sexta-feira, 26 de abril de 2024

O DESATINO

 

Adão de Souza Ribeiro

Perdoa-me, minha amada

Se eu lhe desejei um dia.

Foi o momento de agonia,

De uma triste madrugada.

 

Estava só e sem ninguém,                            

Desejava o calor feminino

Meu coração em desatino

Eu acho que não convém.

 

Mulher, de mim não caçoa

Se aqui de tristeza eu choro

Sou como o pássaro canoro

Que sai a vagar por aí à toa.

 

Querer jamais foi um erro

Beijá-la é desejo da carne.

Sou escravo deste charme

Vê que eu não sou de ferro.

 

Eu a desejo desde pequena

Da cidade bela da infância

O tempo se vai à distância

Não maltrata esse mecenas.

 

Peruíbe SP, 26 de abril de 2024.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

SEU NINHO

 

Adão de Souza Ribeiro

Você veio de mansinho,

Sem ao menos me avisar.

Fez do coração um ninho

Abrigou na noite de luar.

 

Disse queria aconchego,

Um corpo para aquecer.

E que partiria bem cedo

Antes do dia alvorecer.

 

Senti que estava carente

E precisava de proteção

Vi as lágrimas torrentes

Banharem seu coração.

 

Apertei nos meus braços

Cantei canções de ninar.

Fiz do leito o seu regaço

Onde ali pudesse sonhar.

 

De repente lá veio o dia

Você ficou bem quieta,

Tornou a minha alegria

Felicidade é completa!!

 

Peruíbe SP, 25 de abril de 2024.

 

 

terça-feira, 23 de abril de 2024

A NOITE INESQUECÍVEL

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                              Aquela noite era para ser como todas as outras, mas não foi. Algo surpreendente iria acontecer, que quebraria as regras e comoveria a todos e, em especial, ao jovem Marcelo.  Ele não estava preparado para tamanha surpresa. Certo é que sua vida cotidiana mudaria para sempre. Até hoje, ele lembra daquela noite tão marcante na sua história.

                        Quando a coisa tem que  acontecer, o mundo inteiro conspira em seu favor. A cena se passou no baile, que ocorreu na Fazenda Sabiá. Poderia ter sido em outro lugar, mas foi ali. Engraçado que, a princípio, recusara o convite dos amigos para participar. Mas diante de tanta insistência, acabou aceitando.

                        Todos finais de semana, a sede da fazenda se vestia de alegria. O barracão era decorado; o bar abastecido de diversas bebidas; o palco organizado com uma banda, composta por músicos da redondeza, onde, variados ritmos de música eram executados. O baile iniciava às 22:00 horas do sábado e se estendia até altas horas da madrugada do domingo.

                        Ali se reunia os jovens da Terrinha e das cidades vizinhas, bem como, de outros sítios e fazendas. Naquele tempo, os frequentadores não portavam armas de fogo ou brancas. Na realidade, quando surgia uma confusão em razão da bebedeira, a turma do deixa disso, resolvia a contenda e a alegria continuava em paz.

                        As damas vestiam a melhor roupa, faziam um peteado maravilhoso e caprichavam na maquiagem e no perfume. Alguns cavalheiros vestiam calça boca de sino; calçavam botas; colocavam chapéu aba larga e cinturão de cowboy. Eles chegavam ali a cavalo, charrete ou em carroceria de caminhão. Para eles, tudo era alegria e descontração.

                        Durante o baile, regado com muita música, bebida e dança, os varões procuravam fisgar uma fêmea, com um olhar ou uma conversa sedutora. A princípio, elas se faziam de difícil, para valorizar o passe. Mas quando a química batia, a noite ganhava o ritmo diferente. As fêmeas usavam todo charme e com jeito sedutor, procuravam atrair os machos, com o hormônio à flor da pele.

