Adão de Souza
Ribeiro
Era uma tarde esplendorosa. Tudo transcorria
na mais santa paz, porquanto a vida conspirava para uma felicidade
inesquecível. Nada haveria de interferir naquele momento de descontração entre
os anfitriões e o convidado do encontro tão nobre. O cenário era a casa de Sueleni; já o convidado, era o narrador deste causo, que agora passo a
dissertar.
Eu visitava a Terra Natal, a qual carinhosamente
chamava de “minha Terrinha”, haja vista o amor que sempre nutri por ela. Sueleni, a matriarca, honrou-me com convite para o encontro em família, onde
seria oferecido o almoço, regado com muito amor e alegria. Claro que, de
pronto, eu aceitei, diante da forma terna, com que fui convidado.
O almoço tinha como complemento, o saboroso
churrasco, onde um filho pilotava a churrasqueira e o outro mantinha os copos
sempre cheios de refrigerante ou cerveja. Enquanto isso, as mulheres
organizavam a mesa com fartura de vários tipos de alimento. Não era redundância
afirmar, que o cheiro e o sabor eram sedutores, pois a anfitriã, como era
sabido, possuía um restaurante no vilarejo.
Durante aquela comilança, conversávamos sobre
muitos assuntos e relembrávamos coisas do passado. As gargalhadas eram
inevitáveis, diante de estórias pitorescas e engraçadas, narradas pelos
presentes. “De vez em quando, retornar à
Terra Natal é sempre prazeroso. E sentir o afeto dos conterrâneos, melhor ainda”,
eu pensei.
A hora passava depressa, que nem percebíamos.
Os anfitriões faziam de tudo pra me agradar e é, por isso, que não me aparto jamais
do “Torrão Natal”. Como eu disse no
início da narrativa: “Nada haveria de
interferir naquele momento de descontração”. Mas a estória só tem graça,
quando há quebra de protocolo, quer concordamos ou não.
De repente, um dos filhos da anfitriã,
recebera a trágica notícia, através do telefone (a maldita tecnologia), que lá
no sítio, os porcos desencadearam uma rebelião e fugiram da pocilga. A porcada,
fora de controle, arrombara a cerca divisória entre o sitio vizinho, onde,
entre um grunhido e outro, devoraram toda a plantação alheia.
Os porcos botaram terror não só no sítio,
mas, também, no churrasco em família. Tinha que haver uma saída... uma solução
para o caso. “Fala para o vizinho
colocar preço na plantação destruída, que eu pago”’, disse um dos filhos.
Já o outro, ponderou: “Vamos lá ver o
que aconteceu e arrebanhar os fujões.”.
Então,
diante da tragédia provocada pelos que “fuça e ronca”, criou-se uma força
tarefa, sob a liderança dos filhos de Sueleni. Em razão disso, coube a uma das
mulheres assumir a churrasqueira, uma vez que os varões partiram rumo ao campo
de batalha. Deixaram a cidade fortemente amados, pois sabiam que iriam
enfrentar uma luta de peso. Vencer os porcos gordos, não seria nada fácil.
Sem ter experiência da vida campesina,
propus-me a engrossar a fileira dos combatentes; mas fizeram-me abdicar da
ideia. Não tive outra opção, senão permanecer ali e ficar degustando daquela tentadora
comilança. Ao olhar para churrasqueira, tinha a saborosa visão do porco sobre a
grelha e ardendo com o calor do primeiro pecado capital – A Gula. E nem precisava,
que o suíno tivesse uma maçã na boca.
Ali deitado e quietinho, suando por todos os
poros, estaria proporcionando mais prazer aos anfitriões e o convidado, do que
aquele enorme trabalho. Enquanto participava do almoço, fiquei deveras
preocupado com os combatentes, correndo atrás dos porcos pela plantação alheia.
Pelo que
descrevia a repentina notícia, até os leitõezinhos, aproveitando da bagunça,
também fugiram. Imagina que cena dantesca, os porcos dando canseira nos seus donos. Se eu fosse Palmeirense, diria que era o time fugindo, com medo do rebaixamento. Meu Deus, que porcaria!
No final
da tarde, quando deixei a casa de Sueleni, a matriarca e anfitriã, os
guerreiros que partiram para o “Resgate do soldado Ryan”, ou melhor, “Resgate
dos porcos Large White”, ainda não haviam retornado da batalha lamacenta. Na
sagrada Terrinha, acontece de tudo, até porcos rebelados. Eu lamento não poder
narrar aos assíduos leitores, o desfecho da cômica e trágica narrativa.
Só posso apenas asseverar, que o churrasco
estava uma delícia. Isso sim!
Peruíbe SP, 22
de junho de 2022.