quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A DONZELA E A POPOZUDA

Dizem que quem vive de passado é museu. Não tenho queda para museólogo ou saudosista, mas, ás vezes, somos obrigados a buscar no fundo do baú, sábias respostas para os acontecimentos da vida cotidiana. Para compreendermos o presente e traçarmos a linha do futuro, temos que revirar o passado, pois ele é o berço da vida moderna. É preciso ter a calma da árvore do campo, para ouvir a voz mansa dos tempos de outrora.
O presente agracia-nos com um conforto exarcebado, nunca visto pelos mortais do planeta. A tecnologia amedronta-nos e faz do futuro, um ponto de interrogação no universo. Nesse mar de invenções, sentimo-nos como um barco à deriva, em busca de uma praia tranquila. O homem simples, sente-se acuado diante de tanta parafernália e refém da própria infeliciade.
De que vale um futuro de sonhos, se o homem perder seu coração? Lembro-me com saudades: das cantigas de roda; das bonecas de espiga de milho; dos carrinhos entalhados em madeira; das histórinhas contadas pela vovó; dos cavalos arriados garbosamente; das charretes desfilando pelas ruas; do armazém do "Seo Manoel"; das brincadeiras no pé de embu; das tardes na cachoeira; das longas conversas em noite enluarada; das arapucas montadas na floresta dos sonhos; das folias de reis; das modas de viola, à sombra de uma frondosa paineira; do fogão à lenha; do café no torrador; dos bailes à beira da tulha, na fazenda; da caboclinha com cheiro de simplicidade; dos recreios na escola do bairro. Hoje, tudo isso é apenas um quadro pendurado na parede. E como dói!
O consumismo do novo milênio, sepultou valores éticos e morais do passado, deixou em frangalhos a sociedade de hoje e desenha um futuro nebuloso e incerto. Ao apertarmos o botão da tecnologia, temos um mundo ao vivo e à cores, acontecendo a nossa volta. O mesmo botão que encurtou distãncias geográficas, distanciou o homem de si mesmo. As idéias, o comportamento, a moda, as opiniões e o destino, já vêm prontos.
Não temos direito de decidir sobre o que é melhor para nós; mas, sim, o dever de consumir o que nos é apresentado como certo. Perdemos nossa identidade, somos apenas números; não inteiros, mas fracionais. Os poderosos ditam as regras e nós apenas obedecemos.
Nesse consumismo selvagem, a mulher tornou-se uma presa fácil e mantê-la escrava do capitalismo desenfreado, foi uma questão de tempo. Descobriu-se o maior filão do comércio e, por isso, era preciso conquistá-la com urgência. Se ela continuasse uma pessoa recatada, dedicada ao lar e obediente ao esposo, bem como, de princípios morais irretocáveis, como poderia consumir os produtos encantados da vida moderna?
Trancafiada no aconchego do lar, não consumiria e os produtos descansariam eternamente nas prateleiras. Por isso, realizou-se uma lavagem cerebral, a fim de que a mulher rebelasse contra o padrão de vida que levava e, o que é mais importante, que visse no homem o inimigo e não o companheiro milenar.
Livre, tornou-se uma consumidora voraz. Para satisfazer seu ego, foi preciso trabalhar, tendo que abandonar o lar. Para compensar a perda dos filhos, enche-os de presentes e liberdades excessivas; a do marido, foi compensada com a proveta ou noites regadas com cerveja e cigarro. Não obstante, por se achar auto-suficiente, expurgou o marido, intitulando-se uma "mulher liberal e independente".
Após a lavagem cerebral, feita pelo consumismo, fez do homem o inimigo número um, sob a alegação de que dele, era escrava. Há que se fazer uma observação: a muher moderna deixou de ser escrava do homem, para ser escrava do consumismo. Pergunta-se: "Que liberdade é essa que tanto veneram?". Num tempo não muito distante, desde o flerte até o casamento, buscava-se na mulher, a esposa, a amiga, a parceira, a educadora, a companheira fiel.
A beleza física, era apeans a ferramenta para a conquista e não uma arma para escravizar as pessoas e, em especial, as mulheres. Ao enveredar pelos caminhos da massificação e do materialismo, a mulher perdeu o encanto, a ternura, a simplicidade. E, o que é mais trágico: perdeu a própria identidade, deixou de ser divina, para ser mortal,
Não vão pensar os formadores de opinião, que todas as mulheres falam o mesmo dialeto; pois existem aquelas que distoam do que aí está, isto é, não confundem fidelidade com submissão; liberdade com libertinagem; beleza com vulgaridade, conquista com batalha, amor com jogo de interesse, pureza com leviandade, atração física com comercialização do corpo.
Há aquela que segue a boiada e aquela outra que questiona o percurso. Se eu tivesse que decidir entre a donzela e a popozuda, escolheria a donzela. Não a de corpo, mas a de coração, espírito, alma, fidelidade, ternura, amor e humildade. Essas qualidades transcendem o tempo, não envelhecem precocemente e não se abatem com as doenças mundanas.
A mulher recatada, enriquece o lar e enobrece o marido. A mulher popozuda, é filha do modismo e, portanto, suas qualidades, por serem apenas físicas, são frágeis e passageiras. A casa edificada pela popozuda, sucumbe diante da primeira adversidade. Assim como a cobra peçonhenta, a mulher popozuda hipnotiza o homem desavisado, conduzindo-o a derrota moral.
Que me perdoem as mulheres a quem tanto amo e admiro; mas, hoje, há um culto abundante da bunda e uma vulgarização da vulva.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A INFANCIA PERDIDA

