Ainda nos bancos da escola, isso
lá na minha terra natal, eu aprendi muitas coisas, dentre elas, o Hino Nacional
e uma matéria denominada “Organização Social e Política Brasileira”. Foi ali
que aprendi a respeitar os símbolos nacionais, bem como, o significado das
palavras honra e dignidade. Não bastasse isso, descobri o que significa viver
em sociedade. O professor de nome Levi, tinha uma didática impar, para ensinar.
Devo a ele meu conhecimento, no que diz respeito à sociedade e a política.
Tempo em que não havia computador
e, por conseguinte, o copia e cola dos tempos modernos. Tínhamos que pesquisar
em livros e bibliotecas e, depois, dissertar sobre o que lera. Desde a tenra
infância, fui moldado na bigorna do respeito às pessoas e ao bem comum. Numa
cidade pequena do interior, onde todo mundo conhece todo mundo, não havia como
negar auxílio e, muito menos trapacear. Se alguém maquiasse a verdade, tinha
que deixar a cidade á toque de caixa. Era desmoralizado, achincalhado.
Não era à toa, que as pessoas
procuravam se comportar de forma ilibada. A benevolência era marca registrada
dos conterrâneos. Lembro-me que ladrões, estelionatários, padrecos, viados e
prostitutas não faziam ninho ali. Não demorava muito. Juízes e delegados -
borra botas -, saiam pelas portas do fundo. Cansei de ver os valentões de
botecos, pedirem clemência em praça pública. Os entreveros, ou se resolviam na
conversa ou na bala da garrucha winchester enferrujada. A doença de mulher
assanhada era curada na chibata. Naquele tempo, o chicote estralava. Mijar fora
do pinico, nem pensar!
E assim fui crescendo, entre os
ensinamentos do professor Levi e a escola da vida. Como velho e eterno
observador do cotidiano, procurei tirar sempre nota alta, nas questões do
comportamento humano. Li no quadro negro da vida, que não há tempo para as
algazarras no fundo da classe. O mundo tem pressa e o livro da existência, pode
ser fechar a qualquer momento.
Até as crianças da minha infância,
não trapaceavam nos jogos de burquinha (bolas de gude). Se o fizessem, além de
lavarem croques na cabeça, eram excluídas da brincadeira. Desrespeitar o mais
velhos, longe disso. As aulas de OSPB eram vividas na prática. Hoje, já passado
tantos anos, ainda recordo do professor Levi e do Osvaldo, da professora Marlene
e da Neusa, bem como, de tantos outros. O caráter e o ensinamento daqueles
mestres deixaram marcas indeléveis na minha alma e no meu coração.
Lá na minha terra natal, encravada
na noroeste do Estado, tinha de tudo. Havia um prefeito fofoqueiro, um padre
comilão, um delegado mulherengo, um alfaiate que mordia a fronha, uma casada
que ciscava em outros galinheiros, um maluco festeiro, os vereadores sem
salário que praticavam filantropia, uma parteira de todos, um jagunço valentão,
uma pagador de promessa pelo filho adoentado, porém, não tinha político e nem empresário
ladrão.
Hoje, ao deparar-me com tanta
corrupção de políticos, juízes e servidores públicos, por parte de empresários
gananciosos, sinto uma vontade louca de retornar ao ventre da minha cidade
natal, de onde não deveria ter saído nunca. Não sei se esse seres inescrupuloso
tiveram os mesmos mestres que eu ou se frequentaram escolas semelhantes a
minha. Se eles tiveram, o que duvido, creio que cabularam as aulas de “Organização
Social e Política Brasileira” e, também, não foram alunos do professor Levi.
Chama-me atenção, que os corruptos
gozam de plena saúde, quando da prática criminosa. Não padecem de nenhuma
doença terminal. Exibem uma disposição física e mental invejável,
principalmente, para correrem atrás do patrimônio público. O sorriso
estonteante dos corruptos cativa os menos desavisados. As regalias a eles
deferidas saltam aos olhos de um povo sofrido e explorado.
Mas quando, por ironia do destino,
a justiça bate à porta, cobrando o que deles não era, lá se vão pelo ralo, o
sorriso espontâneo e a saúde invejável. As doenças da desonra, há muito incubadas
e os sorrisos de escárnios afloram repentinamente. Fazem uma encenação de vítimas
e inocentes, tripudiando a lei. Brincam com a sabedoria do povo. Eles se
escoram numa Suprema Corte apequenada diante do poder econômico, para se livrarem
do cárcere.
Quando vejo esses crápulas,
socorrendo de um atestado médico, de uma bengala o de uma cadeira de rodas,
para simularem insanidade mental ou incapacidade física para deporem ou serem
encarcerados, chego a triste conclusão de que não são eles os doentes, mas,
sim, a justiça. A nação há de compreender, que nossa Justiça está capenga.
Peruíbe SP, 31
de março de 2018