Tive um amigo de infância que tinha por apelido Duco. Era primo do
pescador e poeta Jairo Costa, que viria a se sagrar vereador representando a
legítima cultura caiçara no Legislativo municipal na década de 80 do século
passado. Não lembro o nome civil dele, mas o conhecíamos por Duco. Era um
moleque alegre até que um dia a peste da meningite que se instalou
devastadoramente em Peruíbe no início dos anos 70 – também do século passado –
o levou de nosso convívio. Morreu Duco quase que simultaneamente a Betuel
Teixeira Santana, outra jovem vítima da praga de então, quando a culpa sempre
era da doença e nunca dos médicos ou dos políticos. Afinal, vivíamos em plena
ditadura militar e era mais confortável – e melhor pra saúde – que a culpa
fosse mesmo do invisível vírus vindo não sei de onde do que das mazelas
políticas na saúde pública que àquela época já existia.
Quase homônimo – e
também da mesma época – permanecia também no convívio adolescente e juvenil de
todos nós o distinto Daco, que viria a ser talvez o primeiro homossexual
assumido da história de Peruíbe que, no entanto ser “invertido” dentro de uma
sociedade conservadora e machista ao extremo como era a Peruíbe nos seus
primórdios era tolerado por quase folclórico que viera a se tornar. Daco foi
profissional da saúde em Peruíbe por longos anos, e nem sei se vivo ainda está
ou sequer seu nome civil também eu nunca soube. Por não ter tido convívio com
ele como o tiveram os meninos que viviam desde a Estação até o Jardim Veneza,
de onde se notabilizaram também ex-vereadores como Célio Roberto Soares e
Cícero Rodrigues da Silva, de Daco só me vem à lembrança um evento marcante que
foi o atropelamento que culminou por ceifar a vida de um amigo íntimo seu –
também homossexual – que morreu debaixo das rodas trucadas de um caminhão
dirigido pelo Herculano – hoje na Táxi Van – na esquina (na época era uma
curva) da Padre Anchieta com a São João. Daco e o amigo estavam juntos tentando
atravessar a avenida e decidiram esperar que o caminhão passasse, mas ficaram
muito próximos ao leito carroçável. O caminhão veio, fez a curva, e ambos
saíram do campo de visão do motorista, e um dos ganchos da carroceria acabou se
enroscando na camisa esvoaçante do amigo de Daco, jogando-o impiedosamente para
baixo das rodas do caminhão, matando-o instantaneamente.
Os tempos bons e
áureos de Duco e Daco passaram, e com eles os nossos também, e de lá para cá
tudo que temos conseguido fazer são, ou colecionar histórias da nossa cidade e
de seu povo, ou aprender com os nossos mandatários a como fazer – e a como não
fazer – política. Mas não sabia Duco, por exemplo, que seu apelido significava
uma palavra latina que tinha e tem muito a ver com o destino de todo homem e de
toda mulher, e que é traduzido pelo verbo conduzir.
A célebre frase estampada
no brasão estadual paulista pretende imortalizar o estigma laborioso do povo de
São Paulo, confirmando historicamente o que hoje se vê e se sabe: São Paulo,
ainda que seja um dos menores estados da federação continua sendo o estado que
conduz a nação com braço forte – e rico – tal e qual uma locomotiva que puxa
pesados vagões até o seu destino. São Paulo, portanto, conduz, e nunca é
conduzido, pelo que se registra em seu escudo: Non Ducor Duco. Ou: Não sou
conduzido; conduzo.
