sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A PRINCESA E O PLEBEU

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Como pode, um menino pobre,

Amar princesa de sangue nobre

Isso bem lá naquela antiga terra

Seria luta insana, a longa guerra.

 

Por ser nobre, um menino rico,

Desejava ela até correndo risco.

De triste romance, um fadário.

Ele meu parceiro, no primário.

 

O tempo passou, faliu o reino.

Princesa não mais, foi janeiro.

Menino pobre, hoje o escritor.

Que insiste em falar de amor.

 

Mas o reino do faz de conta,

Conta que o sonhar desponta

 A vida para as coisas belas,

Até sem a princesa Florisbela.

 

Trata-se de conto moribundo,

Entre a Dama e o Vagabundo.

Mas o reino já até escafedeu,

Só restou o sonho do Plebeu.

 

Peruíbe SP, 27 de novembro de 2020.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

AMOR QUE IDOLATRA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Esta noite tive um sonho lindo

Lindo que merece ser contado

Veio para mim bela e sorrindo,

Então sentou feliz a meu lado.

 

De lado deixei a velha timidez

Ali confessei a idolatria por ti.

E o coração pela primeira vez

Sentiu-se demais aliviado, vi.

 

Depois de anos de tormenta,

Pedi a Deus para te esquecer

Amor ilusório vem fomenta,

Que inexiste entre eu e você.

 

Aquela menina linda e pura,

Que me encantei na infância

Não passa de sonho, tortura.

Estrela lá no céu á distância.

 

Teu nome será um segredo,

Medo que descubra a cidade

Se morrer de amor bem cedo

Levo-te no peito à eternidade.

Peruíbe SP, 25 de novembro de 2020.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O SINO DA CAPELA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Todas as tardes, na hora seis.

Lá na capelinha bate um sino

Chamando todos vosmiceis.

Para que se unam ao Divino.

 

Canta assim: dim dem dom.

Seu cântico ecoa pra longe

E na cadência daquele som,

Vem padre, pastor, monge.

 

A torre madeira carcomida

Com o badalo no vai e vem

Vê que numa terra sofrida,

A fé é um bem que se tem.

 

Sacristão, o Jesuscristinho,

Quer seja de noite ou de dia

Pendura na corda do sininho

Ajuda santo padre na homilia.

 

E naquele repicar melodioso

No horizonte, lá na palhoça.

Ajoelha e inclina o seu rosto

Velho caboclo, virgem nossa!

 

O sino da pequenina capela,

Leva-me de volta ao passado.

De cada missa um terço dela

Ele diz: Eu Perdoo teu pecado.

 

Peruíbe SP, 20 de novembro de 2020.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A GAIOLA

 

A GAIOLA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Toda gaiola só é gaiola

Se não houver vivente

Pois até a alma chora,

Por lá prender a mente.

 

Ali vive uma coleirinha

A cantar seu canto triste

E num canto tão sozinha,

Seu pranto só por alpiste.

 

Pelos arames, seu mundo.

Olha, vê e espia em volta.

Eu sei que bem no fundo,

A ave só quer viver solta.

 

De tanto ela viver presa,

Mas com tudo ao alcance

Futuro ignora e despreza,

De ser livre num relance.

 

A gaiola é o maior medo.

Longe voar para aventura

Sofre só e morre tão cedo,

Vida atrofia, fica amargura.

 

Peruíbe SP, 16 de novembro de 2020.

 

sábado, 14 de novembro de 2020

O MAR DE PRAZER

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Do teu suor, bebo gota por gota,

Louco naufrago, no teu cansaço. 

No teu desejo, onda linda e rota,

O meu leme é teu manso abraço.

 

Calmaria do leito, corpo deriva,

Sigo bússola, da estrela o clarão.

Corpos atrelados, o porto abriga,

Velejar comigo, não queres não?

 

Não fujas para uma deserta ilha,

O corpo só e só calor lá não tem.

Canoa feminina, tua proa brilha,

Confia neste canoeiro, meu bem.

 

Depois do suor, cansaço e cheiro,

Remando só, sou o ponto no mar.

Enquanto folego tiver o canoeiro

No teu mar de prazer, vou remar.

 

Peruíbe SP, 14 de novembro de 2020.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

PROCURA-SE UMA MULHER IDEAL

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Não quero

Uma mulher nova

Dessa que esnoba

O corpo que tem.

Quero

Uma mulher madura

Dessa que perdura

A alma no além.

Não quero

Uma mulher moderna

Dessa que espera

O amor na internet.

Quero

Uma mulher caipira

Dessa que inspira

A ternura agreste.

Não quero

Uma mulher charmosa

Dessa que evapora

Num passo vulgar.

