sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

CASINHA PEQUENINA

Adão de Souza Ribeiro


Há uma casa no morro
Que pede por socorro
Mas socorro para que
Se quem passa não vê.


De tristeza ela padece
Com chuva e com frio
A noite reza uma prece
De lágrima chora o rio.


Coberta de pau a pique
Todinha de chão batido
Na sua roupa tão chique
Guarda um amor sofrido.


Espia tímida pela fresta
Nas noites de lua cheia
Alegre bailar da floresta
Em terra distante, alheia.


 No corpo da casa vazia
Cabe de tudo um pouco
A paz, o sonho, a poesia;
Do poeta pobre e louco.
       

Peruíbe SP, 30 de janeiro de 2020

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

SEGREDOS DA VIDA


Adão de Souza Ribeiro
Tenho medo de tudo
De tudo tenho medo
Nada falo, sou mudo.
Tudo guardo segredo.


Os mistérios da vida
Deles não me apego
Vivo longe de briga
Sou fã do que é belo.


Minha vida apressada
Não me deixa ser feliz
Nos braços da amada
Sou o eterno aprendiz.


Tenho paz na chuva
Na chuva tenho paz
Se na vida há curva
Para mim, tanto faz.


Tenho amor na morte
Na morte tenho amor
Se eu for para o norte
Pouso de flor em flor.

Peruíbe SP, 26 de janeiro de 2020.

domingo, 19 de janeiro de 2020

GALANTEIO


Adão de Souza Ribeiro

João, eu te quero.
Maria, eu te desejo.
Deixa de lero-lero,
Acode este lampejo.


José, eu te amo.
Bia, eu te idolatro.
Já faz mais de ano,
Que beijo teu retrato.


Pedro, eu te acaricio.
Manu, eu te abraço.
A cama está tão fria,
E sobra tanto espaço.


Luiz, eu te hipnotizo.
Sonia, eu te embalo.
Diante do teu sorriso,
Feliz eu me espasmo.


Paulo, eu te sinto.
Carla, eu te devoro.
Tem sabor de absinto
O cheiro do teu colo.

Peruíbe SP, 19 de janeiro de 2020.

domingo, 12 de janeiro de 2020

ELEGIA A VIDA


Adão de Souza Ribeiro


Quando o Grande Arquiteto do Universo,
Permitir que eu respire o último fôlego.
Quero só rabiscar em prosa e em verso,
Todos os sonhos, lutas e desassossego. 


Hei de relembrar o caminho percorrido,
Durante os vendavais que foram tantos.
Mas que fez de um sonho mais garrido,
Marca escrita nos meus cabelos brancos.


Quando a morte, bela amada sorrateira,
Beijar suavemente o rosto já enrugado.
Eu vou brincar de ser feliz à noite inteira,
Voltar a ser criança, como era no passado.


Se o brilho destes olhos fechar de repente
E meu corpo dormir na mansão do amanhã,
Vou escrever que amei a vida e tanta gente
E que fiz da poesia de amor, meu doce divã.


Se o Grande Arquiteto do Universo permitir,
Que eu permaneça por aqui, um pouco mais.
Quero viver, brincar, sonhar, amar e sorrir,
Feito criança, pelas ruas, praças e quintais!


Peruíbe SP, 12 de janeiro de 2010.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

