domingo, 30 de janeiro de 2022

SONHOS, NADA MAIS!

 

Adão de Souza Ribeiro

Ah! Se pudesse te amar,

Como eu tanto te desejo.

Seria feliz à luz do luar,

Bem perto lá do lugarejo.

 

Ah! Se não fosse verso,

Que tanto de ti eu sinto.

Conquistava o universo.

E amar, o amor faminto.

 

Ah! Se eu vier a morrer.

De te tocar numa loucura.

Amor, se o dia alvorecer,

Eu peço não acorde, jura!

Peruíbe SP, 30 de janeiro de 2022.

 

 

 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

LIVRO NO PRELO

 

                              Estou em tratativa para o lançamento do livro de crônicas, intitulado “Crônicas da TERRA NATAL e outras prosas”.

                               Pretendo lançá-lo no dia 08 de novembro de 2022, data do aniversário de Guaimbê SP.

                               O valor total da venda será doado ao Fundo Social de Solidariedade de  Guaimbê SP.

                               Divulguem!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

COMO ERA VERDE O MEU VALE

 

Noel de Souza Ribeiro

                        Há muito tempo em um lugar muito bonito, cheio de flores, onde as águas corriam livres pelos riachos, eu vivia feliz, contemplando a natureza verde.

                        Daí chegou a seca. Toda uma felicidade destruída! Como era verde o meu vale! As águas não correm mais, as flores desabrocharam e feneceram.

                           Meu vale se tornou um deserto.

                           Onde estão os passarinhos?

                        Nunca me senti tão triste como hoje. Tentei recuperá-lo molhando com minhas lágrimas. Mas tudo está perdido. E só me resta recordar:

                        Como era verde o meu vale!

Lins SP. 1976. 

P.S.: Homenagem ao meu irmão Noel de Souza Ribeiro, nascido em Guaimbê SP, em 12/02/62 e falecido em Lins SP, em 18/09/21, 

domingo, 16 de janeiro de 2022

VOSSA SANTIDADE

 

Adão de Souza Ribeiro

                        A nossa mente é fértil, tanto para o bem, quanto para o mal. Claro e sem contar, para o humor. Eu creio que esta virtude é só dos brasileiros, pois nunca vi um povo fazer tantas piadas e achar graça de tudo.

                        Até nas tragédias do cotidiano, ele acha um espaço para fazer uma piada e arrancar longas gargalhadas. Diga-se de passagem, um povo sofrido, porém, alegre. Os estrangeiros que aqui aportam, acabam ficando. Isso por conta desse humor que ele tem enraizado nas veias.

                        Outro dia, ao acordar depois de um sono abençoado e tranquilo, fiquei pensando como seria se Vossa Santidade, o Papa, fosse brasileiro e não só isso, se a Santa Sé, ficasse aqui na nossa “Pátria amada, Pátria minha e Mãe Gentil”.

                        Para tornar mais real o sonho, como seria se Roma localizasse na minha Terra Natal e o Papa, um dos meus amigos de infância? O Papa mais palpável e mais humano e não aquele trancafiado num carro de vidro todo blindado, escoltado por soldados da Guarda Suíça Pontifícia, em latim Custodes Helvetici? Uma miragem. 

                        Na eleição daquele que iria postular o novo Papado, ocorreria de tudo aos moldes do sufrágio nacional, isto é, ataques à vida pessoal e social do cardeal/candidato. Iriam buscar nas profundezas do seu puritanismo, alguma mancha e, se não tivesse, arranjariam.

                        Como por exemplo: Lembra-se daquele dia, que ele tomou vinho, sem ser o sangue de Cristo? Dos passarinhos que, na infância, matava com estilingue. Da Claudete, aquela namoradinha dos tempos do grupo escolar? Uma enxurrada de fatos que era de somenos importância e que a partir de então, teriam uma conotação enorme, na vida do Sumo Pontífice.

                        Para mim, antes de tudo, era uma honra enorme, tê-lo como amigo das peraltices infantis lá na nossa Terra Natal. Aquele menino, que nada tinha de diferente dos outros, agora era o Papa, ou seja, o chefe supremo da Santa Igreja Católica. Manoelzinho, o mais briguento da turma, disse que iria pedir um “bico” de sacristão, na Basílica de São Pedro, que ficava perto da Casa da Lavoura.

