terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

FORMAS DE AMAR

 

Adão de Souza Ribeiro

Tem quem fala ou grita

Para dizer o sentimento

Como expressa o vento

Se algo sente ou avista.

 

Tem quem ri ou chora

E não guarda segredo.

Quando chega a hora,

Muda todo o enredo.

 

Tem quem sofre ou cala

Da vida foge e esconde.

Quieto arruma sua mala

Parte não sei para onde.

 

Tem quem lê ou canta,

Como o lindo rouxinol

Pois sua alegria é tanta

Que dança em caracol.

 

Tem quem vê ou ilude,

Com o balanço do mar

E quem ama a Lourdes

Sai pelo mar a navegar!

 

Peruíbe SP, 20 de fevereiro de 2024.

 

 

 

domingo, 18 de fevereiro de 2024

APENAS AMAR

 

Adão de Souza Ribeiro

Amar de todo jeito

Até perder o juízo.

Embriagar no beijo

É disso que preciso.

 

Em noite sem sono

Na madrugada fria

Quero ser seu dono

E fugir desta agonia

 

Devorar seu corpo,

Sem nenhum pudor

Acariciar este rosto

Com gosto de suor.

                                                      

Eu digo o que sinto

Sem nada lhe dizer

Sigo o meu instinto,

Como barco no mar.

 

Madrugada de luar,

Se agonia não passa

Quero apenas amar

E só isso me basta!

 

Peruíbe SP, 18 de fevereiro de 2024.

 

 

sábado, 17 de fevereiro de 2024

NOITE DE AUTÓGRAFO

 

Adão de Souza Ribeiro

Boa noite, queridos amigos e amigas.

É com imensa alegria, que retorno a Guaimbê SP, minha cidade natal, a qual, carinhosamente chamo de TERRINHA.

Aqui estou, para o lançamento do livro de crônicas intitulado: “Causos da TERRINHA e outras prosas”.

Nele procurei retratar os fatos reais e pitorescos, acontecidos neste lugar sacrossanto.

O livro não é apenas uma obra literária, mas, acima de tudo o resgate da história da história de Guaimbê SP, para ser guardado como documento, no fundo do coração.

Meus avós chegaram em 1930 e fincaram morada. Aqui nasceram seus filhos e netos, sendo que, um deles sou eu.

Em cada rua, praça e casa, há um pedaço de mim. A minha saudade transita por todos os cantos da minha cidade, de mãos dadas com as pessoas da minha infância. Como posso me esquecer do Grupo Escolar “José Belmiro Rocha’, do Ginásio Estadual de Guaimbê SP, da praça matriz e da Rua Rui Barbosa?

Hoje com o coração transbordando de alegria, quero agradecer a Deus que me permitiu tamanha honradez; a minha família que se faz presente; a querida amiga Maria de Lourdes Corrêa, que carinhosamente chamo de minha Nossa Senhora de Lourdes, a santa que despencou do céu e que me acompanha desde que fui cometido de AVC; a Prefeita Márcia Elena Nunes Achilles, a qual, em nome dela, cumprimento todas as autoridades; o amigo Diego Esteves, em nome do qual cumprimento todos os presentes.

A querida e eterna professora Marlene Pádua Salvajolli, rendo minha gratidão pelos seus ensinamentos e, ainda, por ter aceito o convite em prefaciar esta modesta coletânea.

Agradeço a presença da professora Cidoca, patrimônio vivo de Guaimbê SP.

Este lançamento só está sendo coroado de êxito, graças aos guaimbeenses que amam e valorizam a cultura e a arte desta terra.

A querida amiga de infância Carmem Cenyra Pádua Salvajolli, da equipe da prefeita, agradeço seu empenho e dedicação em organizar este evento, o qual está sendo coroado de êxito.

Desejo deixar registrado a ausência do meu pai Argentino e do meu irmão Noel, que partiram antes do combinado. Também, da minha mãe Olindrina, que está muito debilitada, em razão da idade avançada e da doença “Mal de Alzheimer”.

A todos os presentes fica aqui a minha gratidão.

Um dia, quando eu partir para mansão do amanhã, quero repousar meu corpo aqui, em meu torrão natal.

Finalizando que Deus abençoe todos nós. Amém!

