Adão de Souza Ribeiro
“Não julgueis, para não serdes julgados” –
Mateus 7:1-5
Não quero ser herege, diante do que passo a
narrar. Mas, a meu ver, o que tem ser dito, merece que seja bendito. Sempre
tive por princípio, falar a verdade do que sinto e penso. Ser sincero é a
melhor forma de deixar a marca registrada por onde a pessoa passa. Não gosto de
subterfúgios ou meias palavras, pois isso me causa asco. Se em algum momento,
eu exceder nas minhas parcas conjecturas, corrija-me.
O Papa Francisco, nome escolhido pelo arcebispo
argentino Jorge Mário Bergoglio, 85 anos, ao ser coroado 266º Sumo Pontífice da
Igreja Católica em Roma, disse ao padre brasileiro Carlos Henrique Alves
Resende, num encontro informal, no Pateo San Damasco, após rogar orações: “Santo padre, reze por nós brasileiros.”,
ao que supremo chefe católico sorrindo, respondeu: “Vocês não tem salvação. É muita cachaça e pouca oração”.
Será que Vossa Santidade nunca deu uma
beiçada num copo de *Fernet, na tenra juventude, acompanhado de amigos, num bar
em Buenos Aires, enquanto assistia a uma partida entre o time de San Lorenzo e
Boca Juniors? Claro, isso antes de descobrir sua verdadeira vocação para o
celibato! Pecado não é o que entra pela boca, mas o que sai dela. Isto é bíblico.
Creio que o primeiro Papa latino, sabe bem disso. De minha parte, se não resistiu
à tentação da carne, está perdoado..
Na infância, o menino Mário Jorge Bergoglio,
jogava nos times de várzea de Buenos Aires, depois da saída das aulas. Por não
ter habilidade com a bola, era chamado de “Pata Dura”, por isso, sempre fora
escalado para jogar no gol. Vê-se, portanto, que ele tem tudo para ser
brasileiro. Daqui a pouco, falará das nossas mulheres: “É muita mulher e pouca oração.” Então só falta gostar da nossa
purinha. Que a Santa Sé, não saiba disso. O Jorge Mario Bergoglio agora é
santo.
Não é redundância afirmar que, nós
brasileiros, somos a maior nação católica do mundo, com 64,6% dos habitantes, segundo
censo do IBGE, de 2010. Fico cá,
pensando com meus botões: “Se não temos
salvação, de que adiantou a vinda dos jesuítas, durante a colonização. E,
ainda, a construção monumental da Basílica de Nossa Senhora Aparecida?”. Parece
que tudo isso foi em vão, só porque temos um carinho enorme pela cachaça.
Lembro com carinho, que meu avô paterno, tinha
como ritual sagrado, todos os dias antes de jantar, tomar uma dose da
branquinha (cachaça). Segundo ele, era para abrir o apetite. E, diga-se de passagem,
comia mais que uma lima nova. Para mim, creio que aquele ritual sacrossanto,
era para afugentar o estrese do dia-a-dia. Pergunto: “Onde ele estava pecando?” Cada um dos brasileiros tem um motivo
para beber, ou seja, espantar as mágoas, esquecer-se das dívidas, diminuir a
dor da traição e por ai se vai...
A bebida genuinamente nacional, agora
respeitada, está sendo exportada para o mundo inteiro. Convido Vossa Santidade para
visitar um engenho artesanal, onde a nossa “purinha” é fabricada. Não tenho
dúvidas que ele irá se apaixonar, isso a primeira vista. Terá que ir sem estar
paramentado, para não se comprometer, claro! Ela é chamada de “água benta” e,
diante da visita dele, será conhecida como “santa cachaça”, que livra de todos
os pecados.
A criatividade deste povo destemido deu a ela
vários nomes, ou seja, branca, pura, mé, marvada. Num vocabulário próprio, foi
batizada de Amansa Sogra, Chora no Pau, Balança Bicha, Atrás do Saco, Rabo de
Galo, Amansa Corno, Queima Rosca, Pau do Índio, numa lista interminável, a
gosto do freguês. Na minha cidade, interiorana por natureza, o que não falta é
boteco, cachaça e freguês. Que Jorge Mário Bergoglio, o Santo Papa, não passe
por lá. Se isso acontecer, estarão todos excomungados.
Um dia desses, antes do Papa Francisco fazer desastrado
comentário, estava eu e o Noca – velho amigo
de infância, desde o grupo primário -, lá no “Bar do Anami”, conversando e
relembrando os tempos de outrora, quando de repente ele disse: “Vamos tomar uma cagibrina (cachaça)?”,
ao que eu, mais que depressa respondi: “Bora lá”.
Noca então pediu ao dono do boteco: “Aname, põe duas doses caprichadas da Santa
Cachaça.”
Nós bebemos várias doses, junto com tira-gosto
(petisco). Que pecado tem?
Peruíbe SP, 30
de maio de 2021.
P.S: * Fernet – criado em 1845, em Milão, na Itália,
por Bernardino Branca. Usa álcool e cerca de 40 ervas maceradas.