segunda-feira, 28 de março de 2022

VOAR, O SONHO

 

Adão de Souza Ribeiro

Eu não posso voar alto.

As asas não o têm vigor

Acordo de sobressalto,

Sonhando ser o condor.

 

Eu correr por aí, jamais.

Alegre pela vida e livre

Como são tristes os ais,

Da felicidade que tive.

 

Mas a vida prega peça,

E muda tudo de rumo.

Cante e não esmoreça.

E tudo volta ao prumo.

 

Mas a ilusão tem asas,

Leva aonde eu quiser.

Quando volto pra casa,

Tenho amor da mulher.

 

Poesia por única amiga

Segura na minha mão.

Nos seus versos abriga

Os sonhos na canção!                                            Peruíbe SP, 27 de março de 2022.

quinta-feira, 24 de março de 2022

NOITES DE LUA

 

Adão de Souza Ribeiro

Nas lindas noites de lua,

Até as altas madrugadas.

Crianças corriam na rua,

A brincar nas enxurradas.

 

Nossas avós com histórias,

As belas do nosso folclore.

Tamanha as suas oratórias

E não há quem não chore.

 

Na poça d’água as estrelas

Eram tão felizes e também

Se escondiam só pra vê-las

Crianças felizes lá no além.

 

Cenário daquelas peraltices

Era na terra bela e materna,

Onde vivi minha meninice;

Ah voltar, Quem me dera!!

 

Peruíbe SP, 24 de março de 2022.

 

terça-feira, 22 de março de 2022

O SERTÃO

 

Adão de Souza Ribeiro

Você nem imagina, seu moço,

Como é linda a vida no sertão.

Os pássaros em total alvoroço

Gorjeando uma alegre canção.

 

As águas cristalinas do riacho,

Na dança suave e sem pressa.

Por vales e campinas abaixo,

E ri, mas que pressa é essa?

 

Comida lá no fogão a lenha,

Já no quintal cisca a galinha

E no curral, a vaca ordenha.

Ali tristeza não tira farinha.

 

Coruja na cumeeira do paiol

Cafezal verde e todo florido

Na lagoa, matuto com anzol,

Não há nada mais divertido.

 

E nas noites de lua, a dança.

Com a bela cabocla da roça

A caipira, cabelo de trança.

E muito cobiçada. “Nossa!”

Peruíbe SP, 22 de março de 2022.

domingo, 20 de março de 2022

A GEADA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        Ano de 1975. Mais precisamente, dia 18 de julho. Era para ser um ano como outro qualquer, mas não foi. Eu acabara de completar dezesseis anos de idade e estava prestes a mudar de minha Terra Natal. Até a metade daquele ano, tudo transcorria na mais santa paz. O povoado seguia na sua vida bucólica.

                        Quem contemplava ao redor daquela cidade interiorana, podia divisar as lindas plantações e, dentre elas, os verdes cafezais. Todas as plantações (laranja, amora, melancia, hortaliça, etc.), davam um ar de riqueza, mostrando como a natureza era bondosa. Os pés de café, chamado de “Ouro Verde”, mais pareciam soldados rigorosamente enfileirados, marchando rumo à colheita.

                        Depois de plantados, as floradas ocorriam no mês de setembro e novembro, que precediam os frutos. As flores presenteavam aquele tapete verde, todo enfileirado, com um colorido muito especial. A colheita era feita sete meses após a floração. No hemisfério sul, ocorria entre maio e setembro.

                        Nasci em junho e, por isso, adorava a estação de inverno. Eu tinha para mim, que naquela estação, dormia-se mais, cansava-se menos, brincava-se mais e se alimentava melhor. Não que não gostasse das demais estações, que fique bem claro. Longe disso.

                        No mês de julho daquele fatídico ano, fomos acalentados por uma corriqueira noite fria. Eu lembro-me que até a meia noite, o sono era suave. Mas lá pelas altas horas da madrugada, meus pais juntaram os sete filhos numa cama de casal e redobrou com agasalhos individuais e, depois, reforçou com cobertores.

