quarta-feira, 8 de novembro de 2023

EPITÁFIO

 

Adão de Souza Ribeiro

 

Se partir para sempre

Não derrame lágrimas.

Guarde-a aos presentes,

Não preciso de lástimas.

 

Ao lado do meu ataúde,

Cantem música alegre.

Minha vida já foi rude,

As amarguras, esquece.

 

Leia a poesia e o poema

Sirva petisco e a bebida.

Falem duma noite amena

Cuidem da minha querida.

 

Brinque, converse e beba,

Antes de eu partir de vez.

A vida é bela, mas é besta.

O que importa o que fez?

 

Falar de defeito e virtude,

Daqui não haverá defesa.

Eu sempre fiz o que pude

Nunca tive vida burguesa

 

Flor nesta sala fúnebre,

Não embeleza a viagem

Por favor, não se ilude,

E estou só de passagem.

 

Meus filhos pequenos,

Dê a eles muita guarida.

Não os deixem sofrendo,

Eu quero paz na partida.


O meu amor natimorto

Nunca me deu abrigo.

Mas ele foi só desgosto

Eu não o levo comigo.


 

Na vida fui o sonhador

Sempre quis dar o jeito.

Creio que pra onde vou

Serei o filho bem aceito.

 

Se a linda viúva chorosa

Não se conter em soluço.

Console com uma prosa,

Diga que a amo, escuto.

 

Todos os bens materiais,

Construídos durante anos

Agora não servem mais,

O são do mundo profano.

 

Durante o longo cortejo

Até minha morada final

Diga ao velho lugarejo:

Deixou sua vida carnal.

 

Na triste lápide sozinha,

Lá longe, no campo santo.

Escreva: Aqui jaz alminha,

Que amou sua terra tanto!

 

Peruíbe SP, 08 de novembro de 2023.

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