terça-feira, 29 de dezembro de 2020

PALAVREADO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Queria falar sobre a bunda

Nada erótico ou agressivo.

Dirão: Tem mente imunda.

Os povos dos tempos idos.

 

Mas se eu falar de nádega,

Que só muda palavreado.

Hipócrita dirá de cátedra:

Eis o poeta bem educado.   

 

Se nesse mundo moderno

Mudaram-se os conceitos.

Por que no meu caderno,

Não posso falar de peito?

 

Oferece-se e diz assédio,

Quando tocam a tanajura

Na justiça quer remédio,

Para uma moral sem cura.

 

Mulher é além do corpo:

Espírito, coração e alma,

A beleza é o fogo morto.

É uma chama que apaga.

Peruíbe SP, 29 de dezembro de 2020.

domingo, 27 de dezembro de 2020

CERTA SOFRÊNCIA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Quem nunca amou bem calado,

Como o vento ama sua floresta

E já não sofreu por um bocado,

Olha com olhos e lambe a testa?

 

Quem nunca rabiscou um verso

Pobre, desmilinguido sem rima,

Paixão do tamanho do universo

Pela cabrocha de uma menina?

 

Quem nunca fascinado atônito,

Já chorou por algo impossível

E fez do desejo amor platônico

Como fosse perto e tão crível?

 

Quem nunca gritou escondido

Ao vento e aos quatro cantos,

O que um dia poderia ter sido

Acontecido. Não sofria tanto?

 

Quem nunca viveu o segredo,

De um lindo amor na infância

Mas escapou entre os dedos,

Hoje só um sonho à distância?

 

Quem nunca sentiu no peito,

Uma dor tão forte, sem cura?

Não viveu. Foi só um sujeito,

Perdido na noite bem escura.

 

Peruíbe SP, 27 de dezembro de 2020.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

SANTA TRISTEZA

 

Adão de Souza Ribeiro

Jesuscristinho, numa tristeza de fazer dó,

Ele acordou na sua manjedoura lá no céu

Ao ver o velho barbudo - um tal de Noel,

Chegar todo garboso montado no trenó.

 

Do polo norte e não da banda do oriente.

Sorridente, puxado por suas belas renas.

Iluminado, ali trazia um saco de presente.

Mas não a fé no infante Jesus, que pena!

 

Pergunta o Sagrado: Cadê os Reis Magos

Com ouro, incenso e mirra da Escritura?

Pois o presente que hoje eu quero e trago

É o amor, a paz e salvação a toda criatura.

 

Não há luxo naquela estrebaria, seu berço.

Nem árvore, luz, nem neve ou coisa e tal

Colchão é o feno e nenhum outro adereço

Apenas José, Maria e uns poucos animais.

 

Presente da humanidade tão esperado.

Chegou discreto no lombo dum burro.

Não no trenó nem um carro importado.

Povo da Galileia é simples, isso é tudo.

 

O choro triste do nosso Jesuscristinho,

Chega a ecoar assim pesaroso no céu.

O certo é que ele não está tão sozinho

O soluço é o som do sino: jingle bel!

 

Peruíbe SP, 24 de dezembro de 2020.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

PROVOCAÇÃO

 Adão de Souza Ribeiro 

Ah mulher, este seu decote!

Onde repousa a minha vista.

Esta linda imagem me excita

Vem domina e perco o norte.

 

Silhueta branca da sua blusa,

E o corpo sensual descortina

Beleza virgem duma menina

Numa fantasia toda confusa.

 

A perna levemente cruzada,

Desperta escondido desejo.

Eu vejo. Finjo que não vejo

O brilho da noite enluarada.

 

Tudo em ti inspira sedução

O seu corpo pecado cheira

Os seios frutos da macieira

 

 Colhidos no pé do coração.

 

 

 

 Ah mulher, este teu requebro!

 

 Desassossega o meu instinto.

 

 Deixa-me louco e não minto.

Fico sem juízo e sem cérebro.

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                               

 

 

Peruíbe SP, 17 de dezembro de 2020.

 

 

 

 

 

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

BRINCADEIRA DE CRIANÇA

  Adão de Souza Ribeiro

 Brincadeira de criança, como é bom

Viver a vida, sem nunca sair do tom.