                        O frio era tão violento, que parecia trincar os ossos. Aquele flagelo parecia não acabar mais e assim foi até o amanhecer. Nunca tinha visto e sentido tanto frio na minha vida. Ao clarear o dia, quando saímos (eu e minha família) no quintal, pudemos ver uma extensa camada de neve e de gelo, no beiral das janelas e sobre as plantas.

                        Não demorou muito, para correr a notícia de que os fazendeiros e sitiantes depararam com suas lavouras devastadas pela maior geada ocorrida na minha Terra Natal. A geada que percorreu o sul do Estado de Minas Gerais, oeste do Estado de São Paulo norte do Estado do Paraná, não perdoou nada que encontrou pela frente. Os termômetros registram uma temperatura de -10c. Tudo foi impiedosamente devastado, como numa guerra nuclear.

                        Os agricultores (fazendeiros e sitiantes) choravam os anos de dedicação, trabalho e investimentos financeiros. Por eles, foi chamada de "Geada Negra", por conta de congelar as plantas por dentro. Não sobrou um pé de café. “O que vou fazer para quitar os empréstimos, ‘papagaios’ e hipotecas nas instituições financeiras? Quem inventou Banco, não inventou para perder dinheiro” eles lamentavam-se. E completavam: “Meu Deus, como vou fazer para pagar os funcionários e sustentar minha família?”.

                        Aquela cidade pacata, com vocação para agricultura, se viu tão fragilizada. A inesperada intempérie da natureza causou um prejuízo em cadeia, ou seja, o comércio e os boias-frias, funcionários sem vínculo empregatício, que perderam sua fonte de renda, por um longo tempo. 

                           Portanto, o mirrado comércio, não tinha para quem vender. Com a geada vieram: a dizimação dos cafezais, a falência dos agricultores, o desemprego, o empobrecimento da região e o êxodo rural. Não foi atoa, que o movimentado comércio aos sábados, desapareceu. A cidade ficou deserta e perdeu o encanto. 

                        Veja só. Mustafá, o dono da loja de armarinho, da Rua Rui Barbosa, soluçava de tanto chorar copiosamente. Seu Menino, meu vizinho e dono da quitanda, indagava: ”Será que vou ter que vender as verduras a preço de banana?“. Já Fukuda, dono do armazém da Rua Duque de Caxias, resmungava: “Será que vou ter que cerrar as portas, para sempre?”. “Batatinha’, dona do boteco da esquina, pensou: “É melhor eu tomar uma ‘marvada’, ao invés de chorar.”.

                        Os matutos diziam que o que queima a plantação não é a neve, mas, sim, o sol logo ao amanhecer. Se soubessem, teriam molhado a plantação, a fim de lavar as folhas. Mas como naquele tempo, o Serviço de Meteorologia não era tão divulgado como hoje, meus conterrâneos agricultores, padeceram do fator surpresa.

                        O que era para ser um ano de prosperidade transformou-se num ano de desolação. Aquela geada congelou meu coração. Triste lembrança, meu Deus!

 

Peruíbe SP, 20 de março de 2022.

sexta-feira, 18 de março de 2022

AMORES ATRELADOS

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Coração atrelado ao teu,

Feito duas almas gêmeas

Que de amores já sofreu

Na saudade homogênea.

 

Tu és o ar que eu respiro

Eu o corpo que te aquece

E se me provoca o delírio

Dou-te paz que tu merece.

 

Não fujas nem em sonho,

Eu te encontro no infinito.

E viver sem ti é medonho,

Fica, beija, abraça, insisto!

 

Não sei viver desse jeito,

Sem teu carinho e abraço

Quanto mais eu te perco

Amor, mais eu te acho!!

 

Peruíbe SP, 18 de março de 2022.

 

MEU OFÍCIO

 

Adão de Souza Ribeiro

Quando escrevo, faço com a alma.

Este incauto coração vai à frente.

Eu traduzo o que a pessoa sente,

Isto tanto me alegra e me acalma.

