segunda-feira, 23 de março de 2020

O VISIONÁRIO


Adão de Souza Ribeiro

                        Hoje é dia 31 de dezembro de 3019, da Era Cristã. É o que consta do calendário, pendurado na parede da casa, ao lado de um velho relógio cansado de girar no sentido horário. Através dele, o calendário, é que percebo como o tempo passa. Se não existisse essa invenção milenar, o dia era apenas o dia, sem a preocupação de somar a idade das coisas e das pessoas. Inventaram algo desnecessário, apenas para percebermos que envelhecemos. Os caboclos e os aborígenes olhavam para o céu ou para os sinais da natureza e obtinham as respostas necessárias para saciarem os seus anseios.
                        Deus criou o Universo e nele fez habitar seres animados e inanimados. Era de bom grado para Ele, que existisse o céu, a terra e o mar; o sol, a lua e as estrelas; o rio e a floresta; os animais, os répteis e as aves. Antes, porém, deixou tudo numa incubadora. Do próprio pó da terra, num sopro Divinal, criou o homem e a mulher e deu a eles, o poder de dominar tudo que fora por Ele concebido. A partir de então, deu vida a sua Criação e para ajudar o homem e a mulher, fez chover sobre a terra, a fim de que tudo florescesse. Creio que, a partir de então, o Criador não descansou mais. (Genesis 1: 1-31 e 2: 1-25).
                         Um belo dia, o homem feito à Sua imagem e semelhança, começou desobedecê-lo achando que era o bam bam bam do pedaço. Tem até a história da “Torre de Babel”, já contada e recontada. Nota-se que em momento algum, durante a criação, o Pai Celestial delimitou em dia ou hora, o tempo das coisas. Certo é que, sem pressa e com muito esmero, foi criando tudo no seu tempo. No último dia, vendo que estava tudo pronto e do jeito que imaginava, foi descansar. Penso que antes de ir para o merecido descanso, Ele debruçou na janela da constelação celestial e ficou contemplando a sua Sacrossanta obra.
                        Ao admirar a construção, observo que em momento algum, o Grande Arquiteto do Universo ficou preso a cronometragem do tempo necessário para iniciar ou finalizar o que havia planejado. Não lançou mão de gráficos, planilhas, AutoCad ou qualquer ferramenta de engenharia, a fim de criar a maravilha que hoje tanto desfrutamos e, ao mesmo tempo, destruímos. Depois vêm uns cientistas e ateus, afirmarem que o mundo e a terra surgiram da desintegração de meteoros, vindos de galáxias distantes. Não me venham com essas histórias deslavadas para ninar crianças manhosas e criadas com nutella.
                        O homem, cuja desobediência origina desde os primórdios tempos do “Jardim do Éden”, vem criando coisas desnecessárias com o único objetivo de confundir o mundo, as pessoas e o tempo. A meu ver, a pior invenção foi o relógio. Para mim, trata-se da maior algema que poderiam ter criado. Mas, também, não posso me furtar de declinar sobre o calendário. Conforme disse no início, foi inventado apenas para percebermos que envelhecemos.
                        Em rápidas pinceladas, tomei conhecimento de que existiram vários calendários desde a criação do universo. Desde os primórdios da agricultura e do convívio social, o ser humano sente a necessidade de contar cronologicamente, os dias. Os calendários que tiveram mais aceitação e são usados até hoje combinam com a ciência e a religião, o que não é novidade cristã.  Portanto, temos os seguintes calendários: Maia (3114 a.c.), Gregoriano (1582 d.c.), Juliano (46 a.c), Chinês (2697 a 2597 a.c.), Judaico (1447 a.c.), Islâmico 1441 d.c.), Juche (1912 d.c.)e Etíope (46 d.c.),
                        Em minhas pesquisas, na busca do conhecimento, lancei mão da tecnologia e de formas remotas de pesquisa. Fui até a primeira biblioteca erguida pelo Rei Assurbanípal III, por volta do século 7 a.c, em Nínive, na Assíria, onde foram armazenadas milhares de tabuletas escritas com caracteres cuneiformes, a mais antiga forma de escrita que se conhece. Nessas andanças de pesquisador errante, descobri raridades e, dentre elas, uma que passo a narrar com riqueza de detalhes.
                        Não sei se o que pretendo aqui contar é história ou lenda. Cerca de mil anos atrás, isto é, em 31 de dezembro de 2019, uma epidemia reconhecida mundialmente pelos órgãos de saúde internacionais como pandemia, havia se alastrado pelo planeta. Especulações davam conta de que a doença respiratória, com resultados letais e que levaram a óbito milhares de pessoas ao redor do mundo, fora criada em laboratório. Assim ocorrera com o objetivo de diminuir a população terrestre e, acima de tudo, enfraquecer a economia mundial, com vistas a atender interesses econômicos das grandes potências. Outras linhas de pesquisas científicas informavam que os morcegos teriam sido os primeiros hospedeiros para, depois, infectarem os serem humanos.
