Adão de Souza
Ribeiro
“Ensina
a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se
desviará dele” – Provérbios 22:6.
No
tempo de outrora, que já vai bem longe daqui, as pessoas eram forjadas na
bigorna da vida. Ali aprendiam às duras penas, moldarem o bom caráter e
arrastá-lo até o fim de suas existências. Não é redundância afirmar, que os
ferreiros eram os pais. Por sua vez, os pais preservavam o remoto ofício de
seus antepassados e, assim, o elo prosseguia.
As crianças que comigo cresceram e
conviveram, sabiam definir o que era honestidade, ética, moral e bons costumes.
Muito antes de irem á escola, já aplicavam as regras ensinadas pelos seus
genitores. É fato que a cidade, por ser pequena e acolhedora, tinha seu quinhão
de participação em tudo aquilo.
O tratamento de “senhor” ou “senhora”,
deferido aos mais velhos; “benção pai...benção mãe’, ao deitar ou levantar;
“muito obrigado”, ao receber uma gentileza ou algo; “vai com Deus!”, ao se
despedir, eram algumas das regras básicas da boa conivência em sociedade. Agindo
assim, os pais e a cidade, estavam preparando os homens do futuro.
Havia três ou quatro televisores na cidade,
ainda em preto e branco. E, por isso, era considerado objeto de luxo. Os
programas veiculados, não estavam carregados de apelação sexual e nem de apologia
ao crime e às drogas. As notícias não eram manipuladas e não tinham viés
politico. Não se noticiava tragédia, porque tragédia não tinha.
Quando o filho aparecia com algo estranho em casa,
os pais ordenavam, que “voltassem em cima do próprio rastro” e colocassem onde
achou ou devolvessem a quem de direito. Há uma listagem enorme de boas maneiras,
que as crianças educadas naquela época, carregam até hoje. Isso sem contar com
a convivência da boa vizinhança.
Os brinquedos, masculino ou feminino, eram
confeccionados pelas próprias crianças e, por isso, tinham um encanto impar e
povoavam a imaginação dos pequerruchos. Nada era pré-fabricado, razão pela qual, aguçavam a mente dos impúberes. Eu vivenciei tudo aquilo e sei de cátedra, como
é.
O fio de bigode avalizava toda e qualquer
palavra empenhada, por isso, dispensava os papéis com assinatura, testemunhas e
carimbo. Não era atoa a expressão “Aquele é homem de palavra”. Honestidade não
era imposição, mas, sim, dever. Os exemplos começavam com os pais e cidadãos do
bem. Cabia à escola, a sagrada missão de ensinar; já aos pais, a de educar. É sábio o dizer: "A educação vem de berço.".
Aquelas crianças, hoje adultas,
lançadas na selva de pedra, sentem-se perdidas e fora de seu habitat natural.
No entanto sobrevivem, porque são pessoas de fibra. Elas fazem parte de uma
geração extinta. Eu, sem qualquer soberba, sinto-me orgulhoso de ter nascido
naquela época e de ter sido forjado naquela bigorna, onde, o ferreiro era meu
pai.
Nós vivemos num mundo, onde, todos os dias,
recebemos uma descarga de todo tipo de informação. A mídia quer seja ela
escrita, falada ou televisada, nos bombardeia com as mais diversas informações,
prejudiciais ou não, a nossa formação. Como a “Velhinha de Taubaté” *,
digerimos sem, ao menos, sabermos o sabor. Para elas, pouco importa, se
tivermos uma indigestão ou não.
Graças à bigorna da vida, hoje sou um homem
bom e propenso ao bem!
P.S: “A Velhinha de
Taubaté”, obra de humor do escritor Luiz Fernando Veríssimo, publicada em 1983,
pela Editora Saraiva.
Peruíbe SP, 11
de abril de 2022.
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