Continua fresca na memória, a doce imagem de uma criança livre, leve e solta, brincando nas ruas tranquilas de Guaimbê SP. As casas modestas espiavam a inocência, de quem preocupação não tinha. As cercas divisórias das casas vizinhas, ora de arame farpado, ora de melão de são caetano, eram simbólicas; pois as brincadeiras infantis, não tinham limites. Desde o acordar até o dormir, o momento era quando.
De manhã, mamãe nos acordava e após um cafezinho simples, batíamos rumo ao grupo escolar. Sete irmãos, logo sete inseparáveis companheiros. Na escola, dedicadas professoras ensivavam caminhos a serem percorridos, em busca de quimeras. No recreio, hora tão esperada, corríamos para lá e para cá, ou sentávamos em grupinhos, para conversarmos conversas infantis. Se querelas haviam, tia Coquinha era a fiel da balança.
À noite, sob o luar sonolento, enquanto os adultos falavam coisas intelegíveis, meus irmãos e eu, juntávamos a um bando de crianças. As calçadas e ruas descalças, de mãos dadas com aquele batalhão de crianças, brincavam de esconde-esconde, amarelinha, cobra cega, feijão queimado, pula corda, passa anel, lenço atrás, escolinha, duro ou mole, queimada... De vez em quando, parávamos para ouvir longas histórias da vovó. E assim, a noite sem sono, esquecia de fazer silêncio, para as estrelas dormirem.
Passou-se o tempo... passamos pela infência de nossas vidas. Crescemos e nos dispersamos. Envelheceu o corpo, mas a mente continua inocente. A Divina Providência, preservou a simplicidade do meu coração. Com olhos de ternura, observo o mundo de hoje. Choro um chôro triste de fazer dó. A robotização e a massificação das crianças modernas, sufocam-me. Minha idéias ultrapassadas, não aceitam conceitos pré-estabelecidos.
Roupas extravagantes, conversas eróticas, consumismo exagerado, embalos noturnos, traição, rebeldias familiares, vicios massacrantes e ganâncias, eram assuntos de adultos. Uma malcriação, reprimia-se apenas com um olhar. Não tínhamos ainda a televisão, que atrevidamente invade os lares, infestam almas puras, com ensinamentos pecaminosos. Num país sem identidade, pobre de nós! Seguindo o modismo dos paises dominantes, sepultamos nossos costumes e tradições culturais.
Brinquedos eletrônicos, programas abusivos de televisão, desnacionalização da língua, hormônios na alimentação, culto demoníaco do corpo, quebra de conceitos tradicionais de moral e bom costume, liberdade sexual, falsa liberdade feminina, consumismo desenfreado, são alguns fatores visíveis, que assassinaram de forma covarde, a infância brasileira. Nossos filhos saem do sete para os quatorze anos, anulando a parte simplória da vida. Fica para trás, a infância perdida. É bom lembrar, que o relógio da vida, não volta no tempo.
Os jovens praticam crimes hediondos, contra a sociedade ou a família, porque deles surrupiaram as coisas belas, da fase mais importante de suas vidas. Teorias demagogas de psiquiatras, sociólogos, pedagogos, sociólogos, terapêutas e criminalistas, não resolvem o problema. Urge que se devolva aos nossos filhos, o direito universal de serem crianças, em toda sua plenitude. São deles, o direito de sonharem um sonho lindo, de fantasiarem a vida, de correrem pelos prados livres da inocência, sem as cercas pré-moldadas da exploração humana.
Deixe nossos rebentos voarem nas asas da imaginação. Correr pela enxurrada, em dia chuvoso; chupar manga, sentado no galho de árvore; caçar passarinho com estilingue; brincar de burquinha; biboquê; brincar de boneca, feita de espiga de milho, são diversões alegres e sadias. Tudo tem seu tempo e sua hora certa. Não devemos atropelar a sequência da vida. Perdido no tempo, o jovem rebela-se contra a vida. Dessa rebeldia, sofremos nós, a família e a sociedade. É certo que o divã e a cela, não resolverão os problemas e não devolverão o tempo perdido. Somos culpados por essa geração de monstros.
"Ah, que saudades que eu tenho/ Da aurora da minha vida/ Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais.", dizia o poeta.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O HOMEM SÓ

