sábado, 29 de abril de 2023

A MULHER DA VOZ

 

Adão de Souza Ribeiro

Na vida pode faltar tudo

Neste mundo tão feroz.

Faltar o dinheiro miúdo,

Mas nunca a minha voz.

 

Se for nasalada ou rouca

Sem falar a palavra certa

A mulher ensina a boca,

O som com vogal aberta.

 

Com simpatia e seu jeito,

Devolve minha esperança

Aos poucos, não gaguejo.

E sinto rápida a mudança.

 

Até cantar eu me atrevo

Uma canção lá do futuro

E nesse tal desassossego,

Ouso em escrever, juro.

 

Por favor, não fica bravo.

Pois amar a vida, eu voltei.

Mas feliz é “seu” Gustavo.

Que ela é rainha e ele rei.

 

Peruíbe SP, 29 de abril de 2023.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

AS LÁGRIMAS DA CHUVA

 

Adão de Souza Ribeiro

O olho triste chora

A lagrima é chuva,

O amor foi embora

Só a saudade dura.

 

Úmida está a relva,

Com a gota orvalho.

Só o amor despreza

O peito é carvalho.

 

O som no telhado,

Encanta o silêncio,

E lá vem o passado

Nas asas do vento.

 

A calma acalenta,

Coração que sofre

Mas a paz é lenta,

Há algo tão nobre?

 

Antes que desperta,

A noite com soluço.

Só sabe a hora certa,

Se acordou do susto.

 

 

Peruíbe SP, 27 de abril de 2023,

terça-feira, 25 de abril de 2023

A LUTA DO CORPO

 Adão de Souza Ribeiro

Por que traiu meu corpo?

Dele eu não esperava isso.

E sei que já não sou moço.

Porém viver ainda preciso.

 

Um lado grita, luta, chora

Outro corre, pula, resiste,

E o que resta, dia e hora?

É um pássaro sem alpiste.

 

Se apenas dor acompanha

Ela não se aparta de mim.

E vou vencer a montanha.

Nem tudo será o meu fim

 

Se a vida só prega a peça,

Bem no meio do caminho

Por favor, não me esqueça

Neste mundo, tão sozinho.

 

Se a metade quer o sonho

Outra triste só desanima.

De sofrer não me oponho

Que seja feliz minha sina!

 

Peruíbe SP, 25 de abril de 2023

segunda-feira, 24 de abril de 2023

O ARTISTA

 

Adão de Souza Ribeiro

O que seria do planeta

Sem o sonho do artista

Pintor, cantor e poeta,

Era só a tristeza à vista.

 

Com sua alma singela

E o coração de ternura

Torna a vida mais bela

E a noite menos escura.

 

O sofrimento ameniza,

Torna florido caminho

Faz valer a pena a vida

Lá na asa do passarinho.

 

De Deus vem o talento,

Não duvide o incrédulo

Artista dá voz ao vento

Dom transcende século.

 

E de artista se fez Deus,

Para falar da sua criação

Da arte não seja um ateu.

Ama o artista de coração.

 

Peruíbe SP, 24 de abril de 2023.

 

sexta-feira, 21 de abril de 2023

O SÁBIO E AS CHORUMELAS

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        Numa cidadezinha do interior, encravada no Noroeste do Estado, havia um homem, que perambulava pelas ruas. Para uns, ele era um louco, mas, para outros, um sábio. No entanto, para os incrédulos, não passava de charlatão ou adivinho. Certo é que as pessoas gostavam de ouvir suas prosas, carregadas de simbolismo. Isso ocorreu lá pelos anos idos de 1960 e 1970, da Era Cristã.

                        A sua aparência, causava encanto e ternura. Ele era um ancião, moreno,  estatura mediana, levemente arcado, magro, cabelos longos e ondulados, dedos finos e longos, nariz adunco, olhos azuis, voz suave e cadenciada e de passos lentos. Costumava vestir-se numa túnica branca, alpercata de couro nos pés, um boné tricotado e esverdeado em forma de touca, um crucifixo dourado no pescoço, preso a uma corrente da mesma cor.

                        De vez em quando, era surpreendido falando com as flores do jardim da Praça Matriz ou com os pássaros pousados numa quaresmeira – tibouchina granulosa (melastomataceae) - florida. O engraçado, era que as aves respondiam com cantos, dando a entender que o compreendia. Bob Marley, um cachorro vira-lata, de cor caramelada, não se desgarrava dele. Os conterrâneos, davam-lhe marmita, salgados ou guloseimas, que ele dividia carinhosamente com o cachorro. Bob Marley educadamente agradecia, abanando a calda.

