segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

O SAUDOSISTA

 

Adão de Souza Ribeiro

                        O saudosista tem lá suas vantagens. Enquanto o tempo corre em direção ao futuro, ele (saudosista) dá a freada e retorna para sua viagem ao passado. Ao relembrar os tempos de outrora, analisa se a caminhada valeu a pena. É no ontem, que reside as grandes conquistas e ensinamentos, que lapidam a formação da sociedade.

                        Debruçado na janela da vida, ele contempla o mundo desembestado que, feito criança, não se importa com o amanhã. O progresso, conquista enormes feitos que, em dias vindouros de nada valerão, senão respeitar o passado. Certa feita, um renomado atleta disse: “Quem gosta do passado é museu”. Eu estou certo, que errou deverasmente.

                        Se quando, ao folhearmos um álbum de fotos, ficamos admirados, é porque resgata as doces lembranças de um tempo que não volta mais. Também nos mostra o quanto mudamos fisicamente, em razão do nosso envelhecimento. Quando ouvimos músicas de décadas distantes, elas nos transportam aos melhores momentos de nossas vidas.

                        A juventude de hoje, escravizada pelo modernismo, rotula o saudosista de quadrado ou fora de moda. Ela desconhece quão saboroso é viajar na lembrança rica em acontecimentos. A tecnologia trouxe facilidade, mas, por outro lado, fez com que as pessoas perdessem a essência da vida. O que elas vão passar de experiência aos filhos?

                        O cheiro da relva molhada, o barulho da chuva no telhado, o bailar das árvores beijadas pelo vento, o caminhar manso do rio caudaloso, o galopar do manga larga arriado, tudo nos transporta ao ontem. Não se deve pegar carona, na falta de opinião própria e de bom gosto, apenas para agradar os vazios de sentimentos. Quem não teve passado, foi espectro de homem, não viveu.

                        Ao ver os objetos antigos, muitas vezes rudimentares, fazem acreditar que eram mais eficientes e duradouros do que os de hoje. Não se esqueça de que, neste tempo moderno, tudo é descartável, pois, o que interessa é o consumismo. Por incrível que pareça, até o sentimento humano é descartável.

                        Então não é redundância dizer, que sinto saudade imensa do velho mundo infantil, onde o tempo não tinha pressa e os brinquedos eram confeccionados pelos infantes. As brincadeiras saudáveis, foram transmitidas pelos avós. Mas, agora, o progresso quebrou a corrente das tradições.

                        Como numa película de cinema, a imagem do passado transita pela mente. De vez em quando, me pego chorando num canto da casa da solidão. Recordar causa uma enorme nostalgia e um aperto insuportável no coração. Assim, navego entre o passado e o futuro. O desabafar pela perda da história é uma necessidade. Chorar é preciso.

                        O saudosista tem lá suas vantagens, mas, também, tem suas amarguras. Afinal de contas, este é o preço de quem não quer se desgarrar de viver o ontem!

 

Peruíbe SP, 22 de janeiro de 2023.   

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