Tem dia, que amanheço assim sem rumo, meio que perdido dentro do meu "eu". A estrada parece longínqua e tortuosa, com várias encruzilhadas. Falo ao vento, em busca de resposta; mas ele não me ouve, tem pressa. Preciso ter a calma da árvore do campo e a sabedoria da coruja noturna. Caminho lentamente, entre a sanidade e a loucura. Vejo que o mundo é cego, não percebe o meu dilema.
Penso, logo existo. A existência exige que eu resista. Aqui não há espaço para borra-botas. A mão do tempo acaricia o meu rosto, envelhecido pelas intempéries da vida. Todo dia, tenho que matar um leão, numa luta desigual, para continuar vivo. Levanto mil bandeiras, em defesa da sociedade; mas ela, ignora a minha. Lá bem distante, o horizonte me seduz com coisas belas. Devo partir em busca de quimeras? Não sei, não sei.
Mas a vida é breve, não há tempo para vã filosofia. A guerra, a fome, o tédio, a injsutiça, o abandono, encurralam o homem que pensa, que sofre, que ri, que chora. A incompreensão, deixa marcas indeléveis no seu corpo e na sua alma. O quilate do homem, mede-se pelas obras em defesa da humanidade. É preciso despir-se das vaidades, para viver além do seu tempo.
Assim, a passos firmes e lentos, sigo meu destino ou desatino. Não importa quantas estradas ingremes percorremos, mas, sim, as vitórias que conquistamos. O sucesso é um caminho solitário, que só aos corajosos é dado o privilégio de percorrer. O sofrimento purifica a alma, por isso, só os homens sofridos, são eternos. O peso da vida, curva a costa do homem forte. Mas forjado na bigorna da incredibilidade, ele desenha o seu perfil.
Na angústia e no sofrimento, vejo velhos amigos batendo em retirada. São como as andorinhas, fugindo do frio avassalador. A familia, porto seguro de quem nela acredita, desaba ante a fúria de ondas gigantescas, esculpidas por problemas fictícios. Mas se me foi dado a missão de lutar e vencer, por que fraquejar? Cristo não se acovardou diante do madeiro. Por que eu faria? Que direi aos meus rebentos, diante de tamanha ignomínia?
Mas só beberá no cálice da vitória, os que vivem com retidão; os predestinados a salvarem seu povo do julgo dos poderosos e dos hipócritas; os que sabem porque vieram a este planeta indolente. Ás vezes, mesmo perdido dentro do meu "eu", encontro-me feliz em questionar a razão da própria existência. Infeliz daquele que nunca questiou ou nunca polemizou. Foi espectro de homem, não viveu.
Aceitar os desafios da vida, é algo inerente ao ser humano. Sentir-se só, é apenas um estado de espírito. O rio corre manso e caudaloso, por entre vales e campinas. Enquanto isso, a natureza lamenta a cicatriz, feita pelo avanço da humanidade. O homem só, busca na solidão do seu "eu", a paz que o mundo não tem. E ali, sentado num canto qualquer da existência, ele medita sobre o universo e faz versos de amor eterno.
Perdido dentro de mim, busco afago de Deus. Ele, na Sua divina bondade, acalenta-me em Seu colo e beija suavemente minha face. Sob um manto de ternura, adormeço. Sonho sonhos celestiais. Na mansidão de Sua candura, sinto-me à vontade na mansão do amanhã. Abasteço-me na fé de Suas palavras e me sinto forte. Vejo que nem tudo está perdido. Ele cochicha angelicalmente nos meus ouvidos, dizendo: "Filho sê forte. Sou contigo". A luz da Sua presença, enche-me de energia. Diante do Pai, sinto-me um pocuo Deus.
Perdido dentro do meu "eu", encontro-me com uma vida, jamais vista pelos mortais. Navegando dentro de mim, desvendo um mundo que é só meu, onde reina a paz, o amor, a ternura, a harmonia e a felicidade. Naquele universo, reino absoluto. Lá estou livre dos facínoras, dos ditadores, dos falsos amigos. Diante dos problemas existenciais, o homem sente-se só. Eu também, mas a vida continua. Isso é tudo!

O SAPO E A PERERECA

Conta a lenda que...
Hoje vou começar assim. Se alguma coisa der errado ou se a história não convencer, a culpa é da lenda. Sou uma pessoa sensível, estou exposto às críticas; já ela é abstrata , bela e tem lá seus defensores. Por ser encantadora, transcreve o tempo; ja´eu sou transitório, não sei iludir.
Conta a lenda, que um sapo pulava alegremente para lá e para cá. Nessas andanças e de pulo em pulo, conheceu lagos, florestas, cascatas, prados, campinas e animais. Um belo dia, distraidamente, caiu num poço de profundeza imensa. Lá no fundo, encontrou uma bela e sensual perereca, que muito alegre e faceira, confabulava longas conversas com um novo companheiro. No barranco interno, haviam verdejantes samambaias, onde morava um grilo cantador.
Então, de dia contemplava a luz do sol, na entrada do poço e, à noite a companhia da pereca e do grilo. Passou-se um longo periodo, onde a monotonia era a companheira inseperável do sapo viajante. De dia a luz do sol e à noite, a mansa companhia da perereca e do grilo. E assim a lenda prossegue, sendo que o colunista não se cansava de narrá-la aos caixeiros-viajantes, que passavam pela bodega, a fim de ouvirem intermináveis histórias de ninar.
Numa tarde prinaveril, já entediado com aquela vida bucólica, o sapo feliz questiona a companheira perereca, sobre a velha rotina: de dia, a luz do sol e, á noite, a companhia do grilo cantador. "Lá fora a vida é bela, alegre e infinita", disse ele com voz embargada. "Você quer vida melhor do que essa? De dia, a luz do sol; de noite, o grilo cantador. Lá fora tudo não passa de doce ilusão", ponderou a sábia perereca.
Ao debrçar sobre a lenda, imagino que existem dois tipos de cidadãos: aquele que percorreu o mundo, em busca de conhecimento e aquele, que ficou preso à sua terra, sem conhecer a cerca divisória da terra vizinha. O poço, meu Deus, é a cidade que não acompanhou a evoluçaõ do tempo; que aprisionou seus concidadãos, nas profundezas da ignorância moral e intelectual. Fez do seu momento, um tempo único!
Nas confabulâncias entre o sapo e a perereca, surgiu uma polêmica interminável: mudar ou não o ritimo de vida? "To be or not to be? That is the question (Ser ou não ser? Eis a questão), como dizia Hamelet, principe da Dinamarca. A quem interessa, que a perereca continue com seu conformismo, achando que está tudo bem e que o pouco que se tem, basta para a sobrevivência? A quem interessa, calar a voz do sapo e suas idéias de mudança, em busca de uma vida melhor? Será que só a luz do sol e as entediosas canções do sapo, são a mola propulsora, para o progresso eminente de nossa cidade?
Precisamos voar mais alto, transpor novos horizontes e descobrir o prazer de vidas mais dignas e humanas. mas, para isso, é preciso romper os grilhões: da ignorãncia intelectual; da mesmice de nossos governantes; do domínico cego, dos grandes empresários; a cultura capenga, que sepulta a nossa história raiz; do medo de ousar; da exploração inescrupulosa dos colonizadores, que vêm impor costumes e modismos. É preciso mostrar ao mundo, sem medo e sem trauma, que somos um povo soberano e que não temos vergonha de sermos felizes.
O sapo inconformado, deve ajudar a perereca a sair do fundo do poço, onde mora o conformismo e a falta de perspectiva de um mundo melhor.Se ela resistir, chamando-o de louco ou de revolucionário, ela dever persistir diutunarmente, até convencê-la de que se o poço é profundo e delimitado, no seu diÂmetro, a culpa é dela, que nunca lutou pelo seu conforto e progresso pessoal. Um dia, quando ela acordar do sono profundo, verá que a luz do mundo é imensa; que não tem apenas o diâmetro de sua morada menor.
Agora, no final desta conversa entre eu e você (leitor), resta-nos meditar sobre uma pergunta, cuja resposta delineará o destino de nossa querida cidade: "Então, meu caro leitor: você é o sapo ou a perereca?"

