sábado, 20 de abril de 2024

A VISITA ILUSTE

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Aquela manhã começara diferente das outras na sagrada Terrinha. O caminhar tranquilo das pessoas e a natureza bucólica, deram lugar a uma agitação, que nunca se viu igual. O espaço aéreo fora fechado e nas entradas da cidade, haviam fortes barreiras, formadas pela tropa de soldados das Forças Armadas. “ Meu Deus, o que houve? Será que vão invadir este lugar sacrossanto? ”, pensou o pobre Hermenegildo.

                        E foi então que, num repente, ele se lembrou que o Presidente da República era filho do lugarejo. Por motivo de segurança, a visita foi surpresa e não houve os preparativos e as varreduras de praxe, feitas pelo Serviço de Secreto e de Inteligência. Eduardo, o mandatário da Nação, determinou que a estadia deveria ser a mais discreta possível, isto é, sem alarde e divulgação pela imprensa.

                        Eduardo estava cansado das obrigações palacianas e das pressões políticas, que o cargo tanto exige. Embora tivesse todas as regalias, isto é, o luxo palaciano, carros blindados e aviões, jantares suntuosos, ele sentia falta da simplicidade do seu povo, principalmente, da sinceridade dos amigos de infância. O Lago Paranoá, jamais substituirá a “Lago do Hermininho”.

                        Naquele dia, nenhum estranho transitava pelas ruas, somente os moradores e amigos de Eduardo. Seu Serafim, fazendeiro abastado, preparou um churrasco, regado com cerveja e muita fartura. Um grupo de violeiros, brindou o encontro com música sertaneja, do gosto do visitante. Ele, o Eduardo, de um jeito descontraído, conversava e ria muito, com as piadas dos amigos.

                        Depois da calorosa recepção, na chácara de Serafim, o Presidente caminhou pelas ruas, onde, na infância, vivenciou os melhores momentos da vida. Ele foi no “Bar do Toshio”, na “Quitanda do Josias”, no grupo escolar, no ginásio estadual, no velho matadouro, na Igreja Matriz e em tantos outros lugares. Ao passar defronte a casa, onde nasceu e morou, ficou emocionado.

                        Ao encontrar com velhos amigos, recordou-se de histórias que, até hoje, estão guardadas no coração. Enquanto caminhava, as pessoas o tratava naturalmente como filho da terra e não com o puxa-saquismo em razão do cargo. Os políticos do lugarejo, inimigos entre si, em razão da agremiação partidária, dispensaram as rivalidades e se estribaram no comportamento de Eduardo.

                        Ele passou a primeira noite na casa do tio, que morava perto do ginásio. O quarteirão, onde localizava a casa, estava cercado pelo corpo de segurança. Embora ele houvesse dispensado tamanha mordomia, aquilo fazia parte do protocolo presidencial. O alcaide orientou os assessores, que não abordassem o visitante com assuntos políticos, como, por exemplo, solicitando verbas de benfeitorias para a cidade.

                        Lá na Capital Federal, quiseram saber do paradeiro de Eduardo, porém, Carlos – o Vice-Presidente, encarregou-se de manter sigilo da viagem do titular. No dia seguinte, ainda na Terrinha, ele reuniu-se com quatro velhos amigos de infância e foi pescar no Rio Feio. Tudo aquilo era uma higiene mental, isto é, ficar longe daqueles que só o procuravam para satisfazer os interesses pessoais. Coisas de político e empresário mal caráter.

                        A cidade sentia-se feliz em ser o berço daquele filho ilustre. Foi ali que ele moldou o caráter de homem honesto; sincero; de moral, ética e bons costumes. Com aqueles princípios, ensinados pelos pais, professores e cidadãos exemplares, estava conduzindo com altivez os destinos da Nação e servindo de exemplo ao mundo. Seu perfil lembrava Robispierre, ”o incorruptível”, de nome Maximilien François Marie Isidore de Robispierre (França 1758 a 1794).

                         Na Terrinha foi que aprendeu defender a fauna e a flora, respeitar e cuidar dos idosos, bem como, das crianças. Há tempos que não visitava a terra natal e não revia velhos amigos. Ele deixou a cidade, em busca de tempos melhores, mas a cidade nunca o deixou. Sempre que se referia ao lugar e as pessoas, fazia com orgulho. Quando deixasse o cargo, voltaria aos braços das pessoas amadas.

                        Ao término da estadia, embarcou no helicóptero oficial, que estava taxiado no campo de futebol. Por muito tempo, as pessoas vão se lembrar daqueles dias memoráveis.

                        Um dia, vão lembrar do conterrâneo, que voou alto, mas jamais perdeu a humildade!

 

Peruíbe SP, 20 de abril de 2024.

 

a

Nenhum comentário: