Adão de Souza
Ribeiro
Quando o homem da cidade grande, no meio de
um longo feriado, vai para o campo em busca de tranquilidade, é porque ele
gosta da natureza. Ver o rio desfilar pomposo pelas campinas, sentir o aroma da
terra depois de fecundada pela chuva, perceber o calor do sol gerando a relva,
contemplar as árvores bailando ao som do vento e ouvir a alegre melodia dos
pássaros, são coisas que enobrecem a alma.
Ser discípulo de Cristo e defensor da
natureza é qualidade dos puros de coração. O que será da humanidade, quando a
ira Divina varrer deste planeta, as belezas naturais? Este globo terrestre será
apenas um deserto, no vácuo da imensidão. Senhor peço-te que me chames para
junto do teu seio, antes que isto aconteça!
Nestas andanças pelas ruas da vida, conheci
um homem de cabelos brancos, cujo olhar de ternura, cativava qualquer
forasteiro. Aos poucos, fui simpatizando-me com este ser humano, um autêntico
mensageiro de São Francisco de Assis, neste mundo de hoje. O amor a “Terra” e o
carinho para com os animais e, em particular, as aves canoras e ornamentais, constituíam
duas virtudes do grande estudioso da fauna e flora mundial.
Um dia, convidou-me para conhecer as suas
aves. Fui apresentado ao Ferry, Michelle, Borney e Pierry, os quais eram
canários de origem francesa. Senti-me familiarizado e pude conversar com eles.
Percebi no cantar de cada um, o amor que os bípedes tinham pelo ornitólogo. Vi
na plumagem dos mesmos, toda beleza e encanto, frutos de um trabalho cansativo
e compensador.
Neste mundo cheio de controvérsias, encontram-se
os lobos e as raposas em tocaias, no intuito de apanharem as presas indefesas e
cobiçadas. Este inimigo predador sepultou os cantores alados, representantes dessa
“Terra”. Mas podem estar certos de que eles continuam cantando com suas sinfonias,
no coro dos anjos celestiais, Hoje a solidão ronda o habitat de tais emplumados
cantantes e malabaristas. Os ninhos, ovos incubados e tenros filhotes da
espécie órnis cerinus canáriuns
sentem a falta do calor de seus progenitores, pela perpetuação da espécie.
O lobo, animal repudiado, após praticar o
mal, caiu na cilada de caçadores dos inimigos da natureza. Agora ele repousa
numa jaula, para que outras inocentes aves possam usufruir das dádivas
celestes. Por algum tempo, outras aves poderão exibir suas coronárias cantantes
sem medo do perseguidor.
As lágrimas do ornitólogo tinham o seu
coração, enquanto que a minh´alma se entristece com tal brutalidade. Mas ontem,
conversando com São Francisco de Assis, ele disse-me: “Onde houver tristeza, que eu leve
alegria. Por que é morrendo que se vive para a vida eterna”. Nisso o
Santo foi saindo e aproximou-se de nós, um amigo mais idoso, de nome Vinícius,
o qual foi logo dizendo: “Lá vai São Francisco pelo caminho, levando
ao colo Jesuscristinho, fazendo a festa no meninho, contando histórias pros
passarinhos”.
Enquanto o diálogo entre o Santo, o
ornitólogo, o poeta e eu se desenrolava na mais perfeita harmonia, as aves,
vítimas do lobo, vieram cantar em coro a fim de apagar de nossos semblantes a
tristeza de algo que se perdeu.
Cantai, nobres canários campeões, cantai!
Cantai a vossa sinfonia para que ela possa beijar os retos de coração.
Lins, 07 de
novembro de 1980.
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