Adão de Souza Ribeiro
Já
tenho dito que sou um saudosista irrecuperável. Mas há momentos, que tenho que
tirar o chapéu para o modernismo e os avanços tecnológicos da natureza humana.
Há um adágio popular, que diz: “Quem
gosta de passado é museu.”, então sou um museu itinerante a vagar por
este mundo, repleto de mistérios. No meu tempo, não havia espaço para coisas
impostas pela tecnologia ou mentes deturpadas, patrocinadas por interesses escusos.
Por exemplo, não havia a tal igualdade
de gênero, pois menino brincava de carrinho e menina, de boneca.
Certo é que todos valorizavam pequeninas coisas,
que, até então, pareciam sem importância alguma. Cito como exemplo: as construções
antigas, que representavam uma época; pessoas humildes, de sabedoria invejável;
a mãe natureza que, apesar das agressões humanas, dava-nos o sustento, sem
reclamar; o respeito aos idosos, sabedores de que, um dia, também, haveríamos
de envelhecer. Ninguém morreu por causa disso.
Um belo dia, caí na sagrada besteira de
deixar aquele pedaço de chão e com a esfarrapada desculpa de que iria sair em
busca do melhor para minha vida, peguei a estrada rumo ao desconhecido.
Enfrentei de tudo o que se possa imaginar. E, de vez em quando, vinha na
memória, fragmentos de inesquecíveis momentos vividos naquela terrinha. Brincar
na enxurrada, durante a chuva torrencial; o olhar hipnotizado ao ver o “amor
platônico”, que desfilava garbosamente no jardim da Praça matriz; a reverência
aos símbolos pátrios; ouvir os eternos conselhos do meu saudoso pai e por ai se
vai...
Hoje, passados mais de cinco décadas, após aquela
malfadada partida, vejo-me diante de uma parafernália eletrônica, que mais parece
àqueles filmes futuristas, exibidos na minha televisão Telefunken, ainda em
preto e branco, tais como: Jornada nas estrelas, Guerra nas estrelas, Perdidos
no espaço, Viagem ao fundo do mar. Eu tive que, às duras penas, aprender a
lidar com os modernos aparelhos e uma infinidade de informações.
Então, comecei a postar em sites, das redes
sociais, fotos antigas relacionadas a lugares, momentos e pessoas, da querida
terra natal. Não demorou e os amáveis conterrâneos, passaram a curtir, compartilhar
e comentar, a respeito de seus sentimentos de amor e saudade. Também retiraram
do fundo de seus baús, fotos antigas – verdadeiras relíquias -, as quais me
levaram as lágrimas.
Quando, de forma desinteressada, se posta
fotos ou relatos do seu berço natal, sem querer; tu te tornas um singular
embaixador e representante nato. Por isso, vou pedir para o Oshikata – o retratista
oficial do lugarejo-, “bater mais um retrato”. Amigos que não conhecem minha
terra natal, depois que passei a postar fotos e comentar sobre elas, manifestaram
interesse em conhecer a cidade. Posso dizer que isso muito me honra. Penso que,
neste sentido, a tecnologia tem soprado a nosso favor.
No início, pensava estar só e ser o único a
nutrir tanto amor à terra que me viu nascer, crescer e transitar por ela, com tamanha
desenvoltura. Eu me equivoquei deveras. Eu tenho procurado em minhas modestas dissertações,
despertar para o resgaste do passado. O amor e a saudade caminham lado a lado
com o passado. Quem não tem passado, não tem história. E, por conseguinte, quem
não tem história, nunca existiu. Deixar sua marca no passado, onde será contado
a sua história, o torna imortal. Pense nisso!
E assim, de história em história e de prosa
em prosa, se constrói o nosso universo (nosso mundo interior e exterior).
Amanhã conto mais. Inté!
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