É bem verdade que
“ser conduzido” incomoda ao homem de bem. Seja ele de São Paulo, seja
nordestino, nortista ou sulista. Luiz Gonzaga, que se vivo estivesse teria
feito 100 anos dia desses que passou, registrou isso em uma de suas músicas:
“Mas, doutor, uma esmola a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou
vicia o cidadão”. Consoante isso, no mesmo compasso com que Gonzaga queria para
seu Pernambuco – e para todo o norte e nordeste – um olhar mais atento de São
Paulo e dos demais estados ricos da nação, a fim de que o sofrimento dos nossos
irmãos nordestinos e nortistas fosse minorado; o ex-presidente Lula (também
pernambucano) preferiu impor oneração à classe média brasileira, oferecendo o
caminho mais fácil da esmola que, se num primeiro momento ruborizou de vergonha
o sertanejo, agora já vem de viciá-lo, chegando ao ponto – notadamente em
estados ricos como São Paulo onde o braço do paternalismo oficial também
alcança – de se ver dinheiro da bolsa-família deixar a mesa do pobre para
sustentar o tráfico de drogas, mantendo o vício, principalmente do crack, de
milhares de nossos jovens que ameaçam transformar o Brasil numa nação zumbi em
futuro não muito distante.
O povo brasileiro,
por pacífico e manso, prefere o Ducor, ou em bom português: ser conduzido. Para
provar isso, foi Zé Ramalho, nordestino da Paraíba, quem também viria a anotar
em sua música: “Eh, vida de gado; povo marcado; povo feliz”.
Essa coisa de
conduzir ou ser conduzido será mais sensível ao povo de Peruíbe, por exemplo,
se eu mostrar como se comportaram os seus mandatários até aqui. Uma análise
histórica pode fazer com que meu leitor entenda mais de perto os por que das
coisas terem se dado da forma como se deram durante este ou aquele governo.
Começando “pelo começo”, temos o seguinte quadro: o emancipador Geraldo
Russomanno conduziu. Albano Ferreira foi conduzido. Benedito Marcondes Sodré e
Gheorghe Popescu que se revezaram no poder durante 30 anos, conduziram. Mário
Omuro foi conduzido. Alberto Sanches Gomes fingiu conduzir. Gilson Bargieri
conduziu. José Roberto Preto foi conduzido. Julieta Fujinami Omuro tentou
conduzir. E Milena Xisto Bargieri Migliaresi foi conduzida. Agora, mesmo você
que chegou “ontem” a Peruíbe, faça as suas conclusões a partir da lógica acima,
e trace o gráfico do que aconteceu em Peruíbe quando seu governante maior
conduzia em comparação a quando era conduzido.
Por paradoxo que
isto seja, os governos mais acertados de Peruíbe foram aqueles durante os quais
seus governantes se deixaram conduzir. Os governos liderados por Benedito Marcondes
Sodré, Gheorghe Popescu e Gilson Bargieri foram marcados pela imposição da
força, os dois primeiros apoiados na ditadura militar, e o último na virilidade
de seu discurso que impunha o medo e o temor junto à classe menos favorecida do
município – justamente a que elege “democraticamente” o mandatário –, discurso
este que se acabou descoberto, ainda que tardiamente, não passar de bravata.
Peruíbe cresceu
durante todos esses anos de ditadura municipal? Sim. Cresceu. Mas eu indicaria
que foi mais um “cresceu” entre aspas mesmo que um cresceu como deveria ter
crescido. O que se viu durante estes períodos não foi outra coisa que um
amontoado de obras de qualidade duvidosa e muitas feitas sem o menor
planejamento ou previsibilidade de consequências futuras, mas todas elas caras.
Muito caras. Numa tentativa de apagar para sempre da memória do peruibense nato
– e do caiçara – qualquer resquício de romantismo, os prédios históricos e os
lugares pitorescos foram todos derribados e substituídos em nome da modernidade.
Evidente que a cidade pode até ter ficado mais bonita, mas é algo como você ir
fazer uma visita ao cemitério e ver um jazigo pintado recentemente, ou adornado
de granito e bronze. É bonito; mas por dentro a podridão medra.
No contraponto
destes fatos, os governos municipais mais marcantes para o povo de Peruíbe em
áreas onde sua população mais sente e se ressente da precisão de ter melhor
atenção como Saúde, Educação, Transporte Público, Esportes e Cultura, foram
aqueles durante os quais os mandatários foram conduzidos, como acontecido com
Mário Omuro e com Alberto Sanches Gomes.