O NÓ DA GRAVATA

Sou funcionário público. Isso basta, para que eu seja mal visto, pago e amado. Ninguém gosta desse profissional, salvo quando precisa dele e, na maioria das vezes, o povo nunca está satisfeito com o serviço prestado. O contibuinte reclama sempre do mau atendimento e dos entraves que a burocracia do Estado gera para a sociedade.
As repatrições públicas, são de fazer dó. Os móveis que guarnecem o ambiente, têm aparência de velhos e cansados. A iluminação precário, livros empoeirados, paredes mofas, falta de ventilação, fios expostos, ventiladores quebrados, completam o lugar, o que não atende as normas regulamentares de higiene e segurança do trabalho. è nesse habitat natural, oq ue funcionário público passa um terço do seu tempo.
O salário é um dilema à parte. O holerit mais parece um atestado de pobreza do que um comprovante de rendimento. A cada trinat dias, o servidor é cinetificado de que não passa de um mendigo oficial. Faz das tripas coração, para cumprir a sua obrigação social e está sempre penhorado no armazem, na loja e no boeco da esquina. lazer, nem pensar! A ele, resta apenas ouvir os lamentos da esposa e dos filhos e, ainda, os xingamentos do contribuinte insatisfeito.
Assim, entre trancos e barrancos, o servidor público vai cumprindo a sagrada missão de representar o Estado. Não adianta reclamar do salário e do ambiente de trabalho, pois o governo não dá ouvidos. Em nome do saneamento das conts públicas, enclausura o servidor no curral do abandono. É comum vermos um funcionário desdentado, esfarrapado ou esclerosado, caminhando solitário pelso corredores da repartição ou pelas ruas da aposentadoria. Ele não pode ficar doente e se isso acontecer, é considerado peça descartável pelo Estado, através de seus superiores hierárquicos. Assim como um animal velho e cansado, vai perecendo aos poucos.
Um dia, buscando melhorar a imagem do Estado e tentando resgatar a autoéstima do funcionário público, resolvi mudar o meu ambiente de trabalho e minha aparência pessoal. Inicialmente, às minhas expensas, adquiri móveis mais modernos e material de escritório )caneta, grampeador, furador, clips, grampos, pastas, erroex, etc). Fui numa loja e através de um sacrificado crediário, comprei alguns jogos de roupa social. Era desejo mudar o ambiente e, o que era mais importante, minahs aparência, pois, afinal de contas, era representante do Estado.
Ao apresentar-me de cabelo curto, rosto barbeado, unhas cuidadosamente aparadas, trajando calça e camisa social de manga comprida, gravata, sapato lustrosamente engraxado, com tudo combinado, causou espanto para uns e admiração para outros. O contribuinte passou a tratar-me com carinho e respeito, pois antes de abrirmos a boca, a primeira impressão é a roupa. Pasmem! Os meus superiores hierárquicos passaram a ficar enciumados, pois, na visão egoistas deles, ó os chefes podem trajar à rigor e, principalmente, usar gravata.
Os superiores, com o desejo velado de denegrirem a minha moral, pasaram a fazer comentários dolosos de que assim me comportava, a fim de extorquir o contribuinte, passando-me por chefe. Não tardou para que eu fosse chamado à sala do chefe, onde, após horas de conversas ed considereções desprovidas de fundamentos jurídicos, pediu para que eu não mais usasse a gravata. Fiquei estarrecido com aquela detrerminação e ferido no fundo da alma. Não quis acreditar que meu chefe, um homem esclarecido e formado nos bancos da faculdade, proferisse uma determinação tão exdruxula e absurda.
Indignado, pedi que fundamentasse por escrito aquela determinação, para que eu não usasse mais gravata. Eu, na minha santa inocência, não vislumbrava nenhum crime ou transgressão disciplinar, pelo fato de trajar-me bem. Em que pese a incompet~encia e o ciúme do meu superior, precisava valer-me dos meus direitos constitucuonais. naquele momento, engasgou, gaguejou e divagou e, justificativas vãs, pois sabia que estava sendo arbitrário e que feria o meu direito de funcionário e de cidadão brasileiro.
Ao invés de ver na minha mudança, uma acentuada melhoria na repartição, preocupou-se em satisfazer o seu ego pessoal. Acontece que os cehfes de órgãos públicos, gostam de ser estrelas e, também, dos holofotes da imprensa. A vaidade pessoal fala mais alto que a competência profissional. Almejam sempre o pedestal e os refletores, mas, nunca, a humildade do bem servir. Numa repartição pública, um dou dois funcionários públicos trabalham com amor e carregam os demans nas costas.
Continuei a vestir-me assim e tratar o público com educação e presteza, pois acreditava que os ideais de um homem, não poderiam ser violados por ordens absurdas e ilegais, pois a Carta Magna da Nação Brasileria é clara, quando diz: "Artigo 5º - Todos são igguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza... Inciso II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei". Posteriormente, recebi uma punição camuflada, sendo transferido de uma Unidade para outra, dentro do próprio município, sob a alegação de mudanças administrativas da Secretaria. Esquecem que o servidor é um funcionário do estado e não de um chefe, em particular.
Até hoje, o meu chefe continua com um nó na garganta; mas não, O NÓ DA GRAVATA.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ETERNA MADRUGADA