                        Em que pese haverem, na época, pessoas que defendiam a “Teoria da Conspiração”, certo é que todos os habitantes do planeta abandonaram as ruas, becos e vielas de todas as cidades e refugiaram em suas casas. Veículos caríssimos ou sucatas, roupas de grife ou de pano de chita, almoços em banquetes ou numa marmita, título honorífico ou apelido, contas bancárias abarrotadas ou míseros tostões, beleza física exuberante ou ausência dela, de nada valeriam. Um vírus invisível reduziu todos os habitantes da terra a zero e os fez compreendê-los de que eram apenas seres mortais.
                        Enquanto por longos e longos anos, os homens ficaram reclusos em seus lares, temendo a morte, a natureza foi ressuscitando e se recompondo aos poucos. Os animais refugiados em seus habitats naturais voltaram a circular normalmente. Os rios, atrofiados em suas nascentes, corriam livres por entre vales e campinas. As plantas murchas e desanimadas, em razão da poluição, desabrochavam nos jardins, quintais e ruas desertas, dando um novo colorido ao que antes, era só desolação. Aos poucos, a terra voltava a sua origem, conforme fora imaginada, desenhada e traçada pelo Grande Arquiteto do Universo.
                        Se lá fora a terra se transformava para melhor, voltando aos rumos originais traçados pelo Criador, o mesmo ocorria no interior dos palácios e casebres. Lá os homens, mulheres e crianças, redescobriram o sentido das palavras amor, carinho, gratidão, benevolência, solidariedade, esperança, fé e outras tantas virtudes, esquecidas na gaveta do progresso, da tecnologia e da arrogância. Não tenho dúvidas de que, foi através do desespero e da dor, que compreenderam que não somos donos de nada e, muito menos do planeta. O Universo foi criado por Deus e a ele pertence. Se ainda habitamos o planeta, é por bondade dele, nada mais. Ele dá e Ele tira.
                        Uma doença, disseminada por um vírus invisível, criado ou não em laboratório, teve o dom de igualar todos os seres humanos e pensantes da terra. O medo da morte mostrou que todos são verdadeiros “borra-botas”. O vírus, que a olho nu, era conhecido apenas pelo nome, mostrou que era mais forte que os exércitos das grandes potências. Mais forte que as bombas e os materiais bélicos. Em silêncio e sem estardalhaço, matou milhões. Os grandes lideres, das maiores potências econômicas e bélicas do mundo, uma vez infectados, ficaram de joelhos perante a Deus, nosso criador e rei de todos os exércitos, clamando por salvação.  
                        Se eu estou aqui, no ano de 3019, isto é, mil anos após aquela fatídica pandemia que assolou o planeta e dizimou milhões de habitantes, é porque sou obediente e temeroso a Deus e, ainda, porque sempre respeitei a natureza. Naquele tempo, segundo minhas intermináveis pesquisas, as pessoas ridicularizaram a imagem e a santidade de Deus. Os falsos e gananciosos profetas usavam da inocência dos fieis. Faziam uso da santidade do Criador e prometiam curas e prosperidades financeiras, se pagassem por curas inexistentes.
                        No ano de 2019, há mil anos, que dista desta data em que narro o fato, o qual até hoje não sei se é história ou lenda, o povo cometia os mesmos pecados e que desagradavam á Deus, como ocorrera em Sodoma e Gomorra (Genesis 19-24). Naqueles tempos, as duas cidades pecadoras cometeram crimes, que desagradaram os olhos de Deus, tais como: violência e imoralidade sexual - homossexualidade e estupro (Judas 1:7); falta de vergonha, pois não escondiam os seus pecados (Isaias 3:9); arrogância e desprezo pelos necessitados (Ezequiel 16: 49-50). Por aquela razão deus levou o castigo e fez justiça. Mas antes, poupou os justos ( 2 Pedro 2: 6-9).  
                        Passado mil anos, desde 2019, vejo que agora a terra segue em paz o seu destino e que os seus habitantes compreendem que Deus está acima de tudo e de todos. A terra, longe da ganância humana, voltou às suas origens. Ontem ao cair da tarde, vi um Tiranossauro Rex, que saia de seu esconderijo e caminhava tranquilamente ao pé da montanha, lá pelos lados da “Reserva da Juréia”.
                        Pode ter sido uma visão, não sei.

Peruíbe SP, 23 de março de 2020.

Um comentário:

Unknown disse...

Adorei o conto... parabéns...!!!