segunda-feira, 27 de junho de 2011

MÃO NA MASSA

Um é muito querido na praça,
O outro, ninguém se arrisca;
Um vive com a mão na massa,
E o outro , na tal da política.

Um tem por oficio a padaria
O outro, o das suas fazendas.
E na dura lida do dia a dia,
Vão aumentando suas rendas.

Gostam de obras faraônicas,
Construídas com suor alheio
E levam tudo da cidade crônica
Sem remorso e sem de receio.

Mas se o povo pobre e faminto
Clama choroso por leite e pão,
Dão-lhe uma taça de absinto
E dizem: “Não vos conhece não”.

Mas se tudo é tão frágil e breve
E disso temos a maior certeza.
O conforto eterno que se reserva
A eles, é condomínio do Veneza.

Peruíbe SP, 27 de junho de 2011

domingo, 26 de junho de 2011

O PÃO E O LEITE

De advogado pra padeiro;
Padeiro, procurador;
Tal feito, por ser pedreiro,
Eis conseguiu, sim senhor!

Da massa que nasce o pão
Surge o professor ligeiro;
De um pulo, na contramão,
Faz-se ele também padeiro.

Cabra macho, do carneiro
Pra vaca foi um pulo só;
Viu-se logo grão leiteiro,
Não aqui: no cafundó.

Está servido o pão e o leite,
Sem café pra não ter cheiro;
É de poucos tal deleite,
Mas é do povo o dinheiro.

Poema escrito por Washington Luiz de Paula
São Paulo SP, 25 de junho de 2011

sexta-feira, 24 de junho de 2011

AUSÊNCIA

Já não sei mais
Dormir sozinho;
Longe do teu beijo
Do teu carinho.
Teus lindos passos,
Vejo pela casa vazia.
Sinto forte agonia
E dor no peito,
Sem você.
A vida perde o encanto,
Com você ausente.
Só quem ama sente,
Sem saber se volta,
O bem que está distante.
O telefone não toca,
Noticia não chega.
Onde anda a princesa,
Com olhos de tigresa
E garras felinas?
Imagino mil coisas,
Sobe a adrenalina.
É o cheiro que fascina
E a cama desfeita,
Numa noite de loucura.
Já não sei mais,
Viver sem a amada
Sinto tocar meu rosto,
No sono da madrugada.
E meio sonolento,
Corro pra janela;
Pra ver se ela vem
E beijar os lábios dela.

Bauru SP, 14 de dezembro de 2003

UTOPIA

Queria ser a água do chuveiro
Beijando teu rosto angelical.
E, numa dança silenciosa,
Dar-te um longo abraço.
Ah, amor, como eu queria
Ser aquele pequeno sabonete
Que desliza pelo teu corpo
Tão lindo e tão sedutor.
Ah, minha paixão, como desejo
Ser a toalha macia e atrevida
Descobrindo os mistérios
Do teu corpo molhado.
Ah, minha vida, como eu invejo
O espelho atento do teu quarto
Que, com riqueza de detalhes,
Espia a tua eterna nudez.
Ah, minha gata, como eu sonho
Ser o travesseiro onde repousa
Teus sonhos e tuas fantasias
Deste teu mundo de mulher.
Ah, minha ternura, como eu choro
Por não poder ser o branco lençol
Que sente o calor e a forma felina
Brotando da tua alma sedutora.
Ah, minha loucura, como eu deliro
Ao lembra que é o travesseiro
Que lê todos aqueles segredos
Escondidos neste teu olhar.
Ah, minha vida, como eu espero
Ser, um dia, a luz que ilumina
Tuas noites envoltas de prazer
E, assim, não me apagar de tédio.
Ah, minha linda, como eu queria
Ser este teu quarto aconchegante
Para ninar calmamente o teu sono
Antes que a realidade amanheça!

Bauru SP, 29 de junho de 2003

VIDA, MINHA VIDA

A Vida é bela,
É breve.
Passa como nuvem
É fria
Como neve.

A vida é assim,
Sem fim.
Passa como tempo
É lenta
Para mim.

A vida é frágil
É cristal.
Passa como sopro
É caracol
Feito vendaval.

A vida é doce,
É santa.
Passa como rio
É mistério,
Que encanta.

A vida é dádiva,
É benção.
Passa como graça
É infinita
Em oração.

A vida é luz,
É brilho.
Passa como raio
É contínua,
Como filho.

A vida é vida,
É quietinha.
Passa como solidão
É parte,
Da vida minha.

Peruíbe SP, 04 de janeiro de 2007

quinta-feira, 23 de junho de 2011

VOCE E EU

Você vem e me beija
Dá um abraço
Faz um gracejo
E diz que me ama.

Você vem e me embala
Pede um carinho
Geme de prazer
E diz que me deseja.

Você vem e me escraviza
Prende o coração
Dá um sorriso
E diz que me quer.

Você vem e me acaricia
Beija minha alma
Canta uma canção
E diz que me admira.

Você vem e me hipnotiza
Seduz com o olhar
Brinca de amar
E diz que me atrai.

