Adão de Souza
Ribeiro
Se partir para sempre
Não derrame lágrimas.
Guarde-a aos presentes,
Não preciso de lástimas.
Ao lado do meu ataúde,
Cantem música alegre.
Minha vida já foi rude,
As amarguras, esquece.
Leia a poesia e o poema
Sirva petisco e a bebida.
Falem duma noite amena
Cuidem da minha querida.
Brinque, converse e beba,
Antes de eu partir de vez.
A vida é bela, mas é besta.
O que importa o que fez?
Falar de defeito e virtude,
Daqui não haverá defesa.
Eu sempre fiz o que pude
Nunca tive vida burguesa
Flor nesta sala fúnebre,
Não embeleza a viagem
Por favor, não se ilude,
E estou só de passagem.
Meus filhos pequenos,
Dê a eles muita guarida.
Não os deixem sofrendo,
Eu quero paz na partida.
O meu amor natimorto
Nunca me deu abrigo.
Mas ele foi só desgosto
Eu não o levo comigo.
Na vida fui o sonhador
Sempre quis dar o jeito.
Creio que pra onde vou
Serei o filho bem aceito.
Se a linda viúva chorosa
Não se conter em soluço.
Console com uma prosa,
Diga que a amo, escuto.
Todos os bens materiais,
Construídos durante anos
Agora não servem mais,
O são do mundo profano.
Durante o longo cortejo
Até minha morada final
Diga ao velho lugarejo:
Deixou sua vida carnal.
Na triste lápide sozinha,
Lá longe, no campo santo.
Escreva: Aqui jaz alminha,
Que amou sua terra tanto!
Peruíbe SP, 08 de
novembro de 2023.
Nenhum comentário:
Postar um comentário