sábado, 31 de dezembro de 2011

A MAGIA DO BEIJO

Anjo, quando teus lábios carnudos
Tocam os meus em louco frenesi,
Embriago sem sentido, fico mudo
Parece que a felicidade nasce ali.

Eu bebo naquela fonte de desejo,
Mel que emana de tuas entranhas
Entrelaça-me em ti e quando vejo,
Sou um escravo de tuas manhas.

O teu corpo suado feito cachoeira,
Transforma o leito em correnteza.
E fazes mil loucuras á noite inteira,
Ama, delira, geme, minha princesa.

Teus olhos brilham de delírio tanto,
Enquanto acaricio teu corpo macio.
E o teu beijo ardente, com encanto,
Dá-me prazer, paz e causa arrepio!

Peruíbe SP, 31 de dezembro de 2011

domingo, 25 de dezembro de 2011

ESTRADA DA VIDA

Oh, meu Deus, quantas estradas percorri
Em busca dos sonhos, em busca de mim.
Procurei por todos os lugares, aqui e ali,
Numa busca louca e numa luta sem fim.

Fiz mágicas, sonhei e quebrei segredos,
Não desisti, porque essa é a minha sina.
Pois a felicidade e a paz dormem cedo,
No colo da vitória, assim a vida ensina.

Recolhi todos os cacos da minha vida,
Que fui deixando pelo meu caminho.
Eu fiz como o pássaro, que na sua lida,
Junta os galhos para formar seu ninho.

Mas essa busca que tanto me magoa,
Um dia, meu Deus, há de ter seu fim.
Sei que minha jornada não será à toa,
Hei de resgatar o que fugiu de mim.

Peruíbe SP, 25 de dezembro de 2011

A CANÇÃO DA CHUVA

Ouço a canção doce da chuva
Que em nota, de pingo a pingo,
Massageia como a suave luva,
Este meu coração, de menino.

Na dança das gotas, a melodia
Faz relembrar a tenra infância.
Que o poeta na asa da cotovia
Tocava a flor e sua fragrância.

A chuva, canta a linda canção
Que o coração feliz escreveu.
E a amada com toda a razão,
Faz dele seu amor e se deus!

A chuva calma corre pela rua
Em busca do seu rio e do mar
É como o poeta a amada sua,
Encontrasse-a no verbo amar.

O cheiro doce da relva molhada
Desperta no poeta, seu desejo
Que desliza no corpo da amada
A chuva pára, mas não o beijo.

A amada sacia e o poeta ama,
A chuva segue, a noite chega.
E os dois cansados na cama,
Dormem em paz, assim seja!

Peruíbe SP, 25 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

PROMESSA DE AMOR

Se Maria não amasse tanto José
Se José não amasse tanto Maria
Numa promessa de amor, de fé
Não haveria felicidade e poesia.

Mas por Maria amar sem medo
E José amar sem tanto mistério
Buscaram o prazer muito cedo,
Não levaram a vida tão a sério.

Se Maria encontrou felicidade
José fez do sonho um poema,
Quando era noite, bem tarde
No leito dormia sua pequena.

Maria declarou de tanto amor
Que não viveria sem o amado.
De prazer, o céu emocionou
E ele a possui quieto e calado.

Maria edificou seu sagrado lar
E José fez dela, linda princesa.
E assim, sob a luz do belo luar
Viveram felizes, assim seja!!!

Peruíbe SP, 20 de dezembro de 2011

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

MENINO SOLITÁRIO

O menino caminha sozinho,
Por uma estrada tão infinita
Inocente, com pouco aninho
Nada preocupa e nada agita.

Em passo compassado, lento
Traça o seu sonho de futuro.
Ele rema ao sabor do vento,
Vencendo procelas e muro.

No caminho as pedras que vê
Com elas decora sua viagem.
Antes de seu doce alvorecer,
Faz da luta, linda paisagem.

O menino sabe que a sua luta,
Não será vã, nessa caminhada.
E que sua vitória só será justa,
Se ele estiver com sua amada.

Peruíbe SP, 14 de dezembro de 2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O AMOR E O PRAZER

Hei de tocar teu corpo mulher
Como se toca a pureza da flor
Sentir a flagrância da tua alma
Com a leveza deste meu amor.

E sobre o lençol em desalinho
Arrancarei os cálidos gemidos
Que teu prazer em burburinho
Jamais sentiu em tempos idos.

Saciarei o teu desejo ardente
Feito cascata com meu beijo,
Pois eu sei o que o sexo sente
Quando já saciado de desejo.

Quando chegar a aurora boreal
E amada já estiver toda saciada
Direi que a felicidade é sim real
E que eu não a troco por nada.

Peruíbe SP, 12 de dezembro de 2011

domingo, 4 de dezembro de 2011

O VOO DA LIBERDADE

Quero voar na asa da cotovia
Por toda esta linda imensidão.
Pois sei que serei feliz um dia,
Saibam, quer queira que não!

Hei de rasgar todo o horizonte
Num vôo solene de muita paz
E transporei barreira e monte
Por quanto tempo, tanto faz.

E lá bem do alto do meu sonho
Bem antes que eu me esqueço
Direi feliz, em paz e tão risonho
Esta felicidade não tem preço.

Voarei em busca do meu futuro,
Com toda força da minha alma.
Lutarei contra o mundo, eu juro,
Para pousar no colo da amada!

Peruíbe SP, 04 de dezembro de 2011

sábado, 3 de dezembro de 2011

TRISTE CANARIO

Há um canário triste, preso na gaiola
Enfadonho, com seu olhar no infinito
E canta e contempla e canta e chora
Sua melodia é dor, seu hino um grito.

