Adão de Souza
Ribeiro
Eu estou farto deste mundo de hoje. Esta conversa
narrarei na primeira pessoa do presente do indicativo, porque pretendo
expressar a opinião particular daquilo que sinto e penso sobre os tempos
modernos. Não há nenhuma pretensão em demonstrar que sou o suprassumo do
conhecimento e da verdade, na humilde narrativa das mudanças pós século XXI.
Apenas desejo que o diálogo não seja tão desgastante e, por conseguinte,
enfadonho.
Além do assassinato da língua portuguesa,
diante do enxerto de palavras estrangeiras no nosso vernáculo, ainda temos que absorver
as tradições e os costumes alheios. E assim, aos poucos, vamos perdendo a nossa
identidade. Nós ficamos cegos, diante das mudanças impostas e passamos a ter
vergonha das nossas raízes. Nós somos reféns de um modernismo selvagem. Não é
por acaso, que esta nova geração tresloucada, segue a esmo um futuro incerto,
como um barco á deriva, num mar turbulento, sem bússola... sem nada.
Esta geração concebida pela tecnologia e uma
enxurrada de informações extravagantes e desnecessárias, envergonha-se de tudo
que faz parte de um tempo não muito distante. Não gosta da música sertaneja
raiz, leia-se: Liu & Léu, Zilo & Zalo, Canário & Passarinho, Tonico
& Tinoco, e por aí se vai. Abominam trajes femininos decentes, isto é,
saias longas e rodadas, blusas com colarinhos. E o que não dizer dos
tratamentos respeitosos com os pais e as pessoas mais velhas: “Senhor...
Senhora, benção pai... benção mãe”.
Eu tenho uma saudade imensa das festas
juninas; das folias de reis; das lendas do folclore brasileiro; dos bailes no
terreirão da fazenda, ao som da sanfona e da viola caipira; das peraltices de
criança, nas ruas descalças, da minha terra natal; as longas procissões da
padroeira, sob a batuta do padre Antônio; os desfiles de “Sete de Setembro”; do
mercado persa, realizado aos sábados, lá no meu torrão natal. É tanta saudade,
que não cabe aqui.
Já esta geração nutella, tem saudade de que,
se nem passado teve? Creio ser esta a razão de se envergonhar. Ela nada construiu,
para sentir honra e saudade. E o que é pior, agarrou-se das terminologias e
músicas estrangeiras, halloween, funk, rap e tantos outros lixos culturais,
como se fossem nossos. No entanto, a geração nutella desrespeita minha Pátria e
nada conhecem sobre os símbolos nacionais. Isto não os envergonha; mas a mim,
sim!
Eu não sei se é culpa do Governo ou da
imprensa marrom, que com suas ideologias perversas, tentam aniquilar o
conhecimento de um povo tão simples, belo e hospitaleiro. Lembro como se fosse
hoje. Antes de iniciar a aula, o diretor colocava todos os alunos perfilados no
pátio, para cantarem o Hino Nacional. A cidade, no passado, fora o celeiro onde
se forjou cidadãos trabalhadores e probos.
Naquele tempo, a escola cumpria o estrito
papel de preparar a criança para o futuro; a igreja não se desviava da missão
de ensinar o caminho da salvação; os políticos não governavam debruçados na
cartilha do toma lá dá cá; os pais educavam os filhos, de acordo com os princípios
da moral, ética e bons costumes e não se prenhavam pelas ideologias dos maus
intencionados.
Quando desobedecíamos ou fazíamos maldade,
nossos pais lançavam mão da vara da infância e juventude, leia-se ramo de
marmelo ou de goiabeira. As meninas recebiam orientações femininas, a fim de
que, no futuro, fossem excelentes mães e donas de casa. Os meninos, por sua
vez, recebiam orientações masculinas, para que no futuro se tornassem
excelentes pais e chefes de família. O que era certo, era certo e o que era
errado, era errado. Menino brincava com carrinho e bola e menina brincava de
casinha e boneca. Cada um no seu quadrado.
A molecada colhia a fruta no pé e, ali mesmo,
saboreava até se lambuzar. A mãe
separava um frango no terreiro e fazia uma sopa deliciosa com muito tempero.
Não havia química nem na fruta e nem no frango, por isso, éramos saudáveis. Comíamos
até repetir o prato. As crianças confeccionavam seus próprios brinquedos, uma
vez que nada vinha pronto. Eis a razão pela qual, não havia maldade nos
corações infantis. Digo que naquele tempo, eu era feliz e não sabia. E o que
dizer da geração nutella de hoje?
Hoje, passado todos esses anos e eu já adulto
e de tanto viajar pelo mundo, feito caixeiro viajante, tendo sobrevivido a
várias gerações, fico a pensar: “Não esperava ver tanta aberração e parece
ser o fim dos tempos. A cada dia, quer seja nas pessoas, quer seja na natureza,
os sinais são gritantes. Pare o mundo que eu quero descer”.
De repente, lá no final da Rua Rui Barbosa,
um desnaturado e metido a sabichão, fazendo uso de um estrangeirismo, que nem
mesmo ele sabia o significado, gritou: “Você é um cringe”. Eu não dei ouvido
e continuei caminhando.
Peruíbe SP, 04
de julho de 2021.