Faz da infância, o momento divino,

Cheio de alegria e sonho, um hino.

 

Tudo repleto de amor e adrenalina.

Sorriso e o tombo em cada esquina

Na corrida com carrinho de rolimã,

Era a vida da molecada de manhã.

 

A rua bem calma e de chão batido

Na infância, tudo ali fazia sentido.

Nada de tristeza, tudo tem a graça.

Passa o tempo, a saudade não passa.

 

As meninas com suas bonecas milho,

Menino no faroeste, bom no gatilho.

As histórias da avó, uma linda dança.  

Como é bom, brincadeira de criança.

 

Peruíbe SP, 15 de dezembro de 2020

domingo, 13 de dezembro de 2020

PÉ DE MANGA

 Adão de Souza Ribeiro

 

Debaixo do velho pé de manga

Sozinho e assim bem quieto

Chorava ali a minha pitanga

No chão, rabiscava o verso.

 

Plantas, a felicidade e a paz

Naquele quintal do meu avô

E fiz da infância algo fugaz

Passou à vida, saudade ficou.

 

O quintal era o meu mundo,

No fundo eu era dele, o Rei.

Mas a terra gira, gira mundo

Hoje por onde ando, não sei.

 

Como era tão forte a tua raiz

Galhos firmes dando abraço.

Sob as sombras eu era feliz,

Dormia no caule, o regaço.

 

Ainda a mesma casa e a rua,

O quintal não sei como está.

Ó pé de manga, saudade tua

Um dia sei que volto para lá.

 

Peruíbe SP, 13 de dezembro de 2020.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

ANDANÇAS

 

Adão de Souza Ribeiro

Vou arrumar as malas, sair por ai

Assim sem destino, sem um rumo

Sem tempo para chegar ou partir,

Fugir das regras e perder o prumo.

 

Dormir ao relento, sem esse apego

Comer as frutas na beira da estrada.

Viver cada momento. Tarde ou cedo

Fazer tudo que apetece e me agrada.

 

Já cansei e de ser puro e tão correto

Eu preciso descobrir novos mundos.

Estou cansado das mesmices, certo?

Busco os sentidos mais profundos.

 

Não desarrumo as malas de viagem

Porque não sei para onde é que sigo

Nas minhas andanças e na paragem

A vida é que me leva e não o amigo.

 

Peruíbe SP, 09 de dezembro de 2020.

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

VIDA, CADÊ VOCÊ

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Vida, oh minha doce vida,

Diga por onde você anda.

Procurei-te na roça, na vila

Sala, quarto e lá na varanda.

 

Percorri por toda floresta

Em cada canto do quintal

Agora nada mais me resta

Sei, fugiu com o vendaval.

 

Vida, oh minha coisa linda,

Clamo. Eu te quero só aqui.

E antes que a tarde se finda

Venha logo e me faça feliz.

 

Por favor, não me abandona.

Dá-me, pois, um leve sorriso.

Diga baixinho: Sou sua dona

Porque é disso que eu preciso.

 

Vida volta para nossa casa

Carrega-me neste teu colo.

Eu sou um pássaro sem asa

Creia. Longe de ti, eu choro.

 

Vida, minha linda amante,

O teu cheiro cheira absinto.

Agora e também doravante

Cuidarei de ti, eu não minto.

 

São Paulo SP, 05 de dezembro de 2020.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

NEM PECADOR, NEM SANTO

 Adão de Souza Ribeiro

 

Por que este dedo em riste

Não sou pecador, nem santo.

Meu amor não tem limite,

Não sei porque te amo tanto.

 

Se peco, porque te quero.

Se clamo, porque te gosto.

Mulher, deixa de lero-lero

Vem e deita no meu colo.


Tenha piedade, menina.

Sofrer, não aguento mais.

Amar será a minha sina.

O que passou, tanto faz.

 

Deixa beijar tua boca

E tocar neste teu corpo

Uma noite só, será pouca

Se não te amar, fico louco.

 

Se for minha, isso eu bem sei

Mulher de Pompéia ou Athenas

Digo que te prometo, por Deus,

Por você, farei tudo valer a pena!