A madrugada vai se escondendo mansamente, atrás da montanha azul. Num beijo solitário, a lua despede da noite amiga e vai deitar-se na relava molhada do prado em flor. Os pássaros cantoros, entoam melodias divinais ao amanhã, que vem chegando mansamente, por entre a mata verdejante. E, assim, nesta festa madrigal, acordamos sonolentos, para mais um dia que amanhece.
A cama ainda desfeita e o lençol amarrotado, são testemunhas vivas de uma entrega total. O travesseiro guarda em segredo, as juras de amor e as frases desconexas, rabiscadas no caderno de um prazer infinito. O cálice de vinho pela metade, guarda calado os gritos de êxtase, presos na garganta. È tanta felicidade, é felicidade tanta, que nos embriagamos e embriagados de amor, nos entregamos. A luz tímida do abajur, faz de cada momento, um instante infinito.
Depois da entrega total, abraçamo-nos e num silêncio estonteante, ouvimos as vozes de dois corpos saciados da fome da felicidade. O bater compassado dos corações, colados no suor da pele macia, conduz-nos por galáxias distantes e repletas de mistérios. A respiração pesada, não esconde as estradas que percorremos, no dorso de um amor indomável, na busca da realização total. Na mansidão do leito, só me perco quando te acho.
Os olhares ainda confusos, tentam decifrar o que acontece entre nós. Sem querer compreendemos que as nossas almas gêmeas não querem explicações. Na dança frenética de nossos corpos, compomos a melodia encantadora de uma noite, que insiste partir sem nada dizer. Enquanto a luz do dia expia-nos pela fresta da janela, cantamos a canção de um amor platônico. Não diga nada, deixe o silêncio falar por nós dois.
Dois corpos nus, despedidos de preconceitos, encontram naquele altar sacrossanto, a inspiração para compor o poema do amor infinito. Protegidos pela mão do Criador, despertamos felizes para a vida e para o amanhã. Ninguém, nem mesmo o vento frio da madrugada, roubou-nos os instantes dourados de prazer e de plena felicidade.
Depois de descansarmos no cansaço de dois corpos vencidos pela batalha da noite, banhamo-nos despreocupadamente sob o chuveiro da missão cumprida. A água toca lentamente as curvas sensuais do teu corpo e tu, com a leveza de tuas mãos, desliza pelo meu sexo, que a transportou para um mundo de mil loucuras. Na intimidade do nosso mundo, saboreamos a deliciosa fruta do desejo e deleitamos de tanta felicidade.
Assim que o sol da manhã, invadir a soleira da porta, vou abrir as janelas de um mundo novo e gritar aos quatro cantos da terra: “Minha linda mulher, eu te amo!”

Bauru SP, 30 de novembro de 2003

MINHA VIDA

Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, levanta-te do teu sono divinal e venha rapidamente em meu socorro. Em seguida, abraça-me com tanta ternura, de tal forma que eu possa sentir o compasso do teu coração e o cheiro do teu corpo, desabrochando em flor. Sem que eu perceba, acaricie o meu rosto lentamente, a fim de que eu possa viajar na nave de um sonho angelical.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, cante baixinho numa canção infantil, afugentando os fantasmas e pesadelos que atormentam o meu dia a dia. Sussurre aos meus ouvidos, com tua voz sensual, frases belas e desconexas, temperadas com carinho e erotismo, pois só assim, compreenderei que ainda existo. O silêncio da tua ausência, aprisiona-me na cela da solidão. Só tua voz adocicada, pode libertar-me e devolver-me a vida.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, esqueça dos teus afazeres e venha mansamente para mim. Cubra teu corpo apenas com um manto branco e transparente, deixando que, na penumbra do nosso leito conjugal, somente apareça a silueta de tua alma e de teu espírito. Encosta em mim, como que me protegendo dos vendavais que assolam um coração já dilacerado. Deixas eu repousar nos teus seios e, numa total cumplicidade, sejas a minha rainha e escrava.
Quando de madrugada, já sem voz, eu gritar teu nome, conta-me histórias doces e belas, daquelas escondidas no baú da minha infância. Fecha a porta do mundo lá fora e se ver uma lágrima solitária descer pela minha face, não espante, é apenas o néctar transbordando do coração. Com tua mão, apanhe-a lentamente e coloque-a sobre teu peito, pois nela está o segredo do amor e do prazer. Traga um chá de camomila e algumas bolachas, pode ser que eu desperte e queira cear contigo.
Quando de madrugada, gritar teu nome, cubra-me com teu carinho e não deixe que a lua venha expiar-nos pela fresta da janela. Diga às estrelas, que o teu amado está queimando em febre e que só tu sabes como curar-me desta doença chamada saudade. Ponha em minha boca a tua boca, para que numa transfusão tresloucada de nossa seiva, eu possa reanimar. Entre um beijo e outro, meça com termômetro do teu sexto sentido, o pulsar do meu sentimento. Verá que sem ti, nada sou.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, não pensas que estou louco ou agonizando. Procura ser paciente comigo, como a árvores é paciente com natureza e juntas formam o cenário do universo. Na mansidão dos teus olhos, busco ancorar meu desejo de ser feliz e na candura do teu corpo: pouso na nave da esperança colorida. Não sou louco, sou apenas um sonhador.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, dispa-me de todos os conceitos e preconceitos que a vida impõe e seja cúmplice do meu desejo. Enquanto as gotas de chuva bailam na canção do vento, escreva comigo, a melodia de dois corpos sedentos de amor e cante comigo, o refrão da magnitude de um prazer imensurável. Enquanto a madrugada caminha lentamente em busca do sol do amanhã, repousa o teu cansaço, depois de uma longa noite de amor, sobre o meu corpo molhado de alegria e vamos dormir serenamente em paz com nossos espíritos.
Quando de madrugada, já sem voz, gritar teu nome, é simplesmente para dizer que te amo e sou feliz!

