Adão de Souza
Ribeiro
A vida copia a arte ou a arte copia a vida?
Para conhecer o mundo, não precisa sair de casa, pois ela é uma réplica do
mundo. O que acontece ali, naquele pedacinho de chão, também acontece em todas
as partes do planeta, ou vice-versa. Quem é devorador de cultura, em especial, livros
tem esta ampla visão dos acontecimentos, que mudam o Universo real ou fictício.
O cotidiano dispõe de
farta seara, onde se passam fatos reais ou pitorescos, que, se bem explorados,
servem de enredo para estórias encantadoras. Uma vez bem narradas, eternizam-se
na memória da humanidade devoradora de cultura, claro! Existem obras
universais, que transcendem o tempo e o imaginário. Descrever todos os títulos
de romances, dentro desta narrativa, é enfadonho demais.
O importante é
reconhecer a sensibilidade e o conhecimento de quem os escreveu. Ao analisar o
lugar e o comportamento das pessoas, onde nasceu e viveu o autor, torna-se
possível entender a magnitude e a imortalidade da obra. Os causos contados
retratam os cenários, costumes, penúrias e lutas da vida cotidiana.
A título de informação
cultural, basta lembrar-se dos romances: “O morro dos ventos uivantes”, de
Emile Bronte; “O velho e o mar”, de Ernest Hemingway, “O Alienista”, de Machado
de Assis; “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos; “Olhai os lírios do campo” de
Érico Veríssimo; “Gabriela”, de Jorge Amado e “Romeu e Julieta”, de William Sheakespeare e tantos outros.
Quando devorei o romance
“Romeu e Julieta”, escrito em 1597, de imediato veio à lembrança o fato
ocorrido na minha terra natal. Se William Sheakespeare, tão bem narrou a
rivalidade entre as famílias de Romeu, os Montecchio e as de Julieta, os Capuleto;
eu vou tentar sem o talento do confrade William, narrar a tragédia semelhante,
ocorrida lá no meu sertão.
Naquele tempo, havia uma
grande rivalidade entre as famílias “Silva” e “Fukushima”. Comerciante e dona
de grandes posses, a família “Fukushima”, não queria se misturar com a família
“Silva”, apenas simples lavradores. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a consequente derrota do povo do
Sol Nascente, a animosidade aumentou. O nascedouro de tudo aquilo, foi o amor
que Mieko Fukushima despertou por Rubens da Silva.
No início, quando tudo estava às escondidas, o amor e o desejo dos pombinhos enamorados, transcorriam
na mais santa paz. Mas numa cidade pacata e de costumes arcaicos, não demorou
muito para o romance ser descoberto. A partir dali, Rubens e Mieko enfrentara
todo tipo de batalha, para que o romance não fosse abalado.
O seu Shiguero, pai de
Mieko, com ódio no coração, vociferava aos quatro ventos, no sotaque bem nipônico: “Mieko está desonrando nossa
família e as nossas tradições. Não é permitido que outras descendências, venham
fazer parte da nossa família. Se minha filha insistir neste romance, eu mato os
dois”. A história gerou uma comoção no lugarejo e aquilo revoltou o
povo. O coração é um mundo intransponível. O amor não tem fronteiras e nem
limites.
Ao invés de porem cabo
às suas vidas, como Romeu e Julieta, o casal apaixonado da minha terra natal,
vencendo todas as barreiras impostas pelas tradições do povo do Sol Nascente, resolveu
fugir na calada da noite. A cidade acordou em festa com a notícia tão
alvissareira. De gênio forte e ruim, o pai de Mieko não demonstrava estar
abalado pela perda da filha, diante da decisão tão nobre dela.
Por muitos e muitos
anos, não se teve notícias do paradeiro do casal. O que o povo almejava, era
felicidade plena para Rubens e Mieko. “O amor venceu o preconceito”, diziam
todos os conterrâneos. Para os que desejavam a união do casal, o que se ouvia,
era: “O ódio é um veneno que a pessoa prepara e toma, esperando que os outros
morram”.
O que se imaginava era
que o casal gerara filhos, ou seja, mestiços lindos, perpetuando a miscigenação
das raças e, diante do desafio e da coragem, unido os povos. Já na tenra idade,
vivendo na minha terra natal, eu não conseguia compreender como o ódio e o preconceito,
poderiam destruir o sonho e a felicidade das pessoas.
Ainda bem que Rubens da
Silva e Mieko Fukushima não teve um fim trágico, como o de Romeu e Julieta.
Assim termina a história romântica lá do meu sertão. O amor indestrutível do
casal ficou conhecido e eternizado como: ROMANCE
CAIPIRA.
Peruíbe SP, 16
de abril de 2022.