Do pouco alpiste que ele se alimenta
O seu desejo de liberdade nada altera
Porque a vida caminha assim tão lenta
Como se tudo fosse sonho, e quimera.

Mas ele se alegra, pula, sofre e canta,
E espia ao longe a beleza da floresta.
Tem um coração bom e a alma santa,
Sonha em paz com o tempo que resta.

A melosa canção que entoa o canário,
Cujas estrofes, um dia, a vida escreveu
É o retrato fiel de um saudoso cenário
Que o tempo reservou-lhe, meu Deus!

Peruíbe SP, 03 de dezembro de 2011

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

SONHO DE CRIANÇA

Quando criança e, ainda, na idade tenra,
Pensava que o mundo era conto de fada
O futuro, um sonho, conto e uma lenda,
Assim vivia e nada mais me preocupava.

A vida passou depressa, passou o tempo
Pelas ruas descalças da minha infância,
E o sonho partiu quieto, em passo lento
Deixando para trás, a ilusão de criança.

A criança singela da cidade interiorana,
Aprendeu que a vida é um belo desafio
Luta muito pela felicidade, não se cansa
Como um náufrago na correnteza do rio.

A criança inocente guarda na memória,
O dia que descobriu o amor e o prazer
E fez da felicidade a sua eterna história
No leito da amada, num bem querer!!!

Peruíbe SP, 02 de dezembro de 2011

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

TESOURO PERDIDO

Quando pensei que tudo estava acabado
Achei um tesouro numa curva da estrada
Sem pressa, parti feliz num cavalo alado,
Para esculpir o corpo da mulher amada.

Então a caminhada tornou-se prazeirosa
Por isso, deixei de ser infeliz como antes.
E assim, entre sonhos, prazeres e rosas,
O futuro foi desenhado como diamante.

Hoje, não sei o que é caminhar sozinho
De mãos dadas com o amor e a alegria
Eu sigo em paz por um suave caminho,
Em busca do sonho que sonhei um dia.

Quando o sonho assim se materializa,
E passa ser uma bela e doce realidade
Faz da vida, um quadro de Monaliza,
Da felicidade, do amor a imortalidade.

Peruíbe SP, 01 de dezembro de 2011

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

FRAGMENTOS

Por onde andam meus velhos pedaços,
Que sem rumo partiram em caminhada?
Se não encontrar fragmentos, que faço?
Sem felicidade e sonhos, não sou nada.

Sei que meu coração se perdeu de amor
Minha alma, de esperança se escondeu.
E o meu desejo ao pousar de flor em flor
Bebeu do néctar do amor, como Orfeu.

O beijo, de ternura, afogou-se no mar,
Como se só de amar, morresse um dia.
E o sexo de prazer na cama a versejar,
Rabiscou a mais bela e eterna poesia.

Meus pedaços se foram com o tempo
Deles ainda guardo doces lembranças
A fantasia da vida, em seu passo lento
Corre, sonha, ri, espera e não se cansa

Nessa busca louca para me recompor,
Hei de encontrar meu eu, do que resta
E que eu me refaça num verso de amor
Porque nasci para amar e ser poeta!!!

Peruíbe SP, 30 de novembro de 2011

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

NOITES DE INVERNO

Como são lindas as noites de inverno
Que sem rumo e um pingo de pressa,
Dormem felizes nas linhas do caderno
Espiando a paz do mundo pela fresta.

Nessas noites tranqüilas e de encantos
Eu me deleito, escondo dentro de mim
Na procura de um mundo sem prantos,
Feito de mil sonhos, cores e querubins

Se durmo embalado por canções belas
Entoadas pela voz suave da madrugada
Não acorde, sussurre palavras singelas
E me deixe repousar no colo da amada.

Nessas noites, sou alegre por um triz.
E de cada momento, um poema faço,
Para linda musa, que me faz tão feliz
Assim acolhido no calor do teu braço.

Noites de inverno não teriam a beleza
Que o poeta, no sonho, tanto imagina,
Se na cama da madrugada, a princesa
Não o cobrisse com corpo de menina.

Peruíbe SP, 25 de novembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

TEUS PÉS

Benditos, oh amada, são estes teus pés
Que em formas belas e bem delineadas,
Conduzem-te por campos, vales, marés
Na busca incansável, da pessoa amada.

Vós que a passos firmes, porém, lentos.
Sabeis caminhar, rumo ao teu horizonte.
Não vos desvieis com a força dos ventos
Mostrais o amanhã, bem atrás do monte.

São os teus pés, oh amada, sagrados.
Pois, com amor, te conduziram a mim.
Ao pensar que tudo já estava acabado,
Fizeram da estrada triste, um jardim!!!

Sem que percebesse, oh pés sensuais,
Viestes trazer-me as noticias de carinho
E a tristeza partiu, como os vendavais,
Mas junto da amada, não sinto sozinho.

Pés femininos, cuja beleza se encanta.
Depois que cruzastes este meu destino,
A minha felicidade é tamanha, é tanta,
Que não sei se sou adulto ou menino.

Peruíbe SP, 24 de novembro de 2011

domingo, 20 de novembro de 2011

A MÃO DESTINO

Quando a delicada mão do destino
Presenteou-me com o teu coração,
Fiz daquele instante, um doce hino.
O do teu olhar a mais bela canção.

Lembro com ternura do teu olhar,
Que sem querer encontrou o meu.
E teus lábios, os meus a procurar
Na sede do beijo voraz, meu Deus!

Naquele dia, Deus se fez presente
E de presente, me deu o teu amor.
Para que tu fosses amada, sempre
Como a natureza, que ama a flor.

Teu corpo, em brasa e em chama,
Dizia que estava traçado o futuro
E teu desejo pedia, amor me ama
Que serei sempre tua, assim juro.

