Ando
perambulando pelas províncias e como súdito, tenho observado que há algo de
podre no Reino Caiçara. Preocupa-me muito saber, que as pessoas nada sabem e
nada entendem, sobre o que acontece pelos corredores palacianos. A elas são negadas
as informações e quando chegam aos seus ouvidos, carecem de transparência. A
ignorância intelectual do povo, não pode ser prerrogativa para os desmandos dos
que estão no poder e, muito menos, cumplicidade daquela que reina.
A rainha, hipnotizada pelas falsas
reverências de seus bajuladores, finge desconhecer a angustia e a decepção de
seu povo. Esconde-se atrás a tecnologia, para divulgar pífias realizações de um
governo inerte e corrupto. Os ministros engordam suas burras, em detrimento da
miséria de uma nação carente de educação, saúde, segurança, moradia, dentre
tantas necessidades urgentes. A Câmara dos Comuns, cuja missão seria ver a dor
do povo, se locupleta das migalhas que o trono a agracia.
Não há transparência nos atos do
governo e, por isso, o reino vai cambaleando das pernas. Deus sabe até quando
sobreviverá. Creio que tudo dependerá da postura de Vossa Majestade, pois
enquanto ela estiver embriagada pelo poder e pelo assédio de seus bajuladores,
nada mudará no reino. Nesta celeuma dos desmandos palacianos, quem irá ser
sacrificado como um animal obediente e indefeso: é o povo.
Há um velho ditado que diz: “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”.
Quem me dera, se a rainha tivesse pelo menos um olho, para enxergar o que
acontece debaixo do seu nariz! Enquanto ela divaga no seu trono, abusando das
regalias que o poder concede, o povo grita por algo novo e que o faça feliz.
Mas se os ouvidos da rainha, de seus ministros e de seus asseclas, estão
bloqueados pela ganância, pouco resta ao povo, senão esperar a derrocada
daqueles que pensam ser eternos.
Por uns dias, de norte a sul e de
leste a oeste, correu uma notícia preocupante, quanto à saúde reino, representado
pela soberana. Eu não podia acreditar que fosse verdade. Embora não nutrisse
por ela, certa admiração, longe ia o desejo de que aquilo fosse verdade.
Procurei saber de pessoas próximas, bem como, dos fabricantes de boatos, sobre
a veracidade do que corria de boca em boca. Todos aqueles com quem conversei,
foram discretos ou evasivos. Havia no semblante dos vassalos e das pessoas
ligadas ao trono, um ar de preocupação; uns por medo de perder Vossa Majestade,
outros, por perder a teta do poder e do luxo.
Certa manhã, um pombo-correio,
daqueles cotós de uma asa, trouxe-me a triste notícia de que a rainha iria
abdicar do trono. Em seu lugar, segundo a rádio peão (aquela que não deixa você
na mão), quem assumiria a vacância do trono, seria o Vice-Rei. É do
conhecimento de todos, que ele goza de uma grande simpatia. Mas a pergunta que
não queria calar era: “Teria ele coragem de
assumir tamanho abacaxi? Aceitaria colocar em jogo, o prestigio que adquiriu ao
longo da vida, para salvar um reino doente e em fase terminal?”. Com aquela
notícia, houve oscilação no pregão da bolsa de valor do reino e além-mar.
Do que adoece o reino e qual é o
santo remédio para curar tamanha doença? Não precisamos de sábios e nem de
curandeiros, para recuperarmos as energias do reino e estancar a ferida que
corrói o seu futuro. Basta que o povo, um leão adormecido, acorde em defesa do bem comum. Que
se inteire do que acontece nos bastidores do poder e, uma vez que se percebe
alguma falcatrua, expurgue aqueles que se locupletam. Permanecer calado diante
do que se sabe, é ser cumplice do que acontece. Não podemos esquecer que todo
poder emana do povo e em seu nome será exercido.
Se o reino adoeceu é porque, ao
invés de eliminar a doença, preferiu administrá-la.