domingo, 24 de outubro de 2021

DORME, FILHINHO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Dorme filhinho

Dorme meu bem

Dorme quietinho

Que o sono já vem.

Dorme principezinho

Dorme amor.

Dorme suavezinho

No jardim em flor.

Dorme anjinho

Dorme o sono divinal

Dorme um sonho

Sonhar não faz mal.

Dorme reizinho.

Dorme herdeiro.

Dorme sozinho

Um sono inteiro.

Dorme pequenino

Dorme em paz

Dorme sorrindo

Sono alegria nos trás.

 

Peruíbe SP, 24 de outubro de 2021.

 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O SEMEADOR

 

Adão de Souza Ribeiro

Poeta é um agricultor velho e sábio

A semear em terras áridas e alheias.

Poesias que brotam dos seus lábios,

Como se fossem o mel das abelhas.

 

Com suor do seu corpo cansado ara

Longas noites e dias, a dor amarga.

E para ele, cada verso é uma seara.

Por que suporta a tamanha carga?

 

Sob sol a pino, planta seus versos,

Chora calado, não demonstra sofrer.

Paixão louca e o coração perverso

Faz da poesia o seu bem-me-quer.

 

Há que se perguntar ao semeador:

Onde na lida encontra força Poeta?

Cabisbaixo responde: É só na dor

Sou sonhador nada mais me resta.

 

Peruíbe SP, 21 de outubro de 2021.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

DIA DO POETA

 

20 de outubro.

“Se eu não fosse poeta, seria um louco. Mas como todos os loucos vivem a angústia de sonhar e os poetas são eternos sonhadores, então eu sou um poeta louco”. – Adão de Souza Ribeiro.

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

´PÁSSARO TRISTE

 

Adão de Souza Ribeiro

Menino, já é chegada a hora.

De deixar este pássaro voar,

Vem, abra depressa á gaiola.

Quer ver a floresta e o mar.

 

Vê que até o canto é triste.

Já não tem mesmo encanto

A sua fome não é só alpiste

Fome de liberdade, portanto.

 

Canta pra espantar solidão,

Voa no espaço tão pequeno

O mundo é uma imensidão

Se errou, dá-lhe seu perdão.

 

Errou em cair na arapuca,

Paixão, a tal da armadilha.

Mente diz, coração retruca.

Faz da nossa vida uma ilha.

 

Menino se fosse aquela ave

Sem a fêmea e asa atrofiada

Queria a morte bem suave,

E da vida não levaria nada.

Peruíbe SP, 18 de outubro de 2021.

domingo, 17 de outubro de 2021

O APOCALIPSE E O MATUTO

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Não sei por que deixei o meu pedaço de chão e saí por aí em busca de aventuras. Feito um caixeiro-viajante, tornei-me um errante em terras estranhas. Com a esfarrapada desculpa, de que iria procurar o melhor para mim, fui atrás do desconhecido e enganei-me profundamente. O orgulho não me deixou abdicar da famigerada decisão, a qual pago caro até hoje.

                        Eu vi coisas que, até então, a mente ignorava. Por exemplo: políticos bandidos, travestidos de honestos, julgando seus próprios pares. Apresentadoras de televisão, sem um pingo de moral em seus currículos, ensinando às adolescentes atos impróprios para suas idades. A Suprema Corte deixando de aplicar a lei e abrindo as portas para a sujeira da política.

                        Eu chorei, confesso que chorei. E como chorei! Um vulcão revoltado e em erupção, com a língua de fogo, descendo montanha abaixo. Terremotos, sacudindo os continentes. As enchentes arrastando tudo que encontrava pela frente. As florestas, ardendo em brasa e pedindo clemência. Tufões e mais tufões, somados às tempestades de areia. Isso sem falar nas nuvens de gafanhotos, vindas do sul. Nações contra nações, movidas pela ganância humana. Confusão climática, deixando os oceanos irados. Uma doença, a qual em menos de um ano, dizimou milhares de pessoas em todo planeta.