Peruíbe SP, 23 de setembro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

POSSE DOS IMORTAIS DA ACADEMIA PERUIBENSE DE LETRAS

Realizada em 19 de novembro de 2005, às 20:00 horas, no Espaço Cultural "Vitória Régia", sito à Avenida Padre Anchieta, nº 2951, Jardim Florida, Peruibe SP

DISCURSO DE POSSE
(Proferido pelo Acadêmico Adão de Souza Ribeiro, Presidente da Academia Peruibense de Letras)
Excelentíssima Senhora Julieta Fujinami Omuro, MD Vice-Prefeita; Excelentísimo Senhor Raimundo de Souza, Primeiro Sargento - comandante do Tiro de Guerra; Excelentíssimo Senhor Celso Ricardo Junior, Segundo Tenente, comandante interino da Policia Militar de Peruibe SP; Excelentíssimo Senhor José Fernandes Aparecido Zanelatto, segretário geral da Academia Peruibense de Letras, em nome de quem cumprimentamos as demais autoridades presentes. Senhores e senhoras. Nobre confrades e confreiras. Eu vos agradeço pela presença nesta solenidadede posse dos componentes da Academia Peruibense de Letras.
* A idéia da formação de Academias, nasceu a partir do momento em que nos Jardins de Academus, há exatamente dois mil, quatrocentos e dois anos atras, Platão, o genial Platão, se via cercado de uma plêiade de moços famintos do saber, sedentos do conhecer. Fundava-se ali, a Academia de Platão, a primeira de todas as Academias.
Hoje, as Academias estão presentes em todos os recantos da terra, onde quer que haja homens cobiçosos de aumentar sua sabedoria, escorados no ideal da cultura, alimento essencial para o desenvolvimento do espírito.
As Academias perseguem uma meta. Diógenes, para satisfazer a curiosidade de Platão, que buscava descobrir quais os intentos do filósofo "cínico", definiu o saber com uma farse de simplicidade encantadora: "In omnibus, respice finen" - "Em todas as coisas, considere atentamente o fim".
Por sua vez, Aristóteles proclamou que: "Nada se faz sem que haja uma razão suficiente". De fato, não existe ação sem motivo. Toda ação visa alcançar um fim. * (Extraído da Revista "A Verdade", ano XL, nº 359, setembro/outubro 90)
Estribados neste raciocínio, podemos afirmar que a Academia Peruibense de Letras tem como finalidade: a cultura do vernáculo; o apreço à literatura brasileira; a defesa permanente de nossa herança literária, científicae artística; estimulo às atividades literárias; defesa das liberdades democráticas e da livre manifestação de pensamento; do patrimônio cultural da nação em geral e, ainda, da região de Peruibe SP.
A Academia nasceu do ensejo de um grupo de escritores e poetas, convocados pelo "Jornal Análise", através da escritora Eugênia Flavian, nossa matriarca, de lapidarem na bigorna do sonho de imortalidade, o resgate da história de nosso povo. Neste primeiro ano de luta, buscamos força no Divino Criador e a pereseverança contida no coração de cada literarato. Mas nossa longa jornada, apenas começou.
A construção de uma sede própria, que temos certeza contar com o apoio das autoridades constituídas, empresas privadas e a população em geral e, ainda, o lançamento de obras e concursos literários, são apenas alguns dos nossos objetivos.
Hoje, existimos de direito e de fato. A Academia, representada pelos Acadêmicos e suas respectivas obras, são patrimônio vivo de seu povo. Embora cada um de seus membros tenha suas convicções pessoais sobre os mais diversos temas da vida, não é permitido em seu seio, o proseletismo religioso ou político. Não defendemos segmentos filosóficos, mas sim, a liberdade democrática e livre manifestação de pensamento, conforme já foi dito anteriormente.
Como pensadores e sabedores de que o progresso é essencial para o homem, temos a obrigação de lutarmos contra as injustiças sociais; a corrupção; a ignorância; os preconceitos de raça, credo ou cor; a censura; o analfabetismo; a miséria; a escravidão fisica e mental, enfim, todos os males, os quais reduzem o homem a um ser insignificante.
Não pensamos individualemente, mas, sim, coletivamente. Através da filosofia, discutida academicamente, buscamos a perfeição moral, espiritual e intelectual do homem. Buscamos na sabedorira, a resposta para a nossa transição na terra. Acreditamos que só através da cultura, o homem será capaz de romper as barreiras da ignorância e do vício. A evolução da humanidade está diretamente ligada à arte de pensar e refletir sobre os desígnios da vida. "Penso, logo existo", disse o filósofo francês Rene Descartes.
Não defendemos a arte, somente pela arte. Mas defendemos a arte, como mola propulsora da evolução da alma e do espírito e, muito mais, como bálsamo que alimenta o conehcimento. TAmbém, vemos na arte, a forma de resgatar a história de um povo. Pois um povo que não cultiva a sua história e suas tradições, não existe. Por isso, somos contra a desnacionalização de nossa lingua, o aniquilamento de nossos costumes e tradições, impostas pelas nações dominantes. A certidão de nascimento de um povo, é seu dialeto.
Irmanamo-nos com todos os segmentos artísticos da cidade. O músico, pintor, teatrólogo, artesão, historiador, encontrarão na AcademiaPeruibense de Letras, o colo onde possam ninar os sonhos nobres da arte. A partir de agora, Peruibe - cidade que amamos-, não será apenas um ponto perdido no universo; mas, com certeza, o lugar onde o presente e o passado se unem, com vistas a um furutro promissor.
Ao deliciarmos uma leitura, podemos sentir na obra, traços da época e do local onde se desenvolve a história, na visão de seu autor. Ora, então pdemos afirmar que o literato (escritor, poeta, cronista), imortaliza os costumes, tradições e o comportamento social de sua época. Então, nós, membros desta Academia Peruibense de Letras, haveremos de relatar em nossas obras, as tradições de nosso povo, para que a história escrita ao longo dos anos, não se percam com o tempo. Desejamos, portanto, que a sociedade peruibense compreenda a magnitude desta instituição cultural, pois, a partir da fundação em 21 de novembro de 2004, passamos a fazer parte do parimônio de Peruibe SP - "Cidade da Eterna Juventude".
Neste momento sublime, os Acadêmicos: CArlos Alberto Berman, Celso MArques da Silva, Cleyde de Souza Silva, Ecilla Bezerra da Silva, Edson Muratori, Eduardo José de Sena, Edwaldo Camargo Rodrigues, Eugênia Flavian, Flávio Mecchi, Henrique Natividade, José Fernandes Aparecido Janelatto, MAria Luiza de Oliveira Freitas, Marcos Caramico, MAria Juliana Correa Pereira, Marta Zelia Zachar Fujita, Roosevelt de Almeida Santos, Thereza Adelina Barros Tavares, Vera Alves Mota, Wanda Regina Fiori, Washington luiz de Paula, Jairo Costa, José Guilherme Raimundo e eu, setimo-nos honrados com a diplomação e, acima de tudo, com a presença de todos, que vieram abrilhantar esta solenidade.
Finzalizando, senhores, senhoras, nobres confrades e confreiras, rogamos a proteção do Divino Criador, para que possamos cumprir com orgulho a missão de enobrecer a cultura. A imortalidade de nossas orbras, consgrará a emoção deste momento.
Está aberta a sessão.