 

São Paulo SP, 04 de dezembro de 2020

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

A PRINCESA E O PLEBEU

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Como pode, um menino pobre,

Amar princesa de sangue nobre

Isso bem lá naquela antiga terra

Seria luta insana, a longa guerra.

 

Por ser nobre, um menino rico,

Desejava ela até correndo risco.

De triste romance, um fadário.

Ele meu parceiro, no primário.

 

O tempo passou, faliu o reino.

Princesa não mais, foi janeiro.

Menino pobre, hoje o escritor.

Que insiste em falar de amor.

 

Mas o reino do faz de conta,

Conta que o sonhar desponta

 A vida para as coisas belas,

Até sem a princesa Florisbela.

 

Trata-se de conto moribundo,

Entre a Dama e o Vagabundo.

Mas o reino já até escafedeu,

Só restou o sonho do Plebeu.

 

Peruíbe SP, 27 de novembro de 2020.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

AMOR QUE IDOLATRA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Esta noite tive um sonho lindo

Lindo que merece ser contado

Veio para mim bela e sorrindo,

Então sentou feliz a meu lado.

 

De lado deixei a velha timidez

Ali confessei a idolatria por ti.

E o coração pela primeira vez

Sentiu-se demais aliviado, vi.

 

Depois de anos de tormenta,

Pedi a Deus para te esquecer

Amor ilusório vem fomenta,

Que inexiste entre eu e você.

 

Aquela menina linda e pura,

Que me encantei na infância

Não passa de sonho, tortura.

Estrela lá no céu á distância.

 

Teu nome será um segredo,

Medo que descubra a cidade

Se morrer de amor bem cedo

Levo-te no peito à eternidade.

Peruíbe SP, 25 de novembro de 2020.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O SINO DA CAPELA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Todas as tardes, na hora seis.

Lá na capelinha bate um sino

Chamando todos vosmiceis.

Para que se unam ao Divino.

 

Canta assim: dim dem dom.

Seu cântico ecoa pra longe

E na cadência daquele som,

Vem padre, pastor, monge.

 

A torre madeira carcomida

Com o badalo no vai e vem

Vê que numa terra sofrida,

A fé é um bem que se tem.

 

Sacristão, o Jesuscristinho,

Quer seja de noite ou de dia

Pendura na corda do sininho

Ajuda santo padre na homilia.

 

E naquele repicar melodioso

No horizonte, lá na palhoça.

Ajoelha e inclina o seu rosto

Velho caboclo, virgem nossa!

 

O sino da pequenina capela,

Leva-me de volta ao passado.

De cada missa um terço dela

Ele diz: Eu Perdoo teu pecado.

 

Peruíbe SP, 20 de novembro de 2020.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

A GAIOLA

 

A GAIOLA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Toda gaiola só é gaiola

Se não houver vivente

Pois até a alma chora,

Por lá prender a mente.

 

Ali vive uma coleirinha

A cantar seu canto triste

E num canto tão sozinha,

Seu pranto só por alpiste.

 

Pelos arames, seu mundo.

Olha, vê e espia em volta.

Eu sei que bem no fundo,

A ave só quer viver solta.

 

De tanto ela viver presa,

Mas com tudo ao alcance

Futuro ignora e despreza,

De ser livre num relance.

 

A gaiola é o maior medo.

Longe voar para aventura

Sofre só e morre tão cedo,

Vida atrofia, fica amargura.

 

Peruíbe SP, 16 de novembro de 2020.

 

sábado, 14 de novembro de 2020

O MAR DE PRAZER

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Do teu suor, bebo gota por gota,

Louco naufrago, no teu cansaço. 

No teu desejo, onda linda e rota,

O meu leme é teu manso abraço.

 

Calmaria do leito, corpo deriva,

Sigo bússola, da estrela o clarão.

Corpos atrelados, o porto abriga,

Velejar comigo, não queres não?

 

Não fujas para uma deserta ilha,

O corpo só e só calor lá não tem.

Canoa feminina, tua proa brilha,

Confia neste canoeiro, meu bem.

 

Depois do suor, cansaço e cheiro,

Remando só, sou o ponto no mar.