                        De repente, por força do destino, Marcelo notou que uma mocinha muito tímida, estava no canto do salão. Ele a fitou com olhar sedutor e ela, bem discreta, correspondeu ao olhar. O varão percebeu que ela se diferenciava das demais. A mocinha tinha uma beleza tão pura, que o atraiu no primeiro olhar. Ainda bem que nenhum gavião a tinha notado.

                        Ele se aproximou daquela beldade e confabulou uma conversa. Ela disse chamar-se Mariana e foi convidada para dançar. Enquanto bailavam, foram se conhecendo. Marcelo sentiu aquele corpo sensual nos seus braços. Ao término da música, sentaram-se à mesa, onde, enquanto degustavam a bebida, trocaram telefones e marcaram um encontro para o decorrer da semana. Ela morava naquela fazenda, onde seu pai era administrador.

                        Outros encontros sucederam e evoluíram para namoro, noivado e casamento. Hoje, passados tanto tempo, o casal recorda-se daquela noite inesquecível, onde um olhar descontraído deu início a tudo e, em especial, o amor. Mariana continua tímida, humilde e bela. “Bendita seja aquela hora, que aceitei o convite de ir ao baile!”, Marcelo saudoso pensou. O destino, se assim pode ser chamado, havia preparado Mariana para ser esposa e mãe dos seus filhos.

                        Quando ela quer, ninguém segura. Ninguém segura essa mulher, quando ela quer.” – da música Quando ela quer, da dupla sertaneja Gino e Geno. O que ora se narra, demonstra que a música estava com razão. Quando há sintonia entre dois corações e a química mexe com os hormônios, o destino se encarrega do resto. 

                        Toda vez que se lembra dos bailes na fazenda, Marcelo reporta à Terrinha, onde a vida preparou os melhores momentos. Ouça o que o coração diz e não recusa a voz do destino!

                        E o coração dançou!

 

Peruíbe SP, 23 de abril de 2024.

domingo, 21 de abril de 2024

SONHAR CONTIGO

 

Adão de Souza Ribeiro

No meu sonho tu brincas

Passeias na imaginação.

Ainda pensas no coração

O jovem antes dos trinta?

 

 Acordo feliz de manhã,

Por estar comigo a noite.

Teu rosto veste de louçã.

Teu olhar é como açoite.

 

Me embriago diante de ti.

E perco a noção do tempo.

Eu sinto calor e um frenesi

Noite vai, nem me lembro.

 

É tão bom sonhar contigo,

Vejo que a noite não passa

No teu corpo busco abrigo

Pois a vida tem mais graça.

 

Venhas me visitar sempre                            

Nos meus sonhos divinais

Com teu corpo tão quente,

Oh, não me deixes jamais!

 

Peruíbe SP, 21 de abril de 2024.

 

sábado, 20 de abril de 2024

A VISITA ILUSTE

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Aquela manhã começara diferente das outras na sagrada Terrinha. O caminhar tranquilo das pessoas e a natureza bucólica, deram lugar a uma agitação, que nunca se viu igual. O espaço aéreo fora fechado e nas entradas da cidade, haviam fortes barreiras, formadas pela tropa de soldados das Forças Armadas. “ Meu Deus, o que houve? Será que vão invadir este lugar sacrossanto? ”, pensou o pobre Hermenegildo.

                        E foi então que, num repente, ele se lembrou que o Presidente da República era filho do lugarejo. Por motivo de segurança, a visita foi surpresa e não houve os preparativos e as varreduras de praxe, feitas pelo Serviço de Secreto e de Inteligência. Eduardo, o mandatário da Nação, determinou que a estadia deveria ser a mais discreta possível, isto é, sem alarde e divulgação pela imprensa.

                        Eduardo estava cansado das obrigações palacianas e das pressões políticas, que o cargo tanto exige. Embora tivesse todas as regalias, isto é, o luxo palaciano, carros blindados e aviões, jantares suntuosos, ele sentia falta da simplicidade do seu povo, principalmente, da sinceridade dos amigos de infância. O Lago Paranoá, jamais substituirá a “Lago do Hermininho”.

