sábado, 21 de maio de 2022

O DESFILE

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                               Por onde anda o patriotismo? Confesso que não sei. A luz de velas, eu já procurei nas ruas, praças, bares, escolas, clubes, corações e notei que as buscas foram em vão. As Bandeiras tremulando, também desapareceram, inclusive, os mastros. Os hinos, representando atos heroicos, emudeceram e não se ouvem mais. As lendas, tradições e o folclore foram sepultados para nunca mais.

                        A Bandeira tremulando, ao sabor do vento, só era vista durante a Copa do Mundo de Futebol. As cores nacional (verde, amarelo, azul e branco), em forma de fitas ou adesivos, eram fixadas em todos os lugares, isto é, carros, praças, roupas, árvores... Eu confesso que não entendia o porquê não se valorizava os símbolos nacionais.

                        Confesso que me arrepiava a epiderme só de ouvir o Hino da Independência: “Brava gente brasileira/ Longe vai, temor servil/ Ou ficar a Pátria livre/ Ou morrer pelo Brasil/Ou ficar a Pátria livre/ Ou morrer pelo Brasil.” Por diversas vezes, já disse que padeço de uma doença incurável, diagnosticada como Saudosismo Crônico.   

                        Na escola, desde o primário, antes dos alunos adentrarem a sala de aula, ficavam perfilados no pátio, em posição de “sentido”, onde todo dia, cantavam um hino: Nacional, Independência, Bandeira, Proclamação da República, dos Aviadores, do Estado de São Paulo, Marinha; Canção do Expedicionário, Canção do Exército, Canção da Infantaria da Aeronáutica.

                        Hoje, em nome do progresso e da modernidade, a lousa (quadro negro) não mais ensina o significado e o valor dos símbolos nacional. É certo que só se ama, aquilo que se conhece. Por isso, é fácil entender o descaso e o desrespeito à Pátria e os valores nela contidos. Aos poucos, fomos perdendo a nossa identidade. Somos uma terra de ninguém, lamentável!

                        Lembro-me com orgulho e alegria, o desfile de “Sete de Setembro”, data da nossa independência, que acontecia na minha querida Terra Natal. Meses antes, as escolas preparavam todas as alegorias e a Banda – carinhosamente chamada de Fanfarra – ensaiando incansavelmente, para tudo fosse perfeito. Os mestres e os alunos irmanavam-se com único objetivo, isto é, homenagear a Pátria amada.

                        As carretas, tracionadas por tratores, eram cuidadosamente enfeitadas, representando a cultura, costume e tradição do País, bem como, de cada Estado. Não se esquecia de homenagear os índios, a natureza, enfim, as belezas desta terra de encantos mil.

                        No dia do desfile, propriamente dito, todos os alunos, devidamente uniformizados, com o logotipo da escola fixado na camisa, seguiam a cadência da “Fanfarra”. Tinha o grupo das Bandeiras Nacional, de cada Estado, bem como, da cidade, onde as meninas as seguravam com luvas nas mãos.

                        Com saudades, lembro-me que eu integrava a “Fanfarra”, tocando a caixa de guerra. Ao passar defronte o palanque oficial, localizado na rua, defronte a Praça Matriz, onde estavam às autoridades do Município, fazia-se uma parada, para que fossem exibidas as evoluções de coreografia e musicais.

                        Eu sentia-me honrado e orgulhoso, até me via como um soldado da “Guarda Real”. Digo isso, porque após a Proclamação da Independência, o então D. Pedro IV de Portugal (1798), tornara-se D. Pedro I, Imperador do Brasil (1822). Continuamos Império, porém, desvinculados de Portugal.

                        Ao passar defronte a minha casa, localizada na Rua Rui Barbosa, nº 118, queria ser visto pela família, para que eles se sentissem orgulhosos e felizes ao verem o filho, isto é, este narrador, apaixonado pelo berço natal. Sentia que minha família retribuía. As ruas, todas enfeitadas, com seus passos lentos, respiravam e transpiravam patriotismo. 

                        O que sempre me chamou a atenção era o fato de que os alunos, durante todo o desfile, não olhavam para os lados, não conversavam, não sorriam e nem mascavam chicletes. Compenetrados com a cadência da Banda, não erravam a marcha. Era lindo de se ver!

                        Hoje nem desfile existe e quando acontece, há um desrespeito total. As pessoas ultrajam deliberadamente esta Pátria amada, Mãe gentil por não defendê-la perante o Universo. Defendem os lixos culturais de outras Nações, empurrados goela abaixo. A cidade se vestia e transpirava patriotismo. Hoje não mais!  

                        Ainda ecoa aos meus ouvidos, os versos do Hino à Independência, escrito por Evaristo da Veiga, em agosto de 1822, e musicalizado por D. Pedro I e pelo maestro Marcos Antônio da Fonseca, que diz: “Parabéns, ó Brasileiros/ Já, com garbo varonil/ Do universo entre as Nações/Resplandece a do Brasil.” Lá se vão duzentos anos, depois do grito.

                        Eu te amo, minha Pátria e parafraseando Marcus Vinicius de Melo Moraes – o Poetinha -, digo: “Pátria amada, Pátria minha, Patriazinha. Não rima com Mãe Gentil”.

                        Se for para ficar preso aos grilhões do estrangeirismo e do desrespeito, seguirei a galope com Dom Pedro I, o Imperador do Brasil, gritando: “Independência ou Morte!”.

Peruíbe SP, 21 de maio de 2022.

2 comentários:

looslim@gmail.com disse...

Perfeita discrição da falta de civismo do brasileiro. Culpa da educação pós governos militares que aboliram as aulas de Educação Moral e Cívica, os governos civis quiseram afastar os brasileiros da Pátria, e conseguiram.

looslim@gmail.com disse...

Descrição...não discrição.👍