Adão de Souza
Ribeiro
Embora os astrônomos, físicos e cientistas,
professem que o Universo surgira de uma grande explosão cósmica, isso há mais
de 15 bilhões de anos e que passaram a chamar de “Teoria do Big Bang”, isso
referendado pelo filósofo Heráclito (535 a.c. – 475 a.c) e tantos outros, sou fadado
a acreditar que ele (Universo) nascera pelas mãos de Deus - o Divino Criador.
Após este breve preâmbulo sobre o tema nascer
e não querendo me alongar sobre teorias e filosofias milenares, desejo ater-me
a respeito da parteira mais querida e antiga do lugar. A candura de sua imagem
transporta ao frescor da inocência de minha infância. Não há como falar de
minha terra natal, sem render eternas homenagens a ela.
Naquele tempo que já vai bem distante e,
ainda, lá nos confins do meu sertão, não havia tecnologia. Por isso, a palavra
“pré-natal” e “médico obstetra”, não se ouviam falar, nem mesmo nas histórias
em quadrinhos. Se a modernidade lá não chegara, o destino preparou aquela
mulher abençoada e de mãos santas.
Lembro-me que semanas antes da chegada de um
novo irmão, ela já estava em casa, fazendo os preparativos. Com muito esmero,
limpava a casa, cuidava de minha mãe e dos filhos. Isso também ocorria após o
nascimento da criança, até depois da queda do cordão umbilical. Dona Joana, a Mineira, era uma
cozinheira de mão cheia. Cozia aquelas polentas e pirões de frango, suculentos e
deliciosos para nossa mãe e nós, assim como toda criança, esperávamos a panela,
para raspar.
Sob os cuidados dela, minha mãe, assim como
toda parturiente, seguia a risca suas orientações e conselhos, como por
exemplo: não tomar friagem, não pegar peso, não comer ovo ou carne de porco e
por ai se vai. Era o chamado “resguardo” ou “quarentena”. Por ser o
primogênito, lembro-me com riqueza de detalhes.
Além disso, era uma benzedeira muito requisitada
e respeitada. Também conhecia todo e qualquer tipo de erva medicinal, por isso,
seus chás caseiros, era tão eficiente. Sempre dizia para alguém tomar, que a
cura era na certa ou como dizia o caipira “Era batata!”.
Se uma criança estava abatida, por causa de
“mau olhado”, depois de três dias de reza e benzeção, voltava fazer suas
peraltices de sempre. Não se pretende, nesta narrativa, enveredar por dogmas ou
sincretismos religiosos, mas que a cura era visível, isso sim. Diferente de
falsos profetas, não era charlatanismo.
Eu não sou um Osvaldo de Souza, o matemático,
mas posso afirmar que nas quase totalidades dos conterrâneos, nascidos na minha
época, vieram pelas mãos de dona Joana, a querida parteira da cidade. Crianças
robustas e bonitas, sem as doenças da modernidade. Não se tem notícia de que um
parto, sob os cuidados de dona Joana, tenha se frustrado.
Hoje, correm lágrimas dos olhos, ao lembrar-se
da querida dona Joana, a mulher que nada pedia em troca, pelo seu incansável
esforço de ajudar os bebês virem ao mundo. Ela era, na verdade, uma grande
filantropa. À vezes, eu me pergunto: “De onde ela adquirira tanta sabedoria, pois
era simples e de pouca cultura?”.
Aqui, quieto nas minhas confabulâncias, fico
imaginando: “Ela era Maria, mãe de Jesus, ajudando as mães do lugarejo, a povoar aquele
lugar sagrado, com homens de boa vontade”. Dona Joana, tinha o dom
divino.
Ao nascer e dar o primeiro choro da
existência, dona Joana fitou bem nos meus olhos e disse: “Fiat lux!”. A luz se fez
e assim eu pude ver, pela primeira vez, o Universo e tudo de belo, que nele há.
Mãos abençoadas, aquelas que traziam vidas ao mundo.
Ao lado do Pai Celestial, criador do Universo, ela toda feliz, contempla minha
Terra Natal e sorrindo, diz: “Missão Cumprida!”.
Peruíbe SP, 20
de fevereiro de 2022.