Adão de Souza Ribeiro
Tem
coisas, que só o mundo inocente da infância nos proporciona. Este mundo puro e
sem maldade, faz com que o sonho seja eterno e se reveste de brilho, que
nenhuma outra fase da vida é capaz de nos proporcionar. Por isso, os adultos
jamais devem macular a inocência de um infante. Um dia se tornarão adultos e o progresso
se encarregará de tentar mudá-los.
Todas
as crianças, que viveram uma infância feliz, tem uma história para contar e eu,
claro, não fujo a regra. Eu tive o privilégio de viver numa época em que
tínhamos a liberdade de correr para lá e para cá, na terra natal, sem medo da
violência e da maldade, encravada na mente dos adultos.
Ainda
lembro saudoso, que depois da aula, isso no período da tarde, meus irmãos, primos
e alguns coleguinhas, reuníamos no quintal de meu avô e passávamos a tarde
trepados no pé de manga. Hoje, só de falar, sinto o cheiro da fruta. Ela tinha
um sabor diferente das outras frutas e era classificada de Manga Bourbon.
Entre
o mês de dezembro e janeiro, os galhos davam a fruta com abundância, sendo elas
de polpa doce e muita saborosa e sem fibras. Aqueles moleques trepados nos
galhos e entre as folhas, passavam horas e horas ali. Conversavam e riam,
lambuzavam o beiço e se arriscam apanhar aquela que estava na ponta do galho,
sem temerem em cair.
Não
é preciso dizer, que o chão, em torno do tronco grosso, ficava forrado de casca.
A arvore tem cerca de 25 metros de altura com copa frondosa e densa, também, o
tronco tem casca rugosa, cinza-escura e fibrosa. Existem outros tipos, tais
como: Tommy, Rosa, Adem, Palmer, Coquinho, Espada e Ubá. Eu não sei explicar,
mas, para mim, aquela era muito especial.
Entre
junho e setembro, começava a florada e aquilo era prenúncio de que não
demoraria para nos reunirmos em tardes prazerosas, no quintal da casa do meu
avô paterno. O tempo passou e as mudanças climáticas não mais carregaram os pés
em abundância, como antes e o que é pior, pois as que surgem agora, nascem todas
mirradas.
Graças
à Deus, ninguém caiu de lá e se tivesse acontecido, haveria um manguecídio.
Credo! O manto da noite, de mansinho cobria a mangueira e embalados na farra
infantil, nem percebíamos. Se não fosse meu avô gritando: “Molecada desce daí, porque já é noite”, continuávamos ali, noite adentro.
Pena
que o tempo da colheita era muito curto, mas, mesmo assim, curtíamos em toda
sua plenitude. As crianças do modernismo, nem imaginam o quanto era gostoso
chupar as frutas fresquinhas, pois até o sabor era diferente. Ás vezes, ao
chegarmos ali, já haviam algumas caídas ao solo, de tão maduras.
Hoje, para mim, pé de manga tem
cheiro e sabor de infância. Ao lembrar daquele saudoso tempo, ali trepado na
companhia dos irmãos, primos e coleguinhas, as lagrimas saltam aos olhos. O
cheiro saboroso adocicado da fruta, produz um gosto imaginário na boca.
Por
onde andam as crianças do meu tempo? Será que ainda estão trepadas no pé de
manga, arriscando a colher uma na ponta do galho? Como eu já disse no início,
manga tem sinônimo de infância e de um tempo que não volta mais.
O
pé de manga continua lá, firme e em pé. E nós continuamos aqui, firmes e em pé,
porém, já envelhecidos. Minha querida manga Bourbon, um doce beijo, ou melhor, uma
doce mordida. Eterna saudade!
Peruíbe SP, 29 de setembro de 2023.
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