                        Naquele dia, nenhum estranho transitava pelas ruas, somente os moradores e amigos de Eduardo. Seu Serafim, fazendeiro abastado, preparou um churrasco, regado com cerveja e muita fartura. Um grupo de violeiros, brindou o encontro com música sertaneja, do gosto do visitante. Ele, o Eduardo, de um jeito descontraído, conversava e ria muito, com as piadas dos amigos.

                        Depois da calorosa recepção, na chácara de Serafim, o Presidente caminhou pelas ruas, onde, na infância, vivenciou os melhores momentos da vida. Ele foi no “Bar do Toshio”, na “Quitanda do Josias”, no grupo escolar, no ginásio estadual, no velho matadouro, na Igreja Matriz e em tantos outros lugares. Ao passar defronte a casa, onde nasceu e morou, ficou emocionado.

                        Ao encontrar com velhos amigos, recordou-se de histórias que, até hoje, estão guardadas no coração. Enquanto caminhava, as pessoas o tratava naturalmente como filho da terra e não com o puxa-saquismo em razão do cargo. Os políticos do lugarejo, inimigos entre si, em razão da agremiação partidária, dispensaram as rivalidades e se estribaram no comportamento de Eduardo.

                        Ele passou a primeira noite na casa do tio, que morava perto do ginásio. O quarteirão, onde localizava a casa, estava cercado pelo corpo de segurança. Embora ele houvesse dispensado tamanha mordomia, aquilo fazia parte do protocolo presidencial. O alcaide orientou os assessores, que não abordassem o visitante com assuntos políticos, como, por exemplo, solicitando verbas de benfeitorias para a cidade.

                        Lá na Capital Federal, quiseram saber do paradeiro de Eduardo, porém, Carlos – o Vice-Presidente, encarregou-se de manter sigilo da viagem do titular. No dia seguinte, ainda na Terrinha, ele reuniu-se com quatro velhos amigos de infância e foi pescar no Rio Feio. Tudo aquilo era uma higiene mental, isto é, ficar longe daqueles que só o procuravam para satisfazer os interesses pessoais. Coisas de político e empresário mal caráter.

                        A cidade sentia-se feliz em ser o berço daquele filho ilustre. Foi ali que ele moldou o caráter de homem honesto; sincero; de moral, ética e bons costumes. Com aqueles princípios, ensinados pelos pais, professores e cidadãos exemplares, estava conduzindo com altivez os destinos da Nação e servindo de exemplo ao mundo. Seu perfil lembrava Robispierre, ”o incorruptível”, de nome Maximilien François Marie Isidore de Robispierre (França 1758 a 1794).

                         Na Terrinha foi que aprendeu defender a fauna e a flora, respeitar e cuidar dos idosos, bem como, das crianças. Há tempos que não visitava a terra natal e não revia velhos amigos. Ele deixou a cidade, em busca de tempos melhores, mas a cidade nunca o deixou. Sempre que se referia ao lugar e as pessoas, fazia com orgulho. Quando deixasse o cargo, voltaria aos braços das pessoas amadas.

                        Ao término da estadia, embarcou no helicóptero oficial, que estava taxiado no campo de futebol. Por muito tempo, as pessoas vão se lembrar daqueles dias memoráveis.

                        Um dia, vão lembrar do conterrâneo, que voou alto, mas jamais perdeu a humildade!

 

Peruíbe SP, 20 de abril de 2024.

 

a

sexta-feira, 19 de abril de 2024

DEUSA AFRODITE

 

Adão de Souza Ribeiro

Tu és uma deusa grega,

De todas és a mais pura

Bailar como borboleta,

Só me faz ir a loucura.

 

Amar é um doce mito,

Que o coração se ilude

Ele sofre e no seu grito

No sofrimento tão rude.

 

Tu és a deusa sertaneja

Que habitas na mente.