Mário Omuro foi
quem inaugurou a descentralização do poder municipal. Os motivos e as razões
que o levaram a entregar o governo nas mãos de terceiros podem até ser
duvidosos, como por exemplo, quando temos de sobejo sabido que o ex-prefeito
que derrubou o insistente “pingue-pongue” Sodré-Popescu-Sodré nunca foi lá
muito dado a grandes responsabilidades e desafios. Todavia Mário Omuro acertou
na mosca ao entregar todas as áreas mais nevrálgicas de seu governo a técnicos,
e não a políticos. Seria cansativo repetir aqui pormenores da grande revolução
que estes técnicos fizeram na Saúde, na Educação, nos Esportes, na Cultura, no
Turismo e nos Transportes e até na Segurança durante seu governo. E foi esta
equipe – e não Mário Omuro – quem conduziu aquele governo, a mim me parecendo
que regidos pelo advogado-maestro e bruxo Plínio Pinto Teixeira em conjunto com
seu aprendiz de feiticeiro, Sérgio Martins Guerreiro, também advogado.
O cirurgião-dentista
Alberto Sanches Gomes, que fora diretor de Saúde de Mário Omuro ao final do seu
governo, viria a comandar a cidade como prefeito de 1997 a 2000, depois de
Peruíbe atravessar o abismo do quarto e último mandato de Benedito Marcondes
Sodré. Este, que nunca perdeu uma eleição em toda sua carreira política havia
ganhado a eleição em 1992, enquanto que não participou do pleito de 2000,
preferindo pendurar suas chuteiras como vitorioso politicamente, não arriscando
uma eventual derrota (se bem que hoje vejo que seria bem possível que ele
tivesse ganhado aquela também, empatando no pentacampeonato com o Brasil).
Mas Dr. Alberto
governou Peruíbe com uma sequência piorada do que fora e fizera a equipe de
Mário Omuro. Mesmo assim seu governo pode ser considerado como bom. Ainda que o
triunvirato oriundo do PMDB que o acompanhou para o ninho dos tucanos tenha
deixado lá atrás, na lembrança apenas, a inocência do primeiro amor pela
cidade, estes, a saber, o próprio advogado Sérgio Martins Guerreiro, o engenheiro
têxtil Eduardo Monteiro Ribas, e o arquiteto Elias Abdalla Neto, compuseram,
com Dr. Alberto prefeito, o quarteto fantástico que fechou com chave de ouro um
ciclo político-administrativo que efetivamente preparou Peruíbe para o século
21.
O alto preço a ser
pago por ter dado mostras de fraqueza ou falta de pulso firme na condução de
seu governo, dando a impressão de que a administração houvera sido entregue a
pessoas incapazes foi a surra nas urnas. Mário Omuro viu a derrota de seu
candidato Dr. Alberto para Sodré em 1992, e o próprio Dr. Alberto (candidato à
reeleição) sentiu o trator de Gilson Bargieri passar sobre si na eleição do ano
2000.
O advento de
Bargieri e sua assunção ao poder em 2001 fez retornar a era do autoritarismo e
da centralização do poder a Peruíbe. Não me lembro de qualquer membro de sua
equipe de então que tivesse qualquer compromisso com a cidade, que
representasse a história do município, que pudesse dizer que tinha realmente
Peruíbe “para se amar”. A exceção solitária talvez fique mesmo somente com
Jairo Costa, lídimo caiçara. Todos os demais que o acompanharam naquele governo
nos davam a impressão de que Gilson Bargieri lhes era um ídolo capaz de
proclamar a independência de Peruíbe do resto do Brasil. Por ufanista, há quem
exagere em dizer que Gilson Bargieri tinha lapsos durante os quais pensava ser
Deus, ao tempo que seus sacros seguidores tinham certeza de que ele era
realmente Deus!
Porquanto isso, não
exageraria em dizer que fosse Gilson Bargieri um pastor neopentecostal teria
ele hoje, não duas, mas pelo menos uma dúzia de fazendas Brasil afora. Estulto
ele, porque correria muito menos risco que o que corre – cujas consequências
ele sofre ainda hoje, seja de ordem política ou mesmo econômico-financeiras –
por ter escolhido ser político.
