domingo, 28 de novembro de 2021

POESIA POR ENCOMENDA

 

Adão de Souza Ribeiro

Não peça poesia por encomenda.

Pois seu talento não está à venda.

Ele só ara o que planta no coração.

Se não semear, poesia não é não.

 

O que escreve é fruto das agonias

Amor que não brotou, só bramia.

E cada verso é a fala da sua alma

Na ânsia de ser feliz a vida calma.

 

Não peça poema que fale só de ti

Teus sonhos não são os do colibri.

Ele viaja por universo inatingível.

Por isso é louco incompreensível.

 

Não peça para ser o teu tradutor.

Pois ele já vive a sua própria dor.

Quando condiz com o que sente,

A poesia germinou bela semente.

 

Peruíbe SP, 28 de novembro de 2021.

 

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

NATAL

 

Adão de Souza Ribeiro

Cidade está cheia de brilho

Presentes para lá e para cá.

Diga-me: E quem é o filho,

Que vamos saldar? Diga, vá.

 

Lá na manjedoura sozinho,

Com o mundo pela frente.

Nasceu meu Jesuscristinho

Lá pelas bandas do oriente.

 

Recebeu dos Reis Magos.

O incenso, o ouro e mirra

Humilde ele disse: “Trago

Amor, cura a quem precisa”.

 

Andou de sandália e túnica

Fugiu do poder, da vaidade.

Trouxe uma missão a única

Salvar a pobre humanidade.

 

O mundo se enche de festa.

É Natal lá longe em Belém.

Mas na minha casa modesta

Choro triste, Natal não tem.

Peruíbe SP, 25 de novembro de 2021.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

QUERER NÃO É TUDO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Quero te beijar não posso.

Quero te abraçar não devo.

Para te amar fiz o esforço,

Escrever-te em alto-relevo.

 

Quero te deixar não consigo

Quero te possuir não agrada.

Não quero ser um mendigo.

A bater na porta da tua casa.

 

Quero te acariciar não sacia.

Quero te amar não alimenta

Eu não quero uma vida vazia.

Pois o coração não aguenta!!

 

Peruíbe SP, 23 de novembro de 2021.

sábado, 20 de novembro de 2021

COBRANÇAS DO TEMPO

 Adão de Souza Ribeiro

 

De repente os cabelos brancos

E no rosto as primeiras rugas.

Vê os passos lentos e trôpegos

Já para seguir vivo é uma luta.

 

Loucuras feitas na juventude,

Um dia, a vida vem e cobra.

Atitudes não tem mais saúde

Só lembrança é o que sobra.

 

A voz tão baixa e tão fraca

Olhos não veem horizonte.

Não ouve nada, cadê graça?

A memória é só de ontem.

 

Olfato não sabe do sabor

Audição chora a canção.

E quando jovem o amor,

Ele não vê, desde então.

 

Sei, passado será o futuro

E o amor que não é mais.

A vida é o filho imaturo,

Ele ri das dores e dos ais.


Peruíbe, 20 de novembro de 2021

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

VAGANDO

 

Adão de Souza Ribeiro

Andando na rua e chorando ao vento

Tropeço na vida e esbarro em gente.

Mui triste, cansado sigo em frente,

Dobrando a esquina e morrendo ao relento.

 

Na noite estrelada com o corpo quebrado

Recupero o fôlego com a alma cortada,

Pensando no filho com a mente dopada,

Sonhando ser gente com fama de bravo.

 

Conto um conto pra esquecer o prato

Que negastes, irmão, pra manter teu orgulho.

Desta vida levarás pra sepultura o entulho

Que tu guardaste pra enriquecer teu lastro.

 

Surge o dia como se fosse mágica,

Sorrindo da morte como que escarnecendo dela,

E eu tremendo como a perseguida gazela

Saio pra vida como se tivesse prática.

 

Deixei esta vida porque dela nada entendia,

Caminho no além porque aqui somos ninguém,

Gente jamais verei porque lá dizem amém

Não direi adeus porque o ser sofreria.

 

P.S.: Primeira poesia do autor, escrita em 1971 e publicada no livro “O Arquiteto de Ilusões” – 1981.

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

NAVALHA NA CARNE

 Adão de Souza Ribeiro

 

                        Desde os primórdios tempos, isto há mais de 300 000 anos, quando ainda erámos Homo sapiens, com habilidades para caçar, cozinhar carne, usar roupa de peles de animais e construir lanças e cabanas, eu creio que já gostávamos de uma boa prosa.

                        Inevitavelmente a evolução aconteceu e descobriu-se o Homem de Neanderthal, na Alemanha, no período de 70 000 a 40 000 anos, sendo baixo e musculoso, com um cérebro do tamanho do nosso e região cerebral correspondente à fala bem desenvolvida.