                        Era nítido no meu sonho, que no dia em que os arcebispos estavam reunidos no Conclave, na Capela Sistina, todos nós da terrinha, ficamos defronte a Basílica esperando a tal da fumacinha. Pedrinho, filho da marafona Lilica, comentou: “Se aparecer uma fumaça branca é que temos um novo Papa e se for preta, é que a escolha está embaçada.”

                        Assim que apareceu uma branca, a folia foi geral. Todos correram para o “Bar do Toshio”, na esquina da Rua Rui Barbosa com a Rua Almirante Barroso, onde rolou cerveja, cachaça, muitos comes e bebes e músicas de todos os gostos. O Papa lá das bandas da Europa, gostava de música clássica, já o nosso gostava de samba e pagode.

                        E quando soubemos que o escolhido fora o meu preclaro amigo Farias, o Pré-Histórico, a coisa debandou de vez. A festa atravessou a noite, sendo que até as beatas e as noviças entraram na gandaia. De um lado, rojões de todos os calibres; do outro, as mulheres mais recatadas, em vigílias religiosas, agradecendo a escolha do novo comandante e pedindo a Deus, sabedoria para que Farias pudesse conduzir o rebanho, principalmente,  o das ovelhinhas desgarradas dele.

                        A partir daquele dia, nasceu em mim, um misto de alegria e de tristeza. Alegria por saber que o sonho de Farias se realizara; tristeza, por saber que não teria mais a companhia do nosso preclaro amigo. Certo é que ele não iria, por força do cargo, participar das farras e não iriamos mais ouvir as suas lorotas, onde ele contava vantagens de fatos não acontecidos. Ele arrotava heroísmo e valorizava as suas milongas.

                        Eu quero que não se esqueçam de que tudo que está sendo narrado, não passa de sonho fruto da mente fértil de quem não tem nada para fazer. A cidade, o Farias, o “Bar do Toshio” e eu, somos reais. Agora a história narrada, a deixa habitar no mundo imaginário de cada leitor assíduo.

                        Quando eu o visse, depois de Farias ser coroado Papa da “Era Moderna”, com imenso júbilo, eu diria aos santos ouvidos de Vossa Santidade: “Agora o nosso Papa é pop!

 

Peruíbe SP, 16 de janeiro de 2022.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

O TORDILHO E A BREJA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        Tem coisas, que só de lembrar dá-me um ataque de riso. Por ser hilário o que aconteceu, merece ser contado e bem contado. Não é redundância afirmar, que o que se pretende narrar, aconteceu lá no meu torrão natal. É fácil perceber, que a minha terra natal sempre foi um celeiro de “causos” para lá de engraçados. Como é um “causo”, o narrador não tem a obrigatoriedade de provar a veracidade. Conta e pronto. Acredita quem quiser.

                        Por ali vivia Benedito da Silva, o “Ditinho”. Na realidade, ele era sitiante no Bairro Bondade. Cidadão bem-apessoado, cabelo estilo Elvis Presley, devidamente aparado na “Barbearia do Silveira”. A roupa, por sua vez, escolhida a dedo, à moda texana, isto é, Cowboy do Texas – EUA dava-lhe um ar de braveza. Gostava de conversar e, por sinal, falava muito bem. Embora fosse caipira, tinha um verbete invejável.

                        Ditinho tinha um amigo inseparável, o qual, assim como ele, esbanjava charme e simpatia. O amigo atendia pelo nome de “My Love”, tratando-se de um cavalo tordilho manga larga. De cor acinzentada, calda e crina, bem cuidadas, que causava um frenesi entre as éguas do sitio de Ditinho, chamado “Luar do Sertão”, bem como, as da redondeza. Seu dono recebera altas propostas para vendê-lo, porém, todas recusadas. Dizia ele: “Não vendo por nada deste mundo. Amigo fiel como ele, não existe em toda querência.

                        Certo dia, numa tarde de sábado, muito ensolarada, saindo do sítio e ao chegar à cidade, Ditinho parou no “Bar da Cebolinha”, assim era chamada Esmeralda, a proprietária. Defronte o bar havia uns troncos para amarrar os equinos, conhecidos como “pau de amarrar égua”. Ditinho, de descendência gaúcha, apeou do “My Love” e, como de costume, amarrou-o ali.

                        Já dentro do bar foi logo pedindo uma cerveja gelada, breja  para os botequeiros inveterados. Conversa vai e conversa vem, a hora foi passando. Debaixo de um sol escaldante de verão, o “My Love” suava mais que sovaco de aleijado. Ao ver o sofrimento do amigo fiel, Ditinho pediu ao balconista que servisse uma garrafa de breja gelada ao tordilho manga larga. Nem é preciso dizer todos ali, ficaram atônitos.