Naquele dia sagrado, dei-te a alma
E todo o amor preso no meu peito.
Tua ausência, mulher, só se acalma.
Na calma das caricias deste teu leito!

Peruíbe SP, 20 de novembro de 2011

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

AMOR DIVINO

Se a mulher
Diz que ama
Se o homem
Diz que deseja
E a saudade
Arde em chama
Bendito seja.
Se a mulher
Diz que quer
Se o homem
Diz que implora
E a cama
Em desalinho
Bendita hora.
Se a mulher
Diz que sofre
Se o homem
Diz que busca
E o sonho
Se desfalece
Vá à luta.
Se a mulher
Diz que gosta
Se o homem
Diz que realiza
Na sintonia
Do amor divino
Que mais precisa?

Peruíbe SP, 19 de novembro de 2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

PASSARO LIVRE

Voa livre, oh pássaro, livre voa,
Pelas estradas do teu infinito,
Sem bússola, sem rumo, à toa
Para não se ouvir seu gemido.

Tuas asas, numa linda dança,
Desenham um sonho de paz
Nessa busca nunca se cansa
E se cansa, para ti, tanto faz.

Lá do alto, observa o teu eu,
Ora triste, ora com frenesi.
Só não vê quem não sofreu,
Vê dali, o vazio dentro de si.

Vê que é imenso o universo
E as estrelas, tão distantes.
Nada mais belo que o verso
Escrito na linha do horizonte

Pássaro que a nada se apega,
Voa sozinho e contra o tempo
Livre é, pois não cumpre regra
Sabe, teu nome é sentimento.

Peruíbe SP, 14 de novembro de 2011

sábado, 12 de novembro de 2011

A ROCHA

O amor, meu Deus, é uma enorme rocha
Cercada de mistérios por todos os lados,
Por isso, que para muitos ele se mostra,
Ser tão firme, forte, resistente e inabalado.

Desafia todas as leis da vida, do universo
Sofre em busca da paz que tanto almeja.
Perde-se em meio às rimas e em versos,
Que a vida seja breve, assim bendito seja.

Não se acovarda, sendo firme, não foge.
Enfrenta todas as intempéries do mundo.
Na busca da saudade que se vai ao longe
Dos sentimentos, ele é o mais profundo.

Mas o amor, embora firme, é tão frágil,
Como criança que choraminga no leito.
Se ele inseguro, tem lá seus presságios
É porque sofre de tanta dor no peito!!!

Peruíbe SP, 12 de novembro de 2011

terça-feira, 8 de novembro de 2011

FELICIDADE, UM PASSARO

Se a felicidade escapa entre os dedos
Numa corrida tão louca, desenfreada
Consigo leva os sonhos e os segredos
Bem escondidos no coração da amada

Ela é pássaro, sem rumo e sem ninho
Tem o amor e a liberdade como meta
Se percorre o mundo quieto, sozinho
É por saber que a sua saudade é certa

A felicidade trás dentro de si, mistério
Que só uma alma pura saberá decifrar
Por isso que não ama, não leva a sério
Tem a chave do segredo, quem amar.

Só o poeta, um homem de fino trato,
Que na sua luta para entender a vida
Consegue esculpi-la no lindo retrato
Bem antes da sua inevitável partida.

Peruíbe SP, 08 de novembro de 2011

domingo, 6 de novembro de 2011

VELHA CAMINHADA

La vai um homem cabisbaixo, quieto;
Pela solitária estrada do pensamento
Vaga em seu sonho e sem rumo certo
Sem pressa caminha pelo seu tempo.

Olha as flores, ao longo do percurso,
E as aves numa canção orquestrada.
Se o passado lhe pregou peça, susto
Ele descansa no colo da madrugada.

Na caminhada, cumpre seu destino,
Rabisca poesias, retrata seu mundo.
Sabe que a vida é um sopro divino,
E que só o amor é que move tudo.

Viaja em paz no verdejante campo,
Da infância pendurada na lá parede.
A saudade do passado o deixa tonto,
Como peixe distraído preso na rede.

Peruibe SP, 06 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O PERFIL DO POETA

É uma pessoa demasiadamente inquieta,
Não se cala, não se enverga, não compactua.
Embriagado nessa rebeldia, produz as jóias
Escrevendo sobre seus sonhos e frustrações.
Na solidão de seus versos, traça caminhos,
Rabisca o futuro e pinta o passado de cores
Diversas como se a vida fosse um arco-iris.
Mas é um belo poliglota dos sentimentos
Por isso, sabe reinar em todos os corações
Alegres, cansados, solitários, apaixonados.
Na angústia de buscar a perfeição da alma,
Passa longas noites, como folhas em branco,
Percorrendo linhas tortas e intermináveis,
Retratando o que se passa em torno de si.
É um marginal, sem remendos, sem nada;
A nada se prende, senão à vida e ao amor.
Despido da tal vaidade, segue sem rumo
Numa calma caminhada rumo ao infinito
Triste e imortalizado pela incompreensão
Da obra esculpida na luta pela sua vida.
É certo que o mundo dele está distante
Do que vê, desenha, traça e se imagina.
Por isso, prefere embriagar e se delirar.
Se ele, poeta louco e incompreendido,
Um dia sentir-se plenamente realizado,
Morrerá com ele, os versos inacabados
E as estrofes, partirão em mil pedaços.
O mundo agitado, nunca poderá esquecer
Que o poeta, um ser calmo e tão solitário,
É uma pessoa demasiadamente inquieta.

Peruíbe SP, 04 de novembro de 2011

sábado, 29 de outubro de 2011

PARAISO SACROSSANTO

Na paz infinita do quarto, uma mulher nua
E sobre o alvo lençol, ainda em desalinho,
Dormitam todas fantasias e a alma flutua
Livre como o vôo suave de um passarinho.