Guaimbê SP, 01 de março de 2024.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

O CASAMENTO

 

Adão de Souza Ribeiro

Quando José casou com Maria

Aquele ser inocente mal sabia

Que ela amava um tal de João

José teve o ataque do coração.

 

Quando Rita casou com Alfredo

Ela não quis revelar seu segredo                  

Que já perdera rótulo de moça

Ele tão triste, deu-lhe uma coça.

 

Quando Pedro casou com Gerusa

Uma mulher linda, menina cafuza

E pensou ser ela uma mulher rica

Pobre e só usava roupa de chita.

 

Quando Adão casou com a Eva,

Foi então que começou a guerra

Ela não tinha um pingo de juízo,

Jogou fora as belezas do paraíso.

 

Quando Rui casou com Elizabeth

Pensou ser a mulher tão sapeca.

Com jeito se fez fiel e dedicada

Vamos parar com a palhaçada?

 

Peruíbe SP, 13 de fevereiro de 2024.

domingo, 11 de fevereiro de 2024

FÉ DE MENOS

 

Adão de Souza Ribeiro

Um vigário vigarista,

Com ideia comunista.

Arrumou a confusão,

Com roceiro e patrão.

 

Aliciou o adolescente,

E catequisou a mente

Hoje sofre a ideologia

Pregada lá na sacristia.

 

E a cidade alvissareira,

Caiu bem na ribanceira.

Sua vida fechou a porta

Que coisa triste, nossa!

 

Vigário, sem pestanejar

Derrubou o santo altar.

Expulsou seu Salvador

O mais antigo morador.

 

Imagem botou para fora

Hoje a fé soluça e chora

E o fiel perdeu o crédito

Igreja virou um deserto.

 

Ele só desonrou a batina

Mas a santa Bíblia ensina

Fé foge longe da política

Fé salva, outra escraviza.

 

Nunca me esqueço disso

A cidade virou rebuliço.

Sacrilégio deixou marca

Na alma da pobre beata.

 

Peruíbe SP, 11 de fevereiro de 2024.

 

sábado, 10 de fevereiro de 2024

TRISTE ABANDONO

 

Adão de Souza Ribeiro

Como é triste o abandono,

Dói no corpo e fere a alma.

E cala. Entra ano e sai ano,

Não há nada que o acalma.

 

Fera devorando por dentro

Tira o que há de mais belo

Como faz a força do vento

E que destrói todo castelo.

 

Tira a alegria do coração,

Sufoca com dor no peito.

No universo ecoa um não

Mas se fugir não tem jeito.

 

É cruel e não tem piedade

Ele vira a vida do avesso.

Não vê a dor e nem idade

Eis aí o tal desassossego.

 

O que fez, isso nada conta

O troféu vai ficar para trás

Antes que a solidão rompa

Aconselha dormir em paz.

 

Não chore e nem censura,

Como tudo fosse pecado.

Pois toda a sua amargura

Um dia, será só passado.

 

Quando vem e bate à porta

Sem que a vida não espera

Reza. Pois é chegada hora,

De partir em paz da terra!!

 

Peruíbe SP, 10 de fevereiro de 2024.

 

 

 

                                                                                                                          

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

O POETA FINGE

 

Adão de Souza Ribeiro

Só o poeta finge,

Que ama e sofre.

O olhar de lince,

Sabe dar o bote.

 

Só ele sabe amar

Sem temer nada.

Ele desafia o mar

Numa só guinada.

 

Com uma caneta

Risca sua palavra

Brinca com letra

Dor nada escapa.

 

Mas se faz verso,

Cheio de lirismo.

É o seu universo,

Seu romantismo.

 

Ele sofre e ama,

Mulher ausente

Rola só na cama

Amor que sente!

 

Peruíbe SP, 09 de fevereiro de 2024.

 

 

domingo, 4 de fevereiro de 2024

FOGO NO FACHO

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Rebeca, guarda bem esse nome. Ela era a menina mais bela da Terrinha. A fedelha tinha algo de especial que a diferenciava das outras. Parecia que estava fadada ao estrelado. Enquanto as outras tinham posses, ela era dona de uma estrela que cativava a todos. Os homens viviam arrastando asas para ela e as mulheres casadas, traziam os maridos em rédea curta, temendo que eles fossem fisgados pelo charme dela.