                        Lagartixa, o balconista magricelo, ironizou, dizendo: “Se o ‘My Love' beber eu danço na boquinha da garrafa”. Portanto, recusou-se em servir o animal, que suava por todos os poros, naquele sol escaldante, preso no “pau de amarrar égua.” Aquilo soou como uma afronta ao Ditinho e ele completou de forma ríspida: “Se você não vai até ele, ‘My Love’ vem até aqui”.

                        Para isso, bastou um assovio. O animal, como num toque de mágica, se desfez da corda que o prendia no “pau de amarrar égua” e, após dar uma gostosa relinchada, foi adentrando ao “Bar da Cebolinha”. De imediato, o dono apanhou outro copo e logo foi servindo o amigo fiel. Todos os incrédulos ficaram boquiabertos com aquela cena dantesca.

                        Depois de consumirem, isto é, Ditinho e “My Love”, umas quatro garrafas de breja gelada, o tordilho manga larga deu uma piscada e aproximou o beiço encostando ao ouvido do seu dono querido. Como que traduzindo a conversa, Ditinho disse para Lagartixa, o balconista magricelo: “Ele está perguntando se tem algum tira gosto (petisco) para comer, junto com cerveja?” Então, como num só coro, a gargalhada foi geral. Até tomar cerveja, tudo bem; mas pedir um tira gosto, aí é demais.

                        Não tardou e a estória correu de boca em boca e empesteando a cidade. Lugar pequeno sabe como é. Quiseram chamar a mídia (imprensa). Mas como Ditinho e “My Love” tinham ojeriza a holofotes e ao estrelato, a ideia foi descartada. Para isso, bastava a Rádio Peão (fofoqueiros), cujo slogan era: “Rádio Peão – Aquela que não deixa você na mão”.

                        Aquele acontecimento folclórico e pitoresco ficou tão enraizado na memória dos meus conterrâneos, que resolveram mudar o nome do “Bar da Cebolinha” para o “Bar do Tordilho”. E então, "Bar do Tordilho" se chamou.

                        Outra hora, se assim Deus me permitir, contarei mais peripécias de “My Love”, o tordilho manga larga.

                        Até mais ver. Inté!

 

Peruíbe SP,12 de janeiro de 2022.

domingo, 9 de janeiro de 2022

SE EU MORRER

 

Adão de Souza Ribeiro

Se eu morrer bem de madrugada,

Isso antes do romper da alvorada.

Durante uma noite fria de inverno,

Traga-me o calor do amor materno.

 

Se eu morrer lá bem no pôr do sol,

E contemplar no céu lindo arrebol.

Diga que vou morar lá no infinito,

Sei. Reina paz a alma e ao espírito.

 

Se eu morrer de amor de infância,

Que dele só restou doce fragrância.

Diga ao mundo inteiro e sem medo

Que vou em paz. Levo este segredo.

 

Se eu morrer de tanto amor e tédio,

Peça um chá caseiro, santo remédio.

Preciso viver e escrever mais poesia

Mudo de prosa. Chega de melancolia!

 

Peruíbe SP, 09 de janeiro de 2022.

 

sábado, 1 de janeiro de 2022

A VELHA GUARDA

Adão de Souza Ribeiro

                   Se tem uma coisa que devemos preservar é a história, quer seja pessoal, de um lugar ou de fatos ocorridos no passado. Conta à lenda, isso desde os primórdios tempos, que um povo que não cultua a sua memória, está desgraçadamente fadado ao esquecimento.

                        Quando, por exemplo, guardamos fotos ou objetos (relíquias) da família, não somos só saudosistas, mas, acima de tudo, respeitadores daquilo que nos forjou ao longo da vida. Entristece ao ver, quando em nome do progresso, derrubam casas centenárias para cederem lugar a arranha-céus. Quem ignora o passado, não merece respeito.

                        E foi com esse espírito, que um grupo de amigos, irmanados pela saudade dos tempos idos, reuniram-se na Galeria de Fotos, lá na minha Terra Natal. Enéias – o anfitrião - encarregou-se da organização e dos preparativos.  Com amor e maestria, que lhe é peculiar, agraciou-nos com os comes e bebes. Diga-se de passagem: deliciosos!

                        Aos poucos, foram chegando os convivas. Apertos de mãos, abraços, regados com sorrisos nos rostos, estampava a felicidade pelo reencontro. Na maioria deles, já todos sessentões, denunciados pelos cabelos brancos e disfarçadas rugas, voltavam a serem crianças, ou melhor, recordavam dos tempos de crianças, correndo pelas ruas descalças do lugarejo.