Ali, naquele paraíso manso e sacrossanto
Revestido de pureza e aroma adocicado,
Dois corpos entrelaçam e se amam tanto
Num cântico de prazer e não de pecado.

O tempo pára e a tarde calma, espera,
Para que eles dancem a valsa sonhada
Porque o amor vive de sonho, quimera
E se deleita no silêncio da madrugada.

No encontro divino de coração, de alma,
Duas vidas se tocam, numa fome voraz.
Essa sede amor, de desejo só acalma
Ao saber que a tristeza ficou para trás.

Peruíbe SP, 29 de outubro de 2011

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

AMOR NÃO TEM PRESSA

O amor não tem pressa, espera
Feliz e calmo, o beijo tão distante
Ele vive de sonhos e de quimeras
A nada se prende, é um retirante.

O amor dorme na paz do silêncio
Pois nada deseja, deste mundo,
Senão a caricia suave do vento,
A tocar seu corpo quieto, mudo.

O amor sabe ser muito paciente
Porque ele é belo, doce e divino
Ele tem a dimensão do presente
Escondido num verso, num hino.

O amor se embriaga e se delicia
De um olhar, uma carícia, toque
Sem isso ele jamais sobreviveria
É de amor que o amor se move.

O amor se cala, diante da amada
E se expressa apenas pelo olhar.
Percorre assim a noite enluarada
Como o rio em busca do mar!!!

Peruibe SP, 10 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

TREM DESGOVERNADO

Que sentimento é esse
Feito trem desgovernado
Descendo ladeira abaixo
Perdido na ribanceira
Sem eira nem beira.
Embarcado vai o coração
Num vagão tão solitário
Em busca do precipício
Como se lá bem no fundo
Encontrasse o amor.
Entre vales e campinas
Deslizando pelos trilhos
Vai escrevendo hinos
De tamanha poesia,
Que paralisa o tempo.
Cada longínqua estação
Durante a breve parada
O maquinista do desejo
Piso no freio do futuro
E espera pela amada.
Mas se a vida tem pressa
O trem não tem não
Porque em cada vagão
Há um coração de menino
Que sonha ser feliz.
Peruibe SP, 10 de outubro de 2011

domingo, 9 de outubro de 2011

FUGA E DESEJO

Por que de mim, amor, foge tanto
Quebra esse medo, esse encanto.
Grita ao mundo, assim feito louca
Até perder o juízo, ficar tão rouca.

Faz manha, esperneia, esbraveja
Tome vinho, wisky, coca e cerveja
Liberta esse desejo que te espanta,
Diz que ama, é louca, bela e santa.

Guarda neste teu corpo o fino mel
De onde busco alento e a energia
Para que de tristeza o menestrel
Não pereça jamais ao cair do dia.

O belo segredo que guarda em ti
De todas as jóias é mais preciosa
E tem a formosura que nunca vi
A flor mais bela e a mais vaidosa

Este sentimento que te encarcera
Leva-te à nuvem e outra quimera
Faz de ti a mais bela e doce rainha
Mulher sedutora e amada minha!

Peruibe SP, 09 de outubro de 2011

sábado, 8 de outubro de 2011

A DOR DO POETA

O poeta que não sonha, não é poeta
É barco triste, sem rumo e à deriva.
Um ser trôpego, calado e sem meta
Nada sabe do mundo e nada da vida

Vê além de seus olhos e de sua era
Sofre quieto e nas suas árduas lidas
Não tem vaidade, pois nada espera
E se alimenta de versos e de rimas.

O poeta embriaga de doces utopias
Como se morrer do mesmo veneno
Imortalizasse-o em lindas fantasias
Desejos do seu coração pequeno.

Traduz as alegrias, velhas penúrias
Esculpidas em estrofes tão divinas
Envoltas de beleza, tantas luxurias
Meu Deus, assim será a sua sina!!!

Peruíbe SP, 08 de outubro de 2011

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

AMOR MISTERIOSO

Que amor é esse, que tanto maltrata
Que se esconde dentro do meu peito
Como faz a lua tão bela, cor de prata
Ao ver o dia acordando, no seu leito.

Esse amor tem lá os mistérios seus,
Que eu queria compreender um dia
E como pode fazer-me escravo seu,
Sem perceber minha dor e agonia?

Mas se eu sofro quieto e tão calado
No silêncio do meu mundo interior
É por que sei que sou muito amado
Por uma princesa, uma rosa em flor.

E se eu me perder de tanto desejo
No leito do amor belo, envolvente
Hei de saciar-me na fonte do beijo
A felicidade que busco pra sempre

Peruibe SP, 05 de outubro de 2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O REMEDIO E A CURA

Preciso de um remédio forte
Para curar todos meus males
E que me deixam sem norte,
Naufrago de remotos mares.

Preciso de médico cauteloso
Que conheça da alma minha
E que receite como repouso
Aconchego da doce caminha

E se eu tiver que tomar algo,
Que sejam em gotas de afeto
Senão morro,sofro, engasgo
Entre uma estrofe, um verso

Preciso de repouso absoluto
Para que seja perfeita a cura
E que na paz do meu reduto
Haja a felicidade que procura

Peruibe SP, 02 de outubro de 2011

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

FRAQUEZAS

Dai-me forças, meu Deus,
Pois disso é que eu preciso
Com lágrima, clamo ao céu
Senão perco o meu juízo.

Sei que a luta nos ensina
Que tudo tem seu preço.
Por isso, sigo a minha sina
Antes que me esmoreço.

Mas se eu vier a fraquejar
Sem saborear a felicidade
Há que existir belo lugar,
Para repousar a saudade.

Preciso vencer tempestade
Incertezas e outras procelas
Antes que tudo seja tarde
Pra ser feliz, quem me dera!