E que o coração deseja

Neste desejo inocente.

 

Tu és a deusa Afrodite

Mulher mais completa.

Quem foi que te disse,

Que não é a predileta?

 

Mulher tu és a ilusão,

Reina dentro de mim.

Alegra meu coração,

A felicidade sem fim.

 

Peruíbe SP, 19 de abril de 2024.

quarta-feira, 17 de abril de 2024

A CINDERELA

 

Adão de Souza Ribeiro

Mulher não havia mais bela

Lá na banda do meu sertão.

Fitava os lindos olhos dela,

Como quem vê a imensidão.

 

Sou simples e sou caipira,

Mas de beleza eu entendo.

Tempo passa o mundo gira

O amor me serve de alento.

 

É cinderela aquela menina,

E só ela sabe me fazer feliz.

Quando choro só ela anima

Diante dela sou só aprendiz.

 

Mulher, o corpo de violino

E que deseja o meu abraço.

Ela sabe conduzir o destino

O amor me perco, me acho.

 

Mas quando a amada quer,

No mundo, ninguém segura

E o querer daquela mulher,

Embriaga com sua ternura.

 

Peruíbe SP, 17 de abril de 2024.

 

 

terça-feira, 16 de abril de 2024

O MISÓGENO

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Eu não sou misógino, longe disso. ”, pensou o menino Godofredo.

                        Já desde menino, o Godofredo se preocupava com a história de que um dia, as mulheres dominariam o mundo. Dominar como? Na mente infantil e sem maldade, aprendeu com os pais e com o padre Antônio, que Deus criou a mulher da costela do homem, para ser sua companheira e não inimiga. Está lá na Sagrada Escritura. Por que mudar o que foi escrito e determinado pelo Criador?

                        Lá na Terrinha, as meninas se vestiam de fêmeas e desfilavam garbosas pelas ruas do lugarejo. Os meninos, por sua vez, cumprindo os desígnios de Deus e a força da natureza, faziam lindos galanteios e elas sentiam-se felizes em serem desejadas. As mães, com cuidado e carinho, ensinavam as meninas o sagrado destino de serem esposas e mães. E assim, aos poucos, elas moldavam a personalidade de serem mulheres e fêmeas.

                        Ao brincarem de casinha e com boneca, elas ensaiavam o cuidado que teriam nos lares futuros. Já os meninos, aprendiam o valor do trabalho, para levar o sustento da família e o devido respeito com as amiguinhas de infância. Godofredo, perdido em saudosos pensamentos, lembrava de tudo aquilo. Naquele tempo, não havia televisão para contaminar a mente e o comportamento das pessoas humildes.

                        A diversão dos homens era jogar futebol, baralho, participar de roda de viola e jogar conversa fora, nos botecos do lugarejo. Já as mulheres, era discorrer sobre as traquinagens dos filhos, trocar receitas de quitutes na cozinha e falar das sirigaitas. Portanto, vê-se que ninguém se preocupava em desafiar o sexo oposto. Crê-se que, por aquilo, todos viviam felizes. Vendo o comportamento dos adultos, as crianças preocupavam apenas em serem felizes.

                        No domingo à noite, no jardim da praça da igreja matriz, as moçoilas esbanjavam charme, a fim de atraírem os olhares dos rapazes. O romantismo imperava e o galanteio mostrava o tom do jogo da conquista. As flores do jardim, cuidadas pelo zeloso jardineiro “Caga-Sebo”, bailavam ao sabor do vento. De vez em quando, o rapaz atrevido, dava um selinho (beijo) na sua pretendente. E ela, toda tímida, esboçava um leve sorriso, correspondendo ao ato do rapaz.

                        Até hoje, o menino Godofredo lembra do seu amor platônico. A menina da sua infância, insiste em visitar a memória e apertar o coração. Aquele rosto angelical e o olhar sedutor, trazem doces lembranças do passado, onde tudo era de uma simplicidade e ternura estonteantes. Por ter vivido num tempo em que a mulher era apenas mulher, o amor platônico exerceu influência sobre o menino.