                        O nome dado ao canino, fora uma singela homenagem a Robert Nesta Marley, cantor e compositor de reggae, de origem jamaicana, mais conhecido por Bob  Marley. As pessoas humildes da cidadezinha, por não saberem pronunciar palavras estrangeiras, chamavam-no simplesmente de Bobi. O dono, por sua vez, era chamado carinhosamente de Sócrates - o pensador.

                        Os moradores sabiam que era de família humilde, isto é, o pai um lavrador e a mãe, uma parteira muito respeitada. De pouco estudo, pois cursara só o primário no “José Belmiro Rocha”. As pessoas atônitas, perguntavam: “ Mas de onde vinha tamanha sabedoria? ”. Os irmãos cresceram e ganharam asas e partiram mundo afora, mas ele permanecera ali, ou seja, preso as suas raízes.

                        A preocupação do protagonista do que se pretende narrar, era preservar a história e os costumes do lugarejo; alertar sobre a contaminação do progresso, a perda da ética, moral e bons costumes; a morte da fé, etc. e tal.  Nas longas horas de conversa com quem procurava ouvi-lo, nunca quis manipular opiniões alheias,    

                        Nas conversas prazerosas com ouvintes e/ou interlocutores dizia, dentre tantas coisas, que num futuro não muito distante, as estações do ano se misturariam; os filhos se revoltariam contra os pais, chegando a matá-los; em nome da ganância, nações invadiriam outras nações, provocando guerras atômicas; tentariam conquistar outros planetas, violando a divina criação.

                        A depredação da natureza, enchentes, terremotos, incêndios, secas devastadoras, fomes continentais; adultério; prostituição; pedofilia; homossexualismo; destruição das famílias; falsos profetas; políticos corruptos, afrontas a Deus, seriam apenas sinais do fim dos tempos.  

                        Pelas falas simplórias daquele homem, acreditava-se que era o motivo pelo qual optara em permanecer naquela cidadezinha, porque ela não fora contaminada pelos atos pecaminosos, ganância e luxúria do mundo lá fora. Ele se contentava viver somente com o necessário, nada mais do que o necessário. Os amigos de infância, que foram se aventurar pelo mundo distante, acabaram perdendo a essência da vida.

                        Depois de terminar a prosa com seus ouvintes, ele sempre finalizava, dizendo: “Preste bem atenção no que eu digo e, depois, não me venha com chorumelas, quando chegar o fim dos tempos”.

Peruíbe SP, 20 de abril de 2023.

sábado, 15 de abril de 2023

A MULHER E O MAR

 Adão de Souza Ribeiro

Uma mulher sentada na areia,

Sem pressa contempla o mar.

Com leveza a onda serpenteia

E só encanta os olhos do luar.

 

O vento acaricia o seu cabelo,

Natureza vem e beija sua face.

A paz espanta todo o pesadelo,

Não a saudade que longe passa.

 

A mulher olha a ilha lá distante

E o navegar de uma linda canoa.

Que estão na linha do horizonte,

A lágrima na asa da gaivota voa.

 

Ao tocar nas pedras o mar canta,

Mas no silêncio ela se transforma

Ela desfila como mais pura santa.

É uma princesa a reinar pela orla!

 

Peruíbe SP, 15 de abril de 2023.

terça-feira, 11 de abril de 2023

A POBREZA

 Adão de Souza Ribeiro

 

Sabe, tantas vezes eu chorei

Com muita fome e com frio.

Pedi ajuda a madre e ao frei,

Mas a pobreza é algo hostil.

 

E desesperado, bati na igreja,

Pois doía tanto minha barriga

De dízimo cheio era a bandeja.

O padre: “Deixa de cantiga! ”.

 

E batendo de porta em porta

Fui no comércio e nas casas,

Nossa dor a ninguém importa

Lá dizia: “Calma, isso passa. ”

 

Cheguei no casebre modesto

O senhor alegre me atendeu.

Deu roupa e comida confesso

Era Jesus Cristo, filho de Deus!

 

Peruíbe SP, 10 de abril de 2023

segunda-feira, 10 de abril de 2023

FUTURO INCERTO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        O que você quer ser quando crescer? ”, indaga o papai zeloso.

                        Desde muito cedo, os pais se preocupam com o destino de seus rebentos. Ao vê-los gatinhando, mil cenas visitam a imaginação. Serão um médico, advogado, empresário, cientista, juiz, escritor, mas, também, um assassino, ladrão, estuprador, estelionatário? Esses pensamentos atormentam o sossego de quem pôs os herdeiros no mundo.

