sábado, 30 de dezembro de 2023

CADÊ PAPAI NOEL?

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Em dezembro, a cidade se veste de festa. Nas ruas, de um lado ao outro, milhares de luzes com cores cintilantes, deixam as noites mais alegres. Na praça há um presépio, onde, deitado na manjedoura, o Jesuscristinho recebe o carinho dos pais, dos três Reis Magos e dos animais.

                        O autofalante, na torre da igreja matriz, canta músicas natalinas. Somados às luzes, existem enfeites em formas de estrelas e de anjos. As casas, por suas vezes, completam a alegoria, com todo tipo de adorno. Naquele mês, tudo o que deu errado durante o ano, é jogado no lixo do esquecimento. Como num toque mágica, as pessoas tornam-se boníssimas.

                        O comércio esquece do aniversariante e se deleita em vendas. As pessoas se cumprimentam, dizendo: “Feliz natal! ”. Ao ver tudo aquilo, gostaria que todos os meses do ano, fossem dezembro. Então seria maravilhoso. A pobreza escondida debaixo do tapete.

                        A minha casa, também foi preparada pelos meus pais. Ela foi pintada em cores alegres. Minha mãe passou cera vermelha, no chão de cimento queimado e, depois, passou escovão. Enfeites bem simples foram colocados na porta de entrada. Eu limpei a chaminé do fogão à lenha. Meus irmãos ajudaram-me a capinar o quintal.

                        Minhas irmãs colocaram vestido de chita, fizeram maria-chiquinha (trancinhas) no cabelo e passaram pó de arroz no rosto (maquiagem da época). Nós, os meninos, vestimos calça e camisa, feitas de saco de farinha de trigo, lavados e alvejados pela nossa mãe. Também calçamos sapatos Conga. Tudo para receber o Papai Noel.

                        Na nossa santa inocência, colocamos cartinhas debaixo da porta da sala, avisando o presente que gostaríamos de ganhar. Naquela véspera de Natal, dormimos felizes e ansiosos. Por várias vezes, durante a noite, eu acordava e olhava para o céu, desejoso de ver papai Noel chegando de trenó, puxado pelas renas e escoltado por vagalumes.

                        Ao amanhecer o dia de natal, corremos para a porta da sala e não encontramos presentes, apenas as cartinhas fechadas. Eu pensei: “Papai Noel não gosta de crianças desvalidas. Poderia ter passado aqui, pelo menos, para dar um abraço. Para os pobres, papai Noel não existe, ele é só ilusão”.

                        Naquele momento de decepção, os enfeites e as luzes da cidade, perderam todo o encanto. Eu pude ver no rosto dos meus pais, um olhar de frustação. Doeu no coração deles, sentir a tristeza dos filhos, numa data tão especial e repleta de encantos.

                        Enquanto isso, os amiguinhos, ostentavam os presentes recebidos. Brinquedos com controle remoto, bicicletas, skate, patins, boneca falante, roupa de grife e por aí se vai. De que adiantou meus pais arrumarem a casa e eu limpar a chaminé, para que o velhinho não sujasse a barba branca ou a roupa vermelha, quando passasse por lá?

                        Por ser pobre, empregado e ter sete filhos, nosso pai não dispunha de grandes recursos financeiros. Por isso nossa mãe preparou uma ceia muito simples e nós, filhos sem luxo e vaidade, achamos a melhor ceia do mundo. Estando à mesa, ficamos admirados, quando nosso irmão caçula, de três anos de idade, que nada entendia de coisas natalinas, perguntou: “Cadê papai Noel?”

 

Peruíbe SP, 29 de dezembro de 2023.

 

 

 

                                

Nenhum comentário: