quinta-feira, 30 de março de 2023

MISTÉRIOS DO AMOR

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Gritar ao mundo o teu nome

Dizer que a beleza me cativa.

Este desejar só me consome

Que meu coração sobreviva.

 

E se arriscam dizer quem és,

Eu meio tímido desconverso

Arrisco não chego a teus pés

E eu te protejo no meu verso.

 

O segredo guardado no peito

Faz sofrer e dói e me magoa

Eu preciso arranjar um jeito,

Sou um peixe fora da lagoa.

 

Esse querer desde bem cedo

Me fez sonhar, não é pecado.

E se um dia não for segredo,

Eu viro a página do passado.

 

Peruíbe SP, 30 de março de 2023.

sábado, 25 de março de 2023

O PEDIDO

 

Adão de Souza Ribeiro

Não me peça para te esquecer,

Viver sem você, eu não consigo

Que beleza tem o amanhecer,

Sem ter este teu corpo comigo.

 

Quando amanhece e não vejo

O brilho do olhar com ternura

Fico louco entro em desespero

Não é manha, mas é a loucura

 

Como posso apagar da mente,

A coisa mais bela que conheci.

Sei que o coração não mente,

Tem o encanto do bem-te-vi.

 

Sem teu beijo, perco o meu ar

Eu afogo em lágrima e tristeza

De que me vale ter onda, o mar

Sem ter emoção da correnteza.

 

Peruíbe SP, 25 de março de 2023.

quinta-feira, 23 de março de 2023

O FUTURO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Acreditei no futuro e não veio

Chorei calado e perdi o folego.

As lágrimas são como córrego,

Por onde corre o meu aperreio.

 

Sonhei com os dias melhores

Desenhei a vida até fiz planos

E bem cedo, se foram os anos

Com eles partiram os prazeres.

 

O tempo tirou metade de mim.

A ilusão já perdeu seu sentido

Meu Deus, do que eu preciso,

Para florir o meu triste jardim?

 

Da poesia quero me embriagar.

Viajar nela, antes que seja tarde.

Não deixar o medo fazer alarde

Rever a beleza da noite de luar.

 

E que não brinque o tal futuro,

A criança de esconde-esconde.

Se grita, chama e não responde

O sonho surge detrás do muro.

 

O amanhã só pertence a Deus,

Essa é a grande lição da vida.

E ter o dia com flor colorida,

Essa receita certa, filho meu!

 

Peruíbe SP, 23 de março de 2023.

 

 

 

 

 

quarta-feira, 22 de março de 2023

A PROFECIA

 

Adão de Souza Ribeiro

                        A coruja rasga mortalha (Tyto furcata), pousou na cumeeira da casa e começou a chirriar. Dona Gertrudes, uma anciã de idade avançada, profetizou: “Esse canto é de mau agouro. Breve alguém vai morrer.”. Dito e feito. Coincidência ou não, dias depois o “seu” Carmosino faleceu, vitimado por um enfarto fulminante. A cidade entristeceu e a profecia de  dona Gertrudes se cumpriu.

                        Quem nasceu e viveu lá para as bandas do interior, sabe que o capiau nunca precisou de satélite interplanetário ou aparelho sofisticado, para decifrar as mudanças da natureza ou coisa que valha. Bastava olhar para o céu e ver a movimentação das nuvens, das estrelas ou da lua e já previa a mudança do tempo ou a hora de plantar esta ou aquela lavoura.

                        Não se sabia de onde vinha tanta sabedoria. Raimundo que tinha pino de cirurgia na perna, ao sentir uma dor repentina, já dizia que o tempo iria mudar. Quando os bichos estavam alvoroçados no quintal, diziam que era prenúncio de tempestade. Também quando o galo cantava de dia, isso fora de hora, era sinal de mau agouro, pois significava que vizinho ou parente iria morrer. Por essa razão, o galo era sacrificado (morto) e virava ensopado na panela.

                        A sabedoria caipira se estendia as doenças e aos medicamentos. Quando a criança estava com tiriça (icterícia), era só tomar chá da planta chamada picão preto (Bidens pilosa). Se a criança torcia o pé e tinha luxação, também era só usar salmoura com mastruz no local do inchaço e enfaixar. Não se via os pais endividando em farmácia e intoxicando os filhos com remédios (produtos químicos), os quais, mais prejudicavam do que curavam as doenças.

                        Ao ver aquelas experiências, passadas de geração em geração, fez com que eu aprendesse admirar as pessoas antigas e radicadas no interior. Ao ouvir com carinho e respeito, os conselhos dados por elas, foram fundamentais para minha formação moral. Quantas e quantas vezes, no final tranquilo da tarde, ficava ao lado do avô paterno, para escutar com sua voz serena, os causos contados de fatos acontecidos com ele ou para ouvir suas previsões futuristas.

                        Quando  a televisão ainda gatinhava em passos lentos, meu pai – um homem de pouca cultura - disse: “Vai chegar um tempo, que a televisão será como um quadro na parede”. Hoje isso é uma realidade. Aristides, um homem que andava falando sozinho pela rua e, por isso, tido como louco, disse: “Um dia, a imoralidade vai tomar conta do mundo e as pessoas nada poderão fazer”. Hoje isso é fato e até colocaram uma mordaça na boca do povo, para não se rebelar contra a Sodoma e Gomorra moderna.

                        As fontes de água natural vão secar e as pessoas morrerão de sede. O mundo vai arder em chama. Vai faltar comida na mesa e sobrar violência. A tecnologia vai arrebentar os lares e não haverá mais respeito na casa, isto é, entre filhos e pais”. Desde a tenra idade, eu ouvia os mais velhos profetizarem o fim dos tempos. Os incautos dirão: “É crendice”. Já os cultos, responderão: “Tudo isso, já estava escrito na Sagrada Escritura. É só ler em Apocalipse”.

                        Como pode um capiau iletrado falar tantas coisas futuristas? Essas observações sempre me causaram espanto. Eu pensava com meus botões: “Será que eles recebiam mensagens divinas ou eram apenas belas divagações? ” O que me entristece deveras é saber que pessoas com tamanha sabedoria, não habitam mais entre nós. Quanta falta elas nos fazem!

                        Carrego comigo a sina de ser um ávido pelo conhecimento. Eterno garimpeiro da verdade. Talvez seja por essa razão, que eu gostava de ouvir pessoas idosas, pois, para mim, elas eram uma fonte viva e inesgotável de conhecimento. Lamento que hoje, essa juventude transviada, além de não respeitar os idosos, não presta atenção e nem acata os seus ensinamentos. Por onde andam dona Gertrudes, seu Aristides, meu pai ou seu Raimundo, mestres iletrados da minha infância?

                        O mundo pode ter avançado com a tecnologia, mas regrediu em sabedoria.

 

Peruíbe SP, 22 de março de 2023.

 

segunda-feira, 20 de março de 2023

FOGÃO A LENHA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        Lá na roça, perto do bambuzal, havia uma modesta choupana. Quem passava pela estrada de terra, ao ver aquele casebre, não fazia ideia de que ali morava a felicidade. No telhado de sapê, uma chaminé deixava a fumaça desfazer ao sabor do vento. No quintal, as galinhas cacarejavam, enquanto os pássaros gorjeavam no pé de goiabeira. 

                        De longe, quem passava por lá, podia sentir o cheiro do café sendo feito no coador, preso na mariquinha. Comadre Zéfinha reforçava o café matinal com cuscuz. Enquanto Bastião, o esposo matuto, se preparava para mais uma lida na lavoura, ouvia-se no rádio de pilha, uma música sertaneja raiz. Os filhos, por sua vez, preparavam o uniforme e o material, para estudarem na escola, que ficava lá na sede da fazenda. Assim era a vida corriqueira do sertão.

                        Antes de ir para escola, “Mundico” - o filho mais velho -, tinha por obrigação, ordenhar Mimosa, a vaquinha da tabuleta, presa no curral. Aquele povo simples era forjado na vida simples e sem vaidade da cidade grande. Quem visitava aquela casa, não tinha como não se encartar com tamanha receptividade. O café forte torrado no torrador e servido em caneca feita de lata de massa de tomate, tinha um sabor diferenciado dos servidos em xícara esmaltada ou de cristal.

                        Enquanto Bastião cuidava do cafezal e os filhos debruçavam na cartilha “Caminho Suave”, dona Zefinha continuava nos afazeres domésticos, isto é, varria a casa de chão de terra batida, com vassoura de piaçava; passava a roupa com ferro a brasa; lavava a roupa na mina d´água; arrumava a cama de colchão feito de palha-de-milho. A casa era alumiada com chama da lamparina presa na parede.  No canto da sala, o altar de Nossa Senhora do Desterro.

                        Quando as crias chegavam famintas, vindas da escola, era servido o almoço, feito com banha de porco e regado com muito tempero. O varão era baiano e a varoa, mineira.  A refeição era acompanhada de legumes e verduras, colhidos na horta do quintal. Também não faltava um frango ensopado ou uma carne de panela. Para variar, era posto à mesa, um peixe frito, pescado nas tardes de domingo, no rio Pádua Sales, que corria pela propriedade.

                        Quando no fim da tarde, Bastião chegava cansado e suado pelo trabalho pesado da roça, encontrava a roupa cuidadosamente preparada pela esposa amada. Após banhar-se no chuveiro aquecido por serpentina, ele tomava uma dose de cachaça pura, comprada no alambique do vizinho “seu” Manoel. Depois saboreava a janta preparada por Zéfimha. À noite, tinha um chamego, claro!

                        Mas o que dava um jeito campesino ali naquela choupana e o verdadeiro ambiente de simplicidade, era o fogão a lenha. A parede chamuscada de fumaça; o charque pendurado no varal, sobre o fogão, sendo defumado; as panelas de ferro ou de barro, cozendo o alimento; o fogo sendo abastecido com lenha ou graveto; a brasa ardente, assando a batata doce; a chaleira d´água para o café, era tudo de bom.

                        O diferencial no sabor da comida feita no fogão a lenha e não no fogão a gás, estava no preparo feito pelas habilidosas mãos de dona Zéfinha e, também, pelo cozimento lento e pelo uso das panelas de ferro ou de barro.  Tudo aquilo, somado aos temperos caseiros, preparados com carinho. O cheiro de comida, espalhado na cozinha, tinha sabor de quero mais. Até Sultão, o cachorro de estimação e Bigode, o bichano manhoso, não dispensam tal iguaria. Imagina o viajor que caminhava pela estrada, defronte aquela choupana.

                        Até hoje, ao se apreciar a foto de um velho fogão a lenha, não tem como não se lembrar da choupana a beira da estrada, com a fumaça denunciando a existência de um fogão a lenha, com o cheiro convidativo de uma comida caseira e caipira.

                        “Deixa um bule de café em cima do fogão... Fogão de lenha e uma rede na varanda... Arrume tudo mãe querida, o seu filho vai voltar”. A música “Fogão de Lenha”, da dupla sertaneja  Xitãozinho e Xororó, diz tudo, pois traduz o sentimento de um caboclo errante, que trocou a simplicidade do sertão, por um falso conforto da cidade.

                       Fogão a lenha é sinônimo de união, pois, em torno dele, a família se reunia para alimentar ou para as longas e prazerosas conversas junto com os pais. Assim era a vida corriqueira do sertão!

 

Peruíbe SP, 19 de março de 2023.

 

                       

domingo, 19 de março de 2023

NÃO ME PEÇA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Não me peça para te esquecer

Esquecer é esquecer de mim.

Se sumir bem ao entardecer,

Vida não tem sentido é o fim.

 

Não me peça para te apagar

Apagar da mente é loucura.

É como a praia sem o mar.

Uma dor que não tem cura.

 

Não me peça para te impedir

Impedir-te de andar no sonho

Ele que só insiste em ser feliz

O amar não é algo enfadonho.

 

Não me peça para te opor

Opor ao meu sentimento.

Causa-me tristeza e dor,

Viver sem ti não aguento.

 

Peruíbe SP, 19 de março de 2023.

 

 

sábado, 18 de março de 2023

ROMANCE ATRAPALHADO

 

Adão de Souza Ribeiro

Eu: Amor, dá-me teu beijo

Ela diz: Dou não, dou não.

Eu: É só fantasia e desejo.

Ela diz: Dou não, dou não.

 

Eu: Amor, dá-me o corpo.

Ela diz: Não dou, não dou.

Eu: Quero a face, o rosto.

Ela diz: Não dou, não dou.

 

Eu: Amor, dá-me teu olhar

Ela diz: Não e não, já disse.

Eu: E se triste, pôr a chorar.

Ela diz: Já disse, não e não.

 

Ela: Vida, dá-me teu mundo.

Eu digo: Amor, eu não quero.

Ela: Não tenho mais orgulho.

Eu digo: Eu não quero, amor.

 

Ela: Vida, eu quero ser só tua

Eu digo: O que passou, passou.

Ela: Sou pura como a luz da lua

Eu digo: O meu desejo mingou.

 

Peruíbe SP, 18 de março de 2023.

terça-feira, 14 de março de 2023

AMOR INFANTIL

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Amor, já perdi as contas

Do amor, que implorei.

E sei que a vida é tonta

Que ela tem a sua lei.

 

Se eu fiquei de joelho,

Em busca de migalha.

Eu era só um fedelho.

Coração infantil falha.

 

Venerei tua formosura,

Perdi nos teus encantos

Desejar é uma loucura,

Por isso, te quis tanto.

 

E até hoje eu confesso,

Se esqueço um segundo

Eu te procuro no verso.

Nunca vi amor profundo.

 

Já perdi as contas, amor

E tantas noites de sono.

Sei que serei teu senhor

O teu coração tem dono.

 

Peruíbe SP, 14 de março de 2023.

domingo, 12 de março de 2023

A MENINA E A CHOUPANA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Tu desfilas pelos meus sonhos

Delicada com tal desenvoltura

Que eu deliro e vou a loucura.

És uma pintura no meu sono.

 

Uma menina de corpo esbelto

De olhar calmo e tão sedutor.

Enfeita a noite cheiro de flor,

Um divagar tão lindo é certo.

 

Vem para mim feita menina,

Daquele belo mundo infantil.

O teu corpo desliza como rio

No meu feito uma gata felina.

 

Toma posse como minha dona

Domina a ilusão como rainha,

E sussurra: quer ser só minha

E ser feliz na nossa choupana.

 

Peruíbe SP, 12 de março de 2023.

 

sábado, 11 de março de 2023

CABELO BRANCO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Se me veres meio cabisbaixo,

Divagando sem um olhar fixo

Eu não me vejo, não me acho

Só vivo preso neste crucifixo.

 

Crucifixo chamado de tempo,

E onde colocamos o passado.

Sem imaginar que só o vento

Pode afastar um fardo pesado

 

Fardo feito de cabelo branco

Desbotado por dor, lida dura

De quem foi pecador e santo,

Não fraquejou diante da luta.

 

Cabelo branco é do guerreiro

Que desafiou a sua existência

Sem passar a vida prisioneiro

De mágoas e de maledicência.

 

Peruíbe SP, 11 de março de 2023.

 

quinta-feira, 9 de março de 2023

VIDA BOA

 

Adão de Souza Ribeiro

Lá vai o João José

La vai o José João

Caminhando a pé,

No lado do grotão.

 

Com seu estilingue

E com as bolinhas.

E não se brinque,

Vão caçar rolinha.

 

Há coisa prazerosa

Caçar o passarinho

Na mata lá na roça

Domingo cedinho?

 

Eles ficam de tocaia

E ela senta no galho

Fazem uma gandaia

Vê com um soslaio.

 

Vinha com imborná

Todo cheio de caça.

Dava até para assar

Vida boa, que graça.

 

Pareciam até irmãos

Tamanha a amizade.

Hoje não há diversão

Mais naquela cidade.

 

Peruíbe SP, 08 de março de 2023.

 

terça-feira, 7 de março de 2023

CARRINHO DE ROLEMÃ

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Os carrinhos de rolimãs,

Feitos com tanta mestria

Divertia todas as manhãs

As crianças nas cercanias.

 

Desciam a ladeira abaixo

Lá na rua de chão batido

Todos eram felizes, acho.

Lembro dos tempos idos.

 

Na caçada ficava a plateia

Querendo só ver o tombo

E hoje ninguém faz ideia

Como doía aquele rombo.

 

Parecia até a Fórmula Um

Com direito a bandeirada.

Visto por ilustres e bebum

E beijo doce da namorada. 

 

Calçou a rua, se foi o tempo

O carrinho triste envelheceu  

Tudo passou, mas me lembro

Éramos tão felizes, meu Deus!  

 

Peruíbe SP, 07 de março de 2023.       

segunda-feira, 6 de março de 2023

AMOR, PACIÊNCIA!

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Quando de madrugada, chamar teu nome

Por favor, amor, tenha paciência comigo.

Aperta-me ao teu corpo, com muita fome

Deixa o silêncio falar e dá-me teu abrigo.

 

Proteja-me dos pesadelos noturnos, peço

E toca teus lábios aos meus com ternura.

Se faz frio lá fora, não me importa o resto

Tenho teu calor, na pele linda formosura.

 

Amor, com jeito manso, afaga meu sonho

Diz frases desconexas e me deixa confuso

Para a noite não virar rotina eu proponho,

Cantar e nosso amor não cair em desuso.

 

Quando chamar teu nome de madrugada

Por favor, tenha paciência comigo, amor.

E venha despida de corpo e alma, amada

Dou-te carícias, beijos e um buquê de flor.

 

Peruíbe SP, 06 de março de 2023.