Quero

Uma mulher ultrapassada

Dessa que de madrugada

Conjuga o verbo amar.

Não quero

Uma mulher toda siliconada

Dessa que de casa não entende nada

Nem mesmo de cama, mesa e banho.

Quero

Uma mulher já bem flácida

Dessa que vivida acha graça

Das rugas que a vida tem.

Não quero

Uma mulher do futuro

Dessa que jura que o juro

É alto demais.

Quero

Uma mulher do passado

Dessa que com dom sagrado

Nos torna mortais.

 

São Vicente SP, 01 de novembro de 1997.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

A COTOVIA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Deixa minha vida voar livre

Nas lindas asas da cotovia.

Por favor, nunca me prive,

De sonhar à noite e de dia.

 

Ao alçar o seu voo suave,

Além do que eu posso ver.

Sobre montes, feito nave.

Invejo, eu quero ser você.

 

Canta um canto de alegria

Encanta todas as manhãs,

Se eu fosse ela não sofria,

De melancolia neste divã.

 

Nas danças em linha reta

Ou curvilíneas num bailar,

São os versos deste poeta

Como sopros livres no ar.

 

Não é plumagem virtuosa

Tua modéstia é que cativa.

Não fosse ave, seria a rosa,

Enfeitando jardim da vida.

 

Cotovia, minha namorada,

Que mistério habita em ti?

Se não tivesse tua morada,

Viria sonhar comigo aqui.

 

Peruíbe SP, 10 de novembro de 2020.

sábado, 7 de novembro de 2020

GUAIMBÊ, AMOR ETERNO!

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Teus campos verdejantes,

De matas e lindos cafezais.

Seduzem velhos viajantes,

E embriagam os meus ais.

 

Ruas calmas e descalças,

Por onde passa a infância.

São recordações, as valsas,

Que corre e nunca se cansa.

 

Nas saudosas noites de lua,

Ou lindas tardes primaveris.

As crianças correm para rua

Em brincadeiras tão infantis.

 

Casas de madeira e reboco,

Abrigando teus filhos natos.

Parece nosso santo pároco,

Velando Cristo crucificado.

 

O riacho de água cristalina,

E que circunda aquela terra.

Ali paciente ele tanto ensina,

Só amor e a fé, que regenera.

 

Lindo teu acordar nos arrebóis

Com tanto amor neste coração.

O suave canto lá de rouxinóis.

Te embalar neste calmo rincão.

 

Povo ordeiro, de alma pura.

Corpo surrado do traquejo,

Conhece a vida e as agruras

Forja a história do lugarejo.

 

Outono enfeita a tua praça,

Com as flores da primavera

Mas inverno vem, disfarça.

Só verão, quem viveu nela.

 

De ti, digo que será banido,

Quem quiser tirar proveito.

Ensinaste-me ser destemido

Eu sou forte e bato no peito.

 

A tua bandeira e teu brasão,

Com meu sangue te protejo

Dou minha vida e o coração

Mãe amar-te não é segredo.

 

Teu hino feito com ternura,

Ecoará eterno pela tua terra

Como gratidão e linda jura.

Do filho, que abraço espera.

 

Orgulha-nos o teu passado,

E então rabisco no caderno.

O verso puro e tão sagrado:

A ti declaro o amor eterno!

 

Guaimbê, protetora adorada,

Hei de te amar para sempre.

Se eu acordar de madrugada.

Mãe acolha-me no teu ventre!

 

Guaimbê SP, 08 de novembro de 2020.

domingo, 1 de novembro de 2020

BRINCAR DE SER FELIZ

 

Adão de Souza Ribeiro

Menina, vem brincar comigo,

Em coisas de criança, casinha.

Faz de conta, sou teu marido.

E você é a linda esposa minha.

 

 

Brincar de ser feliz, oh meiga.

Pelas ruas da cidade pequena,

Antes que nossa velhice chega

E com ela, o fim deste poema.

 

 

Brincar de esconde-esconde,

Atrás da árvore, carro e viela.

No amor de pingue-pongue,

Eu corria, feliz descobria ela.

 

 

Brincar de tudo e muito mais.

Peteca, também, o passa anel.

Se não acertar, isso tanto faz.

Ganhará meu coração e o céu.

 

 

Sei lá, bambolê e de pula-corda,     

 De amarelinha e o dono da rua.

Se te beijar na cantiga de roda,

Teremos como cúmplice a lua.

 

 

Sei que é rica, uma imperatriz

E eu desvalido moleque pobre

Brinque e não empine o nariz,

Para o amor, gesto tão nobre!!

 

 

Peruíbe SP, 01 de novembro de 2020.