                        De evolução em evolução, passamos pelo Homo Erectus até chegarmos ao Homem Moderno. Este homem moderno começa a falar com desenvoltura a partir dos três anos de idade. Brincadeiras à parte, eu penso que a mulher começa falar bem mais cedo. E como fala meu Deus!

                        E foi pensando nisso, que compreendi o porquê de que, quando duas ou mais pessoas se encontram, uma prosinha descontraída é inevitável. Quer seja na esquina, na praça, no boteco, no churrasco, na pescaria, no jogo de futebol ou no barbeiro, lá estão os contadores de causos ou vantagens como, por exemplo, as estórias de pescadores.

                        Na retina dos meus olhos, revejo a cena ocorrida na “Barbearia do Silveira”. Antes, porém, é preciso dizer que o “seu” Silveira era um contador de estória e, pelos quatro cantos, arrotava sua valentia. Por essa razão, a barbearia estava sempre cheia, pois todos gostavam de ouvir as deliciosas lorotas, daquele habilidoso profissional.

                        Ele dizia, sem ficar vermelho, que laçara um boi bravio e o segurara na unha; nas matas da Fazenda Suiça, lutara a noite inteira com uma onça enorme, até ela jogar a toalha e se dar por vencida; na mira da sua espingarda cartucheira, até Virgulino Ferreira da Silva, o lendário cangaceiro Lampião, tremia feito vara verde.

                        “Seu”’ Silveira colocava tanto ênfase na estória, que era difícil de não acreditar. Valente como o *Coronel Pantaleão, só faltava ele perguntar para sua esposa: “É mentira Terta?”. E ela, por demais obediente, respondia: “É verdade.”

                        Normalmente os clientes iam sábados, por ser final de semana. Mas um dia, a vida - aquela caixinha de surpresas -, iria pregar-lhe uma peça. Dito e feito. Lá estava fazendo a barba de um assíduo cliente e com a barbearia lotada, não deixava de contar suas longas estórias de valentia.

                        De repente ali chegou “Chiquinho Dedo Mole” um Sergipano arretado, que não levava desaforo para casa. Aquele homem, aos berros e com uma Garrucha em punho, apontada para “seu” Silveira, foi logo dizendo: “Silveira, cabra safado, hoje em vim aqui, disposto a acertar aquela velha pendenga.”

                        O valentão empalideceu, suava frio, emudecera e a mão tremula denunciava o pavor em que se encontrava. Os clientes que aguardavam a vez pediam ajuda a todos os Santos de plantão.

                        Na rua começava a se formar uma aglomeração de curiosos.  O suspense era geral. Será que Silveira iria por suas habilidades de homem macho em prática e provar que suas estórias não passavam de lorotas?

                        O cliente com o rosto e o pescoço ensaboados. A navalha na carne, ou melhor, garganta, o infeliz do cliente, que estava sentado na cadeira giratória, só pedia a Deus para sair vivo dali. Pensava ele: “Por que fui escolhido para tamanho infortúnio?

                        De repente, num rompante de fúria, “Chiquinho Dedo Mole”, entrou na barbearia, estabelecida na Rua Rui Barbosa.  Sempre com a arma apontada para o desafeto, o agressor dizia: “Fala alguma coisa, seu valentão safado?”.

                        Num ato de defesa, “seu” Silveira, girou a cadeira, colocando o cliente como escudo e, involuntariamente, apertou a navalha na jugular do inocente, o qual chorava baixinho, pois sentia a morte beijar-lhe o rosto. Com nitidez, lembrava-se da mulher e dos filhos esperando para o almoço. Estava no lugar e na hora errada.

                        Aquilo parecia à história de ** “A crônica de uma morte anunciada”. Um dos clientes que aguardava a vez, com uma voz macia, como um anjo enviado do céu, conseguiu apaziguar a situação, dizendo para “Chiquinho Dedo Mole”: “Chiquinho, meu amigo querido, procura resolver a pendenga entre vocês, com calma. Guarda esta arma. Se atirar e causar uma tragédia, o seu prejuízo será maior”.

                        Como se fosse um milagre, “Chiquinho Dedo Mole” foi se controlando e dominando a sua fúria. “seu” Silveira recobrou a cor, parando a suadeira e a tremedeira. O cliente ensaboado agradeceu ao Divino e até sentiu o cheiro do pernil que seria servido no almoço. A plateia curiosa foi se desfazendo aos pouco, até a rua ficar vazia e voltar o ar de cidade pacata.

                         O episódio se espalhou pela cidade e toda redondeza. A partir de então, aquele homem falastrão e que impunha medo, pelas estórias que contava, passou a ser conhecido como “Silveira Borra Botas”.  Em tom de caçoada, os clientes diziam: “Vamos lá na barbearia do Borra Botas”.

