segunda-feira, 30 de maio de 2022

OS PASSAGEIROS

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Na longa estrada da vida

Nós temos duas estações

Da chegada e da partida.

E maquinista é o coração.

 

Todos estão apressados,

Na mão segura o bilhete

Triste acena ao passado,

Mas com voz em falsete.

 

Se vai ao sul ou ao norte

Ninguém sabe qual rumo

Só quer é arriscar a sorte

Se errar, acerta o prumo.

 

Na bagagem leva a mala

Cheia de coisa sem valor

E diante do mistério cala

Na curva algo a transpor.

 

As estações de embarque

Ali onde o passageiro fica.

Para partir cedo ou tarde,

Chama morte: outra, vida!

Peruíbe SP, 30 de maio de 2022.

domingo, 29 de maio de 2022

DEVANEIOS

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Quando eu acordar tarde da noite

A chorar e com o sintoma de surto,

É o flagelo da vida que feito açoite

Visita meu sono a guardar seu luto.

 

E se me ver chorando e sem o sono,

Conta lindas histórias pra eu dormir.

Por favor, cubra do vento minuano,

Deixa o sonho voar como um colibri.

 

Afugenta, pois, os pesadelos de mim,

 Finjo ser forte, porém, forte não sou.

Pega-me nos braços, eu sou curumim

Minh’alma tem a leveza do beija-flor.

 

E se, por ventura, eu chorar baixinho,

Num choro tão pesaroso, só a soluçar.

Conforta-me, diga: Não está sozinho.

Tem companhia da bela noite de luar!

 

E se atrapalharem os meus devaneios.

Fazer deste meu sono um mar revolto,

Proteja-me com o calor dos teus seios

Com tua doçura, faça dormir de novo!

 

Peruíbe SP, 29 de maio de 2022.

 

sábado, 28 de maio de 2022

SE EU MORRER

 

Adão de Souza Ribeiro

Se eu morrer de repente

E sem avisar em tempo.

Enviarei algo pelo vento

A vida é só um incidente.

 

É veloz como locomotiva,

Que ao passar pela estação

Para uma rápida baldeação,

Parte e leva a sua comitiva.

 

Se eu morrer dormindo,

Perguntarem do pesadelo.

Morreu um pé de chinelo

Partiu versejando um hino.

 

Se eu morrer de enfisema

Ou diagnóstico qualquer.

Sei que lá posso escrever

 Vou junto ao meu poema.

 

Se eu morrer de madrugada

Antes mesmo de dizer adeus

E diga ao mundo: Não sofreu

Foi encontrar com sua amada.

Peruíbe SP, 28 de maio de 2022.

A ESCRAVIDÃO DO AMOR

 Adão de Souza Ribeiro

 

O amor nunca escraviza

Se ele escraviza é posse.

Pois se assim quer Eliza,

Sei, ainda é tempo, foge.

 

O amor puro não sufoca

Se ele sufoca é carrasco.

Pois se assim quer Rosa,

Não dê a ela um espaço.

 

O amor jamais humilha,

Se humilha é amor cruel.

Deixa os laços de Cecília

Há um galardão lá no céu.

 

O amor nunca desencanta.

Se desencanta amor não é

Esqueça amor de Iolanda,

E não arraste aos seus pés.


O amor é santo não sangra

Se sangra e te causa tédio,

Não corra atrás de Sandra

Ser feliz não é sacrilégio.

 

O amor é divino não irrita

Se irrita, o amor é herege.

Vá embora e deixe a Rita

O amor acaricia, protege.

 

O amor não é uma utopia,

Se for utopia, não se iluda

Esqueça  afagos de Sofia,

Fuja da mentira cabeluda.


O amor jamais assassina

Se assassina é uma farsa

E esqueça-se de Malvina,

Saudade fica, a dor passa.

 

Amor é canção, pasmem!

Desde cedo e de menino,

Ele já sofria por Carmem

E fez da ilusão seu hino.

 

Peruíbe SP, 28 de maio de 2022.

 

 

quinta-feira, 26 de maio de 2022

CUMPLICIDADE

 

O mar ama a lua

A lua ama o mar

Eu saudades tua

E tu de me amar.


Beijo sente a boca

Boca sente o beijo

Cheiro deixa louca

Mulher que desejo.


O vento quer o ar

O ar quer o vento

Eu quero te amar

Se ainda é tempo.

 

O poeta faz verso

O verso faz poeta.

E tu és o Universo

Poesia mais certa.

