terça-feira, 27 de julho de 2021

A LUA E EU

 

Adão de Souza Ribeiro

Noite chuvosa, nasce poça d’água.

Dentro dela, a face da prateada lua.

Dos meus olhos a lágrima desagua

De tanto amor e doce saudade tua.

 

Da lua, a terra beija a suave face,

Numa carícia acolhedora e meiga

Na calma noite deste belo enlace

Amor bebe no prazer: a sua seiva.

 

A cidade divaga por aqui e acolá

Não vê que ela quer carinhos mil

Só sei que onde quer que ela vá,

Serei seu escravo, amante servil.

 

E se ao alvorecer, for embora.

E quieta coisa que não se faz.

Abandonar-me na Rui Barbosa

Nascerão poças dos tristes ais.

 

Só quem sofreu de tanto amar,

Lágrima verter como a lua e eu

Saberá ver em qualquer lugar,

Os amantes Julieta e Romeu!

Peruíbe SP, 27 de julho de 2021.

domingo, 4 de julho de 2021

CAIPIRA ENVERGONHADO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        Eu estou farto deste mundo de hoje. Esta conversa narrarei na primeira pessoa do presente do indicativo, porque pretendo expressar a opinião particular daquilo que sinto e penso sobre os tempos modernos. Não há nenhuma pretensão em demonstrar que sou o suprassumo do conhecimento e da verdade, na humilde narrativa das mudanças pós século XXI. Apenas desejo que o diálogo não seja tão desgastante e, por conseguinte, enfadonho.

                        Além do assassinato da língua portuguesa, diante do enxerto de palavras estrangeiras no nosso vernáculo, ainda temos que absorver as tradições e os costumes alheios. E assim, aos poucos, vamos perdendo a nossa identidade. Nós ficamos cegos, diante das mudanças impostas e passamos a ter vergonha das nossas raízes. Nós somos reféns de um modernismo selvagem. Não é por acaso, que esta nova geração tresloucada, segue a esmo um futuro incerto, como um barco á deriva, num mar turbulento, sem bússola... sem nada.

                        Esta geração concebida pela tecnologia e uma enxurrada de informações extravagantes e desnecessárias, envergonha-se de tudo que faz parte de um tempo não muito distante. Não gosta da música sertaneja raiz, leia-se: Liu & Léu, Zilo & Zalo, Canário & Passarinho, Tonico & Tinoco, e por aí se vai. Abominam trajes femininos decentes, isto é, saias longas e rodadas, blusas com colarinhos. E o que não dizer dos tratamentos respeitosos com os pais e as pessoas mais velhas: “Senhor... Senhora, benção pai... benção mãe”.

                        Eu tenho uma saudade imensa das festas juninas; das folias de reis; das lendas do folclore brasileiro; dos bailes no terreirão da fazenda, ao som da sanfona e da viola caipira; das peraltices de criança, nas ruas descalças, da minha terra natal; as longas procissões da padroeira, sob a batuta do padre Antônio; os desfiles de “Sete de Setembro”; do mercado persa, realizado aos sábados, lá no meu torrão natal. É tanta saudade, que não cabe aqui.

                        Já esta geração nutella, tem saudade de que, se nem passado teve? Creio ser esta a razão de se envergonhar. Ela nada construiu, para sentir honra e saudade. E o que é pior, agarrou-se das terminologias e músicas estrangeiras, halloween, funk, rap e tantos outros lixos culturais, como se fossem nossos. No entanto, a geração nutella desrespeita minha Pátria e nada conhecem sobre os símbolos nacionais. Isto não os envergonha; mas a mim, sim!   

                        Eu não sei se é culpa do Governo ou da imprensa marrom, que com suas ideologias perversas, tentam aniquilar o conhecimento de um povo tão simples, belo e hospitaleiro. Lembro como se fosse hoje. Antes de iniciar a aula, o diretor colocava todos os alunos perfilados no pátio, para cantarem o Hino Nacional. A cidade, no passado, fora o celeiro onde se forjou cidadãos trabalhadores e probos.

                        Naquele tempo, a escola cumpria o estrito papel de preparar a criança para o futuro; a igreja não se desviava da missão de ensinar o caminho da salvação; os políticos não governavam debruçados na cartilha do toma lá dá cá; os pais educavam os filhos, de acordo com os princípios da moral, ética e bons costumes e não se prenhavam pelas ideologias dos maus intencionados.

                        Quando desobedecíamos ou fazíamos maldade, nossos pais lançavam mão da vara da infância e juventude, leia-se ramo de marmelo ou de goiabeira. As meninas recebiam orientações femininas, a fim de que, no futuro, fossem excelentes mães e donas de casa. Os meninos, por sua vez, recebiam orientações masculinas, para que no futuro se tornassem excelentes pais e chefes de família. O que era certo, era certo e o que era errado, era errado. Menino brincava com carrinho e bola e menina brincava de casinha e boneca. Cada um no seu quadrado.

                        A molecada colhia a fruta no pé e, ali mesmo, saboreava até se lambuzar.  A mãe separava um frango no terreiro e fazia uma sopa deliciosa com muito tempero. Não havia química nem na fruta e nem no frango, por isso, éramos saudáveis. Comíamos até repetir o prato. As crianças confeccionavam seus próprios brinquedos, uma vez que nada vinha pronto. Eis a razão pela qual, não havia maldade nos corações infantis. Digo que naquele tempo, eu era feliz e não sabia. E o que dizer da geração nutella de hoje?

                        Hoje, passado todos esses anos e eu já adulto e de tanto viajar pelo mundo, feito caixeiro viajante, tendo sobrevivido a várias gerações, fico a pensar: “Não esperava ver tanta aberração e parece ser o fim dos tempos. A cada dia, quer seja nas pessoas, quer seja na natureza, os sinais são gritantes. Pare o mundo que eu quero descer”.

                        De repente, lá no final da Rua Rui Barbosa, um desnaturado e metido a sabichão, fazendo uso de um estrangeirismo, que nem mesmo ele sabia o significado, gritou: “Você é um cringe”. Eu não dei ouvido e continuei caminhando.

 

Peruíbe SP, 04 de julho de 2021.

sábado, 3 de julho de 2021

A ESTRADA

 

Adão de Souza Ribeiro

Na vida, eu percorri mil caminhos.

Procurei-te por todo lugar e canto.

No jardim, eu encontrei espinhos,

Chorei por causa do teu encanto.

 

Fugiste lá nas curvas do destino,

Onde se perdeu meu lindo sonho.

Deixei de divagar, de ser menino.

No mundo, vivo assim enfadonho.

 

A juventude já se foi com o tempo.

Mas por onde anda linda princesa,

Que meu coração com passo lento,

E triste te procura pela redondeza.

 

Mas os anos mudaram eu e você

De esperar branqueou o cabelo.

O amor sufoca, não o sei porquê,

Só o coração sabe deste desvelo.

 

Mas se até as estradas andarilhas,

Encontram-se para tão doce beijo.

Das tuas longas pegadas, as trilhas.

Vou seguir para matar meu desejo.

 

Peruíbe SP, 03 de julho de 2021.