                        Ainda na tenra infância, nasceu para brilhar. As amiguinhas se vestiam e se comportavam de acordo com os costumes tradicionais do lugarejo. Já Rebeca, a protagonista da história, era toda espevitada. Por ser assim, causava admiração e, ao mesmo tempo, inveja entre as fêmeas, principalmente, as da mesma idade.

                        Ela sabia e sentia a admiração e o desejo, que despertava ao sexo masculino, desde os infantes até os marmanjões. Gostava de vestir roupa curta e decotada, sem contar que sua madeixa loira e cacheada, bem como, com os olhos verdes, que eram irresistíveis. Brincava com meninas, mas, de vez em quando, dava uma escapulida para estar entre os meninos. Claro, para a alegria da molecada!

                        E, assim, foi crescendo e o corpo ganhando forma de uma modelo, a fazer inveja para Gisele Caroline Bündchen. Ainda na inocência da infância, brincava desprovida de maldade. Mas quando chegou na puberdade, percebeu que o cheiro dos meninos era diferente, por isso, quando neles tocava, sentia um frenesi descontrolado. Soube que aquilo se chamava química (desejo) e era o que atraia o macho à fêmea.

                        Quando caminhava descontraidamente pela rua, causava uma comoção total. O padre errava na homilia, os cachaceiros se engasgavam com a marvada pinga, o pedreiro desandava a massa de reboco, o peão deixava o tordilho tropeçar no trote e o padeiro queimava o pão no forno.

                        As pessoas mais recatadas e, em especial, as mal amadas, em tom jocoso diziam: “Essa menina tem é muito fogo no facho.”  No entanto, aceitassem ou não, ela era uma joia preciosa num lugar pacato, onde nada ou quase nada acontecia para se comentar ou fofocar. Verdade seja dita e bendita.

                        Os repentistas, exímios compositores, cantavam versos enaltecendo as virtudes da pequena conterrânea. Todos os seres mortais da Terrinha, queriam estar junto dela, para desfrutarem de um abraço e um beijo, também, de uma carícia mais atrevida, se possível. Os meninos a chamavam de deusa, já as casadas, as mal-amadas, as coroas e as beatas, a chamavam sirigaita ou despudorada.

                        Então, contavam os moradores do lugarejo, que por muitos anos, foi venerada por todos, pois sempre era convidada a participar de eventos, tais como: desfiles oficiais comemorativos ao dia da Pátria e aniversário da cidade, cantando os respectivos hinos, em razão da voz afinada; carnaval, pois rebolava como ninguém; quermesse; bailes no Clube Municipal; procissão religiosa, vestida como anjo celestial. Meu Deus, que anjinho lindo!

                        Mas quando aquela menina, tão bela e tão pura, descobriu a força do desejo, descambou de vez. Volta e meia, era vista atracada a um menino, recebendo e dando carícias, quer fosse no jardim da praça matriz, no terreno baldio, atrás do muro da escola, defronte a beneficiadora de arroz ou debaixo do pé de jatobá. Os meninos disputavam entre si, a atenção daquela beldade.

                        Hoje os sessentões, que na época dos fatos foram os meninos personagens desta história, jamais esquecerão que desfrutaram das benesses de querida e doce Rebeca, a menina com muito fogo no facho.

                        Isso é fato e a mais pura verdade!

 

Peruíbe SP, 04 de fevereiro de 2024.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

TRISTE PARTIDA

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Durvalino foi um dos primeiros desbravadores da Terrinha. Ainda jovem ali chegou e fincou morada. Com muita luta e determinação, criou e educou a família. Ele dedicou-se à lavoura no bairro Bondade e a esposa, para ajudar nas despesas da casa, lavava e passava roupa para as famílias do lugarejo. Os sete filhos, muito educados e obedientes, estudaram no grupo escolar “José Belmiro Rocha”.

                        Com suas economias, comprou uma casa de quatro cômodos, onde viu os filhos crescerem. O município tinha como vocação a lavoura, pois não dispunha de outros recursos. O comércio mirrado, fazia de tudo para sobreviver.