 

Ilusão quer sonho

Sonho quer ilusão

E não envergonho

De não dizer não!

 

Peruíbe SP, 26 de maio de 2022.

 

terça-feira, 24 de maio de 2022

O ARRAIÁ

 

Adão de Souza Ribeiro

                        - Nóis viemu aqui, pramórdi assisti, u casamentu da Nha Chica i du Nho Bentu. Pramórdi comemurá, nóis vai dançá. Sanfuneru, faiz favô!

                        Com aquela ordem do festeiro, a alegria se arrastava noite adentro e não tinha hora para terminar. Todos vestidos a caráter e de acordo com o evento, isto é, os homens com calça rancheira, toda cheia de remendos e acima do calcanhar; camisa xadrez quadriculada e colorida, de manga comprida; chapéu de palha, desfiado nas abas; lenço em forma de gravata, no pescoço; outro lenço dobrado e colorido, dentro do bolso da camisa; botina nos pés; alguns dentes pintados de preto, como se fossem falhos.

                        Já as mulheres, as lindas caipirinhas, trajavam vestido de chita colorido e rodado, com saia sobre saia; chapéu igual dos homens; trança no cabelo, batom vermelho, nos lábios; rosto pintado com leveza, com pintas em forma de sardas; fitas coloridas na cintura; alguns dentes, pintados como dos homens. Apenas a noiva vestia-se de branco, com uma flor na cabeça e um buquê de flores, na mão.

                        O ambiente todo decorado, isto é, com: bandeirolas coloridas; uma grande fogueira; imitações de balão e fogueira, pendurados junto às bandeirolas, arcos de entrada na festa, feitos de bambu verde. Os convidados para o casório tradicional, deleitavam-se com as músicas, bem como, com os comes e bebes.

                        Aos convivas, eram servidos: bolos (milho, fubá e mandioca), tapioca, vatapá,  mugunzá, tacacá,  maniçoba, caldinho de (feijão, mandioca), batata doce assada na fogueira, caldo verde, cocada branca, pinhão, queijadinha, cuscuz, polenta, paçoca caseira, pamonha, pipoca salgada e doce, arroz doce, canjica, amendoim torrado, curau, maçã do amor, quentão, vinho quente, espiga de milho cozido, pé de moleque, pé de moça, feijão tropeiro, baião de dois, escondidinho de carne seca, doce de abóbora e broa de fubá. Cada região geográfica do País tinha sua comida típica, por isso, transcrevemos todas. 

                        Porém, antes da festa propriamente dita, era realizado o casamento dos noivos, carregado de humor e alegria para, em seguidas, desenvolver uma dança típica dos convidados caipiras. Somente depois de todo ritual, cuidadosamente ensaiado pelos figurantes, então a festa era aberta ao público em geral.

                        Como brincadeiras, havia uma cadeia, cujas grades eram confeccionadas em bambu. A pessoa pagava ao delegado para prender alguém e os soldados saiam à caça. A pessoa só era solta se pagasse. Normalmente eram os namorados ou amigos, que pagavam para prender o outro e, sem esquecer-se das pescarias, jogo de argolas, estalinhos e rojões. 

                            Também havia o correio elegante, onde se escrevia cartas de amor. Pagava-se a um dos organizadores, que era o pombo correio, encarregado de entregar ao destinatário (a). As simpatias, para casar ou se tornarem primos (as) e que, para serem realizada, tinham que pular a fogueira, quando estava só a brasa, claro! A diversão era total. 

                                  Não se pode esquecer a dança das cadeiras, corrida do ovo na colher, caixa de surpresas, corrida do saci, pau de sebo, rabo do burro, boliche de lata, pescaria, boca de palhaço, cabo de guerra, corrida de carrinho de mão e por aí se vai. E assim todos se divertiam a noite inteira, sem incidentes. Quantos namoros, noivados e casamentos, nasceram no calor das quermesses.

                        Nos alto-falantes, espalhados por toda parte, ouviam-se músicas, as quais exaltavam a simplicidade do povo caipira e seus costumes antigos. Em ritmo de xote, xaxado ou baião, sempre alegre levavam as pessoas a dançarem, enquanto degustavam as comilanças, isto é, as comidas e bebidas, que eram servidas. Quando havia um grupo de música presencial, usavam como instrumentos: cavaquinho, sanfona, triângulo e reco-reco.

