segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

A PARTEIRA

 

Adão de Souza Ribeiro

                        Embora os astrônomos, físicos e cientistas, professem que o Universo surgira de uma grande explosão cósmica, isso há mais de 15 bilhões de anos e que passaram a chamar de “Teoria do Big Bang”, isso referendado pelo filósofo Heráclito (535 a.c. – 475 a.c) e tantos outros, sou fadado a acreditar que ele (Universo) nascera pelas mãos de Deus - o Divino Criador.      

                        Após este breve preâmbulo sobre o tema nascer e não querendo me alongar sobre teorias e filosofias milenares, desejo ater-me a respeito da parteira mais querida e antiga do lugar. A candura de sua imagem transporta ao frescor da inocência de minha infância. Não há como falar de minha terra natal, sem render eternas homenagens a ela.

                        Naquele tempo que já vai bem distante e, ainda, lá nos confins do meu sertão, não havia tecnologia. Por isso, a palavra “pré-natal” e “médico obstetra”, não se ouviam falar, nem mesmo nas histórias em quadrinhos. Se a modernidade lá não chegara, o destino preparou aquela mulher abençoada e de mãos santas.

                        Lembro-me que semanas antes da chegada de um novo irmão, ela já estava em casa, fazendo os preparativos. Com muito esmero, limpava a casa, cuidava de minha mãe e dos filhos. Isso também ocorria após o nascimento da criança, até depois da queda do cordão umbilical. Dona Joana, a Mineira, era uma cozinheira de mão cheia. Cozia aquelas polentas e pirões de frango, suculentos e deliciosos para nossa mãe e nós, assim como toda criança, esperávamos a panela, para raspar.

                        Sob os cuidados dela, minha mãe, assim como toda parturiente, seguia a risca suas orientações e conselhos, como por exemplo: não tomar friagem, não pegar peso, não comer ovo ou carne de porco e por ai se vai. Era o chamado “resguardo” ou “quarentena”. Por ser o primogênito, lembro-me com riqueza de detalhes.

                        Além disso, era uma benzedeira muito requisitada e respeitada. Também conhecia todo e qualquer tipo de erva medicinal, por isso, seus chás caseiros, era tão eficiente. Sempre dizia para alguém tomar, que a cura era na certa ou como dizia o caipira “Era batata!”.

                        Se uma criança estava abatida, por causa de “mau olhado”, depois de três dias de reza e benzeção, voltava fazer suas peraltices de sempre. Não se pretende, nesta narrativa, enveredar por dogmas ou sincretismos religiosos, mas que a cura era visível, isso sim. Diferente de falsos profetas, não era charlatanismo.

                        Eu não sou um Osvaldo de Souza, o matemático, mas posso afirmar que nas quase totalidades dos conterrâneos, nascidos na minha época, vieram pelas mãos de dona Joana, a querida parteira da cidade. Crianças robustas e bonitas, sem as doenças da modernidade. Não se tem notícia de que um parto, sob os cuidados de dona Joana, tenha se frustrado.

                        Hoje, correm lágrimas dos olhos, ao lembrar-se da querida dona Joana, a mulher que nada pedia em troca, pelo seu incansável esforço de ajudar os bebês virem ao mundo. Ela era, na verdade, uma grande filantropa. À vezes, eu me pergunto: “De onde ela adquirira tanta sabedoria, pois era simples e de pouca cultura?”. 

                        Aqui, quieto nas minhas confabulâncias, fico imaginando: “Ela era Maria, mãe de Jesus, ajudando as mães do lugarejo, a povoar aquele lugar sagrado, com homens de boa vontade”. Dona Joana, tinha o dom divino.

                        Ao nascer e dar o primeiro choro da existência, dona Joana fitou bem nos meus olhos e disse: “Fiat lux!”. A luz se fez e assim eu pude ver, pela primeira vez, o Universo e tudo de belo, que nele há. Mãos abençoadas, aquelas que traziam vidas ao mundo.

                        Ao lado do Pai Celestial, criador do Universo, ela toda feliz,  contempla minha Terra Natal e sorrindo, diz: “Missão Cumprida!”.

 

Peruíbe SP, 20 de fevereiro de 2022.

 

 

 

         

Um comentário:

Professor Aloísio disse...

Nossa que dá hora, minha avó e tia eram benzedeira e parteiras, muito legal me fez chorar com sdds delas, muito agradecido...