quinta-feira, 23 de junho de 2022

A REBELIÃO DOS PORCOS

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        Era uma tarde esplendorosa. Tudo transcorria na mais santa paz, porquanto a vida conspirava para uma felicidade inesquecível. Nada haveria de interferir naquele momento de descontração entre os anfitriões e o convidado do encontro tão nobre. O cenário era a casa de Sueleni; já o convidado, era o narrador deste causo, que agora passo a dissertar.

                        Eu visitava a Terra Natal, a qual carinhosamente chamava de “minha Terrinha”, haja vista o amor que sempre nutri por ela. Sueleni, a matriarca, honrou-me com convite para o encontro em família, onde seria oferecido o almoço, regado com muito amor e alegria. Claro que, de pronto, eu aceitei, diante da forma terna, com que fui convidado.

                        O almoço tinha como complemento, o saboroso churrasco, onde um filho pilotava a churrasqueira e o outro mantinha os copos sempre cheios de refrigerante ou cerveja. Enquanto isso, as mulheres organizavam a mesa com fartura de vários tipos de alimento. Não era redundância afirmar, que o cheiro e o sabor eram sedutores, pois a anfitriã, como era sabido, possuía um restaurante no vilarejo.

                        Durante aquela comilança, conversávamos sobre muitos assuntos e relembrávamos coisas do passado. As gargalhadas eram inevitáveis, diante de estórias pitorescas e engraçadas, narradas pelos presentes. “De vez em quando, retornar à Terra Natal é sempre prazeroso. E sentir o afeto dos conterrâneos, melhor ainda”, eu pensei.

                        A hora passava depressa, que nem percebíamos. Os anfitriões faziam de tudo pra me agradar e é, por isso, que não me aparto jamais do “Torrão Natal”.  Como eu disse no início da narrativa: “Nada haveria de interferir naquele momento de descontração”. Mas a estória só tem graça, quando há quebra de protocolo, quer concordamos ou não.

                        De repente, um dos filhos da anfitriã, recebera a trágica notícia, através do telefone (a maldita tecnologia), que lá no sítio, os porcos desencadearam uma rebelião e fugiram da pocilga. A porcada, fora de controle, arrombara a cerca divisória entre o sitio vizinho, onde, entre um grunhido e outro, devoraram toda a plantação alheia.

                        Os porcos botaram terror não só no sítio, mas, também, no churrasco em família. Tinha que haver uma saída... uma solução para o caso. “Fala para o vizinho colocar preço na plantação destruída, que eu pago”’, disse um dos filhos. Já o outro, ponderou: “Vamos lá ver o que aconteceu e arrebanhar os fujões.”.

                        Então, diante da tragédia provocada pelos que “fuça e ronca”, criou-se uma força tarefa, sob a liderança dos filhos de Sueleni. Em razão disso, coube a uma das mulheres assumir a churrasqueira, uma vez que os varões partiram rumo ao campo de batalha. Deixaram a cidade fortemente amados, pois sabiam que iriam enfrentar uma luta de peso. Vencer os porcos gordos, não seria nada fácil.

                        Sem ter experiência da vida campesina, propus-me a engrossar a fileira dos combatentes; mas fizeram-me abdicar da ideia. Não tive outra opção, senão permanecer ali e ficar degustando daquela tentadora comilança. Ao olhar para churrasqueira, tinha a saborosa visão do porco sobre a grelha e ardendo com o calor do primeiro pecado capital – A Gula. E nem precisava, que o suíno tivesse uma maçã na boca.

                        Ali deitado e quietinho, suando por todos os poros, estaria proporcionando mais prazer aos anfitriões e o convidado, do que aquele enorme trabalho. Enquanto participava do almoço, fiquei deveras preocupado com os combatentes, correndo atrás dos porcos pela plantação alheia.

                    Pelo que descrevia a repentina notícia, até os leitõezinhos, aproveitando da bagunça, também fugiram. Imagina que cena dantesca, os porcos dando canseira nos seus donos. Se eu fosse Palmeirense, diria que era o time fugindo, com medo do rebaixamento.  Meu Deus, que porcaria!

                        No final da tarde, quando deixei a casa de Sueleni, a matriarca e anfitriã, os guerreiros que partiram para o “Resgate do soldado Ryan”, ou melhor, “Resgate dos porcos Large White”, ainda não haviam retornado da batalha lamacenta. Na sagrada Terrinha, acontece de tudo, até porcos rebelados. Eu lamento não poder narrar aos assíduos leitores, o desfecho da cômica e trágica narrativa.     

                        Só posso apenas asseverar, que o churrasco estava uma delícia. Isso sim!

 

Peruíbe SP, 22 de junho de 2022.

 

 

 

 

 

Um comentário:

Barbara Mota disse...

Adorei! Hahahaha
Dei boas gargalhadas...