SE EU MORRER

Se eu morrer de amor,
Traga-me uma flôr.
Se eu morrer de tédio,
Traga-me um remédio.
Se eu morrer de tristeza,
Traga-me uma cerveja.
Se eu morrer de nada,
Traga-me uma empada.
Se eu morrer de agonia,
Traga-me o fim do dia.
Se eu morrer de fome,
Traga-me um homem.
Se eu morrer de mal-me-quer
Traga-me uma mulher.
Se eu morrer do coração,
Traga-me um quentão.
Se eu morrer de loucura,
Traga-me uma sepultura.
Se eu morrer de costa,
Traga-me uma hóstia.
Se eu morrer de doença,
Traga-me uma crença.
Se eu morrer de desejo,
Traga-me um beijo.
Se eu morrer de repente,
Traga-me um pente.
Se eu morrer de manhã,
Traga-me uma fã.
Se eu morrer de abandono,
Traga-me um pano.
Se eu morrer de delírio,
Traga-me um colírio.
Se eu morrer de frio,
Traga-me um doril.
Se eu morrer de enfarte,
Traga-me um chá mate.
Se eu morrer de escrever,
Traga-me alguém para ler!...

Campinas SP, 10 de novembro de 1981

terça-feira, 22 de setembro de 2009

POEMA VIVO (I)

Há um sol
Que longe chora
E um relógio
Sem hora.

Há uma bomba
Escondida no beco
E uma criança
Rezando terço.

Há uma noite
Ainda acordada
E um todo
Sem nada.

Há um filósofo
De pensamento avançado
E uma luta
Do lado.

Há um lago
Que alegre caminha
E uma alma
Aqui sozinha.

Há um poeta
Atrás do morro
E uma lua
Pedindo socorro.

Há uma natureza
Em agonia
E um machado
Que ria.

Há uma nave
Desvendando o universo
E uma palavra
Sem nexo,

Campinas SP, 11 de junho de 1984

A INFANCIA CIDADE

Quando eu era menino
Fugia da escola
Para jogar bola
Num terreno baldio
Com a molecada
E achava graça
Em quebrar a vidraça
Da casa abandonada.

Quando eu era menino
Com raiva ou não
Falavra palavrão
E, minutos depois,
Estava de bem
E assim vivia
De noite e de dia
Feliz como ninguém.

Quando eu era menino
Se lembro ainda dói
Eu era cowboy
E no oeste da infância
Tudo era diferente
Pois não sofria de amor
Essa grande dor
Que modifica a gente.

Quando eu era menino
Olhava para o céu
Esperando papai Noel
O velho que trazia brinquedos
Na noite de natal.
Hoje tudo é saudade
E a infância cidade
Foi tragada por vendaval.

Quando eu era menino
Tudo era belo
E o meu castelo
Construido na areia
Era de paz.
Hoje, já moço,
Sinto o gosto
Que o ódio nos traz.

Quando eu era menino
Fui garoto peralta
Sonhava muito alto
E, na simplicidade da vida,
Fazia mirabolantes planos
Hoje, sem esperança
Desejo ter morrido na infância
Dos meus dez anos!

Lins SP, 25 de maio de 1982

A PUTA E O DEPUTADO

O deputado
Deu pra puta
Um ditado
Bem esculachado.
E a luta
De ambos os lados
Não encurta
O palavreado.
Ela é boa
Ele é parlamentar;
Nãe é à-toa
Este par.
Ela se irrita
Ele fica bravo
Sua bicha
Do Senado.
Um fala de rua
Outro de lei
Eu sou sua
Diz ele: Não sei.
Um vende o corpo
Por dinheiro
Outro compra voto
Do leiteiro.
A bunda
É uma beleza
E ele se afunda
Na riqueza.
Ela pensa na família
De carro
Ele acha Brasília
Um sarro.
Dá-me prazer
Eu te peço
E se você perder
No Congresso.
E o ditado
Ainda continua
Sendo rabiscado
No seio da rua.
Diz ele: Tenho mansão
No Morumbi.
Diz ela: Mas o que é bom
Está aqui.
Na Câmara
É doutor Ernesto
Mas na cama
Só projeto.
Pro político
Ela é puta
Mas naquilo
Ela sempre foi justa.
Ela cobrapor gôzo
Ele dobra
O povo.
Com o corpo febril
Ela é puta
E ele deputado
do Brasil!!!...

