Sempre lutei com energia,
para vencer e atingir os meus ideais. Busquei força espiritual, moral, física e
até sobrenatural, para sobreviver. Sei que as procelas da vida, exigem desafio e
persistência constante para transpor as barreiras reais e imaginárias. Nunca
fugi e nem desisti dos meus sonhos, pois, foi isso que me ajudou a crescer,
tanto intelectual, quanto moralmente. Só fogem da tempestade, os covardes. Isso
jamais fui, haja vista que nunca tive medo do desconhecido.
Um dia desses, fui surpreendido
com a manchete de um tabloide matutino, noticiando o interesse de se construir
uma usina termoelétrica no “Reino Caiçara”. Segundo o noticiário, tudo está
sendo discutido e analisado por debaixo dos panos, entre empresários
gananciosos e políticos corruptos. De maneira sórdida, querem ludibriar os
súditos e esfacelar o meio ambiente. É certo que o “Reino Caiçara” conta com parques
ecológicos, reservas indígenas, extensos mananciais, uma biodiversidade e
qualidade de vida invejáveis.
É certo que num reino distante,
cuja economia baseia-se na indústria e na distribuição de petróleo, estudos dão
conta de que, para cada aumento de 10 microgramas por metro cúbico de material
particulado no ar da área residencial, aumentava em 5% a quantidade de
internação por doenças respiratórias, especialmente em crianças menores de
cinco anos, e de doenças cardiovasculares em maiores de 39 anos. Tudo isso
provocado pelas industrias poluentes. Sem contar com os danos ambientais, sacrificando
a fauna e a flora. Mas a empresa interessada na construção da usina,
preocupa-se com os bilhões de patacas (moedas) investidas e os trilhões de lucros
posteriores. Dane-se a população e a natureza.
Mas o que me causou mais
indignação, foi o fato de que o Parlamento (Câmara dos Comuns e dos Lordes),
cujo dever primordial é fiscalizar os atos do rei e cuidar dos interesses comum
do povo, fez vista grossa ao problema. E o que é pior, escondeu da população,
informações privilegiadas. Querem aprovar, a toque de caixa, esse megaprojeto,
sem antes consultar a população. Parece-me que o atual Parlamento, pouco difere
da composição do anterior. E por onde anda a Suprema Corte? Ao que parece, ela
se preocupa apenas com assuntos que geram holofotes em sua direção.
Nas minhas andanças em busca de
informações, tomei conhecimento de que o novo Rei já dá sinais de estar
contaminado com uma doença, diagnosticada pelo nome de “letargia administrativa”.
Agente transmissor: governo anterior; sintomas: desinteresse em
apurar rombos financeiros do antecessor e política de toma lá dá cá com o
Parlamento; remédio para a cura: renúncia ou impeachment. Estando
contaminado, assinará a construção da famigerada usina. Ascendeu ao trono, com
promessa de mudança e de prosperidade ao reino. De boas intenções, o inferno está
cheio.
Se não houver uma mobilização em
todas as províncias do “Reino Caiçara” e, ainda, se a Suprema Corte, não tomar
medidas jurídicas urgentes, a tal usina será construída ao arrepio da lei,
ferindo os interesses comum do povo e causando danos irreversíveis ao meio
ambiente. Já em pleno funcionamento, afugentará o turismo, banalizará todo tipo
de doença da população, sepultará nossa fauna e flora. A riqueza propalada
pelos empresários gananciosos e políticos corruptos, agraciará apenas a burra
(cofre) deles. Quanto aos súditos, ora os súditos! Que se danem os vassalos e
bajuladores do reino. As gerações futuras, amargarão para sempre, os desmandos
desse reino.
Por enquanto, podemos contemplar
da janela da vida, a paisagem de nossa floresta verdejante e do mar tranquilo,
banhando as praias paradisíacas. Ver o céu pintado de azul anil e bordado de
estrelas reluzentes. Respirar o melhor ar do planeta e transitar pelas ruas sem
máscaras protetoras. Banhar-se em cachoeiras de águas cristalinas, ainda é uma
realidade. A vida bucólica de um povo
desprovido de vaidade. Devemos aproveitar cada segundo dessa hipnotizante contemplação,
porque, não tardará, e, tudo isso, será apenas um quadro pendurado na parede do
passado.
Senhor, dai-me forças, para que eu
não veja o “Reino Caiçara”, sucumbido pela avalanche do falso progresso.
Peruíbe SP, 11 de
março de 2017