                        Até hoje, ao reportarmos as festas juninas antigas, lembramo-nos de tantas músicas, que ainda adoçam os nossos ouvidos, tais como: “O balão tá subindo/Tá caindo a garoa/ O céu é tão lindo/ E a noite é tão boa/ São João/ São João/ Acende a fogueira/ Do meu coração.”

                        De repente viajamos ao recordarmos de outra canção: “Eu pedi numa oração/ Ao querido São João/ Que me desse um matrimônio/ São João disse que não/ São João disse que não/ Isto é lá com Santo Antônio/ Implorei a São João/ Desse ao menos um cartão/ Que eu levava à Santo Antônio/ São João ficou zangado/ São João só dá cartão/ Com direito a batizado/ São João não me atendendo/ A São Pedro fui correndo/ Nos portões do paraíso/ Disse o velho num sorriso/ Minha gente, eu sou chaveiro/ Nunca fui casamenteiro/ Matrimônio, matrimônio/ Isto é lá com Santo Antônio.”

                            Embora se originasse na Península Ibérica, isto é, Portugal e França, no século XVI. ao chegar aqui. ela abrasileirou-se. Caiu nas graças e no gosto de um povo alegre e festeiro. Inicialmente, a festa possuía um forte tom religioso - conotação essa que se perdeu em parte, uma vez que é vista por muitos como uma festividade popular do que religiosa. Além disso, a evolução da festa junina no Brasil fez com que ela se associasse as símbolos típicos rurais.  

                        As grandes cidades maculam esta tradição da nossa cultura. Nós percebemos, que se introduzira lixos musicais, isto é, o rap e o funk, bem como, estrangeiros (americanos). Sem contar com as danças, onde as mulheres exibem as bundas e dançam ritmos eróticos. Aos poucos, as gerações futuras, vão padecendo  de referências, no que diz respeito as nossas origens. Agindo assim a Pátria vai se definhando. É triste tudo isso!

                        - Si nóis cuntá, qui isso si assucidia nu Turrão Natá, vóismiceis querdita?  

                      

Peruíbe SP, 24 de maio de 2022.

                       

sábado, 21 de maio de 2022

O DESFILE

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                               Por onde anda o patriotismo? Confesso que não sei. A luz de velas, eu já procurei nas ruas, praças, bares, escolas, clubes, corações e notei que as buscas foram em vão. As Bandeiras tremulando, também desapareceram, inclusive, os mastros. Os hinos, representando atos heroicos, emudeceram e não se ouvem mais. As lendas, tradições e o folclore foram sepultados para nunca mais.

                        A Bandeira tremulando, ao sabor do vento, só era vista durante a Copa do Mundo de Futebol. As cores nacional (verde, amarelo, azul e branco), em forma de fitas ou adesivos, eram fixadas em todos os lugares, isto é, carros, praças, roupas, árvores... Eu confesso que não entendia o porquê não se valorizava os símbolos nacionais.

                        Confesso que me arrepiava a epiderme só de ouvir o Hino da Independência: “Brava gente brasileira/ Longe vai, temor servil/ Ou ficar a Pátria livre/ Ou morrer pelo Brasil/Ou ficar a Pátria livre/ Ou morrer pelo Brasil.” Por diversas vezes, já disse que padeço de uma doença incurável, diagnosticada como Saudosismo Crônico.   

                        Na escola, desde o primário, antes dos alunos adentrarem a sala de aula, ficavam perfilados no pátio, em posição de “sentido”, onde todo dia, cantavam um hino: Nacional, Independência, Bandeira, Proclamação da República, dos Aviadores, do Estado de São Paulo, Marinha; Canção do Expedicionário, Canção do Exército, Canção da Infantaria da Aeronáutica.

                        Hoje, em nome do progresso e da modernidade, a lousa (quadro negro) não mais ensina o significado e o valor dos símbolos nacional. É certo que só se ama, aquilo que se conhece. Por isso, é fácil entender o descaso e o desrespeito à Pátria e os valores nela contidos. Aos poucos, fomos perdendo a nossa identidade. Somos uma terra de ninguém, lamentável!

                        Lembro-me com orgulho e alegria, o desfile de “Sete de Setembro”, data da nossa independência, que acontecia na minha querida Terra Natal. Meses antes, as escolas preparavam todas as alegorias e a Banda – carinhosamente chamada de Fanfarra – ensaiando incansavelmente, para tudo fosse perfeito. Os mestres e os alunos irmanavam-se com único objetivo, isto é, homenagear a Pátria amada.