 

Nunca faço nada por encomenda,

Pois é o sentimento que comanda.

Se o peito dói, ele logo se abranda.

Imploro-te que doravante entenda.

 

As palavras é o ouro que se lapida,

Ganham formas de joias tão raras.

Pela minha mão, o amor escancara.

E embelezam a tudo que dão vida.

 

Por isso, digo que o poeta e poesia,

Se sente e que isso se explica jamais.

Sobrevivem a calmaria e vendavais,

Querer defini-los é a santa heresia!!  

 

Peruíbe SP, 18 de março de 2022.

quinta-feira, 17 de março de 2022

CUPIDO OU CULPADO

 

Adão de Souza Ribeiro

Amor não correspondido,

Quem de vós nunca teve.

Diz ao coração até breve,

Flechado pelo seu cupido.

 

Cupido era filho de Marte

Tinha por sua mãe Vênus

Sua missão, nós sabemos:

Unir seres numa só parte.

 

O amor não pode caçoar,

Deixar que sofra alguém.

Que neste triste vai e vem

O sonho se afogue no mar.

 

E perdoa se sou romântico

A doença que não tem cura

E deixa o coração à escura,

Triste e jogado num canto.

 

Peruíbe SP, 17 de março de 2022.

 

terça-feira, 15 de março de 2022

CAMINHADA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Quantas vezes eu corri e como corri,

Atrás de velho sonho mal sonhado,

E atalhos, feitos labirintos aqui e ali.

Estrada era longa e sofri um bocado.

 

Naquela busca cega do que não sei,

Perdi-me ao longo de um caminho.

Eu menti para mim e fiz minha lei.

Pensando ser feliz, estou sozinho.

 

Sei, sou forte e não desisto nunca,

E mesmo que me ronda o cansaço.

E quanto mais a dor for profunda,

Terei o que tanto almejo, eu acho.

 

Vaguei por serra, vale e campina,

Fiz da tal felicidade minha meta.

Se for peregrino é a minha sina,

Eu vou vagando. O que me resta?

 

Peruíbe SP, l5 de março de 2022.

domingo, 13 de março de 2022

AMAR EM SONHO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Eu vejo que só em sonho

Confesso a ti, que te amo.

Lá mil coragens eu ganho

E declaro o desejo insano.

 

Tu me ouves e não ignora

Até arrisco a breve carícia

E em delírio, perco a hora.

Dou-te abraço sem malícia.

 

O Amor reprimido faz mal,

Ao coração só causa dano.

É um devastador vendaval,

Que corrói alma ano a ano.

 

Só em sonho que eu vejo,

Tu afagando minha ilusão.

É tão forte como lampejo,

Sonho não vai embora não!

Peruíbe SP, 13 de março de 2022.

 

quarta-feira, 9 de março de 2022

DIA DE TORMENTA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        O vilarejo era povoado, na sua quase totalidade, por casinhas de madeira e de pau-a-pique. E as casas de alvenaria, tinham os rebocos caídos, denunciando que já estavam carcomidas pelo tempo. Todas as ruas eram de chão batido, onde os pássaros faziam caracol, no areião. As frondosas árvores centenárias fincadas, onde deveriam ser calçadas, proporcionavam deliciosas sombras, em tardes de verão.

                        O povo simples e de costumes simples, seguia calmo a lida diária. Muitos rumavam cedo para a lavoura, enquanto outros tentavam sobreviver com o comércio mirrado. Um cachorro magro e pestilento caminhava cabisbaixo pela rua. As mulheres, entocadas em casa, cuidavam do lar e do sagrado dever de educar os filhos para o futuro. Que futuro, meu Deus?

                        Os quintais, sem muros divisórios ou frontais, eram sinônimos de boa convivência entre os vizinhos. Eles (quintais) repletos de árvores, plantas e flores, viviam harmoniosos entre si. Lá no alto, no pé de mexerica, havia o ninho de fogo-pagô, com três ovinhos. Borboletas de cores variadas e pequenos pássaros dividiam o espaço, em busca de alimentos.

