domingo, 28 de janeiro de 2024

MÃE NATUREZA

 

Adão de Souza Ribeiro

Lá vai uma formiga

Levando a comida

Para o seu celeiro,

Na lida dia inteiro.

 

Lá vai uma cigarra

Na sua alegre farra

O canto estridente,

Saúda o sol poente.


Lá vai a tartaruga,

 Toda cheia de ruga

Muito bela e fogosa

E a casa nas costas.


Lá vai a araponga,

Com sua asa longa

De volta ao ninho,

Ver seu filhotinho.

 

Lá vai uma baleia,

Dá a volta e meia

Sua dança no mar

Faz a onda dançar.


Lá vai solto grilo

Com o seu sorriso

Pula feliz na terra

E dorme na relva.

 

Lá vai um menino

Sem rumo destino

Parece até o poeta

Saudade que resta.

 

Lá vai o lindo anjo

Tocando seu banjo

Vagando só ao léu,

Calmo entra no céu.

 

Peruíbe SP, 28 de janeiro de 2023.   

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A CHUVA

 

Adão de Souza Ribeiro

A chuva fina lá fora

É canção ao ouvido

Diz: dança comigo,

Vem e não demora.

 

A gota no telhado,

Embriaga e seduz.

É rima que traduz,

Amor apaixonado.

 

E a noite chuvosa,

Embala meu sono.

Foge o abandono,

E a alma dengosa.

 

E o toque na calha

Vai e beija a terra.

Madrugada espera

A paz que espalha.

 

Nuvem lá do alto,

Cuida da natureza.

E a vida feliz reza

A fartura no pasto.

 

Chuva vem do céu

Traz toda bonança.

Deus não se cansa,

Do seu menestrel!

 

                                                         Peruíbe SP, 23 de janeiro de 2023.

 

 

 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O SAUDOSISTA

 

Adão de Souza Ribeiro

                        O saudosista tem lá suas vantagens. Enquanto o tempo corre em direção ao futuro, ele (saudosista) dá a freada e retorna para sua viagem ao passado. Ao relembrar os tempos de outrora, analisa se a caminhada valeu a pena. É no ontem, que reside as grandes conquistas e ensinamentos, que lapidam a formação da sociedade.

                        Debruçado na janela da vida, ele contempla o mundo desembestado que, feito criança, não se importa com o amanhã. O progresso, conquista enormes feitos que, em dias vindouros de nada valerão, senão respeitar o passado. Certa feita, um renomado atleta disse: “Quem gosta do passado é museu”. Eu estou certo, que errou deverasmente.

                        Se quando, ao folhearmos um álbum de fotos, ficamos admirados, é porque resgata as doces lembranças de um tempo que não volta mais. Também nos mostra o quanto mudamos fisicamente, em razão do nosso envelhecimento. Quando ouvimos músicas de décadas distantes, elas nos transportam aos melhores momentos de nossas vidas.

                        A juventude de hoje, escravizada pelo modernismo, rotula o saudosista de quadrado ou fora de moda. Ela desconhece quão saboroso é viajar na lembrança rica em acontecimentos. A tecnologia trouxe facilidade, mas, por outro lado, fez com que as pessoas perdessem a essência da vida. O que elas vão passar de experiência aos filhos?

                        O cheiro da relva molhada, o barulho da chuva no telhado, o bailar das árvores beijadas pelo vento, o caminhar manso do rio caudaloso, o galopar do manga larga arriado, tudo nos transporta ao ontem. Não se deve pegar carona, na falta de opinião própria e de bom gosto, apenas para agradar os vazios de sentimentos. Quem não teve passado, foi espectro de homem, não viveu.

                        Ao ver os objetos antigos, muitas vezes rudimentares, fazem acreditar que eram mais eficientes e duradouros do que os de hoje. Não se esqueça de que, neste tempo moderno, tudo é descartável, pois, o que interessa é o consumismo. Por incrível que pareça, até o sentimento humano é descartável.

                        Então não é redundância dizer, que sinto saudade imensa do velho mundo infantil, onde o tempo não tinha pressa e os brinquedos eram confeccionados pelos infantes. As brincadeiras saudáveis, foram transmitidas pelos avós. Mas, agora, o progresso quebrou a corrente das tradições.

                        Como numa película de cinema, a imagem do passado transita pela mente. De vez em quando, me pego chorando num canto da casa da solidão. Recordar causa uma enorme nostalgia e um aperto insuportável no coração. Assim, navego entre o passado e o futuro. O desabafar pela perda da história é uma necessidade. Chorar é preciso.

                        O saudosista tem lá suas vantagens, mas, também, tem suas amarguras. Afinal de contas, este é o preço de quem não quer se desgarrar de viver o ontem!

 

Peruíbe SP, 22 de janeiro de 2023.   

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

BARQUINHO DE PAPEL

 

Adão de Souza Ribeiro

Na mansidão do mar,

Navega um barquinho.

Ele segue tão sozinho,

Ao sabor do belo luar.

 

Ao lado voa a gaivota.

No bailar que encanta

Sua felicidade é tanta,

Mas não desvia a rota.

 

Ele vence todas ondas              

Não teme os tubarões

Canta as belas canções

Sobre águas profundas.

 

Ele flutua calmo e leve,

Com o soprar do vento

E este navegar tão lento

Passa no meio da neve.

 

Vá e segue seu destino

E beija a brisa da noite

Que mar não se revolte

Leve sonho de menino!

