sábado, 6 de novembro de 2021

O AMOR E A SAUDADE

 Adão de Souza Ribeiro

                               Já tenho dito que sou um saudosista irrecuperável. Mas há momentos, que tenho que tirar o chapéu para o modernismo e os avanços tecnológicos da natureza humana.

                        Há um adágio popular, que diz: “Quem gosta de passado é museu.”, então sou um museu itinerante a vagar por este mundo, repleto de mistérios. No meu tempo, não havia espaço para coisas impostas pela tecnologia ou mentes deturpadas, patrocinadas por interesses escusos.  Por exemplo, não havia a tal igualdade de gênero, pois menino brincava de carrinho e menina, de boneca.

                        Certo é que todos valorizavam pequeninas coisas, que, até então, pareciam sem importância alguma. Cito como exemplo: as construções antigas, que representavam uma época; pessoas humildes, de sabedoria invejável; a mãe natureza que, apesar das agressões humanas, dava-nos o sustento, sem reclamar; o respeito aos idosos, sabedores de que, um dia, também, haveríamos de envelhecer. Ninguém morreu por causa disso.

                        Um belo dia, caí na sagrada besteira de deixar aquele pedaço de chão e com a esfarrapada desculpa de que iria sair em busca do melhor para minha vida, peguei a estrada rumo ao desconhecido. Enfrentei de tudo o que se possa imaginar. E, de vez em quando, vinha na memória, fragmentos de inesquecíveis momentos vividos naquela terrinha. Brincar na enxurrada, durante a chuva torrencial; o olhar hipnotizado ao ver o “amor platônico”, que desfilava garbosamente no jardim da Praça matriz; a reverência aos símbolos pátrios; ouvir os eternos conselhos do meu saudoso pai e por ai se vai...

                        Hoje, passados mais de cinco décadas, após aquela malfadada partida, vejo-me diante de uma parafernália eletrônica, que mais parece àqueles filmes futuristas, exibidos na minha televisão Telefunken, ainda em preto e branco, tais como: Jornada nas estrelas, Guerra nas estrelas, Perdidos no espaço, Viagem ao fundo do mar. Eu tive que, às duras penas, aprender a lidar com os modernos aparelhos e uma infinidade de informações.

                        Então, comecei a postar em sites, das redes sociais, fotos antigas relacionadas a lugares, momentos e pessoas, da querida terra natal. Não demorou e os amáveis conterrâneos, passaram a curtir, compartilhar e comentar, a respeito de seus sentimentos de amor e saudade. Também retiraram do fundo de seus baús, fotos antigas – verdadeiras relíquias -, as quais me levaram as lágrimas.

                        Quando, de forma desinteressada, se posta fotos ou relatos do seu berço natal, sem querer; tu te tornas um singular embaixador e representante nato. Por isso, vou pedir para o Oshikata – o retratista oficial do lugarejo-, “bater mais um retrato”. Amigos que não conhecem minha terra natal, depois que passei a postar fotos e comentar sobre elas, manifestaram interesse em conhecer a cidade. Posso dizer que isso muito me honra. Penso que, neste sentido, a tecnologia tem soprado a nosso favor.

                        No início, pensava estar só e ser o único a nutrir tanto amor à terra que me viu nascer, crescer e transitar por ela, com tamanha desenvoltura. Eu me equivoquei deveras. Eu tenho procurado em minhas modestas dissertações, despertar para o resgaste do passado. O amor e a saudade caminham lado a lado com o passado. Quem não tem passado, não tem história. E, por conseguinte, quem não tem história, nunca existiu. Deixar sua marca no passado, onde será contado a sua história, o torna imortal. Pense nisso!

                        E assim, de história em história e de prosa em prosa, se constrói o nosso universo (nosso mundo interior e exterior).

                        Amanhã conto mais. Inté!

Peruíbe SP, 06 de novembro de 2021.

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