segunda-feira, 23 de agosto de 2021

MARIA DE LOURDES

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Mulher, tu és a linda santa,

Lá do céu, em missão veio.

Trazer paz e ternura tanta,

Com belas aves em gorjeio.

 

Mulher, tu és anjo divino,

Que em volta há tanta luz.

Dos lábios brotam o hino,

Até em nossa alma seduz.


Mulher, tu és feita de fibra.

Caridade sempre foi o lema

Quem for bom que te siga,

Junto aos versos do poema.


 Mulher, tu és pura de alma.

E acalenta nosso menestrel.

Coração alegre bate palma.

Fizeste daqui um novo céu!

 

Peruíbe SP, 23 de agosto de 2021.

domingo, 15 de agosto de 2021

AMOR QUE MANDA

 

Adão de Souza Ribeiro

Diz que Ananda e Amanda,

Irmãs gêmeas de nascença.

Elas tinham para si a crença:

Na terra o amor que manda.

 

Amor que manda em tudo.

Cantavam aquelas donzelas,

Que debruçadas nas janelas

Viam lento passar o mundo.

 

Manda no coração da gente,

Faz de nós servos e escravos,

Que não valem um centavo,

Nos grilhões do sentimento.

 

As gêmeas por um tal varão,

Tiveram elas mesmo desejo.

Isso foi num olhar e lampejo:

Como dizer não ao coração?

 

Quem fazia da vida um hino,

A janela do amor foi fechada.

E hoje solteiras e não casadas:

Amor tão cruel, que destino!

Peruíbe SP, 18 de agosto de 2021.

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A JARDINEIRA E OS POMBINHOS

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        Assim começa um dos mais belos contos de fada, já vivido e escrito na terra natal. Afinal de contas, ali era um celeiro de fatos reais e pitorescos, que não me canso de narrar aos quatro cantos do mundo. Com isso, espero imortalizar aquele pedaço de terra no meu coração.

                        Naquele tempo, não havia rodovia e o tráfego era feito em estrada de chão batido, que conduzia as cidades circunvizinhas. O trajeto passava por sítios e fazendas, contendo além do areão, vários obstáculos, tais como, buracos, curvas a acentuadas e subidas intermináveis, bem como, travessia de boiada. No verão, uma poeira infernal; na época chuvosa, lamas quase que intransponíveis.

                        O ponto de ônibus improvisado localizava-se na Rui Duque de Caxias, quase esquina da Rui Barbosa, entre um açougue e uma loja de móveis. Ali era o ponto da história de Romeu e Julieta do meu sertão. As cenas vividas pelo casal de enamorados era um quadro lindo de se ver.

                        O varão conduzia um dos ônibus de passageiros, já há muito tempo e, portanto, conhecido de todos. A consorte, por sua vez, vinda de família tradicional e uma das mais belas da terra natal, gozava da admiração de todos, inclusive de mim, este pobre mortal.

                        Entre o embarque e desembarque, o ônibus permanecia parado ali, por um longo tempo. Era neste espaço, entre a chegada e a partida, que os pombinhos trocavam carícias e juras de amor. Também faziam planos para o futuro, isto é, o lar, a família e os filhos, frutos do relacionamento lindo e invejado por todos.

                        O que chamava atenção, era o fato de que todos os dias ela estava ali e, além dos carinhos, levava quitutes feitos pelas suas mãos delicadas, a fim de agradar o escolhido. As cenas românticas vestiam-se de uma compostura rigorosa, isto é, sem as depravações de hoje. Quem teve o privilégio de viver essa época, não esquecerá jamais.

                        De repente, hora de partir. O motor ligado, os passageiros acomodados.  A jardineira lentamente colocava-se em movimento. A maior riqueza parada no ponto e ele pelo retrovisor via o amor da sua vida, acenando com a mão. Ela ali tristonha, não arredava o pé, enquanto não visse a jardineira sumir no grotão, seguida por um enorme jato de poeira. Em alguns momentos, via-se apenas a areia.

                        Sentado no banco ao lado motorista, viajava a saudade e ele pesaroso, visualizava a imagem linda da amada. A paisagem bucólica dos sítios e fazendas, vista da janela com o ônibus em movimento, dava um ar melancólico, naquela viagem interminável. No toca-fitas, músicas que realçavam aquela paixão intensa e o amor verdadeiro. Vontade em dar meia volta e cair nos braços dela, mas tinha uma missão a predestinada, levar os passageiros aos seus destinos. Quantas vezes ela quis estar entre os passageiros, mas a realidade aconselhava a não embarcar no ônibus da ilusão, pois tinha uma realidade a ser cumprida e ponto.

                        Ela voltava para casa tão cabisbaixa e com a doce lembrança do amado. A partir dali, contava os minutos até o regresso dele. A cidade simplória e parada no tempo, não observava o que se passava diante dos olhos, isto é, as cenas de amor eterno. Embora eu, de longe e de forma discreta, olhava aquilo com admiração, por ser criança, de nada entendia sobre os mistérios do coração.

                        Aos quinze anos, deixei a terra natal. Não sei se aquele romance foi coroado com o enlace matrimonial. Mas toda vez que me deparo com uma jardineira, penso que dentro dela, viaja um casal de pombinhos, com destino a felicidade.

                        Passados os anos e hoje, já adulto, compreendo que o amor não se explica, mas, sim, se vive. Quantas vezes, eu já embarquei na jardineira da ilusão, com destino ao coração da amada. Quantas vezes, eu já fiquei no ponto esperando ela voltar, sem ter certeza de que viria. Busquei nos livros, receitas e teorias sobre o amor, mas foi tudo em vão.

                        Dizia Marcus Vinicius de Mello Moraes – o Poetinha: “Amar se aprende amando”. 

Peruíbe SP, 05 de agosto de 2021.