                        Ao navegar em conjecturas, Godofredo teme a extinção do relacionamento entre homem e mulher. Já há muito tempo, que o sexo masculino foge do sexo oposto. O homem moderno teme a mulher, porque não sabe a maldade que ela traz na mente e no coração, capitaneada pela modernidade e conduzida pela mídia castradora. A saudável convivência infantil com as amiguinhas da Terrinha, já se vai ao longe.  

                        Há um esforço enorme de Godofredo para continuar se relacionando e desejando a mulher dos seus sonhos e de sua vida. É de bom alvitre que se diga que o menino da Terrinha não é um misógino. Ele tem medo de entrar em barco furado. A mulher moderna e futurista, perdeu o charme, o glamour e a feminilidade. Expõe o corpo, para, depois, acusar o macho de assédio sexual. “ Cautela e caldo de galinha, não faz mal a ninguém. ”, diziam seus velhos pais.

                        Enquanto elas buscam a falsa liberdade e o falso empodeiramento, o homem se enclausura na eterna missão de conduzir o Universo rumo ao que foi traçado por Deus, isto é, cuidar do planeta e da prole. “ Nenhuma criatura é ou jamais será autossuficiente! ”, disse o Criador de todas as coisas sobre a terra.

                        Portanto, em que pese a luta desumana entre macho e fêmea, a misoginia não é abençoada pelo Rei do Universo. Deus me livre!

 

Peruíbe SP, 16 de abril de 2024.

 

 

 

 

 

sábado, 13 de abril de 2024

A CAMINHO DA ESCOLA

 

Adão de Souza Ribeiro

Você a caminho da escola,

Caderno, lápis e a borracha

Eu ansioso, não via a hora,

De vê-la desfilar com graça.

 

Seu andar, cheio de charme

Seu olhar sedutor me atraia

O meu coração sem alarde,

Sonhava em beijá-la um dia.

 

O seu cabelo solto ao vento

A brisa beija seu lindo rosto

Hoje vivo a ilusão do tempo

Do seu cheiro, sinto o gosto.

 

No recreio e com as amigas

Via correr para lá e para cá.

E com muito frio na barriga

Eu louco para em você tocar.

 

Sabe, até hoje eu ainda vejo

Você caminhando sozinha.

No passo cheio de gracejo,

A menina que era só minha!

 

Peruíbe SP, 13 de maio de 2024.

 

 

quinta-feira, 11 de abril de 2024

MINHA DEUSA

 

Adão de Souza Ribeiro

Eu te amo, minha deusa,

Penso em ti todo tempo

Hipnotizo com a beleza,

Do seu cabelo ao vento.

 

Tu dominas meu olhar,

Como quem sem pudor.

Arrasta o corpo ao mar

E me devora com ardor.

 

Tu como a deusa grega

Traz no corpo mistério,

Teu desejo foge à regra

Só tu me tiras do sério.

 

Neste corpo de ninfeta,

Aguça o sonho infantil.

Torna-me louco, poeta

E o verso rola pelo rio.

 

Deusa, vem me abraça

E me dá este teu afago.

Antes que a noite passa

Sinta o calor que trago.

 

Deusa, amo sou louco

De amar perco o juízo.

E grito até ficar rouco,

De ti, só o que preciso.

 

Peruíbe SP, 11 de abril de 2024.

 

 

                                                

terça-feira, 9 de abril de 2024

O ASSASSINATO DE VAVÁ

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Já passava das dezesseis horas, quando uma tragédia assolou a sagrada Terrinha. Como pode um lugar tão pacato e acolhedor, ser palco de tamanho infortúnio? A cidade dormia e acordava com a paz de sempre e a mesmice do dia-a-dia, dava o ritmo aos conterrâneos, que não queriam mudar o andar da carruagem.

