Adão de Souza
Ribeiro
Rebeca, guarda bem esse nome. Ela era a
menina mais bela da Terrinha. A fedelha tinha algo de especial que a
diferenciava das outras. Parecia que estava fadada ao estrelado. Enquanto as
outras tinham posses, ela era dona de uma estrela que cativava a todos. Os
homens viviam arrastando asas para ela e as mulheres casadas, traziam os
maridos em rédea curta, temendo que eles fossem fisgados pelo charme dela.
Ainda na tenra infância, nasceu para brilhar.
As amiguinhas se vestiam e se comportavam de acordo com os costumes
tradicionais do lugarejo. Já Rebeca, a protagonista da história, era toda espevitada.
Por ser assim, causava admiração e, ao mesmo tempo, inveja entre as fêmeas,
principalmente, as da mesma idade.
Ela sabia e sentia a admiração e o desejo,
que despertava ao sexo masculino, desde os infantes até os marmanjões. Gostava
de vestir roupa curta e decotada, sem contar que sua madeixa loira e cacheada, bem
como, com os olhos verdes, que eram irresistíveis. Brincava com meninas, mas,
de vez em quando, dava uma escapulida para estar entre os meninos. Claro, para
a alegria da molecada!
E, assim, foi crescendo e o corpo ganhando
forma de uma modelo, a fazer inveja para Gisele Caroline Bündchen. Ainda na
inocência da infância, brincava desprovida de maldade. Mas quando chegou na
puberdade, percebeu que o cheiro dos meninos era diferente, por isso, quando neles
tocava, sentia um frenesi descontrolado. Soube que aquilo se chamava química (desejo)
e era o que atraia o macho à fêmea.
Quando caminhava descontraidamente pela rua,
causava uma comoção total. O padre errava na homilia, os cachaceiros se
engasgavam com a marvada pinga, o pedreiro desandava a massa de reboco, o peão
deixava o tordilho tropeçar no trote e o padeiro queimava o pão no forno.
As pessoas mais recatadas e, em especial, as
mal amadas, em tom jocoso diziam: “Essa menina tem é muito fogo no facho.” No entanto, aceitassem ou não, ela era uma joia
preciosa num lugar pacato, onde nada ou quase nada acontecia para se comentar
ou fofocar. Verdade seja dita e bendita.
Os repentistas, exímios compositores,
cantavam versos enaltecendo as virtudes da pequena conterrânea. Todos os seres mortais
da Terrinha, queriam estar junto dela, para desfrutarem de um abraço e um
beijo, também, de uma carícia mais atrevida, se possível. Os meninos a chamavam
de deusa, já as casadas, as mal-amadas, as coroas e as beatas, a chamavam
sirigaita ou despudorada.
Então, contavam os moradores do lugarejo, que
por muitos anos, foi venerada por todos, pois sempre era convidada a participar
de eventos, tais como: desfiles oficiais comemorativos ao dia da Pátria e
aniversário da cidade, cantando os respectivos hinos, em razão da voz afinada;
carnaval, pois rebolava como ninguém; quermesse; bailes no Clube Municipal;
procissão religiosa, vestida como anjo celestial. Meu Deus, que anjinho lindo!
Mas quando aquela menina, tão bela e tão pura,
descobriu a força do desejo, descambou de vez. Volta e meia, era vista atracada
a um menino, recebendo e dando carícias, quer fosse no jardim da praça matriz,
no terreno baldio, atrás do muro da escola, defronte a beneficiadora de arroz
ou debaixo do pé de jatobá. Os meninos disputavam entre si, a atenção daquela
beldade.
Hoje os sessentões, que na época dos fatos
foram os meninos personagens desta história, jamais esquecerão que desfrutaram
das benesses de querida e doce Rebeca, a menina com muito fogo no facho.
Isso é fato e a mais pura verdade!
Peruíbe SP, 04 de
fevereiro de 2024.
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