                        Os moleques, de short, sem camisa e descalços, brincavam ininterruptamente, para lá e para cá, isso do amanhecer até o entardecer. Já as meninas, montavam cabaninhas debaixo das laranjeiras e brincavam de casinha, cuidando de suas filhas (bonecas). Na chaminé, a fumaça avisava que o almoço estava a caminho.

                        O vilarejo era um dos lugares mais quentes, na região noroeste do Estado. O céu de brigadeiro servia de cenário para coreografia do bailar das andorinhas. O badalar do sino na torre da Igreja Matriz anunciava que já era meio dia. Tudo ali inspirava paz e tranquilidade.

                        De repente, tudo começou mudar. Já passava das dezesseis horas, quando o céu começara mudar de cor, onde o azul celeste, fora dando lugar ao cinzento, para em seguida, escurecer, tornando-se negro. Não demorou, para que o dia virasse noite. Aos poucos, uma nuvem carregada foi liberando as primeiras gotas de chuva, seguida de raios e fortes rajadas de trovões. Recolhemos às pressas e nossos pais trancaram portas e janelas.

                        As gotas, que no início eram suaves, começaram a fazer barulho no telhado de zinco, sem forro, bem como, nas portas e janelas de madeira rústica, como se fossem bolinhas de gude. O som era tão forte, que parecia um bombardeio. Na realidade, eram granizos de diversos tamanhos. 

                            Da fresta da janela, podíamos ver os galhos das árvores envergarem para lá e para cá, resistindo aos ventos fortes. Não se ouvia o gorjear dos pássaros, o cacarejar das galinhas no poleiro e muito menos, o bailar das borboletas.

                        Meus pais, de fé inabalável, puseram-se a rezar longas e intermináveis orações. As velas acesas no oratório, quase se apagavam com o vento, que entrava pelas frestas da janela. Minha mãe lançara no quintal, os “ramos santos”, benzidos pelo padre Antônio e recebidos no “Domingo de Ramos”, para acalmar e parar a tempestade. Meus pais, meus irmãos e eu, reunimo-nos num dos quartos, para esperarmos a tormenta passar.

                        Diante daquela tormenta, parecia que o céu desabara sobre minha Terra Natal. Eu, tremendo de medo ali no quarto, pus-me a pensar nos ovinhos do fogo-pagô,  lá no pé de mexerica, nas galinhas em seu poleiro, nas borboletas, nas andorinhas e nos conterrâneos em seus paupérrimos casebres. “Deus há de protegê-los e confortá-los”, eu pedia ao Pai Celestial, em pensamentos.

                        Por que será que Deus permite que a natureza haja com tamanha violência contra aquele lugarejo?”, eu pensava enquanto tudo acontecia. Nada compreendia. Hoje, diante de tudo o que vejo, isto é, as agressões contra a natureza e os homens agindo uns contra os outros como animais, eu compreendo que aquele “Dia de Tormenta”, era Deus demonstrando o seu infinito poder sobre a terra e os homens. Certo é que todos pagam, isto é, os bons e os ruins.

                        No dia seguinte, a situação em que eu vi o lugarejo, conto depois. Por hoje, chega de tanta tragédia!

Peruíbe SP, 09 de março de 2022.

 

 

 

 

sexta-feira, 4 de março de 2022

DESEJO INCONTESTE

 

Adão de Souza Ribeiro

Desejei-te, quantas vezes.

E tu nem me percebestes.

Lá se foram anos e meses,

De sentimento inconteste.

 

Gritei este teu lindo nome

Calado aos quatro ventos.

Até hoje, o amor consome,

Este meu corpo por dentro.

 

Chorei, quando pela praça,

Com tua inocência infantil.

Desfilava com muita graça,

Pelo meu coração tão vazio.

 

Sonhei. E todo poeta sonha

Em ser amado, feliz um dia.

Deixar esta vida enfadonha

Ir voar nas asas da cotovia!

 

Peruíbe SP, 04 de março de 2022.