terça-feira, 7 de janeiro de 2020

VELHOS TEMPOS... BELOS DIAS


Adão de Souza Ribeiro


                                   Tem pessoas, que precisam de muito para ser felizes. As suntuosas mansões, carros potentes, gordas contas bancárias, as viagens internacionais e grandes ostentações sociais, são fundamentais para seu prazer terreno. Já outras, basta um casebre ao pé da serra, um cavalo bom arriado, uns trocados no bolso, um pulo na casa do vizinho e um proseado no fim de tarde, para ser felizes. A felicidade não está onde a pomos, mas, sim, onde estamos.
                                   A essência da vida está na simplicidade dos nossos atos. Um gesto de ternura traduz a pureza de nossa alma. Um abraço apertado e um beijo sincero curam todos os males do corpo, dissipam as carências do coração, abrandam as mágoas do espírito e, por fim, ultrapassam a compreensão da transitoriedade da vida. A evolução da espécie e o progresso, não podem anular os sentimentos mais puros do ser humano.
                                   Os anos caminham na velocidade da luz, por isso, o tempo urge e ruge. Não há espaço para as rusgas do cotidiano, longas discussões de somenos importância e, muito menos, conflitos durante vãs filosofias. Os tempos modernos surrupiaram de nós, a contemplação da natureza e o sabor da vida de outrora. Corremos atrás de bens matérias e voltamos vazios de sentimentos. Decepcionados, perguntamos: “O que fizemos, durante toda nossa existência? Em que baú deixou a nossa infância e a nossa história?”,
                                   Um dia, cansados do vazio da alma, por conta das ilusões mundanas, caminhamos no sentido inverso do cotidiano. Resgatar o que se perdeu durante a longa estrada da existência, torna-se algo urgente e precioso. Nesta garimpagem do que se pretende encontrar, estão os lugares marcantes, por onde, um dia, nós passamos e os amigos que, de mãos dadas, desenharam a nossa infância e os nossos sonhos.
                                   Com o corpo curvado, pelo peso da luta cotidiana; os cabelos grisalhos, de tantas preocupações; os olhos turvados, pela luz do desconhecido; a audição precária, ensurdecida pela incompreensão e, ainda, o andar trôpego, das caminhadas sem fim, não há quem não deseja buscar a resposta do porquê de tamanha saudade do passado. Quem não tem passado, não tem história. Quem não tem história, passou a vida em brancas nuvens. Portanto, foi espectro de homem, não viveu.
                                   Por causa desse saudosismo exacerbado, que corri contra o tempo e parti para a terra natal, em busca dos lugares marcantes e dos amigos de infância. Queria fitar bem fundo, nos olhos de cada um e dizer o quanto o amo. Abraço longo e apertado, como prova do nosso elo eterno. Sentir que nem tudo estava perdido. A saudade e a ansiedade viajaram ao meu lado.
                                   Já naquele território, marcamos o memorial encontro, num festiva regada a churrasco e bebida. A galeria de fotos recepcionou os convivas, que, entre conversas e gargalhadas, relembraram fatos ora pitorescos, ora tristes e, outras vezes, alegres. Os sobrenomes de familiares tradicionais ali se cruzaram. Como numa película cinematográfica, buscamos na memória, pessoas que partiram para mansão do amanhã, mudaram de cidade ou Estado, casaram, tiveram filhos, envelheceram e por ai se vai.
                                   Visitei o interior do ginásio estadual e da igreja matriz. Aos poucos, a ansiedade daquele encontro, foi substituída pela descontração e alegria de rever a todos. A promessa de novos encontros ficou selada ali. Um retratista improvisado imortalizou o encontro numa imagem, que ficará para a posteridade. Ou melhor, fará parte do stand de fotos daquele museu.  Os que não se fizeram presentes justificaram suas ausências.
                                   As ruas e as casas continuavam as mesmas, de quando um dia voei em buscas de aventuras. No entanto, senti em seus olhares, a alegria de me verem ali, depois de um longo e tenebroso inverno. Queriam beijar o meu rosto e balbuciar palavras de saudade e de carinho. Fui acolhido pelas velhas arvores que, com seu gingado, procuravam seduzir-me com encantos mil. Por longos anos, ficaram postadas em silêncio, esperando a minha volta.
                                   Deu vontade de bradar aos quatro ventos: “Eu voltei agora pra ficar, porque aqui é meu lugar”. Posso dizer que ali, nos braços carinhosos da minha terra natal, onde a infância dormitava em paz e o futuro não tinha pressa, revive os velhos tempos... belos dias!

 Peruíbe SP, 07 de janeiro de 2020.

3 comentários:

Unknown disse...

viajei nos seus pensamentos e chorei..como gostaria de poder fazer o mesmo..voltar a essa terra querida..nem que fosse por poucas horas...

Unknown disse...

Linda mensagem

Unknown disse...

Linda mensagem!!!