Seja como for,
Gilson Bargieri nunca se deixou conduzir. Antes, conduzia. E conduziu e
conduzirá ainda por mais alguns dias até terminar o governo de sua filha, que
levou este governo que agora se encerra com a cara do pai, desde a foto literalmente
estampada na urna eletrônica – que era de Gilson e não de Milena – até o modus operandi governamental dos últimos quatro anos
que foi uma cópia fiel do governo do próprio Gilson prefeito, até mesmo na
composição de sua equipe – a mesma horda de asseclas fiéis adoradores de São
Gilson.
Esta é a história
nua e crua. Em política vê-se que deixar-se conduzir – ainda que pelo pai – tem
como consequência a impiedosa decisão do eleitor que sempre segue preferindo
quem tem mão forte para governar por si – mesmo que só para si. O próprio
Gilson só perdeu a eleição de 2004 para José Roberto Preto porque o empresário
veio para o pleito não com um trator, mas com uma frota interestrelar, e era
impossível de ser suplantado, ainda mais se considerarmos que o eleitorado
peruibense não gosta nadinha do dinheiro fácil que se ganha durante o período
eleitoral e, de modo especial, no dia das eleições. Ali não era vontade de
ganhar a eleição por uma Peruíbe melhor; era gana de derrubar o desafeto
pessoal mesmo. E derrubou.
Todos os que foram
conduzidos em seus governos, pois, sofreram a derrota nas urnas: Mário Omuro,
Dr. Alberto e, agora, Milena Bargieri. Sofrê-la-ia também José Roberto Preto
vivo tivesse permanecido para concorrer à reeleição, por ter entregado seu governo
ao seu mordomo político-empresarial em Peruíbe, o ex-vereador José Carlos Rúbia
de Barros. Carlinhos que foi vereador, presidente da câmara, e que tentou, sem
sucesso, ser deputado e ser também prefeito, viu na eleição de José Roberto
Preto uma ponte para seu retorno ao poder, sempre teve por mote o jargão “aos
amigos tudo; aos inimigos, a lei”. Como das operações aritméticas ele só sabe
multiplicar, tendo esquecido como que se faz a conta de dividir, ele sempre foi
homem de poucos amigos. Os poucos que tinha eram os falsos amigos que somente
estiveram por perto enquanto ele estava com a “chave do cofre” de José Roberto
Preto à disposição. Morrendo o ex-prefeito, os “amigos” se foram.
A derrocada de
Carlinhos começou ainda durante aquela eleição, com a escolha de Julieta
Fujinami Omuro para ser vice de José Roberto Preto. Carlinhos, que instara ao
extremo o empresário a sair candidato, pensava que Seu José ou não sairia, mas
se disporia a financiar sua campanha – a de Carlinhos – para derrubar Gilson Bargieri
do poder, ou então – pelo menos – convidá-lo-ia a ele mesmo, Carlinhos, para
ser seu vice. Contrariado, Carlinhos que, após a posse, foi elevado á categoria
de vice-rei com poderes plenipotenciários, jogou a vice-prefeita Julieta na
fogueira, mandando-a para cova dos ursos lá na secretaria de Saúde. Vaidosa,
cega pela possibilidade do poder, Julieta aceitou, mas não conseguiu fazer nem
um terço do que pretendia fazer naquele departamento sempre encontrando pela
frente obstáculos criados por aquele que pretendia fritá-la: o próprio
Carlinhos. E conseguiu.
Com a morte do
prefeito no limiar de seu último ano de mandato, Dra. Julieta assumiu a
prefeitura, fazendo de seu ato seguinte à assinatura do termo de posse, a
decretação da demissão sumária e execratória de seu algoz. Politicamente,
Carlinhos, que já vinha agonizando há muito tempo, viu lavrado seu atestado de
óbito político-eleitoral em Peruíbe. E eu duvido que ressuscite, haja vista sua
tentativa neste sentido nesta eleição de agora pela qual passou à margem, quase
um ilustre desconhecido.
