culpa, senão vejamos. Com a vinda dos roceiros (sertanejos) para a cidade, foi sepultada na memória os costumes e as lendas do povo simples lá da roça. “Oh que saudades que eu tenho, da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais.” – Poema Meus oito anos, de Casemiro de Abreu. Portanto, as gerações futuras não têm histórias para contar. Vejo que aos poucos, o país vai perdendo a verdadeira identidade.

                        Há se eu pudesse juntar todos aqueles cantadores do “Bar do Menino” e reouvir aquelas melodias nostálgicas, as quais, ainda ecoam nas minhas saudosas lembranças de criança! Entre uma cachaça e outra, os momentos ficavam mais alegres. Triste lembrar que até a Terrinha emudeceu, depois que os músicos “enfiaram a viola no saco” e partiram, para aonde eu não sei.

                        Senhor meu Deus, tenha piedade das nossas tradições que, um dia, vieram a perecer!

 

Peruíbe SP, 13 de novembro de 2023.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

SIMPLIFIQUE

 

Fabio José da Silva

Não é o passo lento

É a falta de pressa

Não são as dores

É a voz do corpo maduro

Não é falência da beleza

É a beleza da sabedoria

Não é a falta de colegas

São os amigos

Não é a falta de reflexos

É a prudência das respostas

Não é a solidão

É o que acrescenta a alma

Não são olhares perdidos

São contemplativos

Não faltam euforia e gargalhadas

É a discrição da felicidade

Não são mais remédios

É a ciência

Não é a riqueza que impressiona

É a bondade que comove

Não é o final que conta

É a trajetória.

O ABANDONO

 

Adão de Souza Ribeiro

Se vai desistir de mim

Deixa recado na porta

A dor não me importa

Eu já sei que é o fim.

 

Amar é uma loucura,                                    

Que corrói por dentro

Nem mesmo o tempo

Traz a sua eterna cura.

 

Se deseja o abandono,

Seja ao menos sincera.

O coração não espera,

Eu vou perder o sono.

 

Se o desejo vai embora

Antes deste amanhecer.

Mas que eu posso fazer

Chorar sei que só piora.

 

Vai e segue seu destino,

Em busca de novo sonho

Não está aonde eu ponho

Isso é coisa só de menino.

 

E se for não olhe para trás

Tudo será apenas passado

Deixa sua fantasia de lado

A bela saudade tanto faz!

 

 

Peruíbe SP, 13 de novembro de 2023.

domingo, 12 de novembro de 2023

PROVOCAÇÃO

 

Adão de Souza Ribeiro

Só agora eu te desafio,

Como eu sou, ser forte.

Fugir do traiçoeiro bote

Deste mundo tão hostil.

 

Todo dia tu me afronta

E provoca este meu ego

Eu até já perdi a conta.

Evito a briga, não nego.

 

E tocaia desde menino,

De repente perco juízo.

Furioso como paladino

Perder é meu prejuízo.

 

Eu sou filho de matuto

Sei como me defender

A fé será o meu escudo

E espero ao envelhecer

 

Morte, tenho a crença

Que vale a pena a luta.

Porém se nesta disputa

Tu vencê-la, paciência.

Peruíbe SP, 12 de novembro de 2023.

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

NOSTRADAMUS, EU?!

                                                                                                                               Adão de Souza Ribeiro

 

                        “Todos nós temos o destino traçado”, já diziam meus saudosos avós, lá pelas longínquas bandas do sertão. Eles não frequentaram carteiras escolares, mas tinham uma sabedoria invejável. Quantas vezes, eu ficava horas e horas, ouvindo suas histórias e ensinamentos sobre a vida e o mundo.

                        Penso que foi deles, que herdei essa curiosidade em aprender cada vez mais, sobre este mundo farto de acontecimentos intrigantes. O desconhecido sempre causou impacto na minha mente e é por isso, que vivo em constante desassossego. Estou certo de que padeço muito, nesta busca incansável por resposta.

                        Lá na minha Terrinha, que costumo chamá-la de cantinho sagrado, havia um menino, querido e admirado por todos, quer pela humildade quer pela sabedoria. José Donizete, apelidado de “Nostradamus”, despertava uma idolatria por todos os conterrâneos.