Peruibe SP, 30 de setembro de 2011

domingo, 25 de setembro de 2011

AMOR SECRETO

Eu tenho um amor que sobrevive em silêncio
Sufocado num canto qualquer do meu peito,
Como quem nada quer, apenas o momento
Certo de explodir na imensidão de um leito.

Mas ele sofre, porque esse é o seu destino,
Até quando isso, meu Deus, ninguém sabe.
E a amada, que tanto sonha, desde menino
Está distante, envolta no manto da saudade.

E o cheiro do amor tão belo, tão provocante
Escorre pelo corpo, espalha suave pela cama
Num frenesi incontrolável, desejo de amante
Só o néctar do beijo, é que apaga essa chama.

O amor do poeta, saibam tem nome angelical
E é isso que, no sofrimento, tanto o acalanta.
E no leito, manto sagrado, e num rito nupcial
Ela é pecadora, meiga, devassa e tão santa!!!

Peruibe SP, 25 de setembro de 2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

MARIA, MINHA MARIA

Ah, Maria
Quantas noites
Quantos dias.
Sem teu calor
Quanta agonia.

Ah, meu amor
Sem teu olhar
Sem teu desejo
Eu deliro
Sofro e pelejo.

Ah, Maria
Nesse mundo
De fantasia
Me embriago
De alegria.

Ah, ternura
Minha ilusão
Meu delírio
Sem teu olhar
Perco a razão.

Ah, Maria
Minha ternura
Meu desejo
Sem teu afago
Quanta loucura!

Peruibe SP, 31 de agosto de 2011

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

SONHOS E FANTASIAS

Onde andam minhas fantasias
E os meus sonhos desvalidos?
Será que voam como cotovias,
Desafiando vales e perigos?

Minha doce e bela inocência
Por onde, meu Deus, passeia?
Será que em verde querência,
Mares revoltos, feito sereia?

E a minha saudosa terra natal
Emoldurada num velho quadro
Já foi varrida por um vendaval
Sem olhar para o seu passado?

Nos longos caminhos do tempo,
Sem que perceba a frágil vida.
A esperança dorme ao relento
Chorando por colo e guarida.

Mas entre tantos sorrisos e choros,
Renasce a minha velha esperança
E sei que de saudade ainda morro
Do meu tempo de inocente criança.

Peruíbe SP, 29 de agosto de 2011

terça-feira, 23 de agosto de 2011

GALOPES DA INFANCIA

Lá vem minha infância
Montada num alazão
Galopando no tempo
Sem pressa, sem razão.
Lá vem minha infância
Em noites de sereno
Com olhar no passado
Brincando de inocente.
Lá vem minha infância
Correndo pela calçada
Saudando a sua vida
E dela achando graça.
Lá vem minha infância
Vestida de rara beleza
Numa linda constelação
De milhões de estrelas.
Lá vem minha infância
Banhada de santidade
Tão bela e tão simples
Despida de vaidade.
Lá vem minha infância
Assim de pulo em pulo
E também lá vou eu
Sem pensar no futuro.
Peruíbe SP, 23 de agosto de 2011

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

MINHA SINA

Amo-te, mulher tímida
Em silêncio.
Amo-te, mulher alegre
Aos quatro ventos.
Amo-te, mulher fogosa
Em fogo ardente.
Amo-te, mulher caseira
Sob o lençol.
Amo-te, mulher delicada
Com ternura.
Amo-te, mulher carinhosa
Cheirando rosa.
Amo-te, mulher pequena
Assim sem jeito.
Amo-te, mulher morena
Da cor do pecado.
Amo-te, mulher triste
Num simples olhar.
Amo-te, mulher feminina
De jeito diferente.
Enfim, amo todas as mulheres
Essa é minha sina.
Peruíbe SP, 11 de agosto de 2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

AMIGOS FIEIS

Há um homem
Dormindo na praça
Não sei se de sono
Ou de cachaça.
O homem dorme
Assim no sereno
No sono tranqüilo
De sonho pequeno.
Um cão sem dono
E sem raça
Vela seu silêncio
Que vida sem graça.
Enquanto dormem
Na paz do cansaço
A cidade caminha
Em busca de espaço.
E se suspiram
Longe do mundo
Assim sem medo
É que são puros.
O cão e homem
São fiéis amigos
E assim se protegem
De tantos inimigos.
Peruibe SP, 02 de agosto de 2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011

MULHERES DIVERSAS

Há mulheres tão belas;
Outras, assim, nem tanto.
Umas morrendo de amor;
Outras, chorando pelo canto.

Há mulheres tão carinhosas;
Outras, assim, meio rebeldes.
Umas que só sabem amar;
Outras que no amor se perde.

Há mulheres sempre divinas;
Outras, assim, meio pecadoras.
Umas que sonham ser mãe;
Outras, apenas sedutoras.

Há mulheres muito sinceras;
Outras, assim, meio fingidas.
Umas que só dão prazer;
Outras, na cama, perdidas.

Há mulheres mui femininas;
Outras, assim, tão grosseiras.
Umas que me dão só alegria.
Outras que só fazem besteira.

Peruibe SP, 29 de julho de 2011

terça-feira, 26 de julho de 2011

MARIA MORENA

Maria morena
Da cor de açucena
Tua boca pequena
E o olhar que acena
Para onde não sei.

Morena Maria
Teu desejo me guia
Por mil fantasias
Em noites sombrias
E me faz sonhar

Maria ternura
Que amor me jura
E sorrindo tortura
Quanta loucura
Nesse corpo em flor.

Morena minha
No leito se aninha
E muito tristinha
Em noite sozinha
Busca meu afago.

Mulher feminina
Cheia de meiguice
Deixa de mil tolice
Vem e me belisque
Não deixa sonhar.