Mas não foi só ele
que morreu politicamente. Julieta Omuro viu seu mandato-tampão sugar-lhe seus
últimos sinais de vitalidade eleitoral. Assumiu achando que podia fazer e
acontecer, que podia mandar e desmandar, ousou estar acima de todos aqueles que
ainda teimavam ajuda-la de alguma forma e se deu mal. Agiu como uma criança
quando vislumbra a possibilidade de tomar posse de um pote de mel, e acabou por
se lambuzar. Meteu a mão na cumbuca para apanhar o que de precioso lá dentro
tinha, fechou a mão, e, por ser teimosa em não querer abrir a mão, ficou ela
presa mal sabendo que lá dentro tinham os vespões das empreiteiras que a
feriram impiedosamente. Ao final de seu governo – e de sua frustrada campanha
pela reeleição – ficou Julieta com o pires na mão.
Quem pensa que ela
aprendeu a dura lição com as “mordidas” dos “vespões”, errou. Esta eleição que
daria uma oportunidade que é bem possível que jamais voltará para que seu
marido Mário Omuro resgatasse a honra que lhe foi roubada principalmente por
Gilson Bargieri nos anos 80 e 90 passados, encontrou barreira na teimosia – e
na estultícia – da Dra. Julieta, que, porque queria ela mesma ser candidata a
prefeita, não podendo por causa de suas contas rejeitadas pelo TCE – e pela
Câmara, não deixou que seu partido – agora o PPS – viesse a indicar candidato
próprio, que não poderia ser outro que o próprio Mário Omuro.
O empate técnico
das três candidatas e o alto índice de votos brancos, nulos e abstenções
reveladas nesta eleição dá clara prova de que um quarto candidato, fosse ele
Mário Omuro, ou mesmo Nelson Gonçalves Pinto (Nelsinho, do PR), estaria eleito
hoje.
Por ironia, o dócil
Mário Omuro foi conduzido por sua esposa a aceitar o amargo e pesado encargo de
ser o vice da filha de seu carrasco, já que ela – Julieta – não poderia mesmo
ser nem uma nem outra coisa. E o que chegou a ser considerado como uma tábua de
salvação para Milena Bargieri – e seu pai, Gilson – porquanto ninguém estava
disposto a carregar o fardo de um governo feito para meia dúzia de
apadrinhados, com escândalos pipocando aqui e ali, acabou não passando de uma
enorme trapalhada. Afinal, nem Gilson Bargieri nem Mário Omuro tinham coragem
para se olharem fixamente um no outro em cima do palanque eleitoral, ainda que
fosse para soltar um grandioso “que merrrda!”, assim mesmo bem puxado o “r”,
como melhor que ninguém fazia o desaparecido JP Melo.
Assim, é de meu
parecer que Julieta Omuro está também politicamente sepultada hoje. Não
obstante, Mário Omuro, não. Ainda não.
Mas, e quanto a Ana
Preto? O que será dela, agora que ganhou a eleição, ou melhor, que não ganhou
sozinha, antes ganhou também com Onira e com a própria Milena, já que os poucos
votos que a conduzirão ao Paço, se considerado o grande número de votos
brancos, nulos e abstenções, não dá a ela a folga e a certeza de que o povo a
queria como prefeita, afinal?
A própria eleição
de Ana Preto foi um engodo. O seu criador político passou toda a campanha
estudando as mais diferentes maneiras de induzir a plêiade gulosa e jactante
que o seguia, a fim de fazê-los crer que sua candidata tinha dinheiro
suficiente para não só fazer a campanha, como também para minorar os males
financeiros de toda aquela turba. (Já comentei sobre isso em outro artigo, e até
me penitenciei ter sido eu, por minha própria ganância, uma das vítimas desta
tapeação que ficará marcada para sempre na história política de Peruíbe).
