segunda-feira, 18 de abril de 2022

ROMANCE CAIPIRA

 

Adão de Souza Ribeiro

 

                        A vida copia a arte ou a arte copia a vida? Para conhecer o mundo, não precisa sair de casa, pois ela é uma réplica do mundo. O que acontece ali, naquele pedacinho de chão, também acontece em todas as partes do planeta, ou vice-versa. Quem é devorador de cultura, em especial, livros tem esta ampla visão dos acontecimentos, que mudam o Universo real ou fictício.

                        O cotidiano dispõe de farta seara, onde se passam fatos reais ou pitorescos, que, se bem explorados, servem de enredo para estórias encantadoras. Uma vez bem narradas, eternizam-se na memória da humanidade devoradora de cultura, claro! Existem obras universais, que transcendem o tempo e o imaginário. Descrever todos os títulos de romances, dentro desta narrativa, é enfadonho demais.

                        O importante é reconhecer a sensibilidade e o conhecimento de quem os escreveu. Ao analisar o lugar e o comportamento das pessoas, onde nasceu e viveu o autor, torna-se possível entender a magnitude e a imortalidade da obra. Os causos contados retratam os cenários, costumes, penúrias e lutas da vida cotidiana. 

                        A título de informação cultural, basta lembrar-se dos romances: “O morro dos ventos uivantes”, de Emile Bronte; “O velho e o mar”, de Ernest Hemingway, “O Alienista”, de Machado de Assis; “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos; “Olhai os lírios do campo” de Érico Veríssimo; “Gabriela”, de Jorge Amado e “Romeu e Julieta”, de William Sheakespeare e tantos outros.

                        Quando devorei o romance “Romeu e Julieta”, escrito em 1597, de imediato veio à lembrança o fato ocorrido na minha terra natal. Se William Sheakespeare, tão bem narrou a rivalidade entre as famílias de Romeu, os Montecchio e as de Julieta, os Capuleto; eu vou tentar sem o talento do confrade William, narrar a tragédia semelhante, ocorrida lá no meu sertão.

                        Naquele tempo, havia uma grande rivalidade entre as famílias “Silva” e “Fukushima”. Comerciante e dona de grandes posses, a família “Fukushima”, não queria se misturar com a família “Silva”, apenas simples lavradores. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a consequente derrota do povo do Sol Nascente, a animosidade aumentou. O nascedouro de tudo aquilo, foi o amor que Mieko Fukushima despertou por Rubens da Silva.

                        No início, quando tudo estava às escondidas, o amor e o desejo dos pombinhos enamorados, transcorriam na mais santa paz. Mas numa cidade pacata e de costumes arcaicos, não demorou muito para o romance ser descoberto. A partir dali, Rubens e Mieko enfrentara todo tipo de batalha, para que o romance não fosse abalado.

                        O seu Shiguero, pai de Mieko, com ódio no coração, vociferava aos quatro ventos, no sotaque bem nipônico: “Mieko está desonrando nossa família e as nossas tradições. Não é permitido que outras descendências, venham fazer parte da nossa família. Se minha filha insistir neste romance, eu mato os dois”. A história gerou uma comoção no lugarejo e aquilo revoltou o povo. O coração é um mundo intransponível. O amor não tem fronteiras e nem limites.    

                        Ao invés de porem cabo às suas vidas, como Romeu e Julieta, o casal apaixonado da minha terra natal, vencendo todas as barreiras impostas pelas tradições do povo do Sol Nascente, resolveu fugir na calada da noite. A cidade acordou em festa com a notícia tão alvissareira. De gênio forte e ruim, o pai de Mieko não demonstrava estar abalado pela perda da filha, diante da decisão tão nobre dela.

                        Por muitos e muitos anos, não se teve notícias do paradeiro do casal. O que o povo almejava, era felicidade plena para Rubens e Mieko. “O amor venceu o preconceito”, diziam todos os conterrâneos. Para os que desejavam a união do casal, o que se ouvia, era: “O ódio é um veneno que a pessoa prepara e toma, esperando que os outros morram”.

                        O que se imaginava era que o casal gerara filhos, ou seja, mestiços lindos, perpetuando a miscigenação das raças e, diante do desafio e da coragem, unido os povos. Já na tenra idade, vivendo na minha terra natal, eu não conseguia compreender como o ódio e o preconceito, poderiam destruir o sonho e a felicidade das pessoas.                   

                        Ainda bem que Rubens da Silva e Mieko Fukushima não teve um fim trágico, como o de Romeu e Julieta. Assim termina a história romântica lá do meu sertão. O amor indestrutível do casal ficou conhecido e eternizado como: ROMANCE CAIPIRA.

 

Peruíbe SP, 16 de abril de 2022.

                         

                       

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