Peruíbe SP, 27 de julho de 2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

MÃO NA MASSA

Um é muito querido na praça,
O outro, ninguém se arrisca;
Um vive com a mão na massa,
E o outro , na tal da política.

Um tem por oficio a padaria
O outro, o das suas fazendas.
E na dura lida do dia a dia,
Vão aumentando suas rendas.

Gostam de obras faraônicas,
Construídas com suor alheio
E levam tudo da cidade crônica
Sem remorso e sem de receio.

Mas se o povo pobre e faminto
Clama choroso por leite e pão,
Dão-lhe uma taça de absinto
E dizem: “Não vos conhece não”.

Mas se tudo é tão frágil e breve
E disso temos a maior certeza.
O conforto eterno que se reserva
A eles, é condomínio do Veneza.

Peruíbe SP, 27 de junho de 2011

domingo, 26 de junho de 2011

O PÃO E O LEITE

De advogado pra padeiro;
Padeiro, procurador;
Tal feito, por ser pedreiro,
Eis conseguiu, sim senhor!

Da massa que nasce o pão
Surge o professor ligeiro;
De um pulo, na contramão,
Faz-se ele também padeiro.

Cabra macho, do carneiro
Pra vaca foi um pulo só;
Viu-se logo grão leiteiro,
Não aqui: no cafundó.

Está servido o pão e o leite,
Sem café pra não ter cheiro;
É de poucos tal deleite,
Mas é do povo o dinheiro.

Poema escrito por Washington Luiz de Paula
São Paulo SP, 25 de junho de 2011

sexta-feira, 24 de junho de 2011

AUSÊNCIA

Já não sei mais
Dormir sozinho;
Longe do teu beijo
Do teu carinho.
Teus lindos passos,
Vejo pela casa vazia.
Sinto forte agonia
E dor no peito,
Sem você.
A vida perde o encanto,
Com você ausente.
Só quem ama sente,
Sem saber se volta,
O bem que está distante.
O telefone não toca,
Noticia não chega.
Onde anda a princesa,
Com olhos de tigresa
E garras felinas?
Imagino mil coisas,
Sobe a adrenalina.
É o cheiro que fascina
E a cama desfeita,
Numa noite de loucura.
Já não sei mais,
Viver sem a amada
Sinto tocar meu rosto,
No sono da madrugada.
E meio sonolento,
Corro pra janela;
Pra ver se ela vem
E beijar os lábios dela.

Bauru SP, 14 de dezembro de 2003

UTOPIA

Queria ser a água do chuveiro
Beijando teu rosto angelical.
E, numa dança silenciosa,
Dar-te um longo abraço.
Ah, amor, como eu queria
Ser aquele pequeno sabonete
Que desliza pelo teu corpo
Tão lindo e tão sedutor.
Ah, minha paixão, como desejo
Ser a toalha macia e atrevida
Descobrindo os mistérios
Do teu corpo molhado.
Ah, minha vida, como eu invejo
O espelho atento do teu quarto
Que, com riqueza de detalhes,
Espia a tua eterna nudez.
Ah, minha gata, como eu sonho
Ser o travesseiro onde repousa
Teus sonhos e tuas fantasias
Deste teu mundo de mulher.
Ah, minha ternura, como eu choro
Por não poder ser o branco lençol
Que sente o calor e a forma felina
Brotando da tua alma sedutora.
Ah, minha loucura, como eu deliro
Ao lembra que é o travesseiro
Que lê todos aqueles segredos
Escondidos neste teu olhar.
Ah, minha vida, como eu espero
Ser, um dia, a luz que ilumina
Tuas noites envoltas de prazer
E, assim, não me apagar de tédio.
Ah, minha linda, como eu queria
Ser este teu quarto aconchegante
Para ninar calmamente o teu sono
Antes que a realidade amanheça!

Bauru SP, 29 de junho de 2003

VIDA, MINHA VIDA

A Vida é bela,
É breve.
Passa como nuvem
É fria
Como neve.

A vida é assim,
Sem fim.
Passa como tempo
É lenta
Para mim.

A vida é frágil
É cristal.
Passa como sopro
É caracol
Feito vendaval.

A vida é doce,
É santa.
Passa como rio
É mistério,
Que encanta.

A vida é dádiva,
É benção.
Passa como graça
É infinita
Em oração.

A vida é luz,
É brilho.
Passa como raio
É contínua,
Como filho.

A vida é vida,
É quietinha.
Passa como solidão
É parte,
Da vida minha.

Peruíbe SP, 04 de janeiro de 2007

quinta-feira, 23 de junho de 2011

VOCE E EU

Você vem e me beija
Dá um abraço
Faz um gracejo
E diz que me ama.

Você vem e me embala
Pede um carinho
Geme de prazer
E diz que me deseja.

Você vem e me escraviza
Prende o coração
Dá um sorriso
E diz que me quer.

Você vem e me acaricia
Beija minha alma
Canta uma canção
E diz que me admira.

Você vem e me hipnotiza
Seduz com o olhar
Brinca de amar
E diz que me atrai.