 

Peruíbe SP, 18 de janeiro de 2023.

domingo, 14 de janeiro de 2024

TEMPO DE VIDA

 

Adão de Souza Ribeiro

Meu Deus, quanto tempo me resta

Para percorrer esta longa estrada?

A vida sorrateira espia pela fresta,

Orvalho na relva a noite estrelada.

 

Eu sigo minha fé, o eterno destino

Desvio do erro, maldade e pecado

A sina de errante, é desde menino

Busco na poesia, o meu desabafo.

 

Meu Deus, nesta luta eu me canso

É muita barreira sob o sol a pino.

E lá longe vejo um lindo remanso

Onde os anjos entoam o seu hino.

 

Floresta, pássaro, isso me anima

Te venero no céu e não na igreja

Sou lutador e venço na esgrima,

E não temo o cansaço e a peleja

 

Quanto tempo me resta, meu Deus

Para que eu encontre a paz e luz?

É o destino que deste ao filho seu

Então humilde, eu carrego a cruz!

 

Peruíbe SP, 14 de janeiro de 2023.

sábado, 13 de janeiro de 2024

O PRÉ-HISTÓRICO

 

Adão de Souza Ribeiro

Por favor, não me pergunte,

Qual será a verdadeira idade

Eu sou lá da era do mamute,

Lá de longe, da antiguidade.

 

E sou rude e nada me agrada

Por isso estranho esse mundo

Ao caminhar por uma estrada

Vejo tudo num vale profundo.

 

O homem só destrói o planeta

E torna triste a linda paisagem

Na guerra afugenta a borboleta

Então dizem que sou selvagem.

 

Sou pré-histórico, assim penso

Eu nunca me envergonho disso

E se chorar, traga-me um lenço

A modernidade é um rebuliço.

 

É sabido que na era neandertal,

A vida era mais pura e tão bela

Não havia tragédia e tanto mal

Se eu vivesse lá, quem me dera!

 

Peruíbe SP, 13 de janeiro de 2023

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

AS MÃOS

 

Adão de Souza Ribeiro

Deus abençoe todas mãos

Que acenam em saudação

Com elas constroem a paz

Sem as quais, nada se faz.

 

Que planta e que se rega

E ela salva na hora certa                               

Sem ela o corpo padece,

É terra inútil, no agreste.

 

Mãos que cura e consagra

Que cria o ouro e a prata,

Elas protegem os filisteus

São obras vindas de Deus.

 

Mão que pinta no caderno

O mundo puro e mais belo

E vem e traz em cada dedo

Mil universos de segredos.

 

Que aplaude e que se mata

Na defesa, saca sua espada

E que calma traça a escrita:

Oh mão, mil vezes bendita!

 

Peruíbe SP, 10 de janeiro de 2023.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

O ENGENHEIRO DAS LETRAS

 

Adão de Souza Ribeiro

O poeta é, para mim, um tolo,

Só ele acredita no que escreve

Pois, assim, de tijolo em tijolo

Constrói um mundo mais leve.

 

A velha régua é a sua métrica,

Para que verso não fique torto.

Se o verso lhe soar assimétrico

Apaga e começa tudo de novo.

 

E por ser metódico, ele se tortura.

Fica horas em busca da perfeição

No papel ou no caderno brochura

Cria sonho, é o arquiteto da ilusão

 

O que seria deste mundo tão louco

Sem os devaneios do amigo poeta?

Beleza da vida morreria aos poucos

Pereceria o coração, sirva de alerta.

 

Ele torna a poesia um lindo bálsamo

Do amor, o mundo nunca se esqueça

Que cada poema é um manso riacho.

Deus proteja o engenheiro das letras!

Peruíbe SP, 09 de janeiro de 2024.

 

 

domingo, 7 de janeiro de 2024

A JANELA

 

Adão de Souza Ribeiro

Da janela de minha casa,

Eu contemplo a natureza

Por isso pare, sinta e veja

A sua beleza e sua graça.

 

Vejo a rua que caminha,

Alegre, calma, silenciosa

Feliz toda cheia de prosa

Parece não estar sozinha

 

Olho uma linda morena,

De corpo belo escultural

Perco o foco, passo mal

Que de longe me acena.

 

A janela do meu casebre,

Vive assim sempre aberta

Sem trinco e sem tramela

Forte não há quem quebre

 

Da janela de onde moro,

Diviso além do horizonte

Olho o futuro e o ontem,

E o lindo pássaro canoro

 

Casa é presente de Deus

Sem luxo e os assoalhos

A janela são meus olhos

A casa humilde, sou eu!

Peruíbe SP, 07 de janeiro de 2024.

 

sábado, 6 de janeiro de 2024

TANTA FELICIDADE!

 

Adão de Souza Ribeiro

O teu corpo colado ao meu

O silêncio fala por nós dois.

É tanta alegria, meu Deus!

Do lindo tempo que se foi.

 

O suor que escorre na pele

E a respiração forte sufoca

A lua solitária, que espere

Aqui seu beijo me provoca.

 

Sem pudor você se entrega

E faz da busca algo sublime

A paz que reina é tão bela

Coração calado se redime.

 

O mundo não me importa,

Se tenho você ao meu lado

Eu escrevo em linha torta,

Ver feliz é do meu agrado.

 

Toque em mim sem pressa

Do meu lábio sinta o sabor

Só felicidade que interessa

Pra quem tem louco amor.

 

O seu olhar suplica carícias

Eu me perco na sua beleza.

O prazer puro, sem malícia

Doma a sua fúria de tigresa.

 

Peruíbe SP, 06 de janeiro de 2023.