                        Apesar das dificuldades, era o lugar ideal para criar e educar a família. A violência, drogas e prostituição, só se via nas telas da televisão. Diga-se de passagem, um aparelho muito raro e em preto e branco.

                        As quermesses, procissões, folia de reis, rodas de viola, jogo de futebol, bailes de fazenda, cachaçada nos botecos, pescaria nas lagoas, missas domingueiras, bate-papo na praça, faziam parte do lazer das pessoas.

                        Enfim, aquela era a mesmice cotidiana de um povo pacato, que não tinha pressa com o amanhã. Tudo acontecia no seu tempo certo e sem influência dos grandes centros. Mas, sem que se percebesse, a vida caminhava rumo ao futuro.

                        As crianças brincavam livremente para lá e para cá. Elas dividiam com os coleguinhas, o direito de serem felizes na acepção do termo. As ruas de terra batida, eram palco das mais belas brincadeiras, que se estendiam até altas horas da noite.

                        As ruas não eram movimentadas e, por isso, não ofereciam perigo aos fedelhos. Durante a chuva, a molecada se deliciava na enxurrada, a qual deslizava ladeira abaixo. Para eles, tudo era motivo de alegria. Saudade, doce saudade!

                        Desde que ali chegou, Durvalino viu que a cidade foi mudando aos poucos. A construção do grupo escolar, do ginásio, do matadouro municipal, da igreja matriz, do campo de futebol, da delegacia de polícia, da casa da agricultura, do clube municipal, do hospital e da cooperativa agrícola. Mas nada que pudesse gerar emprego a população que crescia. “Amanhã, o que farei com meus filhos?”, Durvalino pensava deveras preocupado. 

                        Certa feita, deitado na rede da varanda, depois de um dia cansativo da labuta na roça, preocupado com o futuro dos filhos, pensou: “Vou ter que buscar em outras bandas, melhorias para família.

                        Pesaroso e em frações de segundos decidiu mudar, a fim de dar melhor condição de vida e estudo aos filhos. “Um dia eu volto para o meu cantinho sagrado.”, prometeu em pensamento, o já cansado Durvalino.

                        No dia fatídico, fechou a casa. No caminhão Perkins, colocou a família na boleia, jogou a mudança na carroceria e partiu rumo ao desconhecido. Pelo retrovisor, viu a cidade sumindo aos poucos e deixou para trás toda sua história. Uma lágrima solitária, brotou no canto dos olhos e banhou a face.

                        Tentou disfarçar, mas Marialda, a esposa dedicada e fiel, percebeu. Para confortá-lo, em tom carinhoso, ela disse: “Durvalino, meu velho, fica triste não. Um dia nós voltamos, para o nosso pedaço de chão.

                        Já na nova morada, ele tornou-se caminhoneiro e a esposa, cozinheira num renomado restaurante. Os filhos, por sua vez, avançaram nos estudos e começaram os namoricos de adolescentes. Passaram-se os anos, os filhos foram se casando e formando família. Os herdeiros criaram raízes na terra desconhecida. A medida que os anos se passaram, Durvalino via que o sonho de retorno a Terrinha, tornava-se mais remoto.

                        De vez em quando, uma saudade avassaladora, apertava o coração daquele conterrâneo saudosista. Por onde andavam os amigos de boteco, de pelada de futebol, de cantoria de viola, das tradicionais folias de reis, dos bailes de fazenda e as prosas na praça? “Quando minha vida for ceifada, quero descansar para sempre, no meu torrão querido.”, aquele era o desejo dele, em vida.

                        A história de Durvalino, como de tantos outros da eterna e querida Terrinha, fazia reportar ao sofrido nordestino, que deixou sua terra castigada pela seca e pela fome, partindo rumo ao sul, em busca de esperança. Sempre com a promessa e o desejo de um dia voltar, mas, no entanto, tornava-se escravo do patrão e morria abandonado em terra estranha.

                        Nós vamo a São Paulo, que a coisa tá feia. Por terras aleia nós vamo vagar. Se o nosso destino. Não for tão mesquinho, Ai! Pro mesmo cantinho. Nos torna voltar.”, da música “Triste Partida”, de autoria do poeta Patativa do Assaré.

 

Peruíbe SP, 31 de janeiro de 2024.