sábado, 30 de dezembro de 2023

CADÊ PAPAI NOEL?

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Em dezembro, a cidade se veste de festa. Nas ruas, de um lado ao outro, milhares de luzes com cores cintilantes, deixam as noites mais alegres. Na praça há um presépio, onde, deitado na manjedoura, o Jesuscristinho recebe o carinho dos pais, dos três Reis Magos e dos animais.

                        O autofalante, na torre da igreja matriz, canta músicas natalinas. Somados às luzes, existem enfeites em formas de estrelas e de anjos. As casas, por suas vezes, completam a alegoria, com todo tipo de adorno. Naquele mês, tudo o que deu errado durante o ano, é jogado no lixo do esquecimento. Como num toque mágica, as pessoas tornam-se boníssimas.

                        O comércio esquece do aniversariante e se deleita em vendas. As pessoas se cumprimentam, dizendo: “Feliz natal! ”. Ao ver tudo aquilo, gostaria que todos os meses do ano, fossem dezembro. Então seria maravilhoso. A pobreza escondida debaixo do tapete.

                        A minha casa, também foi preparada pelos meus pais. Ela foi pintada em cores alegres. Minha mãe passou cera vermelha, no chão de cimento queimado e, depois, passou escovão. Enfeites bem simples foram colocados na porta de entrada. Eu limpei a chaminé do fogão à lenha. Meus irmãos ajudaram-me a capinar o quintal.

                        Minhas irmãs colocaram vestido de chita, fizeram maria-chiquinha (trancinhas) no cabelo e passaram pó de arroz no rosto (maquiagem da época). Nós, os meninos, vestimos calça e camisa, feitas de saco de farinha de trigo, lavados e alvejados pela nossa mãe. Também calçamos sapatos Conga. Tudo para receber o Papai Noel.

                        Na nossa santa inocência, colocamos cartinhas debaixo da porta da sala, avisando o presente que gostaríamos de ganhar. Naquela véspera de Natal, dormimos felizes e ansiosos. Por várias vezes, durante a noite, eu acordava e olhava para o céu, desejoso de ver papai Noel chegando de trenó, puxado pelas renas e escoltado por vagalumes.

                        Ao amanhecer o dia de natal, corremos para a porta da sala e não encontramos presentes, apenas as cartinhas fechadas. Eu pensei: “Papai Noel não gosta de crianças desvalidas. Poderia ter passado aqui, pelo menos, para dar um abraço. Para os pobres, papai Noel não existe, ele é só ilusão”.

                        Naquele momento de decepção, os enfeites e as luzes da cidade, perderam todo o encanto. Eu pude ver no rosto dos meus pais, um olhar de frustação. Doeu no coração deles, sentir a tristeza dos filhos, numa data tão especial e repleta de encantos.

                        Enquanto isso, os amiguinhos, ostentavam os presentes recebidos. Brinquedos com controle remoto, bicicletas, skate, patins, boneca falante, roupa de grife e por aí se vai. De que adiantou meus pais arrumarem a casa e eu limpar a chaminé, para que o velhinho não sujasse a barba branca ou a roupa vermelha, quando passasse por lá?

                        Por ser pobre, empregado e ter sete filhos, nosso pai não dispunha de grandes recursos financeiros. Por isso nossa mãe preparou uma ceia muito simples e nós, filhos sem luxo e vaidade, achamos a melhor ceia do mundo. Estando à mesa, ficamos admirados, quando nosso irmão caçula, de três anos de idade, que nada entendia de coisas natalinas, perguntou: “Cadê papai Noel?”

 

Peruíbe SP, 29 de dezembro de 2023.

 

 

 

                                

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

ALUCINAÇÕES DE AUSTREGÉSILO

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Austregésilo de Castro, o Cacá, era um conterrâneo e sábio conhecedor de fenômenos paranormais e ufologia. Estudioso no assunto, angariou admiração de todos da Terrinha. Ele passava madrugadas inteiras, debruçado em livros e pesquisas, contando com auxílio da NASA.

                        O conterrâneo instalou no quintal da casa, um observatório rudimentar, com a lente direcionada ao espaço sideral. Dali analisava as galáxias e o movimento dos asteroides. Também haviam antenas, onde ouvia os sons do Universo. Com aquela parafernália, rastreava a vida pacata da cidade.

