domingo, 28 de setembro de 2014

O REINO AGONIZA


                        Ultimamente, ando afastado das dependências palacianas. Por isso, não tenho acompanhado as recentes fofocas da corte. Nem mesmos os tabloides marrons tenho folheado nos últimos tempos. Isso tem um lado bom: não estresso com as coisas que acontece na corte e, muito menos, com a plebe.  Quando estava muito infiltrado no mundo palaciano, sofri demasiadamente. Isso forçou-me a consultar meu cardiologista e, muitas vezes, precisei-me afundar em doses cavalar de uísque. Quem sofreu foi meu fígado, que nada tinha a ver com isso. Hoje, venho me redimir e pedir perdão a ele.

                        Mas outro dia, sem querer, deparei-me com notícias nada alvissareiras sobre o “Reino Caiçara”. Causou-me muita tristeza, para não dizer, grande preocupação com Vossa Majestade. As pessoas mais próximas do trono, num desmando inimaginável, têm causado um desgaste político enorme à monarca. Pensei que minhas profecias de outrora, quando ela ascendia ao trono, jamais se consumaria. Mas, para minha infelicidade, aconteceu antes do esperado. Não sou adivinho e, muito menos, mensageiro do apocalipse, mais isso, era inevitável.

                        Corre pelas províncias, boatos que estão pedindo a cabeça da rainha e de seus assessores mais próximos. Os súditos reclamam da saúde, transporte, educação, moradia, segurança e tantas outras coisas. Os ministros mais próximos, tem se preocupado mais em engordar suas algibeiras, do que resolver as mazelas do bem comum. Dilapidam os cofres públicos, em prol de construções suntuosas e carros de marcas caríssimas. Deleitam em luxúrias, às custas da miséria de um povo ignorante.

                        A Câmara do Comuns, composta de políticos que em nada representam os anseios do povo, recebem uma enxurrada de denúncias de malversação do dinheiro público, e nada fazem para punir a rainha e seus asseclas. Assim também, como o reino agonizante, ela e a Câmara dos Lordes, vão perdendo a credibilidade perante uma população ansiosa por justiça. Por diversas vezes, tentei alertar Vossa Majestade sobre as cautelas que deveria manter com relação as pessoas mais próximas, porém, não me ouviu. “Cautela e caldo de galinha, não faz mal a ninguém”, diz um adágio popular.

                        Talvez agora, a monarca consiga entender, porque a Carta Magna da Nação, em seu Artigo 1º, § único, diz: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meios de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Conclui-se, portanto, que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido. Se a rainha não tomar as cautelas de estilo, terá a sua cabeça decapitada em praça pública, numa humilhação sem precedentes na história do reino.

                        Não queira Vossa Majestade acreditar que seus asseclas a defenderão ou que pedirão para serem sacrificados em seu lugar. Com certeza, fugirão para paraísos fiscais e protegidos pela impunidade que sempre imperou por aqui. E o povo, essa massa de manobra, continuará mendigando o pão mofo deixado por aqueles, que sempre acreditou, serem os defensores de seus direitos. A bem da verdade, o povo existe apenas para carregar o andor pesado dos impostos e das obrigações públicas. E recebem como pagamento, as chibatadas impiedades dos mandatários do poder.

                        Vejo com tristeza, que o reino está em coma profundo e que a monarca agoniza solitária no leito do abandono político. Pouco resta a ela, senão abdicar em nome de uma democracia transparente, bem como, da moralidade e da ética administrativa. Deverá descer do palco da arrogância financeira e política, para salvar um reino agonizante e que clama por salvação.

                        “God salve our queen” (Deus salve nossa rainha)   

 

ADÃO DE SOUZA RIBEIRO

Escritor, poeta e cronista

domingo, 2 de março de 2014

MINHA NUDEZ


Quero me despir de tudo

Tudo que me maltrata.

Despir na hora exata

Sem medo, sem mascara.

Quero me despir devagar

Sem sofrer, desapegar.

Em silêncio, ao luar

Calmo, como navegar.

Quero me despir do medo

De todos meus segredos.

Rápido, enquanto é cedo,

Para que de mim, não perco.

Quero me despir do amor

De tudo que causa a dor.

Não quero ser a linda flor

Que perece diante do calor

Da ingratidão sem cor.

Quero me despir da lida

Fugir do afago da vida

Da esperança tão sofrida

Coisa que não se explica

E se explica, nada modifica.

Peruíbe SP, 02 de março de 2014

 

domingo, 9 de fevereiro de 2014

ANDANÇAS


Ando por aí

Perambulando

Sem rumo.

Mas quem vai

Cantalorando

Não tem prumo.

Passo por lá

Caminhando

Sem eira.

Volto para cá

Gritando

De canseira.

Viajo sem pressa

Correndo

Do passado.

Sigo em silêncio

Sem espaço.

Transpasso limite

Amando

O que não existe

Percorro além

Sonhando

Nesse vai e vem.

 

Peruíbe SP, 09 de fevereiro de 2014

sábado, 1 de fevereiro de 2014

METADE DE MIM


Te amo mais do que tudo,

Te amo além do infinito.

Amo em silêncio, mudo.

É assim que eu sobrevivo.

 

Te amo como nada quer,

Te amo, desejo e procuro.

Amo como fêmea, mulher

Assim, no passado e futuro.

 

Te amo minha outra metade

Te amo, pois me completa.

Amo, assim sem vaidade,

Calado, sou homem, poeta.

 

Te amo minha alma gêmea,

Te amo num amor tão divino

Amo e será sempre me lema.

Deitado no teu colo, menino.

 

Te amo e essa é minha sina,

Te amo, presente de Deus.

Amo, e se a noite termina,

Durmo em paz nos braços teus.

Peruibe SP, 01 de fevereiro de 2014

sábado, 25 de janeiro de 2014

MINHA MULHER


A mulher

Que me ama

Não reclama

Me leva pra cama

E faz o que quer.

A mulher

Que me adora

Não implora

Me faz carinho

Até o amanhecer.

A mulher

Que me deseja

Não me deixa

Me põe no castelo

Do seu corpo.

A mulher

Que me conquista

Não me perde de vista

Me encarcera

No seu coração.

A mulher

Que me venera

Me espera

Sem olhar o passado.

A mulher

Que me respeita

Me beija

E dá seu colo

Para eu sonhar.

 

Peruíbe SP, 25 de janeiro de 2014