VELHOS TEMPOS... BELOS DIAS


Adão de Souza Ribeiro


                                   Tem pessoas, que precisam de muito para ser felizes. As suntuosas mansões, carros potentes, gordas contas bancárias, as viagens internacionais e grandes ostentações sociais, são fundamentais para seu prazer terreno. Já outras, basta um casebre ao pé da serra, um cavalo bom arriado, uns trocados no bolso, um pulo na casa do vizinho e um proseado no fim de tarde, para ser felizes. A felicidade não está onde a pomos, mas, sim, onde estamos.
                                   A essência da vida está na simplicidade dos nossos atos. Um gesto de ternura traduz a pureza de nossa alma. Um abraço apertado e um beijo sincero curam todos os males do corpo, dissipam as carências do coração, abrandam as mágoas do espírito e, por fim, ultrapassam a compreensão da transitoriedade da vida. A evolução da espécie e o progresso, não podem anular os sentimentos mais puros do ser humano.
                                   Os anos caminham na velocidade da luz, por isso, o tempo urge e ruge. Não há espaço para as rusgas do cotidiano, longas discussões de somenos importância e, muito menos, conflitos durante vãs filosofias. Os tempos modernos surrupiaram de nós, a contemplação da natureza e o sabor da vida de outrora. Corremos atrás de bens matérias e voltamos vazios de sentimentos. Decepcionados, perguntamos: “O que fizemos, durante toda nossa existência? Em que baú deixou a nossa infância e a nossa história?”,
                                   Um dia, cansados do vazio da alma, por conta das ilusões mundanas, caminhamos no sentido inverso do cotidiano. Resgatar o que se perdeu durante a longa estrada da existência, torna-se algo urgente e precioso. Nesta garimpagem do que se pretende encontrar, estão os lugares marcantes, por onde, um dia, nós passamos e os amigos que, de mãos dadas, desenharam a nossa infância e os nossos sonhos.
                                   Com o corpo curvado, pelo peso da luta cotidiana; os cabelos grisalhos, de tantas preocupações; os olhos turvados, pela luz do desconhecido; a audição precária, ensurdecida pela incompreensão e, ainda, o andar trôpego, das caminhadas sem fim, não há quem não deseja buscar a resposta do porquê de tamanha saudade do passado. Quem não tem passado, não tem história. Quem não tem história, passou a vida em brancas nuvens. Portanto, foi espectro de homem, não viveu.
                                   Por causa desse saudosismo exacerbado, que corri contra o tempo e parti para a terra natal, em busca dos lugares marcantes e dos amigos de infância. Queria fitar bem fundo, nos olhos de cada um e dizer o quanto o amo. Abraço longo e apertado, como prova do nosso elo eterno. Sentir que nem tudo estava perdido. A saudade e a ansiedade viajaram ao meu lado.
                                   Já naquele território, marcamos o memorial encontro, num festiva regada a churrasco e bebida. A galeria de fotos recepcionou os convivas, que, entre conversas e gargalhadas, relembraram fatos ora pitorescos, ora tristes e, outras vezes, alegres. Os sobrenomes de familiares tradicionais ali se cruzaram. Como numa película cinematográfica, buscamos na memória, pessoas que partiram para mansão do amanhã, mudaram de cidade ou Estado, casaram, tiveram filhos, envelheceram e por ai se vai.
                                   Visitei o interior do ginásio estadual e da igreja matriz. Aos poucos, a ansiedade daquele encontro, foi substituída pela descontração e alegria de rever a todos. A promessa de novos encontros ficou selada ali. Um retratista improvisado imortalizou o encontro numa imagem, que ficará para a posteridade. Ou melhor, fará parte do stand de fotos daquele museu.  Os que não se fizeram presentes justificaram suas ausências.
                                   As ruas e as casas continuavam as mesmas, de quando um dia voei em buscas de aventuras. No entanto, senti em seus olhares, a alegria de me verem ali, depois de um longo e tenebroso inverno. Queriam beijar o meu rosto e balbuciar palavras de saudade e de carinho. Fui acolhido pelas velhas arvores que, com seu gingado, procuravam seduzir-me com encantos mil. Por longos anos, ficaram postadas em silêncio, esperando a minha volta.
                                   Deu vontade de bradar aos quatro ventos: “Eu voltei agora pra ficar, porque aqui é meu lugar”. Posso dizer que ali, nos braços carinhosos da minha terra natal, onde a infância dormitava em paz e o futuro não tinha pressa, revive os velhos tempos... belos dias!

 Peruíbe SP, 07 de janeiro de 2020.

domingo, 5 de janeiro de 2020

SONHO DA PRINCESA


Adão de Souza Ribeiro

Há uma mulher doce e formosa
Que há muito tempo não vejo,
Tem o olhar belo como a rosa
E no coração um lindo segredo.


Dá infância, herdou a ternura,
Vista na meiguice do sorriso.
E leva um coração a loucura
Deste sonho é que eu preciso.


Nas linhas suaves do seu corpo
Escrevem-se os versos imortais.
Do tempo que ainda era moço,
Dos anos que não voltam mais.


Os cabelos dançam ao vento
Num ritmo calmo e atraente
Tocando o corpo tão sedento
Que entorpece minha mente.


Quem disse que ela não sonha
Assim como eu sonho também
Os mais lindos sonhos de Sônia
Ao poeta sonhador, faz tão bem.

Peruíbe SP, 05 de janeiro de 2020.