                        Cacá, gostava de tomar cachaça com cynar, o famoso rabo-de-galo. Não se separava do seu boné, estilo Sherlock Holmes. Dividia os momentos de lazer, no “Bar do Otávio”. Nas conversas de boteco, sempre falava da sua fascinação por ufologia e fenômenos paranormais. Alguns amigos o chamava de “Gênio” ou “Lunático”.

                        Já no início da noite, caminhava sozinho, pela rua deserta e rumo ao Bar do Otávio, quando estando ao lado da Praça Matriz e defronte os Correios, um forte clarão ofuscou a sua visão. Ao se recobrar, percebeu que estava dentro de uma nave, um OVNI. Os tripulantes, eram seres estranhos e a nave, composta de uma tecnologia avançada e jamais vista por mortais.

                        O aparelho sobrevoou a cidade, para, depois, ganhar o espaço. Lá do alto, viu que a terra era um minúsculo ponto e um clarão no Universo. Sentiu a garganta ressecada e a falta do “rabo-de-galo”.  De repente a nave pousou num lugar lindo. O chão era feito de nuvens brancas, alvas como algodão. Ali encontrou velhos amigos da Terrinha, que viajaram antes do combinado.

                        Ele viu crianças brincando; uma orquestra de passarinhos; a estrada toda florida; lagoa, de águas cristalinas; estrelas cintilantes, brilhando em todos os lugares; pessoas caminhando lentamente, como se estivessem flutuando; via-se o semblante de felicidade em todos que ali habitavam. As pessoas eram todas iguais, usavam túnica branca e caminhavam descalças.

                        O tempo era infinito e, por isso, não havia relógio.  Os seres não eram conhecidos pelo sexo ou cor da pele, pois isso não havia ali. Todos tinham o mesmo tom e timbre de voz. Cacá ficou boquiaberto com tudo o que via, pois, o lugar transmitia paz e encanto.

                        Como foi o único ser humano a estar ali, assumiu o compromisso, sob juramento, de nunca divulgar o que viu. Aquele lugar, haveria de ser sempre uma especulação ou imaginação, na mente dos terráqueos. “Na minha casa, há várias moradas. ”, João 14:2, palavras do Criador.

                        Enquanto Cacá permanecia naquele mundo transcendental, a vida lá na terra, ou melhor, na Terrinha transcorria naturalmente. Ao perceberem o sumiço de Cacá, o povo iniciou uma busca incessante. Juvêncio, o detetive Faro-Fino, com Brutus, o seu cachorro farejador, foram chamados para empreitada.

                        Havia mil conjecturas sobre o desparecimento, mas nenhuma pista plausível. No local onde foi abduzido, só encontraram o boné. Nenhum sinal de pegada humana ou de pneus de veículo. Brutus, sentiu o odor de Cacá só até ali. A partir de então, deu-se início aos comentários e diz-que-diz.

                        Carmosina, moradora ao lado do Correios, disse: “Eu vi uma gerigonça luminosa, parar no meio da rua. Uns bichos estranhos, depois de apanharem Cacá, saíram voando pelo céu e desapareceram.”. Como a mulher era fofoqueira e mentirosa de carteirinha, ninguém quis dar crédito.

                        Porém, quando a NASA soube da narrativa de Carmosina, enviou cientistas renomados para a Terrinha, a fim de investigar a veracidade do fato.  Os aparelhos espiões, lançados no espaço, pela Rússia e Estados Unidos, não detectaram nada de estranho, nos céus da Terrinha. Isso prova que, nem mesmo a NASA, conseguia desvendar os mistérios, que rondavam a Terrinha. Com os cientistas, vieram a imprensa do mundo inteiro, para explorarem o ocorrido e venderem sensacionalismo.

                        O Paço Municipal hasteou a Bandeira da cidade a meio mastro, em sinal de respeito ao ilustre munícipe desaparecido. No prostíbulo, as primas entram em jejum, deixando de prestar relevantes serviços aos assíduos clientes.

                        Na igreja houve evasão dos fiéis, redundando em queda na arrecadação do dízimo e das ofertas dominicais. Aquilo deixou o padre preocupado, pois, sem arrecadação, ele seria transferido. A cidade estava em pânico total.