 

Peruíbe SP, 18 de novembro de 2021.

P.S.: * Personagem de Chico Anísio;   ** Livro de Gabriel Garcia Márquez

domingo, 14 de novembro de 2021

SONHO INATINGÍVEL

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Você é a metade de mim que não deu certo,

É um barco navegando em águas turbulentas

Uma estrada longa e tortuosa e passo incerto

Quanto mais te procuro, mais tu te afugentas.

 

Você é uma estrela, que inspira velhos poetas,

Mas foge sorrateira dos meus versos e rimas.

Meu coração viveria de alegrias e das festas,

Se desde nossa infância fosse minha menina.

 

Você é um sonho inatingível e uma quimera,

É um doce lembrar, que o coração só tortura.

Vontade de beijar teus lábios. Quem me dera.

Tudo seria perfeito. Amar-te, sem desventura.

 

Peruíbe SP, 14 de novembro de 2021.

 

 

 

sábado, 13 de novembro de 2021

TERRA ADORADA, SALVE SALVE!

 

Fábio José da Silva

Tenho por ti um sentimento ambíguo.

A terra onde nasci, cresci com tantos amigos.

Algo se perdeu de profícuo.

Lá não existiam perigos.

Faltariam aos jovens a oportunidade.

Forçados a partir de verdade.

Levariam lembranças pra eternidade.

A descoberta do amor, uma paz

Interior, os laços de amizade se

partindo, a frustação, a dor...

Ficaram para trás, os tempos de José

Belmiro Rocha, nossos mestres, as

raízes do conhecimento, melhores

momentos...

Os campeonatos de bola pesada,

quadra lotada, as paqueras e

comemorações, na barraca...

A igreja revolucionária, do padre

controverso, o político honesto, o

médico de todas as famílias, pobres,

ricas, maltrapilhas...

As bandas dos bailes clássicos, pais

e filhos no mesmo espaço.

A emoção do carnaval, da escola de

samba ou dos blocos no salão,

A rivalidade com as cidades vizinhas,

tensão...

Nossas meninas, nossa paixão.

fora forasteiros, todos xerifes da

Jurisdição...

Vimos os humildes de perto,

a solidariedade materializada, nem

sabia ao certo, o que significava...

Fomos irmãos naquele time, gritamos

é campeão...

Era um sonho de redenção...

Passou o tempo, e o sinal da divisão,

A inevitável polarização...

Restou o sentimento, de viver o

melhor momento da emancipação...

Os filhos da terra, tão longe ou tão

perto, no seu aniversário, expressam

a gratidão...

A pequena cidade de um grande

Povo, para sempre, no coração.

 

Guaimbê SP, 08 de novembro de 2021.

 

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segunda-feira, 8 de novembro de 2021

GUAIMBÊ, AMOR ETERNO!

 Adão de Souza Ribeiro

 

Teus campos verdejantes,

De matas e lindos cafezais.

Seduzem velhos viajantes,

E embriagam os meus ais.

 

Ruas calmas e descalças,

Por onde passa a infância.

São recordações, as valsas,

Que corre e nunca se cansa.

 

Nas saudosas noites de lua,

Ou lindas tardes primaveris.

As crianças correm para rua

Em brincadeiras tão infantis.

 

Casas de madeira e reboco,

Abrigando teus filhos natos.

Parece nosso santo pároco,

Velando Cristo crucificado.

 

O riacho de água cristalina,

E que circunda aquela terra.

Ali paciente ele tanto ensina,

Só amor e a fé, que regenera.

 

Lindo teu acordar nos arrebóis

Com tanto amor neste coração.

O suave canto lá de rouxinóis.

Embalar-te neste calmo rincão.

 

Povo ordeiro, de alma pura.

Corpo surrado do traquejo,

Conhece a vida e as agruras

Forja a história do lugarejo.

 

Outono enfeita a tua praça,

Com as flores da primavera

Mas inverno vem, disfarça.

Só verão, quem viveu nela.

 

De ti, digo que será banido,

Quem quiser tirar proveito.

Ensinaste-me ser destemido

Eu sou forte e bato no peito.

 

A tua bandeira e teu brasão,

Com meu sangue te protejo

Dou minha vida e o coração

Mãe amar-te não é segredo.

 

Teu hino feito com ternura,

Ecoará eterno pela tua terra

Como gratidão e linda jura.

Do filho, que abraço espera.

 

Orgulha-nos o teu passado,

E então rabisco no caderno.

O verso puro e tão sagrado:

A ti declaro o amor eterno!

 

Guaimbê, protetora adorada,

Hei de te amar para sempre.

Se eu acordar de madrugada.

Mãe acolha-me no teu ventre!

 

Guaimbê SP, 08 de novembro de 2020.

                                                                          

                                                         

sábado, 6 de novembro de 2021

O AMOR E A SAUDADE

 Adão de Souza Ribeiro

                               Já tenho dito que sou um saudosista irrecuperável. Mas há momentos, que tenho que tirar o chapéu para o modernismo e os avanços tecnológicos da natureza humana.

                        Há um adágio popular, que diz: “Quem gosta de passado é museu.”, então sou um museu itinerante a vagar por este mundo, repleto de mistérios. No meu tempo, não havia espaço para coisas impostas pela tecnologia ou mentes deturpadas, patrocinadas por interesses escusos.  Por exemplo, não havia a tal igualdade de gênero, pois menino brincava de carrinho e menina, de boneca.

                        Certo é que todos valorizavam pequeninas coisas, que, até então, pareciam sem importância alguma. Cito como exemplo: as construções antigas, que representavam uma época; pessoas humildes, de sabedoria invejável; a mãe natureza que, apesar das agressões humanas, dava-nos o sustento, sem reclamar; o respeito aos idosos, sabedores de que, um dia, também, haveríamos de envelhecer. Ninguém morreu por causa disso.

                        Um belo dia, caí na sagrada besteira de deixar aquele pedaço de chão e com a esfarrapada desculpa de que iria sair em busca do melhor para minha vida, peguei a estrada rumo ao desconhecido. Enfrentei de tudo o que se possa imaginar. E, de vez em quando, vinha na memória, fragmentos de inesquecíveis momentos vividos naquela terrinha. Brincar na enxurrada, durante a chuva torrencial; o olhar hipnotizado ao ver o “amor platônico”, que desfilava garbosamente no jardim da Praça matriz; a reverência aos símbolos pátrios; ouvir os eternos conselhos do meu saudoso pai e por ai se vai...

                        Hoje, passados mais de cinco décadas, após aquela malfadada partida, vejo-me diante de uma parafernália eletrônica, que mais parece àqueles filmes futuristas, exibidos na minha televisão Telefunken, ainda em preto e branco, tais como: Jornada nas estrelas, Guerra nas estrelas, Perdidos no espaço, Viagem ao fundo do mar. Eu tive que, às duras penas, aprender a lidar com os modernos aparelhos e uma infinidade de informações.

                        Então, comecei a postar em sites, das redes sociais, fotos antigas relacionadas a lugares, momentos e pessoas, da querida terra natal. Não demorou e os amáveis conterrâneos, passaram a curtir, compartilhar e comentar, a respeito de seus sentimentos de amor e saudade. Também retiraram do fundo de seus baús, fotos antigas – verdadeiras relíquias -, as quais me levaram as lágrimas.

                        Quando, de forma desinteressada, se posta fotos ou relatos do seu berço natal, sem querer; tu te tornas um singular embaixador e representante nato. Por isso, vou pedir para o Oshikata – o retratista oficial do lugarejo-, “bater mais um retrato”. Amigos que não conhecem minha terra natal, depois que passei a postar fotos e comentar sobre elas, manifestaram interesse em conhecer a cidade. Posso dizer que isso muito me honra. Penso que, neste sentido, a tecnologia tem soprado a nosso favor.

                        No início, pensava estar só e ser o único a nutrir tanto amor à terra que me viu nascer, crescer e transitar por ela, com tamanha desenvoltura. Eu me equivoquei deveras. Eu tenho procurado em minhas modestas dissertações, despertar para o resgaste do passado. O amor e a saudade caminham lado a lado com o passado. Quem não tem passado, não tem história. E, por conseguinte, quem não tem história, nunca existiu. Deixar sua marca no passado, onde será contado a sua história, o torna imortal. Pense nisso!

                        E assim, de história em história e de prosa em prosa, se constrói o nosso universo (nosso mundo interior e exterior).

                        Amanhã conto mais. Inté!

Peruíbe SP, 06 de novembro de 2021.

terça-feira, 2 de novembro de 2021

DESAPEGO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Hoje eu quero acordar bem cedo,

Vestir-me de alegria e sem rumo.

Brincar de ser criança, sem medo.

E se eu me perder por aí, assumo.

 

Estou cansado de seguir as regras

De pessoas tão perdidas como eu

Que voam sem bússola e às cegas

A procura da paz que já se perdeu.

 

Não quero nenhum compromisso.

E que deixa o meu sonho turvado.

Eu posso até dar um belo sumiço,

Num sonho infantil lá do passado.

 

Hoje eu quero acordar bem cedo,

Ir em busca de novos sentimentos

Deus livra-me de qualquer apego,

Pois quero ser livre como o vento!

 

Peruíbe SP, 02 de novembro de 2021.