domingo, 29 de março de 2020

A SAIA DO CAFÉ

Adão de Souza Ribeiro


Se os meus pais ficavam na roça
Trabalhavam duro, com muita fé.
Eu brincava feliz com a cabrocha
Ali debaixo daquela saia de café.


Sol a pino, queimando em brasa.
E o boi girando firme a moenda.
A menina quieta arrastando asa,
Queria algo, se falar não ofenda.


Toda suada e com muito chamego
Provocava-me e para fazer pirraça.
Dengosa dizia: “Vem cá meu nego”
Bebia água na cuia e achava graça.


Mão atrevida debaixo da sua saia
Ensaiava um gesto mais atrevido.
Ela esperta antes que a casa caia.
“Cuidado com cobra, corro perigo”.


Aquela namorada, filha da vizinha.
Era fã de mim e daquele meu jeito.
Não via a hora de ficar ali sozinha
Sob a saia do café e naquele leito.


Calados e longe de tanta gente,
O beijo roubado, trago comigo.
Cena gravada na minha mente,
Mão atrevida altura do umbigo.


Se meus pais esquecessem ali
Não voltassem assim tão cedo
 Eu não mais estaria por aqui.
Nem a menina deste segredo.


Peruíbe SP, 29 de março de 2020.

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