Adão de Souza
Ribeiro
Por
onde anda o patriotismo? Confesso que não sei. A luz de velas, eu já procurei
nas ruas, praças, bares, escolas, clubes, corações e notei que as buscas foram
em vão. As Bandeiras tremulando, também desapareceram, inclusive, os mastros. Os
hinos, representando atos heroicos, emudeceram e não se ouvem mais. As lendas,
tradições e o folclore foram sepultados para nunca mais.
A Bandeira tremulando, ao sabor do vento, só
era vista durante a Copa do Mundo de Futebol. As cores nacional (verde,
amarelo, azul e branco), em forma de fitas ou adesivos, eram fixadas em todos
os lugares, isto é, carros, praças, roupas, árvores... Eu confesso que não
entendia o porquê não se valorizava os símbolos nacionais.
Confesso que me arrepiava a epiderme só de
ouvir o Hino da Independência: “Brava
gente brasileira/ Longe vai, temor servil/ Ou ficar a Pátria livre/ Ou morrer
pelo Brasil/Ou ficar a Pátria livre/ Ou morrer pelo Brasil.” Por diversas vezes, já disse que padeço de uma doença
incurável, diagnosticada como Saudosismo
Crônico.
Na escola, desde o primário, antes dos alunos
adentrarem a sala de aula, ficavam perfilados no pátio, em posição de
“sentido”, onde todo dia, cantavam um hino: Nacional, Independência, Bandeira, Proclamação
da República, dos Aviadores, do Estado de São Paulo, Marinha; Canção do
Expedicionário, Canção do Exército, Canção da Infantaria da Aeronáutica.
Hoje, em nome do progresso e da modernidade,
a lousa (quadro negro) não mais ensina o significado e o valor dos símbolos nacional.
É certo que só se ama, aquilo que se conhece. Por isso, é fácil entender o
descaso e o desrespeito à Pátria e os valores nela contidos. Aos poucos, fomos
perdendo a nossa identidade. Somos uma terra de ninguém, lamentável!
Lembro-me com orgulho e alegria, o desfile de
“Sete de Setembro”, data da nossa independência, que acontecia na minha querida
Terra Natal. Meses antes, as escolas preparavam todas as alegorias e a Banda –
carinhosamente chamada de Fanfarra – ensaiando incansavelmente, para tudo fosse
perfeito. Os mestres e os alunos irmanavam-se com único objetivo, isto é, homenagear
a Pátria amada.
As carretas, tracionadas por tratores, eram
cuidadosamente enfeitadas, representando a cultura, costume e tradição do País,
bem como, de cada Estado. Não se esquecia de homenagear os índios, a natureza,
enfim, as belezas desta terra de encantos mil.
No dia do desfile, propriamente dito, todos
os alunos, devidamente uniformizados, com o logotipo da escola fixado na
camisa, seguiam a cadência da “Fanfarra”. Tinha o grupo das Bandeiras Nacional,
de cada Estado, bem como, da cidade, onde as meninas as seguravam com luvas nas
mãos.
Com saudades, lembro-me que eu integrava a
“Fanfarra”, tocando a caixa de guerra. Ao passar defronte o palanque oficial,
localizado na rua, defronte a Praça Matriz, onde estavam às autoridades do
Município, fazia-se uma parada, para que fossem exibidas as evoluções de
coreografia e musicais.
Eu sentia-me honrado e orgulhoso, até me via
como um soldado da “Guarda Real”. Digo isso, porque após a Proclamação da
Independência, o então D. Pedro IV de Portugal (1798), tornara-se D. Pedro I,
Imperador do Brasil (1822). Continuamos Império, porém, desvinculados de
Portugal.
Ao passar defronte a minha casa, localizada
na Rua Rui Barbosa, nº 118, queria ser visto pela família, para que eles se sentissem
orgulhosos e felizes ao verem o filho, isto é, este narrador, apaixonado pelo
berço natal. Sentia que minha família retribuía. As ruas, todas enfeitadas, com seus passos lentos, respiravam e transpiravam patriotismo.
O que sempre me chamou a atenção era o fato
de que os alunos, durante todo o desfile, não olhavam para os lados, não
conversavam, não sorriam e nem mascavam chicletes. Compenetrados com a cadência
da Banda, não erravam a marcha. Era lindo de se ver!
Hoje nem desfile existe e quando acontece, há
um desrespeito total. As pessoas ultrajam deliberadamente esta Pátria amada,
Mãe gentil por não defendê-la perante o Universo. Defendem os lixos culturais
de outras Nações, empurrados goela abaixo. A cidade se vestia e transpirava
patriotismo. Hoje não mais!
Ainda ecoa aos meus ouvidos, os versos do
Hino à Independência, escrito por Evaristo da Veiga, em agosto de 1822, e
musicalizado por D. Pedro I e pelo maestro Marcos Antônio da Fonseca, que diz:
“Parabéns, ó Brasileiros/ Já, com garbo
varonil/ Do universo entre as Nações/Resplandece a do Brasil.” Lá se vão duzentos anos, depois do grito.
Eu te amo, minha Pátria e parafraseando
Marcus Vinicius de Melo Moraes – o Poetinha -, digo: “Pátria amada, Pátria minha, Patriazinha. Não rima com Mãe Gentil”.
Se for para ficar preso aos grilhões do estrangeirismo
e do desrespeito, seguirei a galope com Dom Pedro I, o Imperador do Brasil,
gritando: “Independência ou Morte!”.
Peruíbe SP, 21
de maio de 2022.
2 comentários:
Perfeita discrição da falta de civismo do brasileiro. Culpa da educação pós governos militares que aboliram as aulas de Educação Moral e Cívica, os governos civis quiseram afastar os brasileiros da Pátria, e conseguiram.
Descrição...não discrição.👍
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