Enquanto folego tiver o canoeiro

No teu mar de prazer, vou remar.

 

Peruíbe SP, 14 de novembro de 2020.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

PROCURA-SE UMA MULHER IDEAL

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Não quero

Uma mulher nova

Dessa que esnoba

O corpo que tem.

Quero

Uma mulher madura

Dessa que perdura

A alma no além.

Não quero

Uma mulher moderna

Dessa que espera

O amor na internet.

Quero

Uma mulher caipira

Dessa que inspira

A ternura agreste.

Não quero

Uma mulher charmosa

Dessa que evapora

Num passo vulgar.

Quero

Uma mulher ultrapassada

Dessa que de madrugada

Conjuga o verbo amar.

Não quero

Uma mulher toda siliconada

Dessa que de casa não entende nada

Nem mesmo de cama, mesa e banho.

Quero

Uma mulher já bem flácida

Dessa que vivida acha graça

Das rugas que a vida tem.

Não quero

Uma mulher do futuro

Dessa que jura que o juro

É alto demais.

Quero

Uma mulher do passado

Dessa que com dom sagrado

Nos torna mortais.

 

São Vicente SP, 01 de novembro de 1997.

terça-feira, 10 de novembro de 2020

A COTOVIA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Deixa minha vida voar livre

Nas lindas asas da cotovia.

Por favor, nunca me prive,

De sonhar à noite e de dia.

 

Ao alçar o seu voo suave,

Além do que eu posso ver.

Sobre montes, feito nave.

Invejo, eu quero ser você.

 

Canta um canto de alegria

Encanta todas as manhãs,

Se eu fosse ela não sofria,

De melancolia neste divã.

 

Nas danças em linha reta

Ou curvilíneas num bailar,

São os versos deste poeta

Como sopros livres no ar.

 

Não é plumagem virtuosa

Tua modéstia é que cativa.

Não fosse ave, seria a rosa,

Enfeitando jardim da vida.

 

Cotovia, minha namorada,

Que mistério habita em ti?

Se não tivesse tua morada,

Viria sonhar comigo aqui.

 

Peruíbe SP, 10 de novembro de 2020.

sábado, 7 de novembro de 2020

GUAIMBÊ, AMOR ETERNO!

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Teus campos verdejantes,

De matas e lindos cafezais.

Seduzem velhos viajantes,

E embriagam os meus ais.

 

Ruas calmas e descalças,

Por onde passa a infância.

São recordações, as valsas,

Que corre e nunca se cansa.

 

Nas saudosas noites de lua,

Ou lindas tardes primaveris.

As crianças correm para rua

Em brincadeiras tão infantis.

 

Casas de madeira e reboco,

Abrigando teus filhos natos.

Parece nosso santo pároco,

Velando Cristo crucificado.

 

O riacho de água cristalina,

E que circunda aquela terra.

Ali paciente ele tanto ensina,

Só amor e a fé, que regenera.

 

Lindo teu acordar nos arrebóis

Com tanto amor neste coração.

O suave canto lá de rouxinóis.

Te embalar neste calmo rincão.

 

Povo ordeiro, de alma pura.

Corpo surrado do traquejo,

Conhece a vida e as agruras

Forja a história do lugarejo.

 

Outono enfeita a tua praça,

Com as flores da primavera

Mas inverno vem, disfarça.

Só verão, quem viveu nela.

 

De ti, digo que será banido,

Quem quiser tirar proveito.

Ensinaste-me ser destemido

Eu sou forte e bato no peito.

 

A tua bandeira e teu brasão,

Com meu sangue te protejo

Dou minha vida e o coração

Mãe amar-te não é segredo.

 

Teu hino feito com ternura,

Ecoará eterno pela tua terra

Como gratidão e linda jura.

Do filho, que abraço espera.

 

Orgulha-nos o teu passado,

E então rabisco no caderno.

O verso puro e tão sagrado:

A ti declaro o amor eterno!

 

Guaimbê, protetora adorada,

Hei de te amar para sempre.

Se eu acordar de madrugada.

Mãe acolha-me no teu ventre!

 

Guaimbê SP, 08 de novembro de 2020.