Pior – ou seria
melhor? – que Paulo Henrique Siqueira – o Paulão – ter sido o artífice que
permitiu a Ana Preto marcar o gol da vitória, ainda que a bola tivesse passado
raspando na trave, é conferir que ela própria, Ana Preto, participou de forma
veemente – e até lacrimejante – do falso expurgo de Paulão na semana das
eleições, substituindo-o pelo empresário que é conhecido por ser “pau para toda
obra”, Armênio Pereira, no que todos acreditaram piamente. A estratégia da
expulsão paulina foi firme e no momento exato. Mais um dia, e tanto Milena
quanto Onira poderiam estar comemorando vitória agora. Engana-se, contudo, que
tal ideia mirabolante, sumamente arriscada, tenha partido de Ana Preto. Não!
Calculista, foi o próprio Paulão quem a costurou. Como a ele – Paulão – os fins
sempre justificam os meios, no momento certo entregou as agulhas nas mãos de
sua criatura para que ficasse patente que aquele bordado bonito fora feito por
ela mesma, pela própria Ana Preto.
Desta arte, reitero
que Ana Preto foi conduzida à vitória nas urnas por ninguém menos que Paulo
Henrique Siqueira, no mesmo compasso que quem elegeu seu pai em 2004 foi José
Carlos Rúbia de Barros que até ali era quem “segurava” a onda impetuosa de
Paulão, e o protegia dos ventos que, quer se queira ou não se queira, teimavam
em derrubá-lo.
Ora, se sozinha Ana
não seria ninguém durante a campanha; sozinha continuará sendo nada e ninguém
depois de tomar posse. Se insistir num modelo autoritário e ditatorial, será
celeremente fritada pelas cobras e lagartos que a rodeiam e que a ajudaram a
ascender ao poder. Não lhe resta alternativa que deixar-se conduzir, se quiser
estar em condições de pleitear mais quatro anos em 2016.
A grande questão
poderia ser esta: em quem confiar? Pergunta fácil de responder se analisarmos
todos estes fatos. Ana Preto não tem outro em quem confiar senão no próprio
Paulão. Se, como já reiterei aqui, deve Ana Preto sua eleição a Paulão, terá
que ficar devendo seu mandato também a ele, que é quem está mais bem preparado
que ela para, ao menos politicamente, governar.
Observado isto,
este mandato tem tudo para dar certo e tornar a ser o mais destacado em todas
as áreas – mormente as sociais – dos últimos anos.
Sei que a afirmação
acima é audaciosa. Pode parecer desvario até. Entrementes, se consideramos que
os melhores governos que Peruíbe já experimentou foram aqueles durante os quais
os mandatários se deixaram conduzir – vide Mário Omuro, Dr. Alberto e o próprio
JR Preto –, é preciso entender que a fórmula do sucesso pode estar em deixar-se
conduzir.
Eu aposto em Paulo
Henrique Siqueira mais que em Ana Preto. Há nele um diferencial crucial se
comparado ao seu ex-padrinho José Carlos Rúbia de Barros, o Carlinhos, que foi
o condutor do governo de José Roberto Preto. Enquanto aquele não conhecia outra
fórmula aritmética (como já disse) que somar e multiplicar, Paulão, por sofrida
que foi sua vida, e de modo particular nos últimos anos depois da morte do Seu
José, sabe – e sabe muito bem – dividir. Mais que isto, sabe com quem dividir,
e quando e como dividir. Mais a mais sabe também Paulão que o tempo pode vir
até a lhe ser pródigo, e que Ana Preto jamais deixará de reconhecer tudo o que
ele fez por ela, a ponto de – escrevam ai – o próprio Paulão vir a ser o
candidato a prefeito de Ana Preto, senão em 2016, mas com segurança em 2020.
De todo modo é a
história do “se correr o bicho pega; se ficar, o bicho come”. Se preterir
Paulão, Ana Preto não estará sozinha, mas seguramente muito mal acompanhada,
cercada de gente interesseira e que têm os seus próprios projetos políticos
visando a prefeitura nos próximos anos. Se transferir poderes a ele, poderá ser
vista como fraca, e correrá o mesmo risco sofrido pelos exemplos já
mencionados. A decisão do que fazer? Está com ela. Só com Ana Preto mesmo.
Como já dizia Mário Mérola, o maior dos italianos que já passou
por Peruíbe, “Ai posteri l’ardua sentenza”.