                        As carretas, tracionadas por tratores, eram cuidadosamente enfeitadas, representando a cultura, costume e tradição do País, bem como, de cada Estado. Não se esquecia de homenagear os índios, a natureza, enfim, as belezas desta terra de encantos mil.

                        No dia do desfile, propriamente dito, todos os alunos, devidamente uniformizados, com o logotipo da escola fixado na camisa, seguiam a cadência da “Fanfarra”. Tinha o grupo das Bandeiras Nacional, de cada Estado, bem como, da cidade, onde as meninas as seguravam com luvas nas mãos.

                        Com saudades, lembro-me que eu integrava a “Fanfarra”, tocando a caixa de guerra. Ao passar defronte o palanque oficial, localizado na rua, defronte a Praça Matriz, onde estavam às autoridades do Município, fazia-se uma parada, para que fossem exibidas as evoluções de coreografia e musicais.

                        Eu sentia-me honrado e orgulhoso, até me via como um soldado da “Guarda Real”. Digo isso, porque após a Proclamação da Independência, o então D. Pedro IV de Portugal (1798), tornara-se D. Pedro I, Imperador do Brasil (1822). Continuamos Império, porém, desvinculados de Portugal.

                        Ao passar defronte a minha casa, localizada na Rua Rui Barbosa, nº 118, queria ser visto pela família, para que eles se sentissem orgulhosos e felizes ao verem o filho, isto é, este narrador, apaixonado pelo berço natal. Sentia que minha família retribuía. As ruas, todas enfeitadas, com seus passos lentos, respiravam e transpiravam patriotismo. 

                        O que sempre me chamou a atenção era o fato de que os alunos, durante todo o desfile, não olhavam para os lados, não conversavam, não sorriam e nem mascavam chicletes. Compenetrados com a cadência da Banda, não erravam a marcha. Era lindo de se ver!

                        Hoje nem desfile existe e quando acontece, há um desrespeito total. As pessoas ultrajam deliberadamente esta Pátria amada, Mãe gentil por não defendê-la perante o Universo. Defendem os lixos culturais de outras Nações, empurrados goela abaixo. A cidade se vestia e transpirava patriotismo. Hoje não mais!  

                        Ainda ecoa aos meus ouvidos, os versos do Hino à Independência, escrito por Evaristo da Veiga, em agosto de 1822, e musicalizado por D. Pedro I e pelo maestro Marcos Antônio da Fonseca, que diz: “Parabéns, ó Brasileiros/ Já, com garbo varonil/ Do universo entre as Nações/Resplandece a do Brasil.” Lá se vão duzentos anos, depois do grito.

                        Eu te amo, minha Pátria e parafraseando Marcus Vinicius de Melo Moraes – o Poetinha -, digo: “Pátria amada, Pátria minha, Patriazinha. Não rima com Mãe Gentil”.

                        Se for para ficar preso aos grilhões do estrangeirismo e do desrespeito, seguirei a galope com Dom Pedro I, o Imperador do Brasil, gritando: “Independência ou Morte!”.

Peruíbe SP, 21 de maio de 2022.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

NÃO CAÇOA DE MIM

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Não acreditou, quando disse que te queria,

O tempo voou, passaram os anos e a vida.

Hoje resta apenas solidão numa noite fria,

A espera deste corpo ardente, oh querida!

 

Vivo eterna saudade que corrói por dentro

E que dilacera a alma sem um pingo de dó.

Lembro-me de ti sempre, a cada momento,

Mas de repente o sonho se vai e fico tão só.

 

Doce ilusão de quem ama e sempre espera,

Não brinca com o coração que sofre de amor

Pois para ele é sempre uma linda primavera,

A surpreender a vida com um buquê de flor.

 

Não caçoa de mim e deixa viver meu sonho,

Deixa meu desejo sincero deleitar em festa.

Sofrer por ti é divino e não me envergonho.

E há algo mais puro do que amor do poeta!

 

Peruíbe SP, 19 de maio de 2022.

quarta-feira, 18 de maio de 2022

FOLIA DE REIS

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        Já ao anoitecer, Gordo – cujo nome de batismo era Denilson – preparava o instrumento,  para mais uma peregrinação pela cidade e zona rural, no conhecido torrão natal. Assim como ele, outros moradores, que compunham a Banda, organizavam a sanfona, reco-reco, violino, viola, violão, cavaquinho, bumba, triângulo e pandeiro.