                        Matilde, uma velhinha muito debilitada, chorava copiosamente a ausência do filho amado. Realizou-se procissões, promessas e cultos em todas as religiões, inclusive, as de matrizes africanas e orientais.  O povo irmanou-se numa só causa e objetivo, ou seja, na volta de Austregésilo de Castro, o Cacá.

                        Passado um ano, quis o destino que, numa noite, no mesmo lugar e horário, o lunático Cacá fora deixado de volta. Carmosina não presenciou a chegada triunfal, porque não estava sentada na caldeira de balanço, na entrada da casa. Ficou triste e entrou em depressão.

                        Ao verem o conterrâneo ali, todos correram para abraçá-lo e saberem o que aconteceu. Como ele estava abilolado limitou-se a dizer: “Eu não me lembro de nada”. Os cientistas, após intenso interrogatório, concluíram que ele falava a verdade.

                        Após alguns dias, depois de recobrar os sentidos, lembrou-se onde estivera e o que viu por lá. Porém, conforme compromisso assumido, não revelaria. Fato é que ele passou a sentir saudades daquele mundo surreal. O que ele mais queria, era tomar uma dose do rabo-de-galo, no Bar do Otávio, em companhia dos velhos amigos.

                        A partir daquele fato inusitado, os seus estudos e pesquisas, não ficaram apenas no campo das teorias e, portanto, ganharam mais robustez. Ao passar pela experiência vivida, Austregésilo de Castro, o Cacá, certificou-se de que a vida além da imaginação, não era apenas uma alucinação, mas a verdadeira realidade. Basta acreditar.

           

Peruíbe SP, 20 de dezembro de 2023.

domingo, 17 de dezembro de 2023

A ROCHA

 

Adão de Souza Ribeiro

Sou, antes de tudo, forte

E não fujo de um desafio

Sou homem e tenho brio

Não temo nem a morte.

 

Eu sou como uma pedra

Encaro a força da onda,

Se um perigo me ronda

A coragem se apodera.

 

Eu fui forjado em ferro

Por isso não desmancho

Não sou bravo e manso

Essa a vida que eu levo.

 

E na luta da vida, venço

E enfrentei mil barreiras

Desci e subi as ladeiras,

Sou o vencedor, penso.

 

Sou, antes de tudo, rocha

Nasci para ganhar vitória

A meu à Deus dou glória

Na chegada ergo a tocha!

 

Peruíbe SP, 17 de dezembro de 2023.

sábado, 16 de dezembro de 2023

MEU DESESPERO

 

Adão de Souza Ribeiro

Vou até o fim do mundo

Em busca do teu abraço

Se me perco eu te acho.

Sou feliz e não me iludo.

 

E desafio até o Universo

Matar a saudade e vê-la

Eu procuro nas estrelas,

E me viro até do avesso.

 

Não sei viver sem você,

A vida não tem sentido.

O seu cheiro eu preciso

Vai abandonar pra quê?

 

Casa vazia ainda chora,

E a ave não canta mais.

Se a noite cai, tanto faz

Não vejo mais a aurora.

 

Eu caminho pela nuvem,

Sem um rumo, tão triste

Se a minha vida persiste

O que será do meu bem?

 

Eu vou além do infinito,

E quando eu encontrar.

Darei o mundo e o luar,

Sonho será nosso abrigo!

 

Peruíbe SP, 16 de dezembro de 2023.

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

CASINHA DE SAPÊ

 

Adão de Souza Ribeiro

Lá longe no pé da serra

À beira da mansa lagoa

A natureza sonha atoa,

Com a beleza da terra.

 

E junto a bela casinha

No meio da vegetação

Mas luz da constelação

Jamais a deixa sozinha

 

Dentro o fogão à lenha

Lamparina clareia tudo

O rádio de pilha mudo,

No quintal, vaca prenha

 

O quarto, cama de mola

Colchão palha de milho.

E muito carinho ao filho

Belo romper da aurora.

 

Paisagem tão modesta

Ver a casinha de sapê,

Com o canto do zabelê.

É tão nobre a floresta.

 

A casa é um lugar bento.

E se lembro o olho chora

Ela é toda pobre por fora

Cheio de amor por dentro.

 

Peruíbe SP, 12 de dezembro de 2023.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

A FORTALEZA

 

Adão de Souza Ribeiro

Sou pedra e sou rocha,

Não tem vento e chuva.

