segunda-feira, 13 de abril de 2020

CANTAI, CANÁRIOS, CANTAI!


Adão de Souza Ribeiro


                        Quando o homem da cidade grande, no meio de um longo feriado, vai para o campo em busca de tranquilidade, é porque ele gosta da natureza. Ver o rio desfilar pomposo pelas campinas, sentir o aroma da terra depois de fecundada pela chuva, perceber o calor do sol gerando a relva, contemplar as árvores bailando ao som do vento e ouvir a alegre melodia dos pássaros, são coisas que enobrecem a alma.

                        Ser discípulo de Cristo e defensor da natureza é qualidade dos puros de coração. O que será da humanidade, quando a ira Divina varrer deste planeta, as belezas naturais? Este globo terrestre será apenas um deserto, no vácuo da imensidão. Senhor peço-te que me chames para junto do teu seio, antes que isto aconteça!

                        Nestas andanças pelas ruas da vida, conheci um homem de cabelos brancos, cujo olhar de ternura, cativava qualquer forasteiro. Aos poucos, fui simpatizando-me com este ser humano, um autêntico mensageiro de São Francisco de Assis, neste mundo de hoje. O amor a “Terra” e o carinho para com os animais e, em particular, as aves canoras e ornamentais, constituíam duas virtudes do grande estudioso da fauna e flora mundial.

                        Um dia, convidou-me para conhecer as suas aves. Fui apresentado ao Ferry, Michelle, Borney e Pierry, os quais eram canários de origem francesa. Senti-me familiarizado e pude conversar com eles. Percebi no cantar de cada um, o amor que os bípedes tinham pelo ornitólogo. Vi na plumagem dos mesmos, toda beleza e encanto, frutos de um trabalho cansativo e compensador.

                        Neste mundo cheio de controvérsias, encontram-se os lobos e as raposas em tocaias, no intuito de apanharem as presas indefesas e cobiçadas. Este inimigo predador sepultou os cantores alados, representantes dessa “Terra”. Mas podem estar certos de que eles continuam cantando com suas sinfonias, no coro dos anjos celestiais, Hoje a solidão ronda o habitat de tais emplumados cantantes e malabaristas. Os ninhos, ovos incubados e tenros filhotes da espécie órnis cerinus canáriuns sentem a falta do calor de seus progenitores, pela perpetuação da espécie.

                        O lobo, animal repudiado, após praticar o mal, caiu na cilada de caçadores dos inimigos da natureza. Agora ele repousa numa jaula, para que outras inocentes aves possam usufruir das dádivas celestes. Por algum tempo, outras aves poderão exibir suas coronárias cantantes sem medo do perseguidor.

                        As lágrimas do ornitólogo tinham o seu coração, enquanto que a minh´alma se entristece com tal brutalidade. Mas ontem, conversando com São Francisco de Assis, ele disse-me: “Onde houver tristeza, que eu leve alegria. Por que é morrendo que se vive para a vida eterna”. Nisso o Santo foi saindo e aproximou-se de nós, um amigo mais idoso, de nome Vinícius, o qual foi logo dizendo: “Lá vai São Francisco pelo caminho, levando ao colo Jesuscristinho, fazendo a festa no meninho, contando histórias pros passarinhos”.

                        Enquanto o diálogo entre o Santo, o ornitólogo, o poeta e eu se desenrolava na mais perfeita harmonia, as aves, vítimas do lobo, vieram cantar em coro a fim de apagar de nossos semblantes a tristeza de algo que se perdeu.

                        Cantai, nobres canários campeões, cantai! Cantai a vossa sinfonia para que ela possa beijar os retos de coração.


Lins, 07 de novembro de 1980.

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