Lins SP, 13 de outubro de 1999

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O DIA EM QUE A DITADURA MATOU MANÉ GARRINCHA

Por ROBERTO VIEIRA
20 de junho de 1964.
Garrincha e Elza Soares dormem na Ilha do Governador.
O casal mais odiado do país.
Castelo Branco se define como homem de centro-esquerda.
Os cariocas apoiam Castelo.
O São Paulo é campeão em Florença.
O Flamengo é campeão do Torneio Naranja com Paulo Choco.
Mas Elza estava com Jango no Comício da Central.
Elza estava com Jango na sede do Automóvel Clube.
Garrincha estava com Elza pro que desse e viesse.
A ditadura chega de madrugada.
Os homens acordam todo mundo na casa.
Garrincha, Elza, a mãe e os três filhos da cantora.
Armas em punho.
Todo mundo nu virado pra parede da sala.
Paredão.
Garrincha pede que poupem as mulheres.
Os militares vasculham a casa.
Destroem os móveis.
Semeiam o terror.
Garrincha está só diante do time adversário.
Garrincha bicampeão mundial.
Garrincha das pernas tortas.
A ditadura vence o jogo.
Mas antes de sair, deixa uma lembrança.
Um dos carabineros abre a gaiola do mainá.
Pássaro indiano.
Xodó de Mané Garrincha.
Curiosamente presente de Carlos Lacerda.
Lacerda que amava os tanques.
Lacerda que também teria seu dia de mainá.
O pássaro desaparece nas mãos do futuro torturador.
O mainá tem seu pescoço torcido.
Garrincha observa o gesto e chora.
O último a sair agarra Mané e afirma:
“Se abrir o bico vai ficar que nem esse passarinho!”
Os jornais publicam a notícia.
Subtraindo a verdade.
O Brasil do mulato inzoneiro.
O Brasil do homem cordial.
Mostra sua face brutal.
Longe das arquibancadas.
Longe dos campos de futebol.
20 de junho de 1964.

Obs: Publicado no blog de Juca Kfouri em 20 de junho de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

LA NOSTRA COSA

Não que eu seja de todo bronco. Sei que o progresso bateu à minha porta e que preciso acompanhar a evolução dos tempos. Por isso, mesmo que forçosamente, preciso envergar diante das mudanças, mesmo que isso vá contra aos meus princípios morais e éticos. Mas tem coisas que não consigo entender.
Nem mesmo Osvaldo de Souza, com sua ciência exata, convence-me de que estou errado na maneira de pensar sobre o que acontece na minha cidade. Talvez eu tenha tido uma infância diferenciada ou uma escola arcaica e, em razão disso, sou meio arredio e não aceito coisas da modernidade. Às vezes sofro e me envelheço aos poucos.
Aprendi ao longo da vida, que cada um sabe a alegria e a tristeza de ser o que é. Não me esqueço de um adágio popular que diz: “Quem planta vento, colhe tempestade”. Por isso, é certo de que existe a lei do retorno. Debruçado sob essas vãs filosofias, contemplo os acontecimentos pitorescos de minha cidade provinciana. Vejo que a nuvem da ignorância paira sobre ela e que é varrida pela poeira ostracismo.
Se tem algo que não aceito, é hipocrisia e falso moralismo. Sem qualquer pitada de censura, a sociedade e as pessoas precisam aceitar o mundo como ele é, ou seja, com todas suas virtudes e imperfeições. Não podemos virar as costas para a verdade e a realidade que nos cercam. Podemos mentir para o mundo, porém, jamais para nós mesmos. Como uma criança órfã do colo materno, choro pela dor daqueles que buscam amparo no poder público e não encontram.
Em cada esquina, cruzo com pessoas clamando por moradia, educação, saúde, alimento, segurança e outras tantas bagatelas. Na pureza de suas almas, mendigam restos de comida, casas escoradas pelo abandono, proteção fictícia, cultura banida do dicionário, cura dos males do corpo e do espírito. É triste saber, que para os políticos e os poderosos, o povo é apenas massa de manobra. Para os mandatários do município, o sentimento do munícipe, é representado apenas, pelo voto na urna. Depois do sufrágio, nada mais importa.
Como toda cidade tem dono, a minha não foge a regra. Temos um “capo”, que comanda “ii segreto della nostra cosa”. A partir daí, os escândalos são rotineiros e o temor de represálias contra aqueles que não participam do clã, fazem com que o silêncio cale o sonho de progresso e harmonia da população. Esse comando cria tentáculos e deles, beneficiam seus asseclas. A moral, a ética, a cidadania são banidas do dicionário caiçara.
Os contratos escusos, emanados de licitações fraudulentas; o enriquecimento ilícito, nascido das propinas de gabinete, o puxa-saquismo representado pelo abre e fecha das maçanetas, mancham as paginas da história de uma cidade simples, amada por um povo simples e que sonham com um futuro simplório. As pessoas trabalhadoras e honestas são simples, porque no coração delas, não habitam a maldade e a ganância.
Não que eu seja de todo bronco. Mas calar-se diante de tantos desmandos, é ser cúmplice da bancarrota de uma cidade que anseia pelo progresso. Temos necessidades urgentes e que clamam por soluções urgentíssimas. Não podemos ficar reféns da voracidade de poucos e da inércia de um povo que nasceu com o direito de ser feliz. Por isso, não arredo o pé, diante da obrigação dos poderes constituídos (executivo, legislativo e judiciário), de defenderem os interesses do bem comum, mesmo que isso vá de encontro aos interesses particulares (políticos e empresários inescrupulosos).
Não que eu seja de todo bronco. Mas é como disse o meu amigo Che Guevara: “Há que endurecer-se sempre, mas perder a ternura, jamais”.

Peruíbe SP, 07 de maio de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O ESPAÇO DE UM ABRAÇO

Procuro desesperadamente um espaço
E que nele tenha a medida mais correta
Traçada de forma justa e no compasso,
Para que a fraternidade não se dispersa.

Procuro desesperadamente um abraço
E que tenha a dimensão exata do afeto
Para que se entenda que é o maior laço
Entre a vida frágil, o Divino e o eterno.

Procuro desesperadamente um regaço
Onde eu possa repousar meu destino.
Sem medo da vitória ou de um fracasso,
Que vá sufocar meu sonho de menino.

Procuro desesperadamente um fiasco
De esperança escondida entre fantasia
Porque é assim que me sinto e me acho
Livre como o vôo suave de uma cotovia.