                        Vindo de uma família pobre, usava vestimentas simples e tinha aversão por luxo, por isso, se contentava com o pouco que a vida lhe oferecia. Com seu jeito introvertido, vivia dentro de uma bolha, isto é, num mundo criado por ele. Gostava de estar atualizado com tudo o que se passava no Universo. Incrível, mas se parecia comigo.

                        Um belo dia disse, numa roda de amiguinhos: “ Vai haver uma geada muito forte, conhecida por geada seca e, por isso, devastará toda a plantação de café em toda redondeza. ” Dito e feito, foi a maior tragédia que assolou a lavoura da Terrinha. A partir daquele prenúncio, as pessoas prestaram mais atenção no menino paupérrimo e calado.

                        Não demorou muito, disse que Agostinho, fazendeiro respeitado, iria cair do cavalo e ficaria tetraplégico. Dito e feito, pois a premunição ocorreu. Numa tarde de inverno, previu que o padre octogenário morreria e que no seu lugar, assumiria um padre moderno e comunista, o qual levaria a Terrinha à bancarrota. Hoje a história está aí para confirmar a previsão. 

                        Em tom de brincadeira, disse que Maria Eugênia, filha do Genivaldo – médico ginecologista-, menina pura de quinze anos, seria inaugurada naquele mês, pelo namorado bocó. Não preciso nem falar, que não tardou e ela “virou mulher”, como se dizia no interior.

                        Olhava para o céu e dizia quando choveria, faria sol ou haveria grande tempestade. O povo pedia esperar, que era batata (certeza). Ele previu quando a casa das primas fecharia as portas, por falta de clientes. Então Coroné Virgulino, exclamou: “Puta que partiu, sô!”

                        Rosalina deu à luz a um menino bonito e viçoso. “Nostradamus”, disse: “Acaba de nascer na Terrinha, um baitola, um morde fronha”. Naquela cidade provinciana e recatada, aquilo caiu como uma bomba atômica, onde todos ficaram estupefatos. Hoje, passados tantos anos, lá está Kaique, filho primogênito de Rosalina, espalhando charme e mordendo mil fronhas.    

                        José Donizete fazia-me lembrar do menino Messias (Jesus Cristo), que não sabia dos seus dons e poderes divinos e que, por isso, era constantemente vigiado pelos pais zelosos, isto é, José e Maria. Na minha cidade, como de costume, as pessoas tinham apelido e o meu amiguinho passou a ser conhecido e chamado de “Nostradamus”.

                        Engraçado que, quando alguém o chamava pelo apelido, ele perguntava admirado: “Nostradamus, eu?!”. Às vezes, ele pressentia os acontecimentos em sonho; outras vezes, em pensamento; ou ainda, com um aperto no coração.

                        Previa não só as coisas da Terrinha, mas do país e do mundo. Ele previu a volta da ditadura comunista no país, através do presidente nove dedos; o assassinato de Tancredo Neves e, também, o nascimento da ditadura de toga.

                        Previu, ainda, a eleição de Barack Obama, primeiro presidente negro dos E.U.A.; da guerra das Malvinas ou Falklands, entre a Argentina e a Inglaterra; do assassinato de Shinzo Abe, primeiro ministro japonês; a guerra santa entre Hamas, na Faixa de Gaza, e Israel.

                        Outro conterrâneo, por ser cachaceiro inveterado, fora apelidado de “Nostravamus”. Aquele coitado não sabia adivinhar nem o preço da dose da marvada pinga e, o pior, quantos tombos levaria do boteco até a sua casa.

                        Ah, minha Terrinha, quanta saudade dos seus personagens!

 

Peruíbe SP, 09 de novembro de 2023.

 

P.S.: Michel de Nostredame, conhecido por Nostradamus, nasceu em Saint Rêmy de Provence, na França, no dia 14 de dezembro de 1503. Ele foi um astrólogo, vidente e farmacêutico francês. Fez grandes profecias e algumas delas se concretizaram

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

TERRA ADORADA, SALVE SALVE!