Lins SP, 13 de outubro de 1999

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O DIA EM QUE A DITADURA MATOU MANÉ GARRINCHA

Por ROBERTO VIEIRA
20 de junho de 1964.
Garrincha e Elza Soares dormem na Ilha do Governador.
O casal mais odiado do país.
Castelo Branco se define como homem de centro-esquerda.
Os cariocas apoiam Castelo.
O São Paulo é campeão em Florença.
O Flamengo é campeão do Torneio Naranja com Paulo Choco.
Mas Elza estava com Jango no Comício da Central.
Elza estava com Jango na sede do Automóvel Clube.
Garrincha estava com Elza pro que desse e viesse.
A ditadura chega de madrugada.
Os homens acordam todo mundo na casa.
Garrincha, Elza, a mãe e os três filhos da cantora.
Armas em punho.
Todo mundo nu virado pra parede da sala.
Paredão.
Garrincha pede que poupem as mulheres.
Os militares vasculham a casa.
Destroem os móveis.
Semeiam o terror.
Garrincha está só diante do time adversário.
Garrincha bicampeão mundial.
Garrincha das pernas tortas.
A ditadura vence o jogo.
Mas antes de sair, deixa uma lembrança.
Um dos carabineros abre a gaiola do mainá.
Pássaro indiano.
Xodó de Mané Garrincha.
Curiosamente presente de Carlos Lacerda.
Lacerda que amava os tanques.
Lacerda que também teria seu dia de mainá.
O pássaro desaparece nas mãos do futuro torturador.
O mainá tem seu pescoço torcido.
Garrincha observa o gesto e chora.
O último a sair agarra Mané e afirma:
“Se abrir o bico vai ficar que nem esse passarinho!”
Os jornais publicam a notícia.
Subtraindo a verdade.
O Brasil do mulato inzoneiro.
O Brasil do homem cordial.
Mostra sua face brutal.
Longe das arquibancadas.
Longe dos campos de futebol.
20 de junho de 1964.

Obs: Publicado no blog de Juca Kfouri em 20 de junho de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

LA NOSTRA COSA

Não que eu seja de todo bronco. Sei que o progresso bateu à minha porta e que preciso acompanhar a evolução dos tempos. Por isso, mesmo que forçosamente, preciso envergar diante das mudanças, mesmo que isso vá contra aos meus princípios morais e éticos. Mas tem coisas que não consigo entender.
Nem mesmo Osvaldo de Souza, com sua ciência exata, convence-me de que estou errado na maneira de pensar sobre o que acontece na minha cidade. Talvez eu tenha tido uma infância diferenciada ou uma escola arcaica e, em razão disso, sou meio arredio e não aceito coisas da modernidade. Às vezes sofro e me envelheço aos poucos.
Aprendi ao longo da vida, que cada um sabe a alegria e a tristeza de ser o que é. Não me esqueço de um adágio popular que diz: “Quem planta vento, colhe tempestade”. Por isso, é certo de que existe a lei do retorno. Debruçado sob essas vãs filosofias, contemplo os acontecimentos pitorescos de minha cidade provinciana. Vejo que a nuvem da ignorância paira sobre ela e que é varrida pela poeira ostracismo.
Se tem algo que não aceito, é hipocrisia e falso moralismo. Sem qualquer pitada de censura, a sociedade e as pessoas precisam aceitar o mundo como ele é, ou seja, com todas suas virtudes e imperfeições. Não podemos virar as costas para a verdade e a realidade que nos cercam. Podemos mentir para o mundo, porém, jamais para nós mesmos. Como uma criança órfã do colo materno, choro pela dor daqueles que buscam amparo no poder público e não encontram.
Em cada esquina, cruzo com pessoas clamando por moradia, educação, saúde, alimento, segurança e outras tantas bagatelas. Na pureza de suas almas, mendigam restos de comida, casas escoradas pelo abandono, proteção fictícia, cultura banida do dicionário, cura dos males do corpo e do espírito. É triste saber, que para os políticos e os poderosos, o povo é apenas massa de manobra. Para os mandatários do município, o sentimento do munícipe, é representado apenas, pelo voto na urna. Depois do sufrágio, nada mais importa.
Como toda cidade tem dono, a minha não foge a regra. Temos um “capo”, que comanda “ii segreto della nostra cosa”. A partir daí, os escândalos são rotineiros e o temor de represálias contra aqueles que não participam do clã, fazem com que o silêncio cale o sonho de progresso e harmonia da população. Esse comando cria tentáculos e deles, beneficiam seus asseclas. A moral, a ética, a cidadania são banidas do dicionário caiçara.
Os contratos escusos, emanados de licitações fraudulentas; o enriquecimento ilícito, nascido das propinas de gabinete, o puxa-saquismo representado pelo abre e fecha das maçanetas, mancham as paginas da história de uma cidade simples, amada por um povo simples e que sonham com um futuro simplório. As pessoas trabalhadoras e honestas são simples, porque no coração delas, não habitam a maldade e a ganância.
Não que eu seja de todo bronco. Mas calar-se diante de tantos desmandos, é ser cúmplice da bancarrota de uma cidade que anseia pelo progresso. Temos necessidades urgentes e que clamam por soluções urgentíssimas. Não podemos ficar reféns da voracidade de poucos e da inércia de um povo que nasceu com o direito de ser feliz. Por isso, não arredo o pé, diante da obrigação dos poderes constituídos (executivo, legislativo e judiciário), de defenderem os interesses do bem comum, mesmo que isso vá de encontro aos interesses particulares (políticos e empresários inescrupulosos).
Não que eu seja de todo bronco. Mas é como disse o meu amigo Che Guevara: “Há que endurecer-se sempre, mas perder a ternura, jamais”.

Peruíbe SP, 07 de maio de 2011