                        Por terem nascidos e vividos em outra época, eles temem o mundo avançado. Naquele tempo, não havia Estatuto da Criança e Adolescente – ECA -; havia sim, o Juizado de Menores, o qual, todas as noites, às 21:00 horas, com o carro passava recolhendo os menores da rua. Os pequerruchos só eram liberados aos pais, que antes de recebê-los, recebiam uma reprimenda.

                        A parafernália tecnológica, somada a mídia selvagem, está virando a mentalidade dos anjinhos. Estão se tornando monstros nas mãos de um sistema infame. Os manipuladores (televisão, rádio, jornal, revista, político, etc.), escondem atrás da cortina, dizendo que é culpa das redes sociais. Meu Deus, como são hipócritas!

                        Os genitores orientam os filhos: “Prestem atenção na origem (família) de seus consortes”, ou seja, na genética deles. Os filhos trarão os traços das duas famílias. Então vejamos. Cesare Lombroso – 1835 a 1909, um médico psiquiatra, higienista, cirurgião, criminologista, antropólogo e cientista italiano, afirmava em sua teoria, na obra O homem delinquente, o seguinte: “Os criminosos são incentivos hereditários, que são transmitidos de geração em geração de maneira genética”.

                        A família de sábios, poderão gerar intelectuais e filósofos; a de artistas, poderão gerar cantores, pintores, escritores, músicos, compositores; por outro lado, a de desajustados, poderão gerar, assassinos, ladrões, estupradores, etc. Quem foi policial por longos anos, pode ser testemunha de que a Teoria Lombrosiana, tem fundamento. Portanto, creio que o futuro do filho depende, dentre outras coisas, da genética e da educação recebida.

                        Aloísio Tancredo Gonçalves de Azedo – 1857 a 1913, um escritor, romancista, contista, jornalista, caricaturista, pintor e cônsul brasileiro, em sua obra O cortiço, deixa transparecer que “O homem é fruto do meio”. Nesta mesma linha, segue Jean-Jacques Rousseau – 1712 a 1778, um filósofo, teórico político, escritor e compositor italiano, quando dizia: “Que o homem é bom naturalmente, embora esteja sempre o jugo da vida em sociedade, a qual o predispõe à depravação”. Assim também pensa Sigmund Freud – 1856 a 1939, um médico neurologista e psiquiatra austríaco, pois, para ele: “De onde vive, o homem não tem domínio sobre seu livre-arbítrio, não consegue vencer as circunstâncias”.

                        A ocasião faz o furto, mas o ladrão nasce feito”, por isso, defendo a tese de Cesare Lombroso, não sendo eu um intelectual e nem filósofo. Quando os pais perguntam aos filhos: “O que você quer ser quando crescer? ”, não imaginam que já está armazenado no gene da criança, o que será ou não. A sociedade em que vive, poderá ser um terreno fértil para germinar o seu instinto de pessoa honesta ou criminosa.

                        Em que pese as teorias antagônicas entre si, preocupa-me o mundo atual em que vivemos. Ele pode aflorar instintos adormecidos para o mal ou para o bem. Ao meu ver, essa mídia inescrupulosa, tem seu quinhão de responsabilidade no surgimento de monstros da sociedade. Depois, para se isentarem, eles culpam a internet, através das redes sociais. Os formadores de opinião, são verdadeiros crápulas. Posso estar errado, mas é o que penso.

                        Diante de um futuro incerto para nossos filhos, só resta buscar em Deus a salvação aos inocentes brasileirinhos. “God save their souls.” , “Dieu sauve les âmes.”, “Gott schütze ihre Seelen.”, “Dio salvi  le loro anime.” (Deus salve suas almas.).

 

Peruíbe SP, 10 de abril de 2023.

domingo, 9 de abril de 2023

MINHA CARÊNCIA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Se eu acordar de madrugada

Aos gritos, tremendo e rouco

Acaricia bem leve meu rosto,

Diga-me: “Calma, não é nada”.

 

Se entre a lágrima e o soluço,

Eu buscar o calor do teu peito

Abraça-me e me leve ao leito

Não vedes que estou confuso?

 

Se não dormir com muito frio

Que teu ombro seja travesseiro

Afugenta da alma meu pesadelo

O abandono me dá certo arrepio.

 

Faça oração ao anjo da guarda,

Peça a Jesus sua santa proteção

Se for com fé, Ele não dirá não

Sei, o milagre virá e não tarda.

 

Cubra-me, pois, com teu calor

Cante a canção se for preciso.

A calma do sono será o aviso,

De que não vivo sem teu amor.

 

Peruíbe SP, 09 de abril de 2023.

