domingo, 27 de fevereiro de 2022

A FANTASIA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Sob a luz do luar,

Vem e me beija.

Diz que me deseja

E quer me amar.

 

Já de madrugada

Se Deus quiser.

Será a mulher.

Mais amada.

 

Deitada no leito,

Despida toda nua.

Dirá: “Me possua

De todo jeito”.

 

A mulher enrolada,

Feito uma serpente.

Devora com dente,

Quem ela desejava.

 

Ao amanhecer o dia

E a cama desfeita.

Vê que tudo irradia

A mulher satisfeita.

Peruíbe SP, 27 de fevereiro de 2022.

 

sábado, 26 de fevereiro de 2022

A MANSÃO DO AMANHÃ

 

Adão de Souza Ribeiro

Quando for para as bandas de lá

Desfrutarei do que não tive aqui.

Quero ser feliz e sem blá blá blá

Esquecer-se a vida triste que vivi.

 

Sei que não se dá em casamento

E que o tempo é sempre infinito.

Poupar-me-ei do vil sofrimento,

O coração deixará de ser aflito.

 

No jardim, colherei flores belas.

E banharei nos riachos de prazer.

De manhã, já o céu em aquarela,

Me dirá que lá vale a pena viver.

 

E não será mais abalado o sonho,

Tudo que eu quero será realizado.

Não serei mais o poeta tristonho:

A paz e a fé estarão do meu lado.

 

Sei que lá terei tudo o que quero.

Os vinhos, até a mais linda deusa.

E lá o destino não será tão severo.

Sei. Não mais viverei de incerteza.

Peruíbe SP, 26 de fevereiro de 2022.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

RESSURREIÇÃO

 

Adão de Souza Ribeiro

Onde anda aquele sorriso,

Que há tempos não o vejo?

Não sabe que tanto preciso

Daquele calmo aconchego?

 

Onde anda o meu belo corpo

Com muita saúde e esbelto?

Esqueceu que já fui o moço,

Que atravessou seu deserto?

 

Onde anda o olhar tão tímido

Que via pureza além da alma?

Perdeu brilho, anda reprimido.

Nada agrada, não existe palma?

 

Onde anda aquela tal pessoa,

Que navegou no verbo amar?

Será que ele sabe que canoa,

Não vive sem águas do mar?     

 

Onde anda nosso amável poeta,

Que enalteceu o amor e a beleza?

Sem ele, a vida é demais deserta,

Renascerá no verso, bendito seja!

 

Peruíbe SP, 25 de fevereiro de 2022.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

A PARTEIRA

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Embora os astrônomos, físicos e cientistas, professem que o Universo surgira de uma grande explosão cósmica, isso há mais de 15 bilhões de anos e que passaram a chamar de “Teoria do Big Bang”, isso referendado pelo filósofo Heráclito (535 a.c. – 475 a.c) e tantos outros, sou fadado a acreditar que ele (Universo) nascera pelas mãos de Deus - o Divino Criador.      

                        Após este breve preâmbulo sobre o tema nascer e não querendo me alongar sobre teorias e filosofias milenares, desejo ater-me a respeito da parteira mais querida e antiga do lugar. A candura de sua imagem transporta ao frescor da inocência de minha infância. Não há como falar de minha terra natal, sem render eternas homenagens a ela.

                        Naquele tempo que já vai bem distante e, ainda, lá nos confins do meu sertão, não havia tecnologia. Por isso, a palavra “pré-natal” e “médico obstetra”, não se ouviam falar, nem mesmo nas histórias em quadrinhos. Se a modernidade lá não chegara, o destino preparou aquela mulher abençoada e de mãos santas.

                        Lembro-me que semanas antes da chegada de um novo irmão, ela já estava em casa, fazendo os preparativos. Com muito esmero, limpava a casa, cuidava de minha mãe e dos filhos. Isso também ocorria após o nascimento da criança, até depois da queda do cordão umbilical. Dona Joana, a Mineira, era uma cozinheira de mão cheia. Cozia aquelas polentas e pirões de frango, suculentos e deliciosos para nossa mãe e nós, assim como toda criança, esperávamos a panela, para raspar.

                        Sob os cuidados dela, minha mãe, assim como toda parturiente, seguia a risca suas orientações e conselhos, como por exemplo: não tomar friagem, não pegar peso, não comer ovo ou carne de porco e por ai se vai. Era o chamado “resguardo” ou “quarentena”. Por ser o primogênito, lembro-me com riqueza de detalhes.

                        Além disso, era uma benzedeira muito requisitada e respeitada. Também conhecia todo e qualquer tipo de erva medicinal, por isso, seus chás caseiros, era tão eficiente. Sempre dizia para alguém tomar, que a cura era na certa ou como dizia o caipira “Era batata!”.

                        Se uma criança estava abatida, por causa de “mau olhado”, depois de três dias de reza e benzeção, voltava fazer suas peraltices de sempre. Não se pretende, nesta narrativa, enveredar por dogmas ou sincretismos religiosos, mas que a cura era visível, isso sim. Diferente de falsos profetas, não era charlatanismo.

                        Eu não sou um Osvaldo de Souza, o matemático, mas posso afirmar que nas quase totalidades dos conterrâneos, nascidos na minha época, vieram pelas mãos de dona Joana, a querida parteira da cidade. Crianças robustas e bonitas, sem as doenças da modernidade. Não se tem notícia de que um parto, sob os cuidados de dona Joana, tenha se frustrado.

                        Hoje, correm lágrimas dos olhos, ao lembrar-se da querida dona Joana, a mulher que nada pedia em troca, pelo seu incansável esforço de ajudar os bebês virem ao mundo. Ela era, na verdade, uma grande filantropa. À vezes, eu me pergunto: “De onde ela adquirira tanta sabedoria, pois era simples e de pouca cultura?”. 

                        Aqui, quieto nas minhas confabulâncias, fico imaginando: “Ela era Maria, mãe de Jesus, ajudando as mães do lugarejo, a povoar aquele lugar sagrado, com homens de boa vontade”. Dona Joana, tinha o dom divino.

                        Ao nascer e dar o primeiro choro da existência, dona Joana fitou bem nos meus olhos e disse: “Fiat lux!”. A luz se fez e assim eu pude ver, pela primeira vez, o Universo e tudo de belo, que nele há. Mãos abençoadas, aquelas que traziam vidas ao mundo.

                        Ao lado do Pai Celestial, criador do Universo, ela toda feliz,  contempla minha Terra Natal e sorrindo, diz: “Missão Cumprida!”.

 

Peruíbe SP, 20 de fevereiro de 2022.

 

 

 

         

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

LIÇÕES DO AMOR

 

Adão de Souza Ribeiro

Amar ensinou-me o mar

Seja lento disse o vento

Se não sabe vá ancorar.

Não descuide do tempo.

 

Vida voa disse a canoa.

Ao longe a onda passa

Não fica na areia à toa,

Vendo sereia que graça.

 

Sonhar é uma tormenta,

Lamenta o que devora.

Na vida quem aguenta

Perder amor de outrora?

 

Diga que lição se tira,

Bem antes do arrebol?

O amor será uma ilha,

A procura de um farol.

 

Peruíbe SP, 04 de fevereiro de 2022.