                        Eu sentei-me na sarjeta de uma esquina qualquer e perguntei a mim mesmo: - Por que fui deixar o meu lindo rincão? Não me veio à resposta, mas apenas um silêncio ensurdecedor de tristeza. Um arrependimento total. Procurei o colo aconchegante de minha mamãe e não encontrei. Lembrei-me da música de Zezé Di Camargo & Luciano, intitulada: No dia em que eu saí de casa, qual dizia: “A minha mãe naquele dia/ Me falou do mundo como ele é/ Parece que ela conhecia/ Cada pedra que iria colocar no pé.”.

                        Na vida bucólica, lá no meu pedaço de chão, não havia congestionamento e nem mesmo de charretes. Todos nós éramos solidários com as dores alheias. Não queríamos muito, apenas o necessário. As matas da Granja Helvetia e do Bairro Bondade eram muito bem conservadas.  As aves fora das gaiolas voavam para a liberdade e nos presenteavam com seus cantos belíssimos.

                        Nas noites de lua cheia, sentávamos na calçada e ficávamos conversando madrugada adentro, porque lá não havia violência. A delegacia era um prédio figurativo, por isso, o delegado sofria de eterna solidão. Na igreja, o padre professava a fé e não falava de picuinhas políticas. E assim a vida seguia seu curso normal, razão pela qual eu era tão feliz.

                        Eu sentado na sarjeta da esquina de uma rua qualquer, veio à mente a imagem do apocalipse (revelação ou destruição). Sem me ater a qualquer segmento religioso ou placa de igreja, vejo que a terra agoniza e pede socorro. Enquanto os governantes não despirem de seus orgulhos e de um desejo pelo poder, nada poderá ser feito. Quando acordarem, será tarde demais. Eles chorarão lágrimas de sangue.

                        Ah, se eu pudesse voltar atrás, ao ventre de minha, a terra natal, a tenra infância, a história poderia ter sido outra. Hoje, depois de levar tantas chibatadas da vida, resta-me lembrar do amor platônico, das brincadeiras na enxurrada, dos jogos de bolinhas de gude, das corridas de carrinho de rolimã e muitas outras coisas de moleque. Se na estação, eu encontrar um trem com destino à infância, eu embarco, sem pestanejar.

                        Um dia caí na besteira de escrever sobre reminiscências do passado e deu no que deu, pois, sem perceber, virei contador de “causos”. Eu fico horas e horas, tentando encontrar na memória, cenas inesquecíveis da infância, vividas na terra natal, bem longe das tragédias do mundo moderno. Acalantam-me saber, que muitos conterrâneos desfrutaram destes mesmos momentos. Somos do mato... somos capiau... somos caipiras... somos matutos... Menos mal!

                        O mundo de hoje, faz-me lembrar de Sodoma e Gomorra, sem a existência da Arca de Noé, para nos resgatar das tragédias do planeta e da maldade humana. “Deus animas nostra”, “Dieu sauve nos âmes” e “God save our souls”. (Deus salve nossas almas).

                   

Peruíbe SP, 16 de outubro de 2021.                                               

 

 

terça-feira, 5 de outubro de 2021

TIGRESA

Teu andar compassado e lento,

Quanta magia e imensa beleza.

Olhar sem pressa, nem tempo.

Eu vejo no andar desta tigresa.

 

O cheiro que do corpo exala,

O teu território, mostra bem.

E dirá que só podem amá-la,

Os que não vão muito além.

 

É firme e lindo o teu rugido

Quem ouve, dele se encanta.

Quero ser teu amante amigo

Bem antes que o sol levanta.

 

Tua plumagem é exuberante

Tu fazes de mim o que quer

Sou tua presa e teu amante.

Tigresa, é nome de mulher.           

 

Peruíbe SP, 05 de outubro de 2021