                        Lá no interior da Galeria, fotos fixadas e estampadas em painéis, contavam o que aconteceu ano a ano, com a terra amada. À medida que chegavam mais amigos, os tímidos, juntos com os demais, passaram a narrar fatos reais e pitorescos, ocorridos ali naquele pedaço de chão sagrado. Não é redundância dizer que a felicidade tomou conta de todos.

                        Um dos presentes fez-me lembrar do amor platônico. Eu gentilmente desconversei e não declinei o nome. Não quis causar constrangimento a ela, embora não estivesse presente. São coisas da infância e que só existe no meu mundo imaginário e lá deve permanecer para sempre. Se me inspirar novas poesias, está de bom tamanho, concorda?

                        Foi assim que eu, por ter deixado a Terra Natal, há mais de cinco décadas, tomei conhecimento de que muitos conterrâneos queridos partiram antes do combinado. Antes de me aportar ali, estive com a Excelentíssima Senhora Márcia Helena Pereira Cabral Achiles, Prefeita Municipal, a qual me recebeu com muito carinho, o que me deixou lisonjeado.

                        Aqui deixo registrado o nome dos presentes: Enéias da Silva (Néia), Norival dos Anjos (Noca), Fritz Loosli Junior (Piti), Martin Loosli, Mário Pereira (Marinho), Olga Pereira (Orguinha), Jovair Achiles (Jô), Douglas Nogueira da Silva, Roberto Vitório de Lima (Ticão), José de Matos (Zé Largarto), João, Sueleni Tucura, Marcos Antônio Ansanello, Maria Helena Achiles (Leninha), Agnaldo Gramostin, Cássia Gramostin, Diego Esteves, Luiz Carlos de Souza Ribeiro e eu, claro! Ao declinar os nomes, não os fiz por acaso, mas, sim, para ficar registrado à posteridade.

                        As casas comerciais, da Rua Duque de Caxias, que há muito anos cerraram suas portas, sepultando o glamour que ali existia, fixavam os olhares em nós, como querendo saber o que estava acontecendo. Até parece que, como nós, queriam matar a saudade das pessoas, as quais partiram em revoada, em busca de aventuras, em terras alheias. Elas - as casas - choravam em silêncio, pelo triste abandono sofrido.

                         "Mas ela sabe que depois que cresce/ O filho vira passarinho e quer voar.", da música: No dia em que saí de casa, de Zezé Di Camargo e Luciano. Deixar a velha casa (Guaimbê SP), rumo ao desconhecido, doeu demais. A dor maior foi a saudade remoendo nosso sentimento e a distância de um povo, que só sabia amar. 

                        As longas dez horas de viagem e a expectativa da chegada a Guaimbê SP, minha Terra Natal, foram compensadas pelo acolhimento carinhoso, daquele povo que tanto amo. Eu sei que há uma infinidade de guaimbeenses mundo afora, os quais eu gostaria de revê-los, mas não faltarão oportunidades.

                        Piti, meu parceiro de carteiras duplas, quando estudávamos o primário, no Grupo Escolar “José Belmiro Rocha” – 1967 a 1971, e o Noca, estavam lá. Eu esforcei-me e driblei a emoção para não chorar. Como diz minha mãe, já octogenária: “Filho, você é uma manteiga derretida. Chora à toa”.

                        Cada um dava sua contribuição, ora recordando das traquinagens de infância, ora lembrando de casas que não existem mais. Alguém, no meio da conversa, contou o causo de um caipira que entrou num bar, com cavalo e tudo. Eu prometo que vou procurar saber melhor sobre o acontecido, para poder ipsis litteris, reproduzir a história.

                        Um encontro que começou ao entardecer ganhou noite adentro e, por isso, nem percebemos a hora passar. Nem mesmo a doença com a qual fui acometido, privou-me o direito e o prazer de estar lá na Terra Natal. Permita-me dizer: “Eventos como aquele, deveriam ocorrer todos os anos”. Assim a imortalidade daquele lugar sacrossanto, não se prenderia apenas às narrativas deste contador de causos.

                        O que envelhece são nossos corpos carcomidos pelo tempo impiedoso e não nossas doces e eternas memórias e assim ouso afirmar que: “Nós somos os eternos jovens da VELHA GUARDA!”.

 

Peruíbe SP, 31 de dezembro de 2021.