Campinas SP, 21 de junho de 1982

A MORTE DO POETA

O poeta morreu
Morreu o poeta.
Não houve pezares
Não houve festa:
Apenas silêncio.
O moreno lábio
O lábio moreno.
Ainda declama o verso,
Nas noites de sereno,
Num sonho à beira-mar.
A estrofe inseparável
A inseparável estrofe.
Alí, ao lado do ataúde,
Diz: A pureza nunca morre,
Para quem sempre amou.
O corpo cansado
O cansado corpo.
Sob a campa fria
Diz que o poema moço
Não morreu, encantou-se.
É certa, irmão, a tarde
A tarde, irmão, é certa.
Se, na terra, fecham a porta.
Há sempre uma porta aberta
No céu.
Dorme o menestrel,
Sob o manto do poema.
E lá, no leito do céu,
Os anjos cantam
Hinos de amor.
O poeta morreu
Morreu o poeta.
Mas morreu de que?
De tédio,
De alegria
Ou de dores colaterais?
Não!...
Morreu o poeta
De tanto fazer poesia.
Para que, um dia,
O mundo pudesse
Sonhar mais.

Campinas SP, 17 de junho de 1982

ARVORE DO CAMPO

Querida árvore do campo,
Que lanças ao sabor do vento;
E que dorme sempre ao relento,
Neste teu sono sacrossanto.

Teu bailar, amiga, é divino!
Fazendo festa ao Eterno Criador.
Tuas verdes folhas cantam hinos,
Jubilosos hinos de amor.

É explêndida a tua madeixa
No colo morno do arrebol.
De noite a lua te beija,
De dia te abraça o sol.

Amiga, por que ficas aí parada,
A se envelhecer precocemente?
Vamos sair pela madrugada,
Para felicidade amar a gente.

Se te fere o machado
Tú em troca dás o fruto.
E não condenas o culpado,
Filho deste mundo bruto.

Do berço até a santa morte,
Temos sempre a presença tua
Mas que triste a tua sorte
Neste eito qualquer de rua!

Campinas SP, 08 de abril de 1982

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

FOI ASSIM...

A mulher do leiteiro,
Comprou carne.
A do açougueiro,
Verdura.
A do verdureiro,
Açucar.
A do usineiro,
Café.
A do cafeeiro,
Água.
A do bombeiro,
Pão.
A do padeiro,
Garapa.
A do garapeiro,
Remédio.
A do farmacèutico
Lanche.
A do lancheiro,
Pipoca.
A do pipoqueiro,
Frutas.
A do quitandeiro,
Doce.
A do doceiro,
Bebida.
A do comerciante,
Queijo.
A do quejeiro,
Farinha.
A do farinheiro,
Feijão.
A do roceiro,
Leite.
E a do poeta,
Morreu de fome.

Campinas SP, 13 de outubro de 1981

PARA SER MULHER

Para ser mulher
É preciso ter muito afeto,
Porque o resto
São coisas banais.

Para ser mulher
Não é preciso ter corpo escultural,
Pois, basta um simples vendaval
Para destruir esta fortaleza.

Para ser mulher
É preciso ter muita experiência
E uma dosagem de crença
No amor infinito.

Para ser mulher
Não é preciso ter desejo em brasa
Pois com o tempo se apaga
A chama da ilusão.

Para ser mulher
É preciso ter muito dom de cozinha
E ser uma fada madrinha
Diante do berço.

Para ser mulher
Não é preciso ter o rosto pintado
Porque é do bom passado
Que depende o presente.

Para ser mulher
É preciso ter muita fibra
E que não se intriga
Com o menestrel.

Para ser mulher
Não é preciso ter muita fineza
Antes de tudo, é preciso ter a beleza
De uma humilde amanhã.

Para ser mulher
É preciso ter muito desembaraço
E viver nos braços
De um homem só.

Campinas SP, 15 de setembro de 1981

COTIDIANO

A manhã
Desperta
E a catedral
Acerta
O ponteiro do
Sol.

O meio dia
Corre
E a praça de
Porre
Vive um eterno
Sonhar.

A tarde
Esmorece
A cidade reza uma
Prece
No seio da
Rua.

A criança
Chora
Porque a noite
Implora
O seu sono
Final.

A madrugada
Delira
Enquanto a vida
Gira
Nas asas do
Tempo.

Campinas SP, 15 de setembro de 1981

DORME, ANDRESSA

Dorme, meu anjo
Dorme, meu bem
No meu descanso
Que a noite já vem.

Dorme, minha filha
Dorme, criança
A noite brilha
No meio da dança.

Dorme, Andressa
Dorme, meu amor
Antes que adormeça
A última flôr.

Dorme, pequetita
Dorme, minha santa
A noite é infinita
As ilusões são tantas.

Dorme, minha garota
Dorme, querida
A madrugada é rota
A manhã esquecida.

Dorme, menina
Dorme, minha poesia
O dia ensina
A canção da alegria.

Dorme, minha herdeira
Dorme, flôr-de-lis
A vida inteira
Farei você feliz.

Dorme, primogênita
Dorme, paixão
Que o sono sustenta
A paz do coração.

CAmpinas SP, 14 de setembro de 1985

MARIAS

Há tanta Marias,
Marias de Deus.
São todas rainhas,
Dos olhos meus.

Maria das Dores,
Com jeito amigo.
Por onde fores,
Irei contigo.

Maria Aparecida,
Alegria nos traz.
Que fazes da vida,
Um hino de paz.

Maria do Socorro,
Com cheiro de alecrim.
De amor ainda morro,
Tem piedade de mim.

Maria da Conceição,
Amor não tem idade.
Trazes no coração,
A seiva da felicidade.

Maria de Fátima,
Uma doce mulher.
Quem te acha,
Achou a fé.

Maria das Graças,
Cadê você?
A vida passa,
E a gente não vê.

Maria de Lourdes,
Meu grande bem.
Fiz o que pude,
No amor também!

Campinas SP, 10 de julho de 1985