Que vem e me destroça

E diz que me machuca.

 

Eu sou pedra e sou aço,

Bem forjado na bigorna.

Por nada eu me desfaço

Bate mantenho a forma.

 

Sou de sangue e de raça

E concebido para a luta.

Ninguém põe a mordaça

Se quiser falar me escuta.

 

Sou xucro, bicho do mato

Não temo nenhum desafio,

Sou respeitado onde passo

Eu sou um caipira de brio.

 

Não vai me tirar da toca,

Não mexa se estou quieto

Estouro tal qual a pipoca,

Faça e então verá o resto.

 

Peruíbe SP, 11 de dezembro de 2023.

 

 

domingo, 10 de dezembro de 2023

SE EU PARTIR

 

Adão de Souza Ribeiro

Não chore, se eu partir,

Calma, pois não demoro.

É rápido, eu vou logo ali

Ver um pássaro canoro.

 

E se demorar um tempo,

Deixa o jantar já pronto.

À mesa um cálice bento

Atraso, depois eu conto.

 

Não chore, sem notícia.

Pode ser um imprevisto

A viagem, tem malícia,

Nisso é que eu acredito.

 

Não chore, melancolia

Se o tempo tudo cura.

Cuida desta vida vazia

E a noite menos escura.

 

E se eu partir, não chore

Reze e peça em segredo

Vá, antes que tudo piore

No mundo tudo tem jeito.

 

Não chore, tenha calma

Tudo é questão de sorte.

E não cria tanto trauma,

Só não tem volta a morte.

 

Peruíbe SP, 10 de dezembro de 2023.

sábado, 9 de dezembro de 2023

FORMOSA CABOCLA

 

Adão de Souza Ribeiro

Ana, a formosa cabocla

De atraente formosura.

Deixa a natureza louca,

É lua em noite escura.

 

Com cabelo de trança,

Vestido lindo de chita.

Feliz toda vida dança,

Num bailar que excita.

 

Ela a princesa da roça,

Nos pés com sandália

O coração da palhoça

A sua ternura espalha.

 

O rosto belo e infantil

Seduz quem aproxima

Ela é calma como o rio

Suave a voz da menina.

 

Ao lado do fogão a lenha

Ela vem e cozinha o pirão

E no seu talento desenha,

Que o sertão tem de bom.

 

Quem desposar a mulher

Com o gesto, um sorriso.

Terá o sertão aos seus pés

Conquistará o seu paraíso.

                                                          

Peruíbe SP, 09 de dezembro de 2023.

 

 

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

PAPAI NOEL

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Você viria em dezembro

Feliz esperei e não veio.

Pelo que eu me lembro,

É o homem de vermelho.

 

Eu preparei a minha casa,

Até limpei toda chaminé.

Vesti a fantasia com asa,

Era tão divina e linda a fé.

 

E a árvore com muita luz,

Enfeite colorido na porta.

É tanta beleza que seduz,

Trenó não vai errar a rota.

 

Sonhei com os brinquedos

Para mim e a meus irmãos.

Por isso, eu já acordo cedo,

Com felicidade no coração.

 

Entrou janeiro e nem sinal,

É, você não gosta de pobre

Ó papai Noel, não faz mal.

Amanhã você me descobre.

 

Peruíbe SP, 08 de dezembro de 2023.

domingo, 3 de dezembro de 2023

SÓ A VIDA

 

Adão de Souza Ribeiro

Só a vida tem o dom,

De resgatar o passado

Óh Deus, como é bom

Despertar ao seu lado.

 

Só a vida tem a manha

A mostrar o que é belo

Me acordar de manhã,

Na paz do seu castelo.

 

Só a vida tem o jeito,

E que outro não tem.

De acalmar no peito,

A falta do meu bem.

 

Só a vida tem a cura

Sabe do que preciso.

Me livrar da loucura,

De cair no precipício.

 

Só a vida tem o meio,

De me trazer a alegria

E sem qualquer rodeio

Tirar-me desta agonia.

 

Peruíbe SP, 03 de dezembro de 2023.

 

 

O MENINO E O POETA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Em meio ao desalento

Eu caminhava sozinho

Eu falava com o vento

Voava com passarinho.

 

Naquela longa estrada,

Ali surgiu um menino.

E vi que veio do nada,

Voz suave como hino.