                        O comércio abria a porta e ficava horas e horas esperando o escasso freguês; a rua descalça caminhava lenta, de uma esquina a outra, sem pressa de chegar; o ébrio cambaleava para lá e para cá, sob o efeito dos goles de cachaça; o vento assoviava a canção da natureza; o menino dirigia-se à venda, a fim de comprar manjubinha para o almoço, a mando da mãe. Assim era o cotidiano do lugarejo.

                        Manoel Clemente dos Santos, o “Manézinho, que passava o dia inteiro brincando na rua, foi testemunha do estampido, vindo do interior da caminhoneta Pickup F-75 Willys 1967. Ele não deu importância para a cena, que aconteceu na Rua Rui Barbosa, defronte o número 118, pois era apenas um menino. Passado um tempo do ocorrido, começou o corre-corre. “Meu Deus, mataram o Vavá!

                        Valdecir José da Silva, o “Vavá”, era um rapaz bem quisto por todos. Trabalhava de pedreiro, gostava de jogar sinuca e de pescaria. Todos sabiam que era homem respeitador e tinha o coração do tamanho do mundo. No boteco era bom de prosa e pagava dose de bebida a todos os presentes. Vavá tinha um timbre de voz afinada e cantava música sertaneja, como ninguém, por isso, era muito solicitado nas rodas de violeiros.

                        Logo depois do tiro fatal, acharam o corpo no meio do cafezal, perto do grupo escolar. Notou-se um tiro no lado direito da cabeça, que o vitimou. A cidade vestiu-se de luto e o “Bar do Iwai” se entristeceu. Armelinda, a merendeira do grupo escolar, vivia arrastando as asas para o lado dele. A pergunta comum entre todos, era: “Mas por que mataram Vavá? Um homem tão bom e amigo de todos?”.

                        As especulações eram de praxe. Seria por causa de dívida, de cachaça, de jogo ou de mulher? Num lugar pequeno, como a Terrinha, todos se conheciam e nada se sabia que o desabonasse. A Delegacia de Polícia que vivia vazia e os policiais sem ter o que fazer, tiveram que debruçar sobre o fato e esclarecer o motivo e a autoria.

                        Por longos e longos dias, não se falava em outra coisa, a não ser o assassinato do coitado do “Vavá”. O alcaide exigiu da polícia, total empenho na elucidação do crime, pois, segundo ele, a Terrinha não era um lugar sem lei. No local onde sucedeu o tiro, isso é, na Rua Rui Barbosa, foram depositadas flores e as beatas juramentadas, organizaram uma linda procissão em louvor ao de cujus.

                        A família do falecido, deu poucas informações aos investigadores, pois, apesar de ser muito querido e extrovertido, ele também era muito reservado na vida pessoal. No trabalho de formiguinha, os policiais levantaram a vida pregressa do rapaz, isto é, dívidas, amizades e possíveis desafetos. Tudo mantido em sigilo, para não contaminar as investigações.

                        “Manézinho”, a testemunha do tiro, afirmou que o barulho foi dentro de uma caminhoneta, de cor azul claro, com amassado na porta direita. Minutos antes do ocorrido, Vavá” tomava cachaça no “Bar do Iwai”, em companhia de amigos e de dois estranhos. Embora não houvesse briga ou discussão, descobriu-se que os estranhos, eram funcionários de uma empresa, que instalava a rede de energia no município.

                        Uma vez identificados os suspeitos, descobriu-se que, um ano atrás, ’Vavá” teve desentendimento com eles, na “Casa das Primas”, localizada na Rua das Mágoas, por causa de cerveja. Ele mal sabia, que ali estava traçado seu destino. Como ele tinha o coração propenso à bondade, achava que todo mundo era bom.

                        De lá para cá, Pedro, o “Preá” e Francisco, o “Pitbull”, foram conquistando aos poucos, a amizade de “Vavá”. Um plano sórdido, que resultou na tragédia ora narrada. O rapaz humilde e sem maldade, nada desconfiou. Porém, uma vez identificados os autores, foram capturados e presos.

