Mário de Andrade
A serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não...
Eles eram do outro lado,
Viera na vila casar.
E atravessaram a serra,
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo.
Antes que chegasse a noite
Se lembraram de voltar
Disseram adeus para todos
E se puseram de novo
Pelos atalhos da serra
Cada qual no seu cavalo.
Os dois estavam felizes,
Na altura tudo era paz.
Pelos caminhos estreitos
Ele na frente, ela atrás.
E riam. E como eles riam!
Riam até sem razão.
A serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não.
As tribos rubras da tarde
Rapidamente fugiam
E apressadas se escondiam
Lá embaixo nos socavões,
Temendo a noite que vinha.
Porém os dois continuavam
Cada qual no seu cavalo.
E riam. Como eles riam!
E os risos também casavam
Com as risadas dos cascalhos,
Que pulavam levianinhos
Da vereda se soltavam,
Buscando o despenhadeiro.
Ali. Fortuna inviolável!
O casaco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo.
Nem o baque se escutou.
Faz um silêncio de morte,
Na altura tudo era paz...
Chicoteado o seu cavalo,
No vão do despenhadeiro
O noivo se despenhou.
E a serra do Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.
Outubro de 1954
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