 

Falava de coisas belas.

De futuro, amor e paz.

Os olhos eram estrelas

De um brilho tão fugaz.

 

Ele ficou todo o tempo

E não saiu do meu lado

No seu caminhar lento,

Tinha toque de sagrado.

 

Nos olhos tinham a luz,

Que eu nunca o vi antes.

Parecia o menino Jesus,

Era puro seu semblante.

 

Com os longos cabelos

Roupas alvas e simples

E me cuidava com zelo

Num amor sem limites.

 

Na jornada e já no final

 Disse: Siga a vida certa

E não temas o vendaval

Eu te fiz um sábio poeta.

 

Peruíbe SP, 03 de dezembro de 2023.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

AS ASSEXUADAS

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Penso, logo existo” – René Descartes, filósofo francês (1596 a 1650).

                        Partindo desta premissa é que me sinto ansioso, depressivo e revoltado. Eu deveria ser um xucro e não me importar com nada. Essa mania que tenho de querer entender tudo e mudar o mundo, tem custado minha saúde e uma confusão mental.

                        Ultimamente, tenho notado que a mídia castradora e manipuladora, vem defendendo a mulher e a raça negra de uma forma desmedida. O homem e o ser branco (mulher) não têm mais valor. Eu creio que não sei aonde ela (mídia) quer chegar e que interesse há por trás de tudo isso. Certo é que o povo desavisado está embarcando nesta canoa furado.

                        Quando eu era moleque lá na santa Terrinha, convivia harmoniosamente com meninos e meninas, sendo eles brancos ou negros. Embora as pessoas fossem arcaicas e provincianas e de costume caipira, sabiam respeitar o próximo. É de bom alvitre dizer que, naquele tempo, não havia a maldita televisão. O que sabíamos, era graças ao ensinamento dos pais ou professores.

                        Hoje, debruçado sobre esta enxurrada de informações inúteis, vejo que daqui há um tempo, não muito distante, as mulheres serão todas assexuadas. O planeta, ou melhor, o país ser povoado só pelas mulheres negras. Não haverá homens e nem mulheres brancas.

                        Durante meu pesadelo mental, busco conforto na Sagrada Escritura, quando diz: “Deus criou o homem e a mulher” – Genesis 1: 27-28. Nota-se que ele não disse só o homem ou só a mulher. Também, que criou o homem branco e o homem preto, pois, para Ele, os filhos são todos iguais.

                        Na minha infância, chamar o coleguinha de branquelo ou neguinho, não alterava o amor e o respeito que tínhamos com ele. Não éramos uma geração nutella ou cheia de mimi. Para aceitarmos tudo sem refutar, criaram a “Lei da Mordaça”, para que nossa livre opinião, seja considerada crime inafiançável.

                        Sobre a Igualdade de Gênero, uma aberração moderna, permita-me que eu disserte em outra oportunidade, pois não quero sair do foco. Querem a todo custo, que eu aceite tudo isso como evolução e modernidade. Eu sou um capiau e vindo lá do sertão, portanto, jamais concordarei em ser domesticado pelos adestradores de burros.

                        Eu não sou do quilate de Charles Robert Darwin – cientista britânico – 1809 a 1892, quando defendo a teoria de que o país será povoado apenas por mulheres negras. Mas, pelo andar da carruagem, os defensores do quanto pior, melhor é o que vai acontecer.

                        Infelizmente não posso me alongar em minhas teses, pois corro o risco de receber a visita inesperada dos meninos de toga em minha porta, alegando que estou proliferando o ódio e que isso é terrorismo.

                         Elas, as mulheres, influenciadas pela mídia selvagem, se intitulam empodeiradas, mas, eu as considero empoleiradas, sobre a falsa ideia do que é ser mulher. E disse Deus: "Não é bom que o homem viva sozinho. Vou fazer para ele alguém que o ajude como se fosse a sua outra metade; far-lhe-ei uma adjutora, que esteja como que diante dele, como a sua outra metade". Gênesis: 2-18.

                        Perdoa-me os assíduos leitores, mas é apenas o desabafo de quem não concorda com os desmandos da mídia, a qual trabalha, não se sabe a mando de quem, para jogar as pessoas de bem contra os princípios éticos e morais. Agindo assim, eles querem criar a desordem institucional.