OS AMORES DO POETA

 

Adão de Souza Ribeiro

Se me amasse a Beatriz

Nas tardes de domingo.

Não chorava um pingo

Talvez seria bem feliz.

 

Se me amasse Vanessa

Como quem nada quer.

Seria desejada mulher,

Mas o mundo, esqueça.

 

Se me amasse Lourdes

Bela e pura, uma santa,

A felicidade seria tanta

Amaria sempre amiúde.

 

Se me amasse a Estela,

Num amor sem medida

Que delícia seria a vida

Veja, tal tristeza já era.

 

Se me amasse a Luzia,

De noite até ao arrebol.

Seu perfume no lençol,

A cama não seria vazia.

 

Se me amasse Carmem

E acabaria esse dilema

Entre a poesia e poema

Imortalizava, pasmem!

 

Peruíbe SP, 09 de abril de 2023.

 

 

sábado, 8 de abril de 2023

VIDA BUCÓLICA

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Pela manhã, não há nada mais prazeroso, do que contemplar a natureza lá na roça. Na varanda da casa e sentado na cadeira de balanço, coronel Ludovico pitava seu cigarro de fumo de corda e enrolado na palha seca de milho. Entre uma baforada (trago) e outra, divisava o horizonte das suas terras. Do lado da cadeira e sobre uma banqueta, uma xícara de esmalte branco, com o café forte e com pouco açúcar.

                        No degrau da escada da varanda, Duque, um cão de pelagem caramelo e fiel escudeiro, também acompanhava o dono na embriagante contemplação. De vez em quando, ele abanava o rabo para espantar as moscas atrevidas. Dentro da casa, dona Euflosina – esposa prendada-, cuidava dos afazeres domésticos.

                        Um calango marrom-escuro de listras verdes e brancas tropidurus torquatus, passou em desabalada carreira, atrás de um distraído besouro. Duque apenas abriu o olho e não deu importância aquela cena. No céu, as nuvens carregadas, anunciavam chuva forte, mas não era para já. A varanda e a cadeira eram o altar sacrossanto, de onde coronel Ludovico contemplava a exuberância da natureza.

                        No banhado, uma manada de capivaras, desfilavam majestosas, para lá e para cá. Diante de qualquer sinal de perigo, mergulhavam no rio e despareciam. Uma onça jaguatirica se embrenhava na mata densa. Na margem do Rio Feio, depois de longas horas de espera, com uma vara de anzol, um caboclo solitário tentava fisgar pintado ou pirarucu. Um bando de macacos-prego sapajus, se divertiam como crianças, pulando nos galhos das árvores, perto do curral.

                        Dali cuidava de tudo e, ao mesmo tempo, recordava da luta para conquistar aquela terra. A vida deu-lhe muitas chicotadas no lombo, além das noites mal dormidas, preocupado com a lavoura, o gado e os “papagaios” contraídos no Banco da cidade. O cabelo e a barba brancos, denunciavam que os anos passaram rapidamente. Euflosina nunca se desgarrou dele, por isso, a chamava de “minha rainha”.

                        No pasto e debaixo de uma paineira, descansava o carro de boi, como se fosse um troféu ganho, pela fazenda conquistada com orgulho e honestidade. Lá bem distante, aonde os olhos alcançavam, ele admirava a montanha, a qual, em razão da lonjura, parecia azulada. Do lado direito, uma grande touceira de bambu, dançava ao sabor do vento.

                        Com o olhar fixo na natureza e no horizonte, a mente do coronel Ludovico viajava, como se estivesse levitando. Em frações de segundo, transitava ora no passado, ora no futuro. O pensamento era embalado pelo barulho da água, que deslizava pela cachoeira, não muito distante dali. A divagação era acompanhada do o cantar melodioso da juriti. Na cozinha, Euflosina se divertia, ouvindo música sertaneja raiz, num velho radinho de pilha.

                        Os filhos, depois de crescidos, ganharam asas e se puseram voar, para aonde não se sabia. Por isso, muitas vezes, o velho coronel de tantas lutas e alegrias, afogava a saudade dos rebentos, observando a vida bucólica, que a natureza campesina lhe proporcionava. Ele imaginava os filhos, brincando no terreirão de secar café.

                        De repente e de surpresa, Euflosina surgiu com um prato de pão caseiro ainda quentinho, feito no forno a lenha, construído no quintal. Ela completou a xícara com café e pode ver lágrimas nos olhos do varão, porém, nada perguntou. Não quis atrapalhar a introversão do esposo. Depois de muitos anos juntos, ela aprendeu lidar com o silêncio dele. Ludovico era um homem sério, mas um esposo bondoso e carinhoso. Fazia um chamego e um cafuné, que a deixava louca!