                        Existiam duas Bandeira (Grupo), ou seja, o da Alice - esposa do "Doce" e a do Denilson, o "Gordo". O grupo era composto por mestre, contramestre, donos de conhecimento sobre a festa, capitão ou capitã,  porta bandeira, músicos e cantores, além dos três reis magos, representados pelos tres palhaços, que davam alegria ao evento. Somente os três palhaços cobriam o rosto com máscara e usavam gorros na cabeça em forma de funil. 

                  Somente os palhaços, usavam roupas coloridas do tipo chitão, onde prevalecia o vermelho, marrom e azul. Com fitas coloridas e amarradas nos instrumentos, coroava tudo aquilo, com ar de uma beleza peculiar.

                        Não se permitia que, durante o cortejo, alguém andasse à frente da Bandeira, a qual era conduzida pelo Capitão ou Capitã. A banda era seguida por cerca de cinquenta acompanhantes e simpatizantes. Não se permitia a presença de menores de idade.

                        Estando pronto e reunido, a Bandeira partia rumo às casas a serem visitadas naquela noite. Todos felizes obedeciam ao comando do Capitão ou Capitã, pois assim era chamado o líder. Aquela peregrinação durava até o dia amanhecer.

                        No outro dia, a rotina se repetia. As andanças começavam no dia 06 de novembro até 06 de janeiro, data que era realizada a comemoração pelo encontro de Jesus Cristo, o Salvador. O jantar era regado com muita música alusiva à folia. A data do esperado jantar, ocorria no dia em que as pessoas desmontavam a árvore de Natal.

                        Em frente à casa visitada cantava-se uma música anunciando a chegada, que era assim: "Senhora dona da casa/ Vem pegar nossa Bandeira./ Senhora dona da casa/ Passa a mão no travesseiro./ Acordar o seu marido,/ Que está no sono primeiro./Santo Reis está passando na frente da sua casa parou./ Ele vem de porta em porta,/ Visitando o morador,/ Com prazer e alegria./ Para benzer a sua    morada./ Vem pegar a Bandeira,/ Filho da Virgem Maria,/ Com prazer e alegria.". 

                         Caso fossem aceitos, adentravam e entregavam a Bandeira ao varão ou varoa, a qual era colocada no canto da sala e recolhida no final da estadia. Durante todo o tempo, eram servidos quitutes, guloseimas e café, bem como, café que eram carinhosamente preparado e servido aos visitantes. Também eram servidos cachaça e vinho, para que aguentassem "varar a noite", que aconteciam até o dia amanhecer. Muitas vezes, os embriagados ficam pelo meio do caminho, curando a ressaca da "marvada".

                        Quando havia duas Bandeiras (Grupos), rumava uma para cada lado. Na área rural, iam de ônibus, conduzido por “Xará”, ou na carroceria de caminhão. Cerca de trinta casas eram visitadas numa só noite. Até hoje, todos se lembram de Sanô, Antônio Jacinto, Hélio, Marão de Getulina, Coquinho, Tio Dito, Waldomiro, Ringo, Nico, Lairton,  e dona Alice. Sim, mulher também participava.

                        Caso as Bandeiras se cruzassem no caminho, travava-se um desafio de cantorias (música e verso) em forma de repentes. O grupo vencedor ficava com a Bandeira do rival e sem ela, o outro não poderia continuar a peregrinação. Tudo em clima de muita alegria e sem brigas, claro!

                        Ao término, os anfitriões ofertavam dinheiro, alimento, porco e aves, cuja doação era chamada de “prenda”, que seria usada no dia 06 de janeiro. As ofertas ficavam guardadas na casa do Capitão ou Capitã. O jantar ocorria no salão de festa na cidade, onde toda a população era convidada a participar. Se sobrasse, no dia seguinte, era servido de novo.

                        Aquela tradição chegou com colonizadores portugueses. Também é uma alusão aos três reis magos: Gaspar, Baltazar e Melquior, que saíram à procura do menino Jesus, a fim de presenteá-lo. Hoje anda esquecida.

                        Ao lembrar-se daqueles tempos áureos, percebe-se que a modernidade sufocou a história do povo, representada pelos costumes e tradições. Aos pouco, os adeptos foram morrendo e os novos não se interessaram em dar continuidade. O progresso aniquilou de uma vez por todas, a identidade da cidade ou da Nação. Quem vivenciou tudo aquilo, ou seja, aqueles anos dourados, sabem do que se está falando.  

                        Após narrar àquela história tão linda, que tanto enriqueceu os costumes e as tradições da minha Terra Natal, o Valdecir - nosso querido “Doce” - um velho saudosista, o qual, já cabisbaixo, com a voz embargada e lágrimas nos olhos, disse: “Depois que acabou a Folia de Reis, a cidade anda tão triste!”.

