Adão de Souza
Ribeiro
O saudosista tem lá suas vantagens. Enquanto
o tempo corre em direção ao futuro, ele (saudosista) dá a freada e retorna para sua viagem ao
passado. Ao relembrar os tempos de outrora, analisa se a caminhada valeu a
pena. É no ontem, que reside as grandes conquistas e ensinamentos, que lapidam
a formação da sociedade.
Debruçado na janela da vida, ele contempla o
mundo desembestado que, feito criança, não se importa com o amanhã. O
progresso, conquista enormes feitos que, em dias vindouros de nada valerão,
senão respeitar o passado. Certa feita, um renomado atleta disse: “Quem
gosta do passado é museu”. Eu estou certo, que errou deverasmente.
Se quando, ao folhearmos um álbum de fotos,
ficamos admirados, é porque resgata as doces lembranças de um tempo que não
volta mais. Também nos mostra o quanto mudamos fisicamente, em razão do nosso
envelhecimento. Quando ouvimos músicas de décadas distantes, elas nos
transportam aos melhores momentos de nossas vidas.
A juventude de hoje, escravizada pelo
modernismo, rotula o saudosista de quadrado
ou fora de moda. Ela desconhece quão
saboroso é viajar na lembrança rica em acontecimentos. A tecnologia trouxe
facilidade, mas, por outro lado, fez com que as pessoas perdessem a essência da
vida. O que elas vão passar de experiência aos filhos?
O cheiro da relva molhada, o barulho da chuva
no telhado, o bailar das árvores beijadas pelo vento, o caminhar manso do rio
caudaloso, o galopar do manga larga arriado, tudo nos transporta ao ontem. Não
se deve pegar carona, na falta de opinião própria e de bom gosto, apenas para
agradar os vazios de sentimentos. Quem não teve passado, foi espectro de homem,
não viveu.
Ao ver os objetos antigos, muitas vezes
rudimentares, fazem acreditar que eram mais eficientes e duradouros do que os
de hoje. Não se esqueça de que, neste tempo moderno, tudo é descartável, pois,
o que interessa é o consumismo. Por incrível que pareça, até o sentimento
humano é descartável.
Então não é redundância dizer, que sinto
saudade imensa do velho mundo infantil, onde o tempo não tinha pressa e os
brinquedos eram confeccionados pelos infantes. As brincadeiras saudáveis, foram
transmitidas pelos avós. Mas, agora, o progresso quebrou a corrente das
tradições.
Como numa película de cinema, a imagem do
passado transita pela mente. De vez em quando, me pego chorando num canto da
casa da solidão. Recordar causa uma enorme nostalgia e um aperto insuportável
no coração. Assim, navego entre o passado e o futuro. O desabafar pela perda da
história é uma necessidade. Chorar é preciso.
O saudosista tem lá suas vantagens, mas,
também, tem suas amarguras. Afinal de contas, este é o preço de quem não quer
se desgarrar de viver o ontem!
Peruíbe SP, 22 de
janeiro de 2023.