 

Fábio José da Silva

 

Tenho por ti um sentimento ambíguo

A terra onde nasci, cresci com tantos amigos

Algo se perdeu de profícuo

Lá não existiam perigos

Faltariam aos jovens a oportunidade,

Forçados a partir de verdade

Levariam lembranças pra eternidade,

A descoberta do amor,

uma paz interior,

os laços de amizade se partindo,

a frustração, a dor....

Ficaram para trás

os tempos de José Belmiro Rocha,

nossos mestres,

as raízes do conhecimento,

melhores momentos...

Os campeonatos da bola pesada,

quadra lotada,

paqueras e comemorações,

na Barraca...

A igreja revolucionária, do padre controverso,

o político honesto,

o médico de todas as famílias,

pobres, ricas, maltrapilhas...

As bandas dos bailes clássicos,

pais e filhos no mesmo espaço,

A emoção do carnaval,

da escola de samba ou dos blocos no salão,

A rivalidade com as cidades vizinhas,

tensão...

Nossas meninas, nossa paixão,

fora forasteiros !

Todos xerifes da jurisdição...

Vimos os humildes de perto,

a solidariedade materializada,

nem sabia ao certo,

o que significava....

Fomos irmãos naquele time,

gritamos "é campeão"...

Era um sonho de redenção...

Passou o tempo, e o sinal da divisão,

a inevitável polarização...

Restou o sentimento,

de viver o melhor momento da emancipação...

Os filhos da terra, tão longe ou tão perto,

no seu aniversário, expressam a gratidão...

A pequena cidade de um grande povo, para sempre, no coração ♥️

EPITÁFIO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Se partir para sempre

Não derrame lágrimas.

Guarde-a aos presentes,

Não preciso de lástimas.

 

Ao lado do meu ataúde,

Cantem música alegre.

Minha vida já foi rude,

As amarguras, esquece.

 

Leia a poesia e o poema

Sirva petisco e a bebida.

Falem duma noite amena

Cuidem da minha querida.

 

Brinque, converse e beba,

Antes de eu partir de vez.

A vida é bela, mas é besta.

O que importa o que fez?

 

Falar de defeito e virtude,

Daqui não haverá defesa.

Eu sempre fiz o que pude

Nunca tive vida burguesa

 

Flor nesta sala fúnebre,

Não embeleza a viagem

Por favor, não se ilude,

E estou só de passagem.

 

Meus filhos pequenos,

Dê a eles muita guarida.

Não os deixem sofrendo,

Eu quero paz na partida.


O meu amor natimorto

Nunca me deu abrigo.

Mas ele foi só desgosto

Eu não o levo comigo.


 

Na vida fui o sonhador

Sempre quis dar o jeito.

Creio que pra onde vou

Serei o filho bem aceito.

 

Se a linda viúva chorosa

Não se conter em soluço.

Console com uma prosa,

Diga que a amo, escuto.

 

Todos os bens materiais,

Construídos durante anos

Agora não servem mais,

O são do mundo profano.

 

Durante o longo cortejo

Até minha morada final

Diga ao velho lugarejo:

Deixou sua vida carnal.

 

Na triste lápide sozinha,

Lá longe, no campo santo.

Escreva: Aqui jaz alminha,

Que amou sua terra tanto!

 

Peruíbe SP, 08 de novembro de 2023.

terça-feira, 7 de novembro de 2023

MENINA GRACIOSA

 

Adão de Souza Ribeiro

Se eu a vejo na foto

Vestida de bailarina,

Na memória reporto.

A infância da menina.

 

Pelo pátio do ginásio

Desfila pra lá e pra cá                                                           

Provoca coração frágil

Onde quer que ela vá.

 

Menina o seu charme,

Permanece na mente.

Nada que me acalme

Eu sofro eternamente.   

 

Fico sentado no banco

Na esquina da sua casa

E me apego no encanto

Da menina que passa.

 

Minh´alma sofredora

Chora ao entardecer

A filha da professora

Não deixa esquecer.

Peruíbe SP, 07 de novembro de 2023.