 

 

Peruíbe SP, 17 de maio de 2022.

                         

                       

domingo, 15 de maio de 2022

PERDÃO, AMOR!

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Amor perdoa a falta de atitude,

De não declarar a ti meu desejo.

Até hoje o meu coração se ilude

E vive um eterno desassossego.

 

Achava você linda, porém, rica.

Desejá-la de longe, me fazia mal.

Sei que entre nós havia química.

Unidos seriamos mais belo casal.

 

Passou tão veloz o trem da vida,

Você embarcou para nunca mais.  

Restou-me esta saudade sofrida.

E se canto ou se choro, tanto faz.

 

Com lágrimas nos olhos, eu peço:

Por favor, amor, abraça e perdoa.

Se hoje escrevo este singelo verso

É que o coração tem asas e voa!!!

 

Devia ter sido ousado e declarado,

Livrado das amarras da tal timidez.

O sonho passou e agora é passado,

Quem sabe ousarei da próxima vez.

 

Peruíbe SP, 15 de maio de 2022.

 

segunda-feira, 9 de maio de 2022

AMIGO PRÉ-HISTÓRICO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Eu tenho um amigo pré-histórico,

Estranho acredite se quiser, pois é!

Sem ser hilário e nem um retórico.

Disse ter conduzido a Arca de Noé.

 

Sem titubear e com uma boa ética

Narrou que com a pequena corda.

Em minutos escalou o Vulcão Etna

É como se fosse hoje, ele recorda.

 

Conquista pessoas, convenhamos.

Nas andanças seja noite ou de dia,

Conta que conheceu Nostradamus,

A quem ensinou toda sua profecia.

 

E nas suas lorotas, não é segredo,

Deu voz de prisão ao Pregador,

Numa rua lá em Pedro de Toledo,

Havia Mandado contra o malfeitor.

 

 Escreve antes do último suspiro,

As suas histórias assim loquazes.

Letras góticas, na folha de papiro,

Forrest Gamp alegra-nos demais!

 

Peruíbe SP, 09 de maio de 2022.

 

domingo, 8 de maio de 2022

DIA DAS MÃES

                            Dona Olindrina,  prometi a mim, que hoje não vou de desejar feliz “Dia das Mães”. Sabe por que? Porque hoje é apenas uma data comercial. “Dia das Mães”, são todos os dias. O coração de mãe não se compra com presentes caros. Ele se conquista com gratidão, carinho, abraço e tantos outros gestos de afeição.

                        Que este oitenta e dois anos bem vividos, se repitam por todos os dias, ao longo de tua vida.  Que estejamos vivos, para todos os dias podermos pronunciar o teu nome tão sagrado “Mamãe Olindrina”. O maior e melhor presente que te damos, é o reconhecimento pela tua incansável luta, em criar e educar os sete filhos e não esmorecer nunca.

                        Por tudo isso é que hoje, como em todos os dias anteriores e vindouros, que desejo a ti, mais um feliz “Dia das Mães”. Guarda em teu imenso coração, nós (sete filhos), te amamos eternamente. Beijos, mil beijos!

Nosso Lar, 08 de maio de 2022.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

DESAFIOS

 Adão de Souza Ribeiro

 

É muito vasto o mundo

,Desapega a coisa vulgar.

Há algo mais profundo,

Para ir longe garimpar.

 

Se a noite é tão escura

A madrugada tem luar

Mas se a dor não cura

Conjuga o verbo amar.

 

Vê além do horizonte

Que beleza o oceano!

Vá, não se amedronte

Sê livre como cigano.

 

Se a vida te atormenta,

Com o que não explica.

Não fuja, a luta é lenta,

Busca a tua fé tão rica.

 

Peruíbe SP, 06 de maio de 2022.

quinta-feira, 5 de maio de 2022

O ESTALO

 

Adão de Souza Ribeiro

Por entre os dedos,

O tempo lá se esvai.

Mas não é segredo,

Esperar não dá mais.

 

Precisa apenas viver,

Fazer da vida a festa.

Amar só o alvorecer

Felicidade que resta.

 

O tempo não conta,

Pois é tão abstrato.

Fera não se monta:

A vida é um estalo.

 

Logo já surge a hora,

Desponta no infinito.

O sonho vai embora,

De um tempo bonito.

 

Peruíbe SP, 05 de maio de 2022.