                        Temendo um linchamento por parte da população revoltada, a polícia levou os criminosos para cadeia da cidade vizinha. Depois daquele horrendo episódio, o delegado de polícia resolveu cuidar mais da cidade, identificando forasteiros recém-chegados.

                        Até hoje, as pessoas não se conformam com a morte trágica de Valdecir José da Silva. De vez em quando, Armelinda ainda tem uma crise de choro, por causa da partida repentina e trágica de “Vavá”. Descanse em paz, saudoso “Vavá”. Amém!

 

Peruíbe SP, 09 de abril de 2024.

 

                         

domingo, 7 de abril de 2024

O FINGIMENTO

 

Adão de Souza Ribeiro

Quero esconder dentro de mim

Eu estou cansado de tanto fingir

Não sou perfeito nem querubim

Quero tocar a alma feito o elixir.

 

Mas a fuga danada faz muito mal,

E fingir o que não sou, me tortura.

Sou ser humano e não um animal.

Não sei viver de promessa e jura.

 

Eu quero libertar o corpo e a alma

Aprisionar o coração eu não devo.                                                            

Mas viver dentro de mim acalma,

Para o mundo, não revelo segredo.

 

Dentro de mim, haverá a muralha

A proteger deste mundo perverso.

Pois lá doce felicidade se espalha,

A mente se inspira e faz um verso!

 

Peruíbe SP, 07 de abril de 2024.

 

 

sexta-feira, 5 de abril de 2024

O VÍCIO DE AMAR

 

Adão de Souza Ribeiro

Preciso desapegar de você,

Senão vou me enlouquecer.

Esse querer virou um vício,

Não passa de amor fictício.

 

O prazer não é uma tortura

Nem promessa e nem jura.

É um sentimento sublime,

Amar é divino e não crime.

 

E de pensar em ti eu choro

É um choro triste e canoro

Assim como que esquecer

Do sonho ao amanhecer.

 

Hoje você é velho passado

Que fez um grande estrago,

Neste meu pobre coração.

Sofrer não quero mais não.

 

Desapegar de você preciso,

De novo não correr o risco

Passar no mesmo caminho

Acabar morrendo sozinho.

 

Peruíbe SP, 05 de abril de 2024                                                                    

quinta-feira, 4 de abril de 2024

IGUALDADE DE GÊNERO

 

Adão de Souza Ribeiro

                              Ele: Deixa eu ver sua pepeka

                               Ela: Deixa eu ver seu pipiu.

                        Assim as crianças mataram a curiosidade e, acima de tudo, descobriram que eram diferentes, embora fossem seres humanos. E com este diferencial, cresceram e conviveram harmoniosamente para a vida eterna. Eles exploraram todo tipo de brincadeira, inclusive, brincar de casinha. Os meninos nunca tocaram na pepeka delas e elas no pipiu deles. Desde cedo, aprenderam a se respeitarem. Infância bonita de se ver.

                        Só na juventude, quando os hormônios estavam à flor da pele, foi que perceberam para que servia o pipiu e a pepeka. Como moravam na cidade interiorana, levando uma vida pacata e longe da contaminação da cidade grande, não estavam impregnadas pelos pensamentos maldosos dos tais manipuladores da mente humana.

                        Lá na cidade pequena e bucólica, ela aprendeu exercer a sagrada missão de mulher, dona de casa, esposa e mãe. Ele, por sua vez, desenvolveu com maestria a honrosa missão de provedor do sustento do lar. Ao sair para o trabalho e retornar com o alimento, cumpria sua rotina cotidiana. Ao sustentar e educar os filhos e, ainda, inundar a esposa de carinho, sentia-se realizado.

