sexta-feira, 29 de setembro de 2023

MEU PÉ DE MANGA

 

Adão de Souza Ribeiro

Tem coisas, que só o mundo inocente da infância nos proporciona. Este mundo puro e sem maldade, faz com que o sonho seja eterno e se reveste de brilho, que nenhuma outra fase da vida é capaz de nos proporcionar. Por isso, os adultos jamais devem macular a inocência de um infante. Um dia se tornarão adultos e o progresso se encarregará de tentar mudá-los.

Todas as crianças, que viveram uma infância feliz, tem uma história para contar e eu, claro, não fujo a regra. Eu tive o privilégio de viver numa época em que tínhamos a liberdade de correr para lá e para cá, na terra natal, sem medo da violência e da maldade, encravada na mente dos adultos.

Ainda lembro saudoso, que depois da aula, isso no período da tarde, meus irmãos, primos e alguns coleguinhas, reuníamos no quintal de meu avô e passávamos a tarde trepados no pé de manga. Hoje, só de falar, sinto o cheiro da fruta. Ela tinha um sabor diferente das outras frutas e era classificada de Manga Bourbon.

Entre o mês de dezembro e janeiro, os galhos davam a fruta com abundância, sendo elas de polpa doce e muita saborosa e sem fibras. Aqueles moleques trepados nos galhos e entre as folhas, passavam horas e horas ali. Conversavam e riam, lambuzavam o beiço e se arriscam apanhar aquela que estava na ponta do galho, sem temerem em cair.

Não é preciso dizer, que o chão, em torno do tronco grosso, ficava forrado de casca. A arvore tem cerca de 25 metros de altura com copa frondosa e densa, também, o tronco tem casca rugosa, cinza-escura e fibrosa. Existem outros tipos, tais como: Tommy, Rosa, Adem, Palmer, Coquinho, Espada e Ubá. Eu não sei explicar, mas, para mim, aquela era muito especial.

Entre junho e setembro, começava a florada e aquilo era prenúncio de que não demoraria para nos reunirmos em tardes prazerosas, no quintal da casa do meu avô paterno. O tempo passou e as mudanças climáticas não mais carregaram os pés em abundância, como antes e o que é pior, pois as que surgem agora, nascem todas mirradas.

Graças à Deus, ninguém caiu de lá e se tivesse acontecido, haveria um manguecídio. Credo! O manto da noite, de mansinho cobria a mangueira e embalados na farra infantil, nem percebíamos. Se não fosse meu avô gritando: “Molecada desce daí, porque já é noite”, continuávamos ali, noite adentro.

Pena que o tempo da colheita era muito curto, mas, mesmo assim, curtíamos em toda sua plenitude. As crianças do modernismo, nem imaginam o quanto era gostoso chupar as frutas fresquinhas, pois até o sabor era diferente. Ás vezes, ao chegarmos ali, já haviam algumas caídas ao solo, de tão maduras.

            Hoje, para mim, pé de manga tem cheiro e sabor de infância. Ao lembrar daquele saudoso tempo, ali trepado na companhia dos irmãos, primos e coleguinhas, as lagrimas saltam aos olhos. O cheiro saboroso adocicado da fruta, produz um gosto imaginário na boca.

Por onde andam as crianças do meu tempo? Será que ainda estão trepadas no pé de manga, arriscando a colher uma na ponta do galho? Como eu já disse no início, manga tem sinônimo de infância e de um tempo que não volta mais.

O pé de manga continua lá, firme e em pé. E nós continuamos aqui, firmes e em pé, porém, já envelhecidos. Minha querida manga Bourbon, um doce beijo, ou melhor, uma doce mordida. Eterna saudade!

 

Peruíbe SP, 29 de setembro de 2023.

 

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Um comentário:

Professor Aloísio disse...

Isso remete a nossa melhor fase da vida, nossa infância, momentos de muito sonho e muitas aventuras...