terça-feira, 16 de abril de 2024

O MISÓGENO

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Eu não sou misógino, longe disso. ”, pensou o menino Godofredo.

                        Já desde menino, o Godofredo se preocupava com a história de que um dia, as mulheres dominariam o mundo. Dominar como? Na mente infantil e sem maldade, aprendeu com os pais e com o padre Antônio, que Deus criou a mulher da costela do homem, para ser sua companheira e não inimiga. Está lá na Sagrada Escritura. Por que mudar o que foi escrito e determinado pelo Criador?

                        Lá na Terrinha, as meninas se vestiam de fêmeas e desfilavam garbosas pelas ruas do lugarejo. Os meninos, por sua vez, cumprindo os desígnios de Deus e a força da natureza, faziam lindos galanteios e elas sentiam-se felizes em serem desejadas. As mães, com cuidado e carinho, ensinavam as meninas o sagrado destino de serem esposas e mães. E assim, aos poucos, elas moldavam a personalidade de serem mulheres e fêmeas.

                        Ao brincarem de casinha e com boneca, elas ensaiavam o cuidado que teriam nos lares futuros. Já os meninos, aprendiam o valor do trabalho, para levar o sustento da família e o devido respeito com as amiguinhas de infância. Godofredo, perdido em saudosos pensamentos, lembrava de tudo aquilo. Naquele tempo, não havia televisão para contaminar a mente e o comportamento das pessoas humildes.

                        A diversão dos homens era jogar futebol, baralho, participar de roda de viola e jogar conversa fora, nos botecos do lugarejo. Já as mulheres, era discorrer sobre as traquinagens dos filhos, trocar receitas de quitutes na cozinha e falar das sirigaitas. Portanto, vê-se que ninguém se preocupava em desafiar o sexo oposto. Crê-se que, por aquilo, todos viviam felizes. Vendo o comportamento dos adultos, as crianças preocupavam apenas em serem felizes.

                        No domingo à noite, no jardim da praça da igreja matriz, as moçoilas esbanjavam charme, a fim de atraírem os olhares dos rapazes. O romantismo imperava e o galanteio mostrava o tom do jogo da conquista. As flores do jardim, cuidadas pelo zeloso jardineiro “Caga-Sebo”, bailavam ao sabor do vento. De vez em quando, o rapaz atrevido, dava um selinho (beijo) na sua pretendente. E ela, toda tímida, esboçava um leve sorriso, correspondendo ao ato do rapaz.

                        Até hoje, o menino Godofredo lembra do seu amor platônico. A menina da sua infância, insiste em visitar a memória e apertar o coração. Aquele rosto angelical e o olhar sedutor, trazem doces lembranças do passado, onde tudo era de uma simplicidade e ternura estonteantes. Por ter vivido num tempo em que a mulher era apenas mulher, o amor platônico exerceu influência sobre o menino.

                        Ao navegar em conjecturas, Godofredo teme a extinção do relacionamento entre homem e mulher. Já há muito tempo, que o sexo masculino foge do sexo oposto. O homem moderno teme a mulher, porque não sabe a maldade que ela traz na mente e no coração, capitaneada pela modernidade e conduzida pela mídia castradora. A saudável convivência infantil com as amiguinhas da Terrinha, já se vai ao longe.  

                        Há um esforço enorme de Godofredo para continuar se relacionando e desejando a mulher dos seus sonhos e de sua vida. É de bom alvitre que se diga que o menino da Terrinha não é um misógino. Ele tem medo de entrar em barco furado. A mulher moderna e futurista, perdeu o charme, o glamour e a feminilidade. Expõe o corpo, para, depois, acusar o macho de assédio sexual. “ Cautela e caldo de galinha, não faz mal a ninguém. ”, diziam seus velhos pais.

                        Enquanto elas buscam a falsa liberdade e o falso empodeiramento, o homem se enclausura na eterna missão de conduzir o Universo rumo ao que foi traçado por Deus, isto é, cuidar do planeta e da prole. “ Nenhuma criatura é ou jamais será autossuficiente! ”, disse o Criador de todas as coisas sobre a terra.

                        Portanto, em que pese a luta desumana entre macho e fêmea, a misoginia não é abençoada pelo Rei do Universo. Deus me livre!

 

Peruíbe SP, 16 de abril de 2024.

 

 

 

 

 

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