Procuro desesperadamente um traço,
Reto ou perpendicular até lá no infinito
Porque não há nada mais belo, eu acho:
Do que o espaço no abraço de um amigo.
Peruibe SP, 25 de maio de 2011

sábado, 21 de maio de 2011

PASSOS LENTOS

Tem dia que acordo meio depressivo. Quando meu espírito fica, assim tão frágil, saio a caminhar por ai. E sem eira e nem beira, passo por ruas, becos, ladeira e vielas. E nessas andanças, contemplo prazerosamente as paisagens à minha volta. Saboreio o movimento desordenado de pessoas, as andorinhas fazendo coreografias no céu, o barulho ensurdecedor de buzinas, as formas barrocas das casas em desalinhos.
Como saio sem rumo, não tenho pressa para retornar ao lar. Meu compromisso é apenas com o relaxamento físico e psicológico. O objetivo da caminhada é desintoxicar o fígado, pela ingestão dos problemas diários e rever fases da vida, como se fosse uma película de cinema. Nessas retrospectivas da vida, procuro compreender as transformações do mundo e das pessoas que me cercam.
Ao divagar com as cenas cotidianas, não percebo o tempo passar e a distância percorrida não me cansam os pés. Fico imaginando como seria o mundo, se as pessoas não tivessem pressa, se pudessem degustar com calma as belezas da vida, se fossem mais fraternas com os menos afortunados. Penso até que o paraíso está escondido na próxima esquina. Mera utopia!
De braços dados com a tristeza, caminho descalço pela areia da praia e contemplo a dança sensual das ondas do mar. Penso que o homem nasceu para ser livre e nada há que o impeça de ser feliz. De vez em quando, debruço na mesa de um bar e, sem perceber, beberico uma taça de Montila ou de Tequila. Então, compreendo que na minha cidade provinciana, as pessoas caminham em busca de liberdade, razão pelo qual os restaurantes, bares e lanchonetes estão sempre cheios.
Pena que nessa caminhada, descompromissado com a vida e com o mundo, encontrei diversas barreiras ao longo dessa estrada. Algumas, venci com certa maestria; outras, continuam intransponíveis, como rochas centenárias. Forças invisíveis dificultam minha jornada e me tornam infeliz. Mas como sou geminiano e tinhoso, não desisto. Sou xucro, como um coice de mula e, por isso, não desisto nunca. Ando devagar, porque já tive pressa e levo seu sorriso, porque já chorei demais.
Dentre tantas barreiras, a que mais me deixou inconformado ultimamente, é a ocupação desordenada das calçadas. Vejo cerceado o direito de ir e vir de cada cidadão, o que viola a Constituição Federal. Mas as pessoas, de cabeça baixa seguem a longa estrada (calçada), como se tudo fosse rotina. E os comerciantes, embriagados com o faturamento diário e com o boleto bancário, vencendo no fim do mês, ignoram o trote lento da boiada (povo).
Causa asco, saber que o poder público, vira as costas para os problemas cotidianos e rasgam o Código de Postura do Município (Lei Complementar nº 122/08). Ali reza que “deverá se mantida uma faixa livre na calçada pública de no mínimo 1.50 metros, contados a partir do meio-fio, em direção ao alinhamento predial (artigo 58, § 4º.)”. E, ainda, “quando a calçada apresentar largura incompatível com a manutenção da faixa livre, ficará proibida a colocação de qualquer obstáculo, exceto postes de rede elétrica (artigo 58, § 5º)”. Não bastasse isso, temos ainda, as calçadas construídas em desalinho, em aclive ou declive. Não podemos esquecer as calçadas esburacadas.
É preciso paz para poder seguir. Mas como seguir, sem encontramos cancelas e mata-burros, por todos os lados? E o que é pior, ninguém ouve o clamor de um povo adestrado e obediente e que não contesta as chibatadas daqueles que deveriam proteger os seus direitos. Sinto que seguir a vida, seja simplesmente conhecer a marcha e ir tocando em frente.
Creio que a lei não pode ser uma letra morta. Por isso, estou certo de que ela deve ser cumprida à risca, em que pese à revolta daqueles que buscam vantagens pessoais, em detrimento ao interesse público e coletivo. Aqui não se discute quem está no poder e que, em razão disso, prevarica; mas discute-se apenas o dever de se cumprir a lei. Afinal de contas, diz a Constituição Federal, em seu artigo primeiro, diz: “Todo poder emana do povo e, em seu nome, será exercido”.
O povo deve unir-se em torno de um ideal e da defesa de seus direitos individuais e coletivos. Digo isso, pois, segundo Renato Teixeira (compositor) reafirma: “Cada ser em si, carrega o dom de ser capaz, de ser feliz”.
Peruibe SP, 21 de maio de 2011

MEDO DE AMAR

Quando o amor bater à tua porta,
Pouco te importa se ainda é cedo.
Porque o ímpeto vento do desejo,
Muda teu doce sentimento de rota.

Assim, trôpego, triste, sem vida,
Vai sofrendo sem leme, sem rumo.
Como um barco perdido à deriva,
Longe da alegria, calado e mudo.

Porém, como tudo na vida se renova,
Se provardes o fel que tanto sonha.
Na vergonha de serdes um Casanova,
Busca afago no calmo colo da begônia.

Mas o amor tem lá seus mil segredos
E deles é que o teu coração sobrevive.
E se viveste instante de muito delírio,
É que foste feliz, sem trauma e medo.

Quanto, um dia, chegares ao teu ouvido
Que a pessoa amada partiu de repente;
Verá teu coração perecer lentamente,
Apunhalado pela ingratidão, já sofrido.

Peruibe SP, 16 de maio de 2011