                        Duque – o fiel escudeiro-, de soslaio percebeu a falta de um mimo. Para agradá-lo, Euflosina deu um ossobuco bastante carnudo e, em sinal de alegria e agradecimento ele abanou o rabo. Lá na estrada de terra, ladeada de cerca de arame farpado, passou um morador da redondeza, montado em seu cavalo alazão bem arreado. Mais uma vez, Duque não deu importância a cena. Ele estava ocupado com  presente ofertado pela sua dona. E diga-se de passagem: "Au...au, está uma delícia!", pensou o canino.

                        Por diversas vezes, dona Euflosina tinha que alertar o consorte, que almoço já estava pronto e posto à mesa. Até parecia que aquela contemplação da natureza e a viagem no tempo, causava um torpor e fazia com que o coronel Ludovico não sentisse fome.

                        Na verdade, o Coronel Ludovico, eterno esposo de dona Euflosina, sentia fome da paz e da vida bucólica do sertão.

 

Peruíbe SP, 08 de abril de 2023.

 

sexta-feira, 7 de abril de 2023

A POESIA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Não escreva sobre a religião

Muito menos da tal política.

Não desperdiça lindo dom,

Dado por Deus a sua escrita.

 

Ela não veio para catequisar,

Muito menos para convencer.

Sua missão é descrever o luar

A beleza do nosso entardecer .

 

Ela não se humilha ou se curva

A ternura cada verso preserva.

O seu encanto é como a chuva

Que se espalha sobre a relva.

 

O poeta traduz o sentimento.

Que traz guardado lá no peito

E não fala da mazela do vento,

E nem do mundo com defeito.

 

Deus deu à poesia e ao poeta,

A missão de falar sobre o belo.

Coisas da vida que não presta

Não moram dentro do verso!!

 

Peruíbe SP, 07 de abril de 2023.

 

terça-feira, 4 de abril de 2023

OS CABELOS BRANCOS

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Quando me ver de cabelos brancos,

Trata-me com toda a sua reverência

Pois eles representam os solavancos

Que vida me deu na minha vivência.

 

Quando me ver por aí todo arcado,

Com um andar pesado e tão lento.

Segura na minha mão fica do lado.

A caminhada é longa e tem tempo.

 

Quando me ver com a voz já baixa

Sem força para falar deste mundo.

Palavras desconexas nada encaixa.

Para e ouça, não sou moribundo...

 

Quando me ver usando a bengala,

Para evitar tombo e algum tropeço

Veja a vida tem pressa e não para.

Sei a vida cobra de todos um peço.

 

Quando me ver já sem força, velho

Com cabelos brancos como a neve.

É o fim de todos, ouça o conselho,

Esse dia se aproxima e será breve!

 

Peruíbe SP, 04 de abril de 2023.

 

segunda-feira, 3 de abril de 2023

NÃO CHORES

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Por favor, não chores por mim

Agora é tarde e não há tempo.

Deixes as lágrimas ao relento,

Suas gotas vão regar o jardim.

 

Eu passei por ti e não me vistes

Não me deste o abraço de afeto

Estava preocupada com o resto

E deixaste o meu coração triste.

 

Da indiferença não tenho rancor

Guardo apenas doce lembrança.

O sonho é apenas uma balança,

Que embala o coração sonhador.

 

Não chores, se está arrependida.

Eu quis me entregar por inteiro,

Achaste que eu era o forasteiro,

Sei que por outro estavas iludida.

 

Passou o tempo e já se foi a vida.

A vida tomou um rumo diferente.

Hoje só nos resta seguir em frente

Não chores e assim é a despedida!



Peruíbe SP, 03 de abril de 2023.

domingo, 2 de abril de 2023

A MUSA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Quero te cantar na canção,

Hei de imortalizar no verso.

Antes que tu digas um não,

Dá-me um beijo, eu te peço.

 

Em cada acorde da melodia

Dizer o quanto eu te desejo

Na estrofe alegre da poesia

A rima rica e o lindo solfejo.

 

Caneta do poeta é a batuta

Que conduz a obra imortal.

O músico faz da obra a luta

A joia de beleza sem igual.

 

Quero que tu vivas na arte,

Seja ela escrita ou cantada.

E que reine em toda parte,

Sem ti, a arte não é nada.

 

Mulher, que inspira ternura

Sonho no coração do artista

Saibas, és mais bela pintura

Tu tens pureza da ametista.

 

Peruíbe SP, 02 de abril de 2023.