                        Diante de tudo isso, vou seguindo minha toada com o que aprendi na infância, lá na Terra Natal, isto é, o Branquelo, o Neguinho, bem como, a Mariquinha eram apenas meus amiguinhos de traquinagem. Não tínhamos a maldade da gente grande.

                        O resto, era o resto.

Peruíbe SP, 01 de dezembro de 2023.

 

P.S.: A reprodução assexuada é um tipo de reprodução observada em diferentes seres vivos que se caracteriza pela formação de um novo ser sem que haja a mistura de material genético, ou seja, sem que ocorra a fusão de gametas (cruzamento do macho com a fêmea).

sábado, 25 de novembro de 2023

RENATA

 

Adão de Souza Ribeiro

Menina de beleza estonteante

Diz que ela é uma linda gata.

No Lucy não muito distante,

Encontrei uma deusa Renata.

 

Sua simpatia enfeita o lugar

Traz alento e tanta proteção

Como ondas calmas do mar

A tocar a praia com coração.

 

Ela sabe conduzir a terapia,

Com amor e tal delicadeza.

Paciente percebe dia a dia,

Que é tão linda a natureza.

 

O jeito meigo e feminino,

Cativa os que dela procura

E faz da profissão um hino

A quem busca a santa cura.

Peruíbe SP, 25 de novembro de 2023.

 

domingo, 19 de novembro de 2023

SONETO AO LUCY

 

Adão de Souza Ribeiro

Lugar santo e belo,

Repleto de ternura.

Acolhe com esmero

Quem busca a cura.

 

Tu ofereces o colo,

Tu acalentas a dor.

O brilho dos olhos,

Ilumina aonde for.

 

Bendito és o afeto,

Que dás ao paciente

Não há tal remédio.

 

Com o efeito certo,

Vai direto a mente

E afugenta o tédio!

 

Peruíbe SP, 19 de novembro de 2023.

 

 

sábado, 18 de novembro de 2023

TEJE PRESO... TEJE SOLTO!

 

Adão de Souza Ribeiro

                        A criança vê o mundo de um jeito e de um ângulo diferente. É com esse olhar encantador, que a vida se torna mais suportável e amena. Todos nós, cristãos ou ateus, quando lembramos do passado, vamos diretos na lente da infância. Eu pelo menos sou assim e, por isso, sou muito grato a essa fase da vida.

                        Cada imagem ou cada cena da infância, deixam marcas indeléveis para o resto da vida. Quando divagamos em lembranças pretéritas da fase pueril, exclamamos: “Nossa que tempo bom, que não volta mais!”. As histórias contadas pelos avôs, as brincadeiras gostosas e intermináveis, as aulas no grupo escolar, as traquinagens inconsequentes, tudo tinham sabor de inocência. Quem aproveitou bem, sabe disso.

                        O campo de futebol, o matadouro, a lagoa do Hermininho, a estrada de terra do Bairro Bondade, a mata da “Granja Helvetia’, a enorme Caixa D`Água, a criação do bicho de seda, o córrego “Arrothéia”, a escola agrícola e por aí se vai. Tudo está gravado na memória.

                        Hão coisas na vida, que a mente do infante não consegue compreender. A minha cidade natal, que carinhosamente chamo de Terrinha, é pequena e aconchegante. O seu povo era trabalhador e honesto, onde todos se conheciam e até se davam em casamento.

                        Não havia violência, apenas brigas ente cachaceiros, depois de goles da marvada pinga, que se resumiam em xingamentos e empurrões, separados pela turma do “deixa disso”. Até hoje não entendo o porquê haver ali uma Delegacia de Polícia, a qual ficava ao lado do campo de futebol.

                        Um próprio público pequeno, composto da sala do Delegado e do Escrivão, uma cela e uma sala reservada para Ciretran e emissão de cédula de identidade. O delegado ali comparecia só para assinar documentos ou em caso de emergência, pois respondia por outra cidade, onde morava.

                        A porta da cela estava sempre escancarada, esperando um conterrâneo mais alterado, o que não ocorria. Por um tempo, esteve ocupada por várias condenadas femininas, vindas de outra cidade, enquanto a cadeia de lá era reformada.

                        Um vigário vigarista, oportunista de carteirinha, andou rondando por ali. Não para salvar as pobres mulheres do pecado, mas, sim, para separar a ovelhinha mais linda do rebanho para ele. Ela não iria cuidar da sacristia, mas da Casa Paroquial, onde ele morava.