                        O menino do pipiu, era avesso a qualquer tipo de agressão, fosse ela física ou psicológica. Para ele, a mulher nasceu para ser protegida, amada e possuída. Ele a possuía sexualmente, claro!  Ao perceber que o menino a protegia e a desejava, ela sentia-se realizada por completo. A vida do casal seguia os desígnios de Deus.   

                        Na casa não havia televisão, apenas um rádio sobre a cristaleira da sala. Através daquele aparelho, ouvia-se músicas antigas e notícias do lugarejo. A menina da pepeka, agora, uma mulher madura, gastava o seu tempo com os afazeres domésticos. As obrigações do lar eram tantas, que o dia era curto demais. Já à noite, sob a luz de lamparina, quando as crianças estavam no sono profundo, queria só o chamego do marido, nada mais.

                        E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como que diante dele”. – Gênesis 2:18.  Portanto, Deus criou a mulher para ser auxiliar do homem e não sua inimiga, como quererem propagar os discípulos do quanto pior, melhor.

                        Ao saírem em busca da falsa igualdade, as mulheres abandonaram os filhos, deixando-os à mercê dos maléficos ensinamentos das ruas. Querem incutir nelas, a ideia de que é uma desonra ser dona de casa, esposa e mãe. Eu respeito e adoro as mulheres, a começar pela minha mãe, irmãs, filhas e neta. Eu, particularmente, adoro mulher e, por isso, lambo até o beiço.

                         Há uma diferença latente entre feminista e feminina. Para mim, a feminista é uma mulher frustrada e mal-amada, com desejo enrustido de ser homem. Já a feminina é dócil, delicada, atraente e bem realizada como fêmea. Portanto, a feminina tem orgulho de ser dona de casa, esposa e mãe.

                        Enquanto isso, na cidade grande, as mulheres catequisadas pela mídia selvagem, perdiam o tempo com uma tal de “igualdade de gênero”. Por mais evoluídas que fossem, não percebiam que estavam sendo manipuladas pelo capitalismo faminto e pelo consumismo desenfreado.  Elas deixavam escapar o prazer de ser mulher e de agradar a Deus.

                        Deus me afasta da mulher que foge do princípio de ser mulher. Credo!

 

Peruíbe SP, 04 de março de 2024.

 

terça-feira, 2 de abril de 2024

DESEJO-TE

 

Adão de Souza Ribeiro

Amar-te toda hora

O insaciável desejo

É tudo o que aflora.

Surge num lampejo.

 

Querer sem controle

O seu corpo atraente

Um beijo a cada gole

É que uma boca sente.

 

Sentir este teu aroma,

Aquecer no teu calor.

De prazer sofrer coma

Na bela cama em flor.

 

Eu a imagino toda nua

Presa nos meus braços

E fazendo inveja a lua

 Dona do meu cansaço.

 

Atração não se explica

É algo puro, tão divino

E só aumenta e triplica

Vem torturar o menino.

 

Deus, por que a mulher

Me faz de seu escravo?

A flor do bem-me-quer

Deixa-me só em pedaço.

 

Peruíbe SP, 02 de abril de 2024.

 

segunda-feira, 1 de abril de 2024

A MORTE

 

Adão de Souza Ribeiro

Não quero morrer agora

Na vida, eu tenho plano.

O sonho a alma revigora

Vou amar no fim do ano.

 

Pra morrer ainda é cedo,

Pois há muito que fazer.

Amanhã tem um enredo

Escrito lá no amanhecer.

 

No coração pulsa a vida,

A mente pensa no futuro.

Morte na sua vinda e ida,

Deixa a alegria no escuro.

 

No peito mora esperança,

Tudo me inspira amor e fé.

A natureza canta e dança,

Mulher fazendo o cafuné.

 

A poesia muito me espera

Vá lá pra banda do Norte.

Coração anseia a quimera

Não queira mudar a sorte.

 

Agora não quero morrer

E deixa isso para depois

Bem antes do entardecer

Vou comer baião-de-dois.

 

Peruíbe SP, 01 de abril de 2024.