                        Na cadeia havia um único preso, ao que parece, condenado por homicídio. Como era da Terrinha e sabiam não ser violento, pois matara em legítima defesa de terceiro, ficava solto, isto é, não trancafiado atrás das grades.

                        Quem passava por ali, podia vê-lo cuidando da limpeza ou executando reparos no prédio. Muitas vezes o vi, fazendo compras no comércio. Ele era, por excelência, muito educado, respeitador e prestativo. O preso era alto, de compleição física forte e um grosso vozeirão. Todos o respeitava e temia, embora não representava perigo.

                        Pelo fato dele gozar de toda aquela regalia, é que eu não o considerava preso e dizia que a cela estava sempre vazia. Quando algum conterrâneo era colocado ali, até passar a carraspana da bebedeira, era ele quem abria e fechava a sela. Até porque ele dormia na sala de emissão de cédula de identidade.

                        O preso cumpria com rigor, as restrições impostas pela lei, ou seja, não frequentava bares, prostíbulos, festas e nem igreja. Engraçado que o vigário vigarista não ia visitá-lo corriqueiramente e nem rezava pela alma daquele pecador.

                        São por essas razões que eu considerava a cadeia, uma peça de museu, pois, todas as vezes que passava defronte, eu a via fechada. Eu sei que dirão, que ela é um mal necessário e que, por isso, tem que existir.

                        Eu deixei a Terrinha em plena adolescência e, por isso, não sei o fim daquele hóspede, ou melhor, preso da cadeia. Creio que, em razão dos anos decorridos, ele já esteja morto. Que bom seria, se todas as cadeias permanecessem escancaradas, sem ter quem as ocupassem.

                        A pena fria da lei diria: “Teje preso!” e a sociedade ordeira e honesta, reconhecedora da não periculosidade de seu cidadão, respondesse: “Teje solto!”.

 

Peruíbe SP, 18 de novembro de 2023.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

REVISITANDO O FUTURO

 

Theo do Valle

 

Hoje, feriado, calor de 100 graus Fahrenheit, cá estou revisitando as projeções daquele futuro fértil, daquele jovem bonito, de madeixas longas e voz de tenor.

O rapaz tímido, lá dos confins do interior Paulista, virou farmacêutico industrial e, inusitamente (talvez !?) se transformou em professor universitário por exatos 38 anos.

Sua timidez para os palcos dos shows foi lapidada nos tablados das salas de aulas e nos quadros negros, verdes e brancos que a vida foi lhe presenteando.

Sim... um presente. Ou melhor, vários presentes, várias memórias indeléveis que guardo na cachola.

Da indústria, recebi o maior presente: esposa e, consequentemente, a prole ...

Razões eternas e imutáveis para este novo futuro que projeto para as próximas décadas.

Quiçá venham netos e que haja tempo para vê-los crescer e sonhar.

Nesta viagem, confesso que não tinha imaginado rugas...

Imaginei os cabelos brancos e calvície avantajada, mas rugas não.

Pra ser sincero, gosto delas quando as vejo no espelho ou nos "closes" de muitos clicks.

Neste revisitar de meu futuro, continuo sendo vaidoso e ousado.

Não sonho conquistar o mundo com minha voz, nem ganhar prêmio Nobel, com minha ciência, muito menos ser artilheiro da copa, com minhas habilidades futebolísticas.

Agora desejo rugas... muito mais delas. E assim, me "eternizar, por décadas, em algum álbum familiar.

Quem sabe, eu ganhe espaço em algum HD externo ou chip de celular , em alguma gaveta de recordações .

Sonho maior, para este novo futuro, seria ganhar um quadro na parede (como o quadro de meus bisavós) ou mesmo na estante da sala... porém um retrato colorido... com sorriso largo e olhar orgulhoso, cercado de "gentes" que amo.

Assim, realizado pelas novas conquistas, estaria apto para galgar a liberdade de um novo corpo astral, em nova dimensão.

Uma versão melhorada para um próximo EU.

Aqui me despeço, velho futuro.

Pronto para um novo porvir.

Mandarei notícias das próximas décadas